A Revelação dos Templários

A REVELAÇÃO DOS TEMPLÁRIOS

LYNN PICKNET E CLIVE PRINCE

Agradecimentos

Este livro não teria sido possível sem a ajuda e o apoio de um grande número de pessoas; porém dado a natureza polêmica de nossas conclusões queremos assinalar que nossas opiniões não são necessariamente partilhadas por aqueles que citamos a seguir.

Queremos agradecer a:

*      Keith Prince pela documentação meticulosa oferecida ao nosso trabalho, tanto nas bibliotecas como em campo, por suas idéias incisivas e muitas vezes heterodoxas sobre o tema, e por entregar literalmente sua vida e sua integridade física a este projeto.

*      Craig Oakley, por sua ajuda, entusiasmo e colaboração constantes em nossa investigação.

*      Filip Coppens, por nos orientar com grande entusiasmo e facilitar muitas materiais valiosos originais.

*      Lavinia Trevor, nossa agente, por aplainar o caminho para a publicação do livro e por nos livrar dessa pressão.

*      Jim Cochrane, redator responsável da Bantam Press, que nos forneceu comentários construtivos e bem informados… mas não nos pressionou.

*      Agradecimentos também aos colegas dele Kate Melhuisb, Sheila Corr e Martin Macrae.

*      Lucien Morgan, por dar-nos a idéia para este livro.

O material dos capítulos 8 e 9 sobre Rennes-le-Château deve muito a informação facilitada e comentada com muitas pessoas:

* No Reino Unido, aos membros do Grupo de Pesquisa Rennes-le-Chateau, especialmente a John e Joy Millar, Gay Roberts, Howard Barkway, Jonothon Boulter, Marke Pawson e Guy Patton. Agradecimentos também a Guy por colaborar em nossa investigação sobre os Cavaleiros Templários.

*Na França há que se agredecer especialmente a colaboração de Alain Féral, Sonia Moreu, Antoine e Claire Captier, Jean-Luc e Louise Robin, Celia Brooke, Marcel Captier e Elizabeth van Buren. (E também agradecemos a Monique e Michael Marrot, de La Pomme Bleue de Rennes-le-Château, cujos pratos muitas vezes tornaram memoráveis muitas de nossas jornadas). Continuamos em dívida com o falecido Jos Bertaulet por seus estudos sobre Notre-Dame de Marceille, e agradecemos a hospitalidade de sua viúva Suzanne e filhos Christian e Diederick.

*John Stephenson e Anita Fortsythe que nos atenderam em Ferran, animaram nossas excursões pelo Languedoc e partilharam conosco seus conhecimentos sobre a comarca. Ficamos também agradecidos por sua estupenda hospitalidade e conversa, e por apresentar-nos a Gold.

*Peter Humber, por ceder-nos sua casa em Languedoc durante a nossa primeira viagem de estudo, e por sua reação tão calma ao que estivemos a ponto e perpetrar lá… e agradecemos também aos habitantes de Ferran e ao departamento de bombeiros de Montreal, que nos acudiram em auxílio naquele fatídico dia de 17 de janeiro de 1995. E também pelo finado Café Fou de Peter em Botindary Road, que parecía de certo modo predistinado a se converter em nosso refúgio.

* Robert Hosvells, por tantas e gostosas discussões noturnas sobre temas esotéricos de todas as classes, aos quais contribuiu com seus amplos conhecimentos.

* André Douzet, por partilhar generosamente os resultados de suas exaustivas investigações sobre os mistérios da França.

* Niven Sinclair, por sua grande generosidade e fascinantes revelações sobre a Capela Rosslyn e os Templários

* Jane Lyle, por partilhar conosco seus extensos conhecimentos sobre a sexualidade sagrada e, como sempre, por sua jovialidade e apoio moral e prático.

* Steve Wilson, por sua ajuda com os mandeus, por facilitar-mos uma apresentação em  «Talking Stick» e por uma viagem de trem divertida e memorável.

* Karine Esparseil López. por colaborar com as traduções de francês e nos dar ânimo e concerder-nos sua valiosa amizade.

* Prestamos os nossos agradecimentos também as seguintes pessoas por sua ajuda em diversas maneiras, seja proporcionando-nos as informações necessárias ou simplesmente dispensando-nos elogios e ajuda moral:
Nicole Dawe e Charles Bywaters e suas respectivas filhas, Laura Daw e Kathryn e Jennifer Bywaters; Trevor Poots; Andy Collins; Dominique Hyde; Lionel Beer e seu grupo TEMS; Steve Moore de Fortean Times; Bob e Veronica Cowley de RILKO, Georges Keiss; Yuri Stoyanov, Benoist Rivière; Henri Buthion; Jean-Pierre Aptel; André Galaup; Louis Vazart; Gino Sandri; Manfred Cassirer; Alun Harris; John Spencer; Steve Pear; Olivia Robertson da Fellowship of Isis; Caroline Wise; Gareth Medway; Tony Pritchett; Mick e Lorraine Jones; Mark Bennett; Dave Smith e Natalic Hac; Loren McLaughlin; David N. Corona; doutor Richard Wiseman, Sylvia Patton; Barry e Fiona Johnstone; Sarah Litvinoff; Vida Amadoli; Helen Scott; Michèle Kaczynski; Mary Saxe-Falstein; Sally «Morgana» Morgan; Will Fowler; Sheila e Eric Taylor; Samuel López; James Dew; Nic Davis; Lisa Bailey; David Bell; I-N. Y ao pessoal das salas de leitura da  British Library e da Westminster Reference Library.

* Agradecimentos aos serviços de urgência de Limoux e Carcassone por salvar a Keith Prince… uma pessoa anônima que telefonou para avisa-los de  Notre-Dame de Marceille.

INTRODUÇÃO

Leonardo da Vinci colocou em marcha a busca que levou a este livro. Nosso estudo sobre o papel do fascinante e misterioso genio do Renascimento na falsificação do Sudário de Turim desembocou em uma investigação muito mais ampla e mais comprometida sobre as ‘heresias’ que haviam impulsionado em segredo suas ambições. Foi preciso averiguar no que participou, o que soube e acreditou, e porque recorreu a certos códigos e símbolos na obra que deixou para a posteridade. A Leonardo temos que agradecer, por conseguinte [ainda que seja um agradecimentomuito dolorido], os descobrimentos que se condensam neste livro.

A princípio nos pareceu raro vermos submersos no mundo complicado, e em muitas ocasiões algo tenebroso, das sociedades secretas e crenças heterodoxas. Por muito que Leonardo, segundo é crença comum, tenha sido um ateu e um racionalista; porque nós descobrimos que nada está mais distante da verdade. Em qualquer caso, aos poucos deixamos para trás este personagem para nos encontramos sós diante de algumas implicações profundamente inquietantes. O que havia começado como uma modesta averiguação sobre alguns cultos interessantes, porém que de modo algum fariam tremer o mundo, se converteu em uma investigação sobre as próprias raízes e crenças originárias do mesmo Cristianismo.

Em essência tem sido um recaminhar através do tempo e do espaço; primeiro, de Leonardo a época atual; logo, o retorno ao Renascimento e mais atrás contudo, passando pela Idade Média até a Palestina do século I – o cenário onde se situa as palavras e as ações de nossos três protagonistas principais: João Batista, Maria Madalena e Jesus. De passagem muitas vezes temos que nos deter para examinar os numerosos grupos e organizações secretas com um olhar todo novo e objetivo: os francomaçons, os cavaleiros templários, os cátaros, o Priorado de Sião, os essênios e o culto de Isis e Osiris.

Estes temas naturalmente se tem discutido em muitos outros livros recentes, em especial ‘The Holy Blood and the Holy Grail’, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, que desde o princípio tem sido de particular inspiração para nós. ‘The Sign and the Seal’, de Graham Hancock, ‘The Temple and the Lodge’, de Baigent e Leigh, e o último, ‘The Hiram Key’, de Christopher Knight e Robert Lomas. Continuamos em dívida com todos estes autores pela luz que eles tem lançado sobre nosso terreno comum de investigação, porém cremos que todos eles fracassaram em achar a chave essencial que vá ao coração destes mistérios.

O que não deve estranhar ninguém. Toda nossa cultura se baseia em certas premissas a respeito do passado, e mais especialmente do cristianismo e o caráter e motivos de seu fundador. Porém se estas premissas são erroneas, então as conclusões que baseamos nelas estão distantes da verdade ou ao menos oferecem uma imagem deformada dos fatos.

Quando vimos pela primeira vez as conclusões inquietantes que estabelecemos neste livro, nos pareceu que estávamos equivocados.

Porém logo chegou o momento em que se impunha tomar uma decisão: ou continuávamos com a nossa investigação e publicavamos as nossas conclusões, ou teriamos que esquercermo-nos de termos realizado uns descobrimentos cruciais. Optamos por continuar. Do início ao fim este livro prolonga de uma maneira natural a relação ao que temos citado anteriormente, como se tivesse amadurecido em seu tempo.

Ao reacompanhar as crenças propostas por milhares de hereges de séculos diferentes, temos descoberto um panorama de notável continuidade. Nas tradições de muitos grupos de aparência muito diferente subjazem sempre os mesmos segredos e muito parecidos. A princípio nos pareceu que essas sociedades se haviamm mantido secretas por mero atavismo, ou talvez por afetação, porém logo compreendemos que a prudência os aconselhava a manter aqueles conhecimentos bem distantes das autoridades, e sobretudo longe da hierarquia eclasiástica.

A questão principal não se baseia em saber no que eles crêem, sem duvída, e sim se estas crenças tinham uma base substancial. Porque se elas tinham e a clandestinidade herege guardou efetivamente a chave que falta em relação a cristandade, então sim estamos diante de uma perspectiva verdadeiramente revolucionária.

Neste livro descrevemos a nossa viagem de oito anos por terras em sua grande maioria incógnitas, porque se bem que houvemos contado com o guia dos mapas traçados por outros expedicionários anteriores, eles se detiveram antes de chegar aonde nós tinhamos que chegar.

22 de julho de 1996

PRIMEIRA PARTE: As Sendas da Heresia

1. – O Código Secreto de Leonardo da Vinci

É uma das obras de arte mais famosas do mundo, e das que mais tem se apoiado. O afresco De Leonardo ‘Última Ceia’ é tudo quanto resta da Igreja de  Santa Maria delle Grazie, perto de Milão, pois a parede onde este afresco foi pintado foi a única que permaneceu de pé ao ser bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial. Ainda que outros muitos artistas admirados como Ghirlandaio e Nicolas Poussin, e inclusive um pintor tão extravagante quanto Salvador Dali, tenham dado suas próprias versões de uma cena bíblica tão significativa, é a de Leonardo que, por algum motivo, mais tem cativado as imaginações. A temos encontrado reproduzida em múltiplas versões que abarcam ambos extremos do espectro de gostos, desde o sublime até o ridículo.

Algumsa imagens são tão familiares que nunca são bem olhadas, ainda que se ofereçam ao olhar do espectador abertas a um exame mais detido, mas em um plano mais profundo e cheio de sentido, seguindo como livros fechados. Assim ocorre com a Última Ceia de Leonardo… ainda que pareça mentira, como quase todas as outras obras dele que tem chegado até nós.

Foi a obra de Leonardo (1452-1519), esse genio atormentado do Renascimento italiano, a que nos colocou na trilha que acabou por levar-nos a uns descobrimentos tão estarrecedores quanto a suas consequências, que a princípio nos parecia impossível que eles tivessem passado desapercebidos por gerações inteiras de estudiosos, o que finalmente ressaltou diante de nosso olhar surpreendido, e incrível que uma informação tão explosiva tivesse permanecido por tanto tempo esperando pacientemente ser descoberta por uns autores como nós, alheios as escolas oficiais da investigação histórica ou religiosa.

É assim que vamos seguir a história refazendo seus passos contados e voltarmos a Última Ceia para a olhamos com outros olhos. Não é o momento agora para nos situarmos no contexto conhecido dos postulados da História da arte. Queriamos ve-la como a veria um recém chegado completamente ignorante dessa imagem tão arqui-conhecida. Que as escamas dos conceitos prévios caiam de nossos olhos e que olhemos a verdade, como se fosse a primeira vez em nossa vida.

O personagem central, pelo suposto, é Jesus, a quem Leonardo menciona sob o nome de ‘Redentor’ em sua notas de trabalho [mas que o leitor seja advertido que não deve ter nada por sabido, por mais óbvio que pareça]. Está em atitude contemplativa e olha para baixo e um pouco para sua esquerda, as mãos estendidas na frente sobre a mesa, como se oferecesse algo ao espectador. Como esta é a Última Ceia em que, segundo nos ensina o Novo Testamento, Jesus instituiu o sacramento do pão e vinho, no  qual convida a seus seguidores que comam e bebam dizendo que são sua carne e seu sangue, seria razoável buscar algum cálice ou taça de vinho diante dele, concluindo o oferecimento.

Afinal, para os cristãos, esta cena antecede imediatamente a paixão de Jesus no horto de Getsemani, onde ele reza com fervor pedindo ‘que afaste de mim  este cálice’ [outra alusão ao paralelismo vinho-sangue] e também a sua crucificação, na qual morreu derramando seu sangue pela redenção da humanidade. Porque não há vinho diante de Jesus, e apenas quantidades simbólicas em toda a mesa. Acaso tem razão os artistas que dizem ser um gesto vazio este das mãos abertas? Visto que apenas há vinho, talvez não seja casualidade que tampouco se tenham partido muito poucos dos pães que vemos sobre a mesa. E já que o próprio Jesus identificou o pão com seu próprio corpo que seria partido no supremo sacrifício. Está se comunicando alguma mensagem sutil quanto a verdadeira natureza dos padecimentos de Jesus?

Ele olha contemplativamente para baixo e ligeiramente a sua esquerda, as mãos abertas na mesa diante dele como se apresentando alguma dádiva ao espectador. Como nesta Última Ceia na qual assim nos diz o Novo Testamento, Jesus iniciou o sacramento do pão e do vinho urgindo que seus seguidores partilhassem deles como sua ‘carne e sangue’; pode-se razoavelmente esperar algum cálice ou taça colocado diante dele, a ser abarcado pelo seu gesto. Afinal, para os cristãos esta refeição imediante antes da paixão de Jesus no Jardim de Getsemani quando ele ferventemente orou que ‘afaste de mim este cálice’, uma outra alusão a imagem do sangue-vinho e também antes de sua morte pela crucificação quando seu sangue sagrado foi derramado em benefício de toda humanidade. Ainda que não haja vinho em frente de Jesus [e uma mera quantidade simbólica na mesa inteira]. Pode estarem estas mãos estendidas fazendo, segundo artistas, um gesto essencialmente vazio? A luz da falta do vinho talvez não seja acidente que  de todo pão na mesa muito pouco esteja partido. Como o próprio Jesus identificou o pão como seu próprio corpo que era para ser quebrado no supremo sacrifício, está alguma mensagem sutil sendo transmitida sobre a verdadeira natureza do sofrimento de Jesus?

Isto todavia é a mera ponta do iceberg da não ortodoxia apresentada nesta pintura. Na narrativa bíblica é o jovem São João, conhecido como ‘Amado do Senhor’ que estava fisicamente tão perto de Jesus que nesta ocasião inclinou-se em seu peito. Ainda que a representação de Leonardo desta jovem pessoa, não seja, como requerido nas direções bíblicas. tão reclinadas, mas invés se incline exageradamente para longe do Redentor, a cabeça quase que coquetemente inclinada para a direita. Até mesmo quando diga respeito a este caráter, para os recém chegados a pintura pode ser perdoada por conter curiosas incertezas sobre o chamado São João.

Enquanto seja verdadeiro que as próprias predileções do artista tendessem a representar o epítomo da beleza masculina como algo de certa forma afeminado, certamente esta é uma figura feminina que vemos. Tudo sobre ‘ele’ é surpreendentemente feminino. Tão velho e deteriorado quanto possa ser o afresco, pode-se ainda ver as pequeninas e graciosas mãos, as caraterísticas belas e delicadas do semblante, o peito distintamente feminino e o colar de ouro. Esta mulher, porque certamente é uma mulher, também está usando uma indumentária que a marca como sendo especial. Ela é a imagem em espelho da indumentária do Redentor. Onde um veste um robe azul e um manto vermelho, o outro veste um robe vermelho com um manto azul, em estilo idêntico.  Ninguém mais na mesa veste roupas que espelhem aquelas de Jesus deste modo. Central em toda composição está a forma que Jesus e esta mulher fazem juntos; um M gigantesco quase como se eles estivessem literalmente unidos pela cadeira mas tivessem sofrido uma separação ou até mesmo se separado. A nosso conhecimento nenhum academico tem se referido a este caráter feminino como algo mais que São João e a forma do M também tem passado desapercebida por eles.

Leonardo foi, como descobrimos em nossas pesquisas, um excelente psicólogo que se divertia em apresentar aos patronos que tinham dado a ele comissões religiosas o padrão com imagens altamente não ortodoxas, sabendo que as pessoas veriam a mais perplexante heresia com equanimidade porque elas geralmente apenas veriam o que esperavam ver. Se você é comissionado para pintar uma cena cristã padrão e apresenta ao público algo que se parece superficialmente com  isso, eles nunca questionarão seu simbolismo dúbio. Ainda que Leonardo deva ter esperado que talvez outros que partilhavam de sua não usual interpretação da mensagem do Novo Testamento reconheceriam sua versão, ou que alguém, em algum lugar, algum observador objetivo, um dia tomaria a imagem desta misteriosa mulher ligada com a letra M e faria as perguntas óbvias. Quem era este M e porque ela era tão importante?

Porque Leonardo arriscaria sua reputação e até mesmo sua vida nestes dias de piras flamenjantes, para inclui-la nesta crucial cena cristã? Seja quem for ela, seu próprio destino parece menos do que seguro, porque uma mão corta através de seu gracioso pescoço inclinado no que parece ser um gesto ameaçador. O Redentor, também é ameaçado por um dedo indicador para cima positivamente lançado em sua face com veemência óbvia. Tanto Jesus e M parecem estar totalmente indiferentes a estas ameaças, cada um aparentemente perdido no mundo de seus próprios pensamentos, cada um a seu modo sereno e composto. Mas se símbolos secretos estão sendo empregados, não somente adverte Jesus e sua companheira de seus destinos separados, mas também para instruir [ou talvez lembrar] o observador de alguma informação que caso contrário teria sido perigosa tornar pública. Leonardo está usando esta pintura para transportar alguma crença particular que teria sido muito insano partilhar com uma audiência mais ampla de um modo óbvio? E pode ser que esta crença possa ter uma mensagem para muito mais do que um círculo imediato, talvez mesmo para nós hoje?

Vamos olhar mais este surpreendente trabalho. A direita do observador do afresco um alto homem barbado se inclina quase em dois para falar com o último discípulo na mesa. Ao fazer isso, ele fica completamente de costas para o Redentor. Neste discípulo, São Tadeu ou São Judas, se reconhece como modelo o próprio Leonardo. Nada que os pintores da Renascença até mesmo apresentaram foi acidental ou incluindo meramente por ser belo, e este exemplar particular do tempo e da profissão foi conhecido ser uma insistência para a dupla ambiguidde visual. [A preocupação dele em usar o modelo certo para os vários discípulos pode ser detectada em sua irônica sugestão que o irritante Prior do Monastério de Santa Maria pousasse para o personagem de Judas!]. Então porque Leonardo se pinta olhando tão distintamente para longe de Jesus?

Há mais.  Uma mão anômala aponta uma adaga para o estomago do discípulo, uma pessoa longe do M. Por nenhum excesso de imaginação a mão pode pertencer a alguém sentado a mesa porque é fisicamente impossível para aqueles próximos terem se retorcido tanto para ter a adaga naquela posição. Contudo, é verdadeiramente surpreendente, quanto a isso, não é que a mão sem um corpo exista, mas que em toda nossa leitura sobre Leonardo temos chegado a apenas um par de referências a isso, e elas mostram uma curiosa relutância em achar algo não usual quanto a isso. Como o São João que realmente é uma mulher, nada pode ser mais óbvio, e mais bizarro, uma vez que seja ressaltado, ainda que completamente apagado do olho do observador e sua mente, simplesmente porque é tão extraordinário e ultrajante.

Temos frequentemente ouvido ser dito que Leonardo era um pio cristão cujas pinturas religiosas refletiam a profundidade de sua fé. Até onde temos visto, ao menos uma delas contém um conjunto de imagens altamente duvidosa em termos da ortodoxia cristã, e em nossa pesquisa posterior, como devemos ver, nada pode estar mais distante da verdade do que a idéia de que Leonardo foi um verdadeiro crente, isto é,  de qualquer forma aceita ou aceitável de cristianismo. Já as caraterísticas curiosas e anômalas em apenas um de seus trabalhos parecem indicar que ele estava tentando nos contar uma outra camada de significado naquela familiar cena bíblica, ou um outro mundo de crença além do ressalte aceito da imagem congelada no mural do século XV perto de Milão. Sejas quais possam ser estas inclusões heterodoxas, elas foram, isto não pode ser ressaltado demais, totalmente em variância com a cristandade ortodoxa. Isto em si mesmo dificilmente é novo para os materialistas/racionalistas de hoje, porque para eles Leonardo foi o primeiro cientista real, um homem que não tinha tempo para superstições ou religiões de qualquer forma, que era a própria antítese do místico ou do ocultista. Ainda que eles, também, tenham falhado em ver que isso foi plenamente excluído diante de seus olhos. Pintar a Última Ceia sem importantes quantidades de vinho é como pintar o momento crítico de uma coroação sem a coroa; ou é perder completamente o ponto ou estabelecer bem um outro, na extensão em que isso marca o pintor como nada menos que herege, alguém que possui crenças religiosas mas que está em estranheza , talvez até mesmo em guerra, com aquelas da ortodoxia cristã.

E os outros trabalhos de Leonardo, temos descoberto, ressaltam suas próprias obsessões heréticas embora cuidadosamente aplicadas na formação consistente de imagens, algo que não aconteceria se o artista fosse um ateu meramente engajado em ganhar sua vida. Estas desnecessárias inclusões e símbolos também são muito, muito mais do que uma resposta cética satírica a uma tal comissão; eles não são apenas o equivalente de aderir um nariz vermelho a São Pedro, por exemplo. O que estamos olhando na Última Ceia e seus outros trabalhos é o código secreto de Leonardo da Vinci, que acreditamos ter uma surprendente relevância para o mundo hoje. Pode ser argumentado que seja o que for que Leonardo acreditou ou não acreditou, isto era meramente o ponto fraco de um homem, e um homem notoriamente estranho, um em cuja história encontramos infindáveis paradoxos.

Ele pode ter sido um solitário, mas ele era também a vida e alma do grupo; ele desprezava os previsores da fortuna, mas suas narrativas listam dinheiros pagos a astrólogos; ele era um vegetariano a amante de animais mas sua ternura raramente se estendia a humanidde. Ele obcessivamente dissecava cadáveres e observava execuções com os olhos de um anatomista. Ele era um profundo pensador e mestre de enigmas, conjurando truques e farsas. Dado uma tal visão geral complexa, talvez fosse de se esperar que suas opiniões pessoais sobre religião e filosofia fossem não usuais, até mesmo excentricas. Apenas por esta razão, pode ser tentador descartar suas crenças heréticas como irrelevantes hoje. Conquanto seja geralmente admitido que Leonardo era enormemente dotado, a tendência moderna ao ‘epoquismo’ arrogante buca indeterminar suas obtenções. Afinal, quando ele estava em seu florescimento, até mesmo a técnica da impressão era uma novidade. O que poderia um tal inventor solitário em tal tempo primitivo possivelmente ter a oferecer a um mundo que é infindavelmente informado pela Net, e que pode, em uma questão de segundos, se comunicar por telefone ou máquina de fax com pessoas em continentes que nem mesmo foram descobertos nos dias dele?

Há duas respostas a isso. A primeira é a de que Leonardo não foi, para usar um paradoxo, um genio comum. Embora a maioria das pessoas saiba que ele projetou máquinas voadoras e primitivos tanques militares, algumas de suas invenções eram tão improváveis em seus dias quando aquelas de um virada mental mais caprichosa tem até mesmo sugerido que ele possa realmente ter tido visões do futuro. Seus projetos para uma bicicleta, por exemplo, apenas vieram a luz em 1960. Diferente dos dolorosos estágios de tentativa e erro no desenvolvimento da inicial biclicleta vitoriana, contudo, o traçador de estrada de da Vinci tinha duas rodas e igual tamanho e um mecanismo de cadeia e engrenagem. Mas até mesmo mais fascinante do que o projeto atual, está a possível razão porque ele pode ter inventado uma bicicleta em primeiro lugar. Para um homem que sempre havia querido voar como os pássaros, mas tendo um desejo motor para pedalar ao longo em estradas menos do que perfeitas, precariamente equilibrado em duas rodas, é completamente surpreendente. [ e não é, diferente de voar, uma figura em qualquer fábula clássica]. Leonardo também previu o telefone, entre muitas outras afirmações futurísticas pela fama. Se Leonardo era algo mais do que um genio, do que os livros de história o permitem, há ainda a questão como o possível conhecimento que ele poderia ter tido, se impingiria de um modo significativo ou disseminado cinco séculos depois que ele viveu.

Conquanto possa ser argumentado que os ensinamentos de um rabino do século I possam ser esperados terem até mesmo menos relevância para nosso tempo e lugar, também é verdade que algumas idéias são universais e eternas, e que a verdade, se ela pode ser encontrada ou definida, nunca é essencialmente indeterminada pela passagem dos séculos. Contudo não foi a filosofia ou a arte de Leonardo que primeiramente nos atraiu até ele. Foi seu trabalho mais paradoxal, aquele que é ao mesmo tempo incrivelmente famoso e menos conhecido, que motivou nossa pesquisa intensiva sobre Leonardo. Como descrito em detalhes em nosso último livro, descobrimos que ele foi o mestre que falsificou o famoso Sudário de Turim, que há muito tinha sido acreditado ter sido impresso  com a imagem de Jesus ao tempo de sua morte. Em 1988 a datação por carbono provou ser ele um artefato do final dos tempos medievais ou início da Renascença, mas para nós, ele permaneceu uma imagem verdadeiramente notável, para dizer o mínimo. Principal em nossas mentes estava a questão da identidade do fraudador, porque seja quem fosse que tenha criado esta relíquia, tinha que ser um genio.

O Sudário de Turim, como toda a literatura reconhece, a favor e contra a sua autenticidade, se comporta como uma fotografia.  Ele exibe um curioso ‘efeito negativo’ o que significa que se parece como uma vaga marca de queimadura ao olho nu, mas pode ser visto em bons detalhes no negativo fotográfico. Porque nenhuma pintura conhecida ou impressão por riscar se comporta desta maneira, o efeito negativo tem sido tomado pelos crentes no Sudário como sendo a prova das qualidades miraculosas da imagem. Contudo, descobrimos que a imagem no Sudário de Turim se comporta como uma fotografia precisamente porque é isso que ela é. De início, tão incrível quanto possa parecer, o Sudário de Turim é uma fotografia. Nós, juntamente com Keith Prince, reconstruimos o que acreditamos ser a técnica original e ao fazer isso se tornou claro que a primeira pessoa até mesmo replicou todas as caratéristicas até então inexplicadas do Sudário. E a despeito das afirmações dos crentes no Sudário que isso era impossível, nós o fizemos usando um equipamento extremamente básico. Usamos uma camera escura, uma roupa quimicamente coberta, tratada com materiais prontamente disponíveis no século XV, e grandes doses de luz. Contudo, o sujeito experimental de nossa fotografia era um busto de gesso de uma menina, que estava desapontantemente anos luz longe do modelo original. Porque embora a face no Sudário não fosse, como tem sido amplamente afirmado, aquela de Jesus, ela era de fato a face do próprio fraudador. Em resumo, o Sudário de Turim é, entre outras coisas, uma fotografia de cinco anos de não outro que Leonardo da Vinci.

A despeito de algumas curiosas afirmações em contrário, este não pode ter sido o trabalho de um pio crente cristão. O Sudário de Turim, visto no negativo fotográfico, aparentemente mostra o corpo quebrado e sangrante de Jesus. Deve ser lembrado que este não é um sangue comum; para os cristãos ele não é apenas literalmente divino: ele é também o veículo pelo qual o mundo pode ser redimido. Para nossas mentes, não se pode simplesmente falsificar aquele sangue e ser considerado um crente; Nem pode-se ter qualquer respeito pela pessoa de Jesus e substituir sua imagem pela nossa. Leonardo fez ambas as coisas, com um cuidado meticuloso e até mesmo suspeita-se um certo contentamento. De fato ele sabia que, como a susposta imagem de Jesus, ninguém  perceberia que era o próprio artista Florentino. O Sudário seria louvado por um considerável número de romeiros até mesmo durante seu próprio período de vida. Por tudo que sabemos, ele até mesmo realmente se esgueirou nas sombras e os observou a assim o fazerem, o que estaria de acordo com seu caráter conhecido. Mas ele também supôs quantos romeiros estariam passando diante de sua imagem através dos séculos? Ele imaginou que um dia pessoas inteligentes realmente seriam convertidas ao catolicismo simplesmente por olhar sua face bela e torturada? E possivelmente ele pode ter previsto que a imagem cultural ocidental do que Jesus realmente se pareceria viria grandemente da imagem no Sudário de Turim? Ele entendeu que um dia milhões de pessoas do mundo estariam venerando a imagem de um homossexual herege do século XV em lugar de seu amado Deus, que Leonardo da Vinci se tornaria a imagem de Jesus Cristo? O Sudário foi, acreditamos, quase a piada mais ultrajante e bem sucedida até mesmo apresentada na história. Mas embora ele tenha enganado milhões, é mais do que um hino de arte de uma farsa sem sabor. Acreditamos que Leonardo usou a oportunidade para criar a máxima relíquia cristã como um veículo para duas coisas: uma técnica inovadora e uma codificada crença herética.

A técnica da fotografia primitiva era, como os eventos viriam a mostrar, altamente perigosa para se tornar pública naquela era paranóide e supersticiosa. Mas sem dúvida divertiu Leonardo se assegurar que este protótipo fosse visto pelos mesmos sacerdotes que ele desprezava. De fato pode ter sido que este irônico guardião sacerdotal fosse puramente coincidental, meramente uma volta fatídica em uma história já notável, mas para nós isto tem a marca de Leonardo pelo controle total, que pode ser vista aqui para alcançar muito além da tumba. O Sudário de Turim, uma fraude e trabalho de um genio que ele é, também carrega certos símbolos que resaltam as particulares obsessões de Leonardo, como visto em outros de seus trabalhos, mais aceitos. Por exemplo, há na base do pescoço do homem do sudário uma distinta linha de demarcação. Quando a imagem como um todo é virada em um mapa de contorno usando a mais sofisticada tecnologia de computador, podemos ver que a linha marca o fim inferior da imagem da cabeça na frente, enquanto há, como isso, um mar de escuridão chata sem imagem imediatamente abaixo disso até que a imagem começa novamente no peito superior. Acreditamos haver duas razões para isso. Uma é puramente prática, porque a imagem da frente é um composto, o corpo sendo aquele de um homem genuinamente crucificado e a face sendo a do próprio Leonardo, e então a linha talvez por necessidade indique a junção das duas imagens. Contudo, este fraudador não era um trabalhador mediano, e teria sido relativamente facil obscurecer ou esmaecer esta indicadora linha de demarcação.

Mas que tal se Leonardo de fato não quisesse se livrar dela? Que tal se ele a deixou lá deliberadamente para estabelecer um ponto para ‘os olhos que vêem’? Que possível heresia pode o Sudário de Turim levar, até mesmo em código? Certamente há um limite para os símbolos que alguém possa ocultar em uma única imagem  simples e total de um homem nu crucificado, e uma que tem sido analisada por muitos cientistas principais usando equipamento de primeira linha?  Conquanto ainda estaremos retornando a este tema em seu devido curso, vamos meramente apontar por agora que estas questões podem ser respondidas ao olhar dois principais aspectos da imagem. O primeiro diz respeito a abundância de sangue que parece estar correndo fresco dos braços de Jesus e que podem parecer, superficialmente, contradizer a simbólica falta de vinho na mesa da Última Ceia, mas de fato reforça este ponto em particular. A segunda diz respeito a óbvia linha de demarcação  entre a cabeça e o corpo, como se Leonardo estivesse chamando nossa atenção para uma degola. Até onde sabemos, Jesus não foi degolado, e a imagem é uma composição, então estamos sendo pedidos considerar as imagens dos dois caracteres separados que não obstante estão estreitamente ligados de algum modo.  Mas ao fazer isso, porque deveria alguém que foi degolado ser colocado sobre alguém que foi crucificado? Como estaremos vendo, esta pista da cabeça cortada no Sudário de Turim é meramente um reforço dos símbolos em muitos dos trabalhos de Leonardo.

Temos notado como é anômala a mulher, M, em sua Última Ceia, que aparentemente está sendo ameaçada por uma mão que se posiciona perto de seu delicado pescoço, e como o próprio Jesus é ameaçado por um dedo indicador levantado perto de sua face, aparentemente um aviso, ou talvez um lembrete, ou ambos. Nos trabalhos de Leonardo este dedo indicador levantado está sempre, em todos os casos, em uma referência direta a João Batista. Este santo, alegadamente o precursor de Jesus, que dise ao mundo ‘acautele-se do cordeiro de Deus’, cujas sandálias ele não era digno de desamarrar, foi de suprema importância para Leonardo, se formos julgar apenas por sua omnipresença nos trabalhos sobreviventes do artista. Esta obsessão por si só é curiosa para alguém que tem sido amplamente considerado pelos racionalistas modernos não ter tempo para a religião.  Um homem para o qual todos os personagems e tradições da cristandade eram nada, dificilmente teria devotado tanto tempo e energia a esse santo em particular, como ele o fez com João Batista. De tempos em tempos, novamente é João Batista que domina a vida de Leonardo, tanto a nível consciente em seus trabalhos quanto em um nível sincrônico nas coincidências que o rodeiam. É quase como se João Batista o seguisse. Por exemlo, sua amada cidade de Florença é dedicada a este santo e também o é a catedral em Turim onde o falsificado Sudário está.

Sua última pintura, que com MonaLisa, ficou não reclamada nas camaras de suas horas agonizantes, era de João Batista, e sua única peça sobrevivente de escultura [executada juntamente com Giovan Francesco Rustici, um conhecido ocultista] também apresentava Batista. Ela agora está acima da entrada do batistério em Florença, alto acima as cabeças dos turistas, e infelizmente, fornecendo um bom lugar para os irreverentes bandos de pombos.  Este dedo indicador levantado , que chamamos de ‘gesto de João’, foi apresentado na Escola de Atenas de Rafael [1509]. Lá vemos o venerável caráter de Platão exibindo este sinal, mas em cirunstâncias que não são bem uma tal alusão misteriosa como se pode suspeitar. De fato, o modelo para Platão não foi ninguém mais que o próprio Leonardo, obviamente fazendo um gesto que não era somente caraterístico dele de algum modo, mas também profundamente significativo para ele [e presumidamente também para Rafael e outros em seu círculo]. No caso parece que estamos dando importância demais ao que chamamos ‘gesto de João’, mas vamos olhar outros exemplos disso no trabalho de Leonardo. Ele figura em várias de suas pinturas, e, como temos visto, também carrega a mesma importância.

Em seu trabalho inacabado, ‘Adoração dos Magos’ [que foi começado em 1481] um espectador anônimo faz este gesto perto de uma colina de terra na qual cresce uma árvore de alfarroba. Muitos observadores dificilmente perceberiam isso, porque seus olhos seriam inevitavelmente atraídos para o que eles acreditariam ser o ponto inteiro da imagem, como o título sugere, a veneração da Sagrada Família pelos ‘homens sábios’ ou magos. A bela e sonhadora Virgem, com o infante Jesus em seus joelhos, é retratada como um personagem insípido e incolor. Os Magos se ajoelham, apresentando a ela seus presentes para a criança, enquanto ao fundo uma multidão anda em círculos ao redor, aparentemente também venerando a mãe e a criança. Mas, como na Última Ceia, isto é apenas uma pintura superficialmente cristã e merece um exame mais de perto. Os veneradores ao fudo dificilmente são exemplos de saúde e beleza. Delgados quase ao ponto de serem como cadáveres, suas mãos estendidas parecem não muito estarem elevadas em admiração, mas mais como se eles estivessem aranhando em um modo de pesadelo o par. Os Magos apresentam os presentes, mas apenas dois, ao invés dos legendários três. Olíbano e incenso são oferecidos, mas não ouro. Para aqueles dos dias de Leonardo o ouro significava não apenas a riqueza imediata mas também um símbolo de realeza e aqui isso é retirado de Jesus. Se alguém olha por trás da Virgem e dos Magos, parece haver um segundo grupo de veneradores. Eles são muito mais saudáveis e de aparência normal, mas se alguém segue a linha dos olhos deles é óbvio que eles não estão olhando para a Virgem e a criança, mas parecem estar reverenciando as raizes da alfarrobeira, na qual um homem está fazendo o ‘gesto de João’. E a alfarrobeira é tradicionalmente associada a João Batista. Abaixo nocanto inferior da mão direita da pintura um jovem homem se volta deliberadadmente para longe da Sagrada Família. É geralmente aceito que este é o próprio Leonardo, mas de certa forma é um argumento fraco que é frequentemente usado para explicar sua aversão – que o artista sentiu-se indigno de encara-los, e isto dificilmente se sustentará. Porque Leonardo é amplamente conhecido não ter sido nenhum amante da Igreja. Além disso, no personagem de São Tadeu ou São Judas na Última Ceia eles também está virado de costas para o Redentor, assim sublinhando alguma extrema resposta emocional às figuras centrais da história cristã. E como Leonardo dificilmente foi o épitome de piedade ou humildade, esta reação é improvável de ter sido inspirada por um sentimento de inferioridade ou servilismo.

Voltemos a pintura bela e assustadora de Leonardo, ‘A Virgem e a Criança com Santana’, que embeleza a Galeria Nacional de Londres; e novamente aqui estão os  elementos  que devem – mas raramente o fazem – perturbar o observador com suas implicações subversivas. O desenho mostra a Virgem e a criança junto a Santana [Mãe de Maria] e João Batista como uma criança. O  infante Jesus aparentemente está abençoando seu primo João, que olha para cima reflexivamente, enquanto Santana espia intencionalmente a face distraída de sua filha de lugares perto, e está fazendo o ‘gesto de João’ com uma mão curiosamente grande e masculina. Contudo, este dedo indicador levantado se eleva imediatamente sobre a cabeça de Jesus que está dando sua benção, como se sombreando isso literal e metaforicamente. E embora a Virgem pareça estar sentada de um modo extremamente desconfortável, quase como se em uma sela lateral, de fato é o posicionamento de Jesus que é particularmente estranho. A Virgem o segura como se ela o tivesse exatamente lançado para cima para fazer sua benção, como se ela o tivesse trazido para a imagem simplesmente para fazer assim, mas só o possa sustentar com dificuldade. Enquanto isso, João repousa casuamente contra o joelho de Santana como se despreocupado da honra que lhe está sendo dada. Pode ser que a própria mãe da Virgem a estivesse lembrando de algo secreto relacionado a João? Segundo a nota acompanhante na Galeria Nacional, alguns especialistas, intrigados com a juventude de Santana e a presença anômala de João Batista, tem especulado que a pintura realmente apresentasse Maria e sua prima Elizabeth, a mãe de João. Isto parece possível, e se correto, reforça o ponto.

Esta aparente inversão dos papéis usuais de Jesus e João também pode ser visto em uma das duas versões da ‘Virgem das Rochas’ de Leonardo. Os historiadores de arte nunca tem explicado satisfatóriamente porque devam haver duas, mas uma é atualmente exibida na Galeria Nacional em Londres, e a outra, para nós, muito mais interessante, no Louvre em Paris. A comissão original foi de uma confraternização conhecida como Confraternidade da Imaculada Conceição,  e era uma pintura simples para ser a peça central da capela deles na Igreja de San Francesco Grand em Milão. [as outras duas pinturas para o tríptico eram para serem feitas por outros artistas]. O contrato, datado de 25 de abril de 1483, ainda existe, e lança uma luz interessante sobre os esperados trabalhos e sobre o que os membros da confraternidade receberam. Nele eles cuidadosamente especificaram a forma e as dimensões da pintura que eles queriam, uma necessidade porque a modura do tríptico já existia. Estranhamente, ambas das versões terminadas de Leonardo atendem a estas especificações, embora porque ele tenha feito duas delas não seja sabido. Podemos, contudo, lançar uma suposição sobre estas interpretações divergentes que tinham pouco a ver com perfeicionismo e muito com uma consciência de seu potencial explosivo. O contrato também especificava o tema da pintura. Era para retratar um evento que não é encontrado nos Evangelhos mas que está presente a muito tempo na história cristã. É a história de como, durante a fuga para o Egito, José, Maria e o bebê Jesus tinham se abrigado em uma caverna deserta, onde eles se encontraram com o infante João Batista, que estava protegido pelo arcanjo Uriel. O ponto desta história é que ela permitiu o escape de uma das mais óbvias e embaraçosas perguntas levantadas pela história no Evangelho do batismo de Jesus. Porque deveria um Jesus supostamente sem pecado precisar afinal do batismo, dado que o ritual era um gesto simbólico de ter lavado os pecados de alguém e o comprometimento da futura divindade? Porque deveria o próprio filho de Deus se submeter ao que claramente era um ato de autoridade da parte de Batista? Esta história nos conta como, em seu encontro notavelmente fortuito dos dois infantes sagrados, Jesus conferiu ao seu primo João a autoridade de batiza-lo quando ambos fossem adultos.

Por várias razões isto se nos parece a mais ironica comissão que a confraternidade deu a Leonardo, mas suspeita-se igualmente que ele teria ficado deliciado ao recebe-a, e em fazer a interpretação, ao menos em uma das versões, muito sua própria. No estilo do dia, os membros da confraternidade tinham especificado uma pintura extravagante e ornada, completa com toques de folha de ouro e um tumulto de querubins e profetas espectrais do Velho Testamento para encher o espaço. O que eles receberam no fim era muito diferente, em uma tal extensão que as relações entre eles e o artista se tornaram acrimoniosas, culminando em um processo que se arrastou por mais de vinte anos. Leonardo escolheu representar a cema tão realisticamente quanto o possível, sem nenhum personagem estranho a ela, não haveria gordos querubins ou sombrios profetas do juizo final para ele. De fato, a ‘dramatis personae’ tem sido talvez excessivamente reduzida gradualmente, porque embora esta cena supostamente apresente a fuga para o Egito da Sagrada Família, José não aparece nela.

A versão do Louvre, que foi a anterior, mostra uma Virgem em um robe azul com um braço protetor ao redor de uma criança, o outro infante estando agrupado com Uriel. Curiosamente, as duas crianças são idênticas, mas ainda mais estranho, é a criança com o anjo que está abençoando a outra, e a criança de Maria que está ajoelhada em subserviência. Isto tem levado os historiadores de arte a assumirem que, por alguma razão, Leonardo escolheu posicionar a criança João com Maria. Afinal, não há rótulos que identifiquem os indivíduos e certamente a criança que tem a autoridade de abençoar deve ser Jesus. Há, contudo, outros meios de interpretar esta pintura, meios que não apenas sugerem mensagens fortemente subliminares e altamente não ortodoxas, mas que também reforçam os códigos usados nos outros trabalhos de Leonardo. Talvez a similaridade entre as duas crianças aqui sugira que Leonardo estava deliberadamente falsificando a identidade delas para seus próprios propósitos. E, enquanto Maria está protetoramente abraçando a criança geralmente aceita como João com sua mão esquerda, sua mão direita está estendida acima da cabeça de ‘Jesus’ no que parece ser um gesto de clara hostilidade. Isto é o que Serge Bramly, em sua recente biografia de Leonardo, descreve como ‘o reminescente talão de uma águia’. Uriel está apontado através da criança de Maria, mas também, enigmaticamente ao observador, o que é, resolutamente para longe da criança e da Virgem. Conquanto seria mais fácil aceitar este gesto como uma indicação de quem seria o Messias, há outros possíveis significados.  Que tal se a criança com Maria, na versão do Louvre, da ‘Virgem das Rochas’, seja Jesus, como poderia ser lógico de se esperar e o mais jovem com Uriel fosse João? Lembre-se que neste caso é João que está abençoando Jesus, com o último se submetendo a sua autoridade. Uriel, como protetor especial de João, está evitando até mesmo olhar Jesus. E Maria, protegendo seu filho, está lançando uma mão ameaçadora alto acima da cabeça do bebê João. Várias polegadas diretamente abaixo da palma esticada dela a mão apontadora de Uriel corta diretamente através, como se os dois gestos estivessem compreendendo alguma pista críptica. É como se Leonardo estivesse indicando que algum objeto, alguma coisa importante mas invisível, devesse preencher o espaço entre eles. No contexto de modo algum é fantasioso entender que os dedos esticados de Maria querem parecer como se estivessem colocados em uma coroa de uma cabeça invisível, enquando o dedo indicador de Uriel corta o espaço precisamente onde deveria estar o pescoço. Esta cabeça fantasma flutua exatamente sobre a criança que está com Uriel. Então esta criança é efetivamente rotulada afinal, porque uma as duas era para morrer decapitada? E se este é verdadeiramente João Batista, é ele que é mostrado dando a benção, sendo o superior. Ainda que quando nos voltamos para a versão muito mais posterior da Galeria Nacional, descobrimos que todos os elementos necessários para fazer este interpretação herética estão faltando, mas apenas estes elementos. As duas crianças são bem diferentes na aparência, e a que está com Maria sustenta a tradicional cruz longa de Batista [embora seja verdade que deva ter sido acrescentada por um artista posterior]. Aqui a mão direita de Maria ainda está esticada sobre a cabeça da outra criança, mas dessa vez não há sugestão de uma ameaça. Uriel não mais aponta nem olha para fora da cena. É como se Leonardo estivesse os convidando a localizar as diferenças ousando nos fazer tirar nossas próprias conlusões dos detalhes anômalos.

Este tipo de exame do trabalho de Leonardo revela uma plétora de sub-correntes provocantes e perturbadoras. Parece haver uma repetição, usando vários engenhosos sinais subliminares e símbolos, do tema de João Batista. De tempos em tempos novamente ele, e as imagens que o denotam, estão elevadas acima da figura de Jesus, até mesmo se estamos certos, nos símbolos que estão perspicazmente colocados no próprio Sudário de Turim. Há algo dirigido sobre esta insistência, não menos no muito intrincado das imagens que Leonardo usou,  e de fato, no risco que ele assumiu em apresentar até mesmo uma tal sagaz e subliminar heresia ao mundo. Talvez, como já temos apontado, a razão pela qual ele teha terminado tão pouco de seu trabalho não tenha sido porque ele era um perfeccionista, mas também porque ele estivesse ciente demais do que poderia acontecer a ele se alguém de importância visse através da fina camada da ortodoxia a clara ‘blasfêmia’ que jaz sob a superfície. Talvez até mesmo o gigante físico e intelectual que foi Leonardo estivessem um pouco cauteloso quanto a cair em complicações com as autoridades, uma vez que isto era bem o bastante para ele. Contudo, certamente ele não teria qualquer necessidade de colocar sua cabeça no bloco por trabalhar tais mensagens heréticas em suas pinturas a menos que ele tivesse uma crença apaixonada nelas.

aComo já temos visto, longe de seu um ateu materialista tão amado por muitos modernos, Leonardo era profundamente comprometido com um sistema de crenças que corre totalmente contra o que era então, e ainda é agora, a principal corrente da cristandade. Isto era o que muitos possam preferir chamar de oculto. Para a maioria das pessoas hoje esta é uma palavra que tem conotações imediatas e menos do que positivas. É tomado como significando magia negra, ou criações de charlatães depravados, ou ambos. De fato, a palavra oculto simplesmente significa ‘escondido’ e é geralmente usada na astronomia, tal como na descrição de um corpo celestial ‘ocultando’, ou ‘eclipsando’ outro. Onde Leonardo estava preocupado, pode-se concordar que conquanto haja de fato elementos em sua vida e crenças que batem com ritos sinistros e práticas mágicas, é também verdade que o que ele buscava era, acima e além de qualquer coisa mais, o conhecimento. A maioria do que ele buscava tinha, contudo, sido efetvamente ‘ocultada’ da sociedade e por uma organização poderosa e omnipresente em particular. Pela maior parte da Europa naquele tempo a Igreja barrava qualquer experimentação científica e dava passos drásticos para silenciar aqueles que tornavam suas opiniões individualmente particulares, públicas.

Contudo, Florença, onde Leonardo nasceu e cresceu, e em cuja côrte sua carreira realmente começou, era um centro florescente para uma nova onda de conhecimento. Isto, muito perplexantemente, era devido inteiramente a este cidade ter sido um paraíso para grandes números de ocultistas e mágicos influentes. Os primeiros patronos de da Vinci, a família Medici que governava Florença, ativamente encorajava a erudição oculta e até mesmo patrocinou pesquisadores para procurarem, e traduzirem, específicos manuscritos perdidos. Este fascínio pelo arcano não era o equivalente da Renascença aos horóscopos de jornal de hoje. Embora houvessem áreas inevitáveis de investigação que nos pareceriam ingenuas ou claramente supersticiosas, havia muitas mais que representam uma séria tentativa de entender o universo e o lugar do homem dentro dele. Os mágicos, contudo, deviam ir um pouco adiante, e descobrir como controlar as forças da natureza. Parece nesta luz, talvez isto não seja assim tão notável que Leonardo de todas as pessoas fosse, como acreditamos, um participante ativo da cultura oculta de seu tempo e lugar. E o distinguido historiador Dame Frances Yates tem até mesmo sugerido que a chave toda para o genio de longo alcance de Leonardo posa ter estado nas idéias contemporaneas  do mágico. Os detalhes das precisas filosofias tão prevalentes neste movimento oculto Florentino podem ser encontradas em nosso livro anterior, mas brevemente, o objeto central a questão de todos os grupos daquela época era o hermeticismo, que tomou seu nome de Hermes Trimegistus, o grande, se lendário, mago egípcio cujos livros apresentavam um coerente sistema mágico. Mas de loge a parte mais importante do pensamento hermético era a idéia de que o homem era de algum modo literalmente divino, um conceito que por si só era tão ameaçador para manter os corações e mentes do rebanho da Igreja que devia ser considerado um anátema. Os príncípios herméticos foram certamente demostrados na vida e no trabalho de Leonardo, mas ao primeiro olhar pareceria haver uma evidente discrepância entre estas sofisticadas idéias filosóficas e cosmológicas e as noções heréticas que não obstante patrocinam a importância das figuras bíblicas. [devemos ressaltar que as crenças heteredoxas de Leonardo e seu círculo não eram meramente o resultado de uma reação contra uma Igreja corrupta e crédula. Como a história tem mostrado, havia de fato uma forte e certamente não descoberta reação a Igreja de Roma, o inteiro movimento protestante. Mas tivesse Leonardo estado vivo hoje não o encontrariamos adorando naquele tipo de igreja também].

Contudo há uma grande quantidade de evidência que os hermeticistas podiam também serem claramente heréticos. Giordano Bruno (1548-1600), o pregador fanático do hermeticismo, proclamou que suas crenças vieram da antiga religião egípcia que precedeu o cristianismo, e que o eclipsou em importância. Parte deste florescente mundo oculto, mas ainda tão cuidadoso da desaprovação da Igreja para ser algo mais do que um movimento subterrâneo, eram alquimistas. Novamente eles são um grupo que sofre de um moderno preconceito. Hoje eles são considerdados tolos que desperdiçaram suas vidas tentando em vão transformar o metal base em ouro; de fato esta imagem é uma útil tela de fumaça para os alquimistas sérios que estavam mais preocupados com a apropriada experimentação científica, mas também com a transformação pessoal e seu implícito controle total do próprio destino da pessoa. Novamente, não é difícil ver que alguém tão faminto de conhecimento quanto Leonardo faria parte deste movimento, talvez um dos primeiros participantes dele. Conquanto não haja evidência direta de seu envolvimento, ele foi conhecido por se associar com comprometidos ocultistas de todas as sombras, e a nossa pesquisa em sua falsificação do Sudário de Turim sugere fortemente que a imagem foi o resultado direto de seus próprios experimentos ‘alquímicos’. [De fato temos chegado a conclusão que a própria fotografia foi uma vez o maior dos segredos alquímicos]. Falando simplesmente, é altamente improvável que Leonardo não estivesse familiarizado com qualquer sistema de conhecimento que fosse disponível em seus dias, mas ao mesmo tempo, dado os riscos que envolviam ser abertamente parte deles, é igualmente improvável que ele colocasse qualquer evidência disso no papel. Ainda que, como temos visto, os símbolos e imagens sejam repetidamente  usadas em suas chamadas pinturas cristãs onde dificilmente aqueles que, tivessem eles entendido sua verdadeira natureza, teriam sido apreciados pelas autoridades da Igreja. Até mesmo assim, um fascínio como hermeticismo pode ser, ao menos superficialmente, quase o fim oposto da balança para uma preocupação com João Batista, a importancia atribuida da mulher ‘M’.

De fato, era esta discrepância que nos intrigou em uma tal extensão que nos aprofundamos posteriormente. De fato pode ser argumentado que o que todos estes infindáveis indicadores levantados significa é que um genio da Renascença era obcecado por João Batista. Mas é possível que um significado mais profundo jaza sob a crença pessoal de Leonardo? Foi a mensagem que pode ser lida em suas pinturas de algum modo realmente verdadeira? Certamente o Mestre a muito tinha sido reconhecido nos círculos ocultos como sendo possuidor de um conhecimento secreto. Quando começamos a pesquisar sua participação no Sudário de Turim chegamos a muitos rumores entre tais pessoas para avaliar que ele não apenas tinha uma mão em sua criação, mas também que ele era um reconhecido mago de algum renome.  Há até mesmo um cartaz parisiense do século XIX anunciando o Salão da Rosacruz, um local de encontro para ocultistas de mente artística, que apresenta Leonardo como o Guardião do Santo Gral [que em tais círculos pode ser tomado de antemão o guardião dos mistérios]. Novamente, rumores e licença artistica não fazem por si mesmos acrescentarem muito, mas, se reunidos com todas as outras indicações listadas acima,  eles certamente aguçam nosso apetite para saber mais sobre o desconhecido Leonardo. Até onde tivemos isolado a maior margem do que pareceu ser a maior obsessão de Leonardo: João Batista. Conquanto não fosse apenas natural que ele recebesse comisssões para pintar ou esculpir aquele santo enquanto vivia em Florença, um lugar dedicado a João, é um fato que, quando deixado por conta própria, Leonardo assim o escolhesse. Afinal, a última pintura que ele estava a trabalhar antes de sua morte em 1519, que não foi comissionada por qualquer pessoa, mas pintada pelas próprias razões dele, era de João Batista. Talvez ele quisesse a imagem para olhar enquanto estivesse morrendo. E até mesmo quando ele tinha sido pago para pintar uma cena cristã ortodoxa, ele sempre, se ele pudesse se afastar disso, emfatizava o papel de Batista nela. Como temos visto, suas imagens de João são elaboradamente criadas para transmitirem uma mensagem específica, até mesmo se pega de forma imperfeita e subliminar.

João certamente é apresentado como importante, mas então ele era o precursor, o arauto e parente sanguíneo de Jesus, então é apenas natural que seu papel deva ser reconhecido deste modo. Ainda que Leonardo não estivesse nos dizendo que Batista era, como todo mundo mais, inferior a Jesus. Em seu quadro ‘A Virgem das Rochas’ o anjo está, argumentavelmente, apontando para João, que está abençoando Jesus e não vice versa. Na ‘Adoração dos Magos’ as pessoas sadias e de aparência normal estão venerando as raízes elevadas da alfarrobeira, a árvore de João, e não a incolor Virgem e a criança. E o ‘gesto de João’, aquela indicador da mão direita levantado, está lançado na face de Jesus na Última Ceia no que de nenhum modo é claramente amante ou apoiador; no mínimo, parece estar dizendo de uma maneira claramente ameaçadora ‘Lembre-se de João’. E o que é o menos conhecido dos trabalhos de Leonardo, o Sudário de Turim, tem o mesmo tipo de simbolismo, com sua imagem de uma cabeça aparentemente cortada sendo colocada sobre um corpo classicamente crucificado. A evidência completa é que, para Leonardo ao menos, João Batista era superior a Jesus. Tudo isso pode fazer Leonardo parecer ter sido uma voz bradando na escuridão. Afinal, muitas grandes mentes tem sido execêntricas, para dizer o mínimo. Talvez esta seja ainda uma outra área de sua vida na qual ele ficou fora das convenções de seu tempo, não apreciado e só. Mas também estavamos cientes, até mesmo no início de nossa pesquisa no final da década de 1980, que a evidência, embora de uma natureza altamente controversa – tinha emergido nos anos recentes que o ligavam com uma sociedade secreta sinistra e poderosa. Este grupo, que alegadamente existiu muito séculos antes de Leonardo, envolveu alguns dos mais influentes indivíduos e famílias na história européia e, segundo algumas fontes, ainda existe hoje. Não apenas, é dito, eram os membros da aristocracia os principais movimentadores nesta organização, mas algumas das mais eminentes figuras de hoje na vida economica e politica a mantém viva para suas metas particulares. Se nós tivéssemos carinhosamente imaginado naqueles dias iniciais que estariamos passando nosso tempo em galerias de arte decodificando pinturas da Renascença dificilmente teriamos estado mais adiante da verdade.

CAPÍTULO DOIS
DENTRO DO SUBMUNDO

Nossa pesquisa sobre o ‘desconhecido’ Leonardo era para se tornar uma busca longa e incrivelmente envolvente, pode-se dizer, de uma iniciação do que uma simples jornada de A a B. Ao longo do caminho nos encontramos em muitas avenidas cegas, e nos tornamos pegos na armadilha no submundo daqueles ligados a sociedades secretas que se deliciam não apenas em jogar jogos sinistros mas também em serem agentes de desinformação e confusão. Frequentemente nos encontramos confusamente imaginando apenas como a simples pesquisa da vida e trabalho de Leonardo da Vinci pudesse possivelmente nos levar a um mundo que não acreditávamos existir fora dos mais impenetráveis filmes do grande surrealista francês Jean Cocteau como seu Orfeu, com sua apresentação de um Submundo alcançado por andar magicamente por espelhos. De fato foi este mesmo expoente do bizarro, Cocteau, que iria fornecer ainda mais pistas não apenas das próprias crenças de Leonardo, mas também da existência de uma continuada tradição subterrânea que tinha as mesmas preocupações.

Estavamos para descobrir que Cocteau [1889-1963] não parece ter estado envolvido nesta sociedade secreta, a evidência para isso será discutida abaixo. Mas primeiro vamos analisar o tipo mais imediato de evidência – aquele de nossos próprios olhos. Surpreendentemente perto das luzes brilhantes e do clamor da Leichester Square em Londres está a Igreja de Notre-Dame de France. Localizada em Leicester Place, virtualmente a porta seguinte a um salão de sorvetes muito popular e em moda entre adultos, é notoriamente difícil de encontrar, porque sua fachada dificilmente se anuncia com o exibicionismo que se pode associar às grandes igrejas católicas. Pode-se claramente passar por ela sem um segundo olhar, e certamente sem entender exatamente como significativamente sua decoração difere daquela da maioria das outras igrejas cristãs. Originalmente construída em 1865 em um local com associações aos Cavaleiros Templários,  Notre-Dame de France foi quase que totalmente destruída pelas bombas nazistas na Blitz, e reconstruída na década de 1950. Uma vez passado seu modesto exterior, o visitante se encontra em um hall grande, alto e arejado que de início pode parecer típico do projeto católico moderno. Quase privada de pomposo estatuário que sobre-adorna muitos outros edifícios, ela não obstante contém pequenas placas apresentando as Estações da Cruz, um alto altar debaixo de uma alta tapeçaria de uma jovem Virgem loura cercada por animais em adoração, que, embora de certa forma reminescentes de uma das mais belas cenas de Disney, ainda está dentro de uma aceitável apresentação da jovem Maria, e uns poucos santos em gesso presidindo sobre os lados da capela. Mas do lado esquerdo do visitante, quando ele olha na direção do altar principal, há uma pequena capela onde não há uma estátua de culto, mas não obstante tem muito mais seu proprio seguimento de culto. Os visitantes vem  aqui para admirar e tirar fotografias de seu mural não usual, que foi trabalho de Jean Cocteau, que o terminou em 1960, e a igreja é  orgulhosa de vender cartões postais deste famoso trabalho de arte. Mas, exatamente como é o caso das pinturas cristãs de Leonardo, este afresco, quando meticulosamente examinado, revela consideravelmente menos do que simbolismo ortodoxo. E a comparação com o trabalho de Leonardo não é acidente. Até mesmo dado a brecha de 500 anos, não obstante pode ser dito que Leonardo e Cocteau  estavam de alguma forma colaborando através dos séculos? Antes que voltemos nossa atenção para a curiosidade de Cocteau, vamos olhar a Igreja de  Notre-Dame de France em geral.

Embora não única, é certamente não usual para uma igreja católica ser redonda, e aqui esta forma é enfatizada em vários detalhes. Por exemplo, há uma surpreendente clarabóia em forma de domo decorado com um desenho de anéis concêntricos, que não pode ser fantasioso demais interpretar como algum tipo de teia de aranha. E as paredes, tanto dentro quanto fora, tem o motivo repetido de cruzes de braços iguais alternadas e ainda mais círculos. A igreja do pós-guerra, embora tão nova quanto posa ser, se eleva orgulhosamente incorporando uma placa de pedra que tinha sido retirada da Catedral de Chartres, esta jóia na coroa da arquitetura gótica e, como iriamos descobrir, um foco para aqueles grupos cujas crenças religiosas não eram tão claramente ortodoxas quanto os livros de história nos levam a acreditar. Pode ser objetado que nada existe de particularmente profundo ou sinistro em incluir uma tal pedra; afinal, durante a guerra, esta igreja era um ponto de encontro das forças da França Livre e um pedaço de Chartres era, certamente, um símbolo pungente de tudo que a terra natal significa. Contudo, nossa pesquisa viria a mostrar que havia de fato mais do que isso. Dia a dia muitas pessoas, londrinos e visitantes igualmente, paravam em Notre Dame de France para orar e tomar parte nos serviços religiosos. A igreja parece ter sido uma das mais ocupadas em Londres, e também atuava como um abrigo conveniente para os despossuídos das ruas, que eram tratados com grande gentileza. Mas é o mural de Cocteau qe atua como um imã para a maioria que vai lá como parte de sua viagem a Londres, embora eles possam bem ficar em vantagem com o oásis de calma no meio da agitação da cidade.

Inicialmente o afresco pode ser desapontador, porque grande parte do trabalho de Cocteau  a primeira vista pode ser pouco mais que um esquete pintado, uma cena simplesmente ressaltada em poucas cores em puro gesso. Ele apresenta a Crucificação: a vítima sendo cercada por aterrorizados soldados romanos, mulheres lamentando e discípulos. Ele certamente tem, pode-se pensar, todos os ingredientes da tradicional cena da cricificação, mas, como a Última Ceia de Leonardo, ele merece um exame mais de perto, mais crítico e mais do senso cumum. A figura central, a vítima da mais horrível forma de tortura, bem pode ser Jesus. Mas igualmente é verdadeiro não sabemos sua identidade com certeza simplesmente porque o vemos apenas dos joelhos para baixo. O resto de seu corpo não é mostrado. E aos pés da cruz está uma enorme rosa azul avermelhada. Ao fundo está uma figura que nem é um romano ou um discípulo, alguém que está de costas para a cruz e que parece estar severamente perturbado pela cena que se desenrola atrás dele. Na verdade, é um evento muito perturbador testemunhar a morte de qualquer homem em tais circunstâncias; é certamente suficientemente atormentante; mas estar presente quando Deus encarnado está esvaindo seu sangue seria indescritivelmente traumático. Ainda que a expressão deste personagem não seja aquela de um perplexo humanitário, nem aquela de um crente despojado venerador. Se alguém é honesto, a sobrancelha contraída e a a olhada de lado são aquelas de uma testemunha desencantada e até mesmo desgostosa. Esta não é a reação de alguém que esteja remotamente inclinado a curvar seus joelhos em veneração, mas de alguém que está expressando sua opinião de igual para igual. Então quem é esta presença desaprovadora no mais sagrado evento da Cristandade? Não é nenhum outro que o próprio Cocteau. E se alguém se lembrar que Leonardo se pintou olhando para longe da Sagrada Família na Adoração dos Magos, e para longe de Jesus na Última Ceia, há no mínimo, pode-se dizer, uma familiar semelhança entre os dois pintores. E quando se considera que ambos artistas foram ditos membros de alto escalão da mesma sociedade secreta herética, a pesquisa posterior se torna irresistível. Brilhando sobre a cena está um sol negro, lançando seus raios escuros no céu adjacente. Imediatamente diante dele está uma pessoa, presumidamente um homem, cujos olhos elevados e esbugalhados, silhuetados contra o horizonte, são notavelmente como arrogantes peitos. Quatro soldados romanos em um ataque épico posam ao redor da cruz, sustentando lanças de um modo estranho e aparentemente significativo, em ângulos – e um deles tem um escudo que ostenta um desenho de um falcão estilizado. E aos pés de dois deles está uma peça de roupa sobre a qual há dados espalhados. A soma total dos números mostrados neles é 58. Um insípido homem jovem aperta suas mãos aos pés da cruz, seu olhar de certa forma vago centrado em uma das duas mulheres na cena. Elas por sua vez parecem estar unidas por uma grande forma de M exatamente abaixo do homem que tem olhos como seios. A mais velha das mulheres olha para baixo em seu luto e parece estar chorando sangue; a mais jovem está literalmente mais distante, seu corpo todo afastado disso. A forma espalhada do M é repetida na frente do altar imidiatamente diante do mural. A última figura da cena, na extrema direita da imagem, é um homem de idade indeterminada, cujo único olho visível é desenhado na fora distinta de um peixe.

Alguns comentadores tem ressaltado que os ângulos das lanças dos soldados formam um pentagrama, isso mesmo uma figura não ortodoxa em uma tal tradicional cena cristã. Isso, contudo intrigante, não é parte de nossa atual investigação. Como temos visto, parece haver links superficiais entre as mensagens subliminares nos trabalhos religiosos de Leonardo e de Cocteau e é este uso partilhado de certos símbolos que chamou nossa atenção. Os nomes de Leonardo da Vinci e Jean Cocteau aparecem na lista dos Grão Mestres do que se afirma ser uma das mais velhas e influentes sociedades secretas da Europa, o Priorado de Sião. Enormemente controvertido, sua própria existência tem sido questionada e portanto qualquer de suas alegadas atividades são frequentemente sujeitas ao ridículo e suas implicações ignoradas. De início, simpatizamos com este tipo de reação, mas nossas investigações posteriores certamente revelaram que o assunto não era tão simples assim.

O Priorado de Sião veio pela primeira vez a atenção do mundo de lingua inglesa em 1982, através do best-seller ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ de  Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, embora em sua terra natal, a França, relatos de sua existência vieram a público já na década de 1960. E uma ordem cavaleiresca ou quase-maçonica com certas ambições políticas e, assim parece, consideravelmente um poder por trás das cenas. Tendo dito isso, é notoriamente difícil categorizar o priorado, talvez porque haja algo essencialmente quimérico sobre a operação inteira. Contudo nada há de ilusório sobre a informação dada a nós pelo representante do priorado com quem nos encontramos no início de 1991. O encontro sendo o resultado de uma série de cartas mais do que bizarras enviadas a nós depois de uma discussão no rádio sobre o Sudário de Turim. O que levou a este encontro ligeiramente surreal é detalhado em nosso livro anterior, mas pelo momento é suficiente dizer que um ‘Giovani’, o qual apenas conhecemos sob este pseudônimo, um italiano que afirmava ser um membro do alto escalão do Priorado de Sião, tinha nos observado cuidadosamente até mesmo nos estágios mais iniciais de nossa pesquisa sobre Leonardo e o Sudário.

Seja qual for a razão, ele tinha finalmente decidido nos contar sobre certos interesses desta organização e talvez até mesmo nos envolver em seus planos. Grande parte da informação era para levar eventualmente, depois de uma certa forma tortuosa, a examinarmos isso, ao nosso livro sobre o Sudário de Turim, mas ao menos a mesma quantidade novamente não tinha relevância para aquele trabalho, e foi portanto omitida dele. A despeito de frequentemente surpreendente, ou até mesmo chocante, as implicações das informações de Giovani, fomos levados a considerar a maior parte delas seriamente, simplesmente porque a nossa pesquisa independente a confirmava. Por exemplo, a imagem no Sudário de Turim se comporta como uma fotografia porque, como temos demonstrado, é precisamente o que ela é. E se, como afirmou Giovani, sua informação realmente veio dos arquivos do Priorado, então há razão para abordar a noção deles, talvez com um pouco de ceticismo saudável, mas por nenhum meio com a negativa de muitos de seus detratores.

Quando pela primeira vez ficamos envolvidos com o mundo secreto de Leonardo, logo entendemos que se esta sociedade sombria tivesse tido uma parte integral na vida dele, então poderia ir um longo caminho para explicar sua força motriz. Se ele já tivesse sido parte realmente de uma poderosa rede subterrânea de algum tipo, seus patronos influentes, tais como Lorenzo de Medici e Francisco I da França podem também terem estado implicados. Parecia haver alguma organização sombria por trás das obsessões de Leonardo. Mas ela era, como afirmam alguns, realmente o Priorado de Sião? Se são verdadeiras as afirmações do Priorado, então já existia uma organização venerável quando Leonardo foi recrutado para suas fileiras. Mas seja qual for sua idade, ela deve ter exercido uma atração poderosa e talvez única para o jovem artista e para vários de seus igualmente incrédulos colegas da Renascença. Talvez, como os modernos Maçons Livres, ela oferecesse o avanço material e social, facilitando o caminho do jovem homem pelas mais influentes côrtes européias, mas isto não explicaria a evidente profundidade das próprias estranhas crenças de Leonardo. Seja no que for que ele tenha tomado parte, isto apelava ao espírito muito mais que aos interesses materiais. O poder subjacente do Priorado de Sião é ao menos parcialmente devido a sugestão de que seus membros são, e sempre tem sido, guardiães de um grande segredo, um que, se tornado público, abalaria as próprias fundações da Igreja e do Estado. O Priorado de Sião, algumas vezes conhecido como Ordem de Sião ou Ordem de Nossa Senhora de Sião, bem como por outros títulos subsidiários, afirma ter sido fundado em 1099, durante a Primeira Cruzada e até mesmo então isso foi uma matéria de formalizar um grupo cuja guarda deste conhecimento explosivo já vem de muito antes. Eles afirmam estarem por trás da criação dos Cavaleiros Templários, este corpo curioso de monges-guerreiros medievais de sinistra reputação. O Priorado e os Templários se tornaram, assim é declarado, virtualmente a mesma organização, presidida pelo mesmo Grão Mestre, até que eles sofreram um cisma e seguiram caminhos separados em 1188.  O Priorado continuou sob a custódia de uma série de Grão Mestres, incluindo alguns dos nomes mais illustres na história tal como Sir Isaac Newton, Sandro Filipepi (conhecido como Botticelli), Robert Fludd, o filósofo ocultista inglês, e, com certeza, Leonardo da Vinci, que, é alegado, presidiu o Priorado pelos últimos nove anos de sua vida. Entre seus líderes mais recentes estavam Victor Hugo, Claude Debussy e o artista, teatrólogo e cineasta Jean Cocteau.

E embora eles não fossem Grão Mestres, o Priorado tem, assim é alegado, atraído outros luminares através dos séculos como Joana D’Arc,  Nostradamus (Michel de Notre Dame) e até mesmo o Papa João XXIII. Fora tais celebridades, a história do Priorado de Sião envolveu algumas das maiores famílias reais e aristocráticas da Europa, geração após geração. Estas incluem os d’Anjous,  Habsburgs,  Sinclairs e Montgomeries. A relatada meta do Priorado é proteger os descendentes da velha dinastia Merovíngia de reis no que agora é a França, que reinaram do século V até o assassinato de Dagoberto II no século VII. Mas então os críticos afirmam que o Priorado de Sião não existiu até os anos de 1950 e consiste em um punhado de mitomaníacos sem nenhum poder real, realistas com delírios ilimitados de grandeza. Assim por um lado temos as próprias declarações do Priorado de seu pedigree como uma razão de ser e por outro as declarações de seus detratores. Estivemos confrontados com este golfo aparentemente insuperável e, para sermos honestos, tivemos dúvidas sobre continuar esta linha particular de pesquisa. Contudo, entendemos que embora uma avaliação do Priorado logicamente se quebre em duas partes, as questões sobre sua existência nos dias atuais e de suas declarações históricas, a matéria é bem complexa e nada ligada com aquela organização é bem nítida. Uma ligação duvidosa ou aparente contradição relativa as atividades do Priorado inevitavelmente leva os céticos a denunciarem a coisa inteira como uma completa falta de lógica do início ao fim. Mas devemos ser lembrados que estamos lidando com fazedores de mitos, que frequentemente estão mais preocupados em conduzir idéias poderosas e até mesmo chocantes pelo uso de imagens arquetípicas do que em comunicar a verdade literal. Da existência moderna do Priorado não temos dúvida. Nossos contactos com Giovani nos persuadiram que ele, ao menos, não era um trapaceiro aleatório da confiança e que a informação dele era para ser acreditada. Ele não apenas fez nos dar fatos valiosos sobre o Sudário de Turim. Ele tambémnos forneceu detalhes sobre vários outros indivíduos que estão atualmente envolvidos com o Priorado e outras organizaçõews esotéricas, talvez aliadas, tanto no Reino Unido quanto no Continente. Por exemplo, ele nomeou como um membro companheiro um consultor de publicação com o qual haviamos trabalhado na década de 1970. A primeira vista, a informação de Giovani sobre este homem nos pareceu como mera fantasia prejudicial da parte dele, mas dentro de poucos meses algo muito estranho aconteceu. Pelo que certamente foi uma surpreendente sincronicidade, que o mesmo consultor comparecesse a uma festa dada por um de nossos amigos em novembro de 1991 em um restaurante de que ela particularmente gostava – que de modo algum era perto de sua casa, mas exatamente na esquina de um de nós. Então foi especialmente perplexante descobrir alguém que havia sido indicado por Giovani entre os participantes da festa, bem na nossa porta. Nos mantivemos em contacto com ele depois e fomos convidados a sua casa em Surrey.  Sempre uma boa companhia, não era difícil passar um tempo com ele e sua esposa, mas gradualmente um fato tornou-se evidente. Ele era membro do Priorado de Sião. Nosso contacto com ele durante este período culminou com uma festa depois do Natal em sua casa de campo.  O evento foi glamuroso mas amigável e nossos anfritriões e convidados eram encantadores cosmopolitanos, que eram notavelmente talvez, em retrospecto, excessivamente interessados em nosso trabalho sobre Leonardo e o Sudário. Isto foi muito lisongeiro, mas de cdrto modo inquietante, especialmente porque todos eles eram membros da cena bancária internacional. Nosso anfritrião já nos era bem conhecido como membro de algum tipo de organização maçonica, mas a despeito de sua pronte e frequentemente ruidosa esperteza, ele também era um ocultista praticante.  Sabemos que isso é verdade, parcialmente porque ele nos disse no que era claramente um movimento deliberado. Obviamente ele queria que soubéssemos algo sobre os ensinamentos ocultos dele e de seu círculo, mas o que exatamente? Seja qual for a natureza de  sua agenda oculta  tinhamos aprendido que o Priorado existe entre homens e mulheres influentes de lingua inglesa. Giovani também nomeou um certo diretor de uma casa publicadora em Londres, que nós também conheciamos, como membro do Priorado. Conquanto fossemos incapazes de confirmar a afiliação dele a esta organização, descobrimos que seu interesse no oculto se estende além de artigos e livros ocasionais que ele escreve sobre o assunto sob outros nomes.

Ele também desempenhou um papel importante na publicação de ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ em 1982. (e certamente não é coincidência que ele tenha uma segunda casa perto de uma certa vila francesa que tem, como devemos ver, uma maior parte a desempenhar no drama que circunda o Priorado de Sião). O fato importante que emerge de nossos contactos com estes homens é que o moderno Priorado de Sião não é, como o afirmam os criticos, meramente uma invenção de um punhado de franceses com fantasias monarquistas. Por causa de nossas experiências e contactos recentes, não há dúvidas em nossas próprias mentes que o Priorado existe agora. Seu afirmado pedigree histórico, contudo, é bem um outro assunto. Deve ser admitido que os críticos do Priorado tem um ponto no qual a primeira referência documentada a ele data tão recentemente quanto 25 de junho de 1956. Sob as leis francesas todas as associações devem se registrar, paaradoxal quanto isso possa ser, parece ser este o caso das chamadas sociedades secretas.

A afirmação do Priorado ao tempo de seu registro era que sua meta é fornecer ‘estudos e ajuda mútua aos membros’, uma declaração que, embora positivamente Pickwikiana em seu suave altruismo, é também um estudo de cuidadosa neutralidade. É declarado ser sua única atividade a publicação de uma revista chamada CIRCUIT que era, nas próprias palavras do Priorado, ‘para informação e defesa de direitos e liberdades das casas de baixa renda’ (foyers HLM – literalmwnte o equivalente do Conselho Britânico de Habitação). A declaração listou quatro oficiais da associação, o mais interessante e mais conhecido dos quais era um  Pierre Plantard, que também era o editor de CIRCUIT. Desde esta obscura declaração, o Priorado de Sião tem se tornado conhecido por uma audiência muito mais ampla. Não apenas seus estatutos tem aparecido impressos, completos com a assinatura de seu alegado Grão Mestre naquele tempo, Jean Cocteau, [embora, com certeza, esta possa ser uma falsificação] mas também o Priorado tem aparecido em vários livros. Seu debut foi em 1962 em ‘Os Templários estão Entre Nós’ de Gérard de Sède, que incuia uma entrevista com Pierre Plantard. Em 1982, o fenomenal beste seller ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln chegou as livrarias, e estabeleceu a controvérsia certamente feita do Priorado como um assunto em moda para o debate entre um público muito mais amplo. Que este livro pedia organização e extrapolou de suas metas alegadas, será contudo abordado mais tarde. Pierre Plantard emerge do material para o domínio público como um personagem colorido que tem aperfeiçoado a arte política doe olhar diretamente para o questionador enquanto talentosamente lida com atual questão de uma maneira ou outra. Nascido em 1920, ele primeiramene veio ao conhecimento público na França Ocupada em 1942 como o editor de um jornal chamado Conquista para uma Jovem Cavalaria [Vaincre Vaincre pour une jeune chevalerie], que eram marcantemente crítico dos opressores nazistas, e que de fato foi publicado com a aprovação deles. Este era oficialmente o órgão da Ordem de Alpha-Galates, uma sociedade cavaleiresca e quase maçonica, baseada em Paris, da qual Plantard se tornou Grão Mestre aos 22 anos. Seus editoriais apareceram primeiramente sob o nome de ‘Pierre de France’, então ‘Pierre de France-Plantard’ e finalmente simplesmente ‘Pierre Plantard’. Sua obsessão com o que ele considerava ser a versão correta de seu nome pode mais uma vez ser vista quando ele adotou o grandioso título de  ‘Pierre Plantard de Saint-Clair’, que foi o nome sob o qual ele apareceu em ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ e que ele usou quando foi Grão Mestre do Priorado de Sião entre 1981 e 1984. (Vaincreis agora é o título do boletim interno do Priorado, que  Pierre Plantard de Saint-Clair edita com seu filho Thomas.)  Este uma vez projetista para uma firma de fogões, que alegadamente tinha dificuldade de pagar o aluguel de tempos em tempos, não obstante tenha exercido uma influência considerável na história européia. Foi Pierre Plantard de Saint-Clair sob o apelido de ‘Captain Way’ que esteve por trás da organização dos Comitês de Segurança Pública qe trouxeram de volta ao poder o General de Gaulle em 1958.

Vamos agora considerar a natureza essencialmente paradoxal do Priorado de Sião. Primeiramente, de onde vem a informação pública sobre esta organização e quão cofiável ela é? Como citado em ‘The Holy Blood and the Holy Grail’, a fonte primária é uma coleção de apenas sete documentos enigmáticos alojados na Biblioteca Nacional de Paris, que são conhecidos como Dossiês Secretos. A primeira vista eles são uma confusão de genealogias históricas e textos e trabalhos alegóricos mais modernos que são atribuidos a autores anônimos ou a autores com claros pseudônimos ou que apresentam nomes de pessoas que nada tem a ver com eles. A maioria destas entradas diz respeito a suposta obsessão Merovíngia da sociedade e o centro sobre o famoso mistério de Renes-le-Chateau, a remota vila no Languedoc, que foi o ponto inicial para a própria investigação de Baigent, Leigh e Lincoln. Contudo, certos temas outros e maiores emergem disso, que, para nós, são muito mais significativos e que abordaremos rapidamente. O primeiro dos itens nos Dossiês Secretos foi depositado em 1964, embora seja datado de 1956. O último item foi depositado em 1967. Podemos somente muito razoavelmente descartar grande parte do conteúdo como sendo algum tipo de piada. Contudo, nos acautelamos contra tal reação imediata, porque a nossa experiência com o Priorado de Sião e seu modus operandi é  que isto glorifica uma desinformação muito deliberada e detalhada.

Por trás desta tela de fumaça de falta de lógica em uma escala completa, prevaricação e ofuscação, há um intento muito sério e bem pensado. Contudo, o que nem em um milhão de anos teria fascinado e motivado tais grandes nomes como Leonardo e Isaac Newton por tanto tempo foi esta suposta obsessão em restaurar a muito finda linhagem sanguínea Merovíngia a uma posição de poder na França Moderna. Na evidência dada nos Dossiês Secretos, o caso para a sobrevivência da dinastia além de Dagoberto II, sem mencionar uma linhagem clara de descendência diretamente até o século XX, é na melhor das hipóteses frágil e na pior, demonstravelmente fictícia. Afinal, qualquer pessoa que que tenha até mesmo tentado rastrear sua própria árvore familiar para trás além de duas ou três gerações logo descobre como é complexo e problemático o inteiro processo. Então novamente, então  podemos ser deixados com a pergunta de exatamente como uma tal causa possa ter inspirado homens altamente inteligentes por geração após geração. Dificilmente podemos imaginar semelhantes a Isaac Newton e Leonardo sendo super-impressionados por, como exemplo, uma sociedade britânica cuja meta fosse restaurar o poder dos descendentes do Rei Harold II [ morto pelo homens de Guilherme o Conquistador em 1066].  Para um moderno Priorado de Sião há grandes dificuldades em alcançar suas metas de restaurar a linhagem sanguínea Merovíngia. Não apenas há o problema de fazer a França Moderna deixar de ser republicana e voltar a monarquia, que ela rejeitou a um século atrás. Mas até mesmo então [assumindo que a sucessão da dinastia merovíngia possa até mesmo ser provada] que esta dinastia em particular não tenha declaração ao trono, porque a nação francesa não existia durante a era Merovíngia. Como sucintamente coloca o escritor francês Jean Robin, “Dagoberto era um Rei na França mas em nenhum ponto o Rei da França”.

Os Dossiês Secretos podem parecer uma completa falta de lógica mas a completa escala de esforço e recursos colocados neles, e para manter suas declarações, dá uma pausa. Até mesmo o escritor francês Gérard de Sède, que devota muitas páginas estreitamente argumentadas para demolir a alegada evidência para o caso Merovíngio dado nos Dossiês, tem admitido que os recursos e pesquisas eruditas e academicas que foram para dentro deles eram desproporcionalmente impressivos. Embora sendo destruidor sobre este ‘mito delirante’ ele não obstante conclui que há um real mistério por trás disso tudo.

Uma curiosa careterística dos Dossiês é a constante e subjacente implicação que os autores tiveram acesso aos arquivos oficiais do governo e da polícia. Para tomar apenas dois exemplos entre muitos: em 1967 um panfleto foi acrescentado aos Dossiês chamado ‘A Serpente Vermelha’ que foi atribuído a três autores:  Pierre Feugère, Louis Saint-Maxent e Gaston de Koker e datado de 17 de janeiro de 1967. embora seu depósito na Biblioteca Nacional seja datado de 15 de fevereiro. Este texto extraordinário de 13 páginas que geralmente é o mais apreciado como exemplo de talento poético, também abrange um simbolismo astrológico, alegórico e alquímico. O que é sinistro sobre isso, contudo, é que os três autores foram todos encontrados enforcados em um período de 24 horas entre eles, em 6-7 de março daquele ano. A implicação é que suas mortes foram o resultado de sua colaboração na escrita da ‘Serpente Vermelha’. Contudo, uma pesquisa subsequente tem mostrado que o trabalho foi depositado entre os Dossiês em 20 de março, depois que eles já haviam sido encontrados mortos e que a folha do depósito foi deliberadamente falsificada para ter a data de fevereiro. Mas a coisa mais surpreendente de todo este estranho negócio é que estes três alegados autores realmente não tinham qualquer ligação com este panfleto afinal, ou com o Priorado de Sião. Alguém presumidamente tinha se apoderado do fato destas três mortes bizarrameente sincrônicas e o utilizado para seus próprios estranhos propósitos. Mas porque? E como ressalta de Sede, eram apenas 13 dias entre as três mortes e o depósito do panfleto na Biblioteca Nacional, que foi um rápido trabalho como a sugerir fortemente que o autor real tinha conhecimento interno de investigações confidenciais da polícia.

E Franck Marie, um escritor e detetive particular, tem estabelecido conclusivamente que o mesmo datilógrafo foi usado para A Serpente Vermelha e alguns os últimos documentos nos Dossiês Secretos. Então houve o caso dos Documentos falsificados do Lloyds Bank. Alegados pergaminhos do século XVII encontrados por um sacerdote francês no fim do século passado, que supostamente provavem a continuidade da linhagem descendente Merovíngia, foram adquiridos por um cavaleiro inglês em 1955 e depositados em um cofre em um ramo do Lloyds Bank em Londres. Embora ninguém realmente tivesse visto este documentos,  são conhecidos existirem cartas que confirmaram o fato de que eles foram depositados e eram assinados por três proeminentes homens ingleses de negócios. todos os quais tinham prévias ligações com os serviços britânicos de inteligência. Contudo, em sua pesquisa para o ‘The Messianic Legacy’ (a continuação de ‘The Holy Blood and the Holy Grail’), Baigent, Leigh e Lincoln foram capazes de provar que as cartas eram falsificações, embora elas incorporassem partes de documentos genuínos apresentando as assinaturais verdadeiras, e cópias de certificados de nascimento dos três homens de negócios. O ponto mais importante e de maior alcance, contudo, é que seja quem for que os forjou parece ter obtido partes genuinas de documentos dos arquivos do governo francês, o que de algum modo implica fortemente o serviço francês de inteligência. Mais uma vez, nos deparamos com um sentimento de alta estranheza. Uma enorme quantidade de tempo, esforços e talvez até mesmo perigo pessoal deve ter estado envolvido em estabelecer tal elaborado complô. Mas ao mesmo tempo, em uma análise final, parece ser completa e absolutamente sem propósito. A este respeito, contudo, o inteiro negócio está meramente seguindo as velhas tradições das agências de inteligência, nas quais poucas coisas são o que parecem ser e mais aparentemente sejam assuntos de direto exercício de desinformação.

Há , contudo, razões para fazer uso de paradoxos – até mesmo de claras absurdidades. Tendemos a lembrar que o absurdo, e, sobretudo, as ilogicidades que são deliberadamente apresentadas como fatos escrupulosamente argumentados, tem um curioso efeito poderoso em nossas mentes subconscientes. Afinal, é esta parte de nós mesmos que cria os nossos sonhos, que operam com seu próprio tipo de paradoxo e não lógica. E é esta mente subconsciente que é o motivador, o criador, que, uma vez tenha sido ‘fisgado’ continuará a trabalhar até mesmo sobre a maioria das mensagens subliminares por anos, extraindo cado último pedaço de significado simbólico de um pequeno recorte de um aparente jargão prolixo de difícil compreensão. Os céticos, que se orgulham em geral de sua sabedoria mundial, são frequentemente, de fato, curiosamente ingenuos – porque eles vêem tudo como claramente preto ou branco, verdadeiro ou falso, que é exatamente o que certos grupos desejam que eles vejam. Por exemplo, qual o melhor meio de atrair a atenção por uma lado, mas filtrando os indesejados intrometidos ou os casualmente curiosos de outro, do que apresentar ao público uma informação aparentemente intrigante ms também virtualmente sem sentido? É como se até mesmo chegando perto do que realmente é o Priorado de Sião constituisse uma iniciação; se você não está pensando nisso então a tela de fumaça efetivamente lhe colocará fora de uma investigação mais profunda. Ms se de alguma forma isto é pensado por você, então logo lhe será dado aquele material extra, ou você mesmo o descobrirá, de um modo suspeitamente sincronico, que o insight extraordinário dentro da organização que repentinamente faz com tudo se encaixe em seu lugar. Em nossa opinão, é um grande erro descartar os Dossiês Secretos simplesmente por causa que sua mensagem aberta é demonstravelmente implausível. A escala completa do trabalho por trás deles argumenta a fazer deles terem algo a oferecer. Admitidamente, muito obsessivo desequilibrado tem passado muito tempo em algum trabalho vasto e condenado, e as horas homem envolvidas nisso não fazem elas próprias os resultados mais dignos de nossa atenção e respeito. Mas aqui estamos lidando com um grupo que claramente está trabalhado em algum plano intrincado e, tomados juntos com todas as outras dicas e pistas [que se tornarão evidentes em seu devido curso] é claro que algo está acontecendo. Se eles estão tentando nos dizer algo, ou esconder algo, enquanto ainda pingam pistas sobre sua importância. Então o que fazer com as declarações históricas do Priorado? Isso realmente remonta tão longe quanto o século XI e suas fileiras realmente incluem todos os nomes ilustres dados nos Dossiês Secretos?

Primeiramente pode-se dizer que sempre há um problema em provar a existência, corrente ou histórica, de uma sociedade secreta. Afinal, o segredo mais bem sucedido disso tem sido quanto mais difícil é corroborar sua existência. Contudo, onde pode ser demonstrado ter havido repetidos interesses, temas e metas entre aqueles que são ditos terem pertencido a este grupo pelo passar dos anos, é seguro e até mesmo sensível assumir que um tal grupo pode ter realmente existido. Tão improváveis quanto possam parecer as listas dos Grão Mestres do Priorado [como dada nos Dossiês Secretos] , a pesquisa de Baigent, Leigh e Lincoln tem estabelecido que esta não é uma lista aleatória. Há de fato persuasivas conexões entre os Grão Mestres que se sucedem. Além de conhecer um ao outro, e em muitos casos realmente serem relacionados, estes luminares partilhavam de certos interesses e preocupações. É sabido que muitos deles eram associados a movimentos esotéricos e sociedades secretas como a Maçonaria Livre, Rosacruzes e a Companhia do Santo Sacramento, todos partilhando de metas comuns. Por exemlo, há um distinto tema hermético que corre por toda a literatura conhecida deles – um senso de real excitação com a perspectiva do homem se tornar quase divino em até mesmo estender as fronteiras de seu conhecimento. Além disso, nossa pesquisa independente, que apresentamos em nosso último livro, tem confirmado que estes indivíduos e famílias ja estavam implicados nos negócios do Priorado durante séculos e eram também os mesmos movimentadores primários que mantiveram o que pode ser chamado da Grande Farsa do Santo Sudário.

Como já temos visto, Leonardo e Cocteau empregaram o simbolismo heterodoxo em suas pinturas supostamente cristãs. Separados por 500 anos, sua composição de imagens mostra uma notável consistência e de fato, outros escritores e artistas que tem sido ligados ao Priorado trabalham com tais motivos em seus outputs. Isto por si só sugere fortemente que eles realmente eram parte de algum tipo de movimento subterrâneo organizado, que já estava bem estabelecido até mesmo nos dias de Leonardo. Como ele e Cocteau tem sido declarados como seus Grão Mestres, e se alguém leva em conta suas preocupações compartilhadas, parece razoável deduzir que eles eram de fato membros do alto escalão de algum grupo ao menos muito semelhante ao Priorado de Sião. A massa de evidência reunida por Baigent, Leigh e Lincoln em ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ para a evidência histórica do Priorado é inatacável. E ainda que mais evidência tenha sido reunida por outros pesquisadores – que foi publicada na edição revista e atualizada de 1996 do livro deles. [este livro é essencial leitura para qualquer um interessado neste mistério]. Toda esta evidência mostra que houve uma sociedade secreta operando do século XII, mas é o moderno Priorado de Sião seu descendente? Certamente, conquanto os dois grupos possam não estar necessariamente ligados como declarado, o moderno Priorado tem conhecimento interno sobre a sociedade histórica. Afinal, somente através dos membros de hoje é que primeiramente ouvimos do Priorado no passado. Mas até mesmo o acesso aos velhos arquivos do Priorado não necessariamente implicam em uma genuina continuidade.

Em uma conversa recente com o artista francês Alain Féral, que, como protegido de Cocteau, trabalhou com ele e o conhecia muito bem, eles nos disse claramente que seu mentor não havia sido Grão Mestre do Priorado de Sião. Ao menos, nos assegurou Feral, Cocteau nunca tinha estado envolvido com a mesma organização que desde então declarou Pierre Plantard de Saint-Clair como Grão Mestre. Contudo, Feral tem realizado sua própria investigação sobre certos aspectos da história do Priorado de Sião, especialmente aqueles relativos a vila Rennes-le-Chateau no Languedoc e sua opinião é que aqueles listados nos Dossiês Secretos como Grão Mestres do Priorado, adiante e incluindo Cocteau, estavam ligados por uma genuina tradição subterrânea. A este estágio de nossa pesquisa resolvemos ignorar as putativas ambições políticas do moderno Priorado e ao invés nos concentrarmos em seus aspectos históricos, o que pode, com certeza, ajudar a lançar alguma luz sobre o primeiro. Os Dossiês Secretos, fora a mitomania Merovíngia, colocam uma grande ênfase no Santo Gral, na tribo de Benjamim, e no personagem do Novo Testamento de Maria Madalena. Por exemplo, na Serpente Vermelha aparece esta declaração: ‘Para alguém que desejo libertar, se eleva diante de mim os aromas do perfume que impregma o sepulcro. Antigamente alguns a chamaram ISIS, a rainha das fontes beneficentes, VENHA ATÉ MIM TODOS VOCÊS QUE SOFREM  E QUE ESTÃO SOBRECARREGADOS E EU LHES CONFORTAREI. Outros: MADALENA, do famoso vaso cheio de bálsamo curativo. Os iniciados a conhecem por seu verdadeiro nome: NOTRE DAME DES CROSS.

Esta curta passagem é intrigante, não apenas por causa da última frase – Notre Dame des Cross – que não faz qualquer sentido seja ele qual for [a menos que Cross seja um nome de família em cujo caso se torna ainda mais intelegível] . ‘Des’ é a versão plural de do, mas cross não existe em francês, e , com certeza, está no singular em inglês. Então há uma peculiar confusão de Isis com Maria Madalena; afinal, uma era uma deusa e a outra ‘uma mulher caída’ e elas são figuras de culturas diferentes sem nenhuma ligação aparente.  Com certeza, há um problema imediato, pode-se pensar, e ligar assuntos aparentemente tão diversos quanto Madalena o Santo Gral e a Tribo de Benjamim – sem mencionar a deusa mãe egípcia Isis, com esta linhagem sanguínea Merovíngia. Os Dossiês Secretos explicam que os Francos Sicambrianos, a tribo da qual os Merovíngios descenderam, eram de origem judaica; eles eram a tribo perdida de Benjamim, que migrou para a Grécia e então para a Alemanha, onde eles se tornaram os Sicambrianos. Contudo, os autores de ‘The Holy Blood and the Holy Grail complicaram o cenário ainda mais posteriormente. Segundo eles, a importância da lihagem Merovíngia não era meramente apenas o sonho de colecionador de um punhuado de realistas excentricos. A afirmação deles levou o assunto inteiro a um outro reino – um que certamente capturou a imaginação de milhões de leitures entusiasmados do livro. Eles alegaram que Jesus havia se casado com Maria Madalena e que nasceram filhos desta união. Jesus sobreviveu a cruz, mas sua esposa foi embora sem ele quando ela levou as crianças para estabelecer uma colônia judaica no que é agora o sul da França.

Foram os descendentes deles que se tornaram a família regente dos Sicambrianos, assim fundando a linhagem Merovíngia de reis. Esta hipótese pode parecer fazer sentido dos principais temas do Priorado, mas ela levanta suas próprias questões maiores. Como temos visto, é imposssível para qualquer linhagem sanguínea sobreviver em uma forma ‘pura’ necessária para sustentar uma tal campanha, não importa de quem ela descenda. É inegável que há um caso muito bom  para Jesus ter se casado com Maria Madalena, ou ao menos ter algum tipo de relacionamento íntimo com ela, o que discutiremos em detalhes mais tarde, e até mesmo para ele ter sobrevivido à Crucificação. De fato, a despeito da crença popular em contrário, nenhuma destas avaliações conta com o trabalho de  Baigent, Leigh e Lincoln, tendo estado estreitamente argumentada por vários academicos muitos anos antes da publicação de ‘The Holy Blood and the Holy Grail’.

Há, contudo, um problema maior nas assunções que jazem por trás dos argumentos deles – uma que eles estão claramente cientes embora eles evitem chamar atenção para isso. Para eles, os Merovíngios são importantes porque são descendentes de Jesus. Mas se ele sobreviveu a cruz, ele não pode ter morrido por nossos pecados, não pode ter sido ressureto e portanto não era divino, nem era Filho de Deus. Então porque, pode-se perguntar, eram estes alegados descendentes considerados tão importantes? Um desses santificados grupos de descendentes é acreditado não ser outro que o próprio Pierre Plantard de Saint-Clair. A despeito da linguagem inflamada empregada sobre este hipótese por alguns comentadores, deve ser declarado que ele próprio nunca tem declarado ser um descendente de Jesus. Não pode ser ressaltado suficientemente que não é uma idéia cristã que Jesus não fosse Deus encarnado e portanto que a prole dele não fosse de algum modo divina, o que dá a idéia de que da sucessão Merovíngia sua alegada importância. A base de toda esta crença é que, como Jesus era da linhagem de David e portanto o legítimo rei de Jerusalém, este título caia automaticamente, se apenas teoricamente, em sua futura família. Então é o poder político, muito mais do que o poder divino, que é afirmado pela ligação Merovíngia. Baigent, Leigh e Lincoln claramente construiram a teoria deles sobre as declarações feitas nos Dossiês Secretos, mas em nossa opinião eles tem sido de certa forma seletivos em escolher exatamente o que tais declarações citam como evidência. Por exemplo, os Dossiês Secretos, afirmam que os Reis Merovíngios, de seu fundador Meroveee a Clovis [que se converteu ao cristianismo em 496] eram ‘reis pagãos do culto de Diana’. É, certamente, difícil reconciliar isto com a idéia de que eles descenderam de Jesus e de uma tribo judaica.

Um outro exemplo desta curiosa seletividade da parte de Baigent, Leigh e Lincoln é esta do ‘Documento Montgomery’ Isto é, segundo estes autores, ‘uma narrativa que tem emergido entre os arquivos da família Montgomery, da qual um membro o partilhou com eles. A data de suas origens é incerta, mas a versão que eles mostraram vem do século XIX. Seus valor para eles reside no fato que, em essência, ele sustenta as teorias levadas adiante em ‘The Holy Blood and the Holy Grail’, embora com certeza isto não possa ser cosiderado ser prova deles. Ele ao menos estabelece que tal idéia, que Jesus se casou com Maria Madalena, foi conhecida um século ao menos antes que eles começassem a pesquisa deles. O Documento Montgomery conta a história de Yeshua ben Joseph (Jesus, filho de José) que se casou com Miriam [Maria] de Betania [o personagem bíblico que muitas pessoas assumem ser o mesmo que Maria Madalena). Como um resultado direto de uma revolta contra os romanos, Miriam foi presa e apenas libertada porque ela estava grávida. Ela então fugiu da Palestina, terminando no Gaul [que agora é a França] onde deu a luz uma filha. Conquanto seja fácil ver porque o Documento Montgomery foi tomado por Baigent, Leigh e Lincoln como apoio para a hipótese deles, é estranho que eles não façam mais de certos aspectos da história.

Em sua narrativa, Miriam da Betania é descrita como ‘uma sacerdotisa de um culto feminino’, como a veneração Merovíngia da deusa Diana, e isto acrescenta um brilho distintamente pagão a história, o que é difícil de se reconciliar com a noção que o Priorado esteja primariamente preocupado com a continuidade da linhagem sanguínea do Rei David, o que incluiu Jesus. Interessantemente, o moderno Priorado nem negou nem confirmou a hipótese apresentada em ‘Holy Blood and the Holy Grail’ e mais uma vez as suspeitas de alguém são levantadas. Pode ser que o Priorado esteja jogando conosco? Uma coisa tem se tornado muito clara para nós: a ambição que motiva o Priorado não é puramente o poder político que Baigent, Leigh e Lincoln atribuem a ele.

De tempos em tempos novamente os Dosiês mencionam pessoas – ou entre os atuais Grão Mestres ou aqueles associados ao Priorado que primariamente não são políticos, mas ocultistas. Por exemplo, Nicolas Flamel, Grão Mestre de 1398 a 1418, foi um mestre alquímico,  Robert Fludd (1595-1637) foi um Rosacruciano, e mais próximo de nosso tempo, Charles Nodier (1801-44) foi uma maior imfluência por trás do moderno revivalismo oculto. Até mesmo Sir Isaac Newton (1691-1727), que hoje é melhor conhecido como um cientista e matemático, foi um devotado alquimista e hermeticista, e certamente possuia pesadamente cópias anotadas de manifestos rosacrucianos. Então com certeza há Leonardo da Vinci, um outro genio que os modernos entendem completamente, vendo seu penetrante intelecto como o produto de um pensamento apenas materialista. De fato, como temos visto, suas obsessões foram retiradas de bem outras fontes, e o tornam outro candidato ideal para a lista dos Grão Mestres do Priorado. Surpreendentemente, conquanto reconhecendo os interesses ocultos de muitas desas pessoas,   Baigent, Leigh e Lincoln não parecem apreciar a importância completa das obsessões delas. Afinal, em muitos destes casos, o oculto não era mero hobby ocasional, mas realmente o foco principal da vida deles. E nossa própria experiência tem indicado que os indivíduos preocupados com o Priorado moderno também são ocultistas comprometidos. Então que possível segredo pode ter focalizado tantas ds mais brilhantes mentes ocultas do mundo por tanto tempo, dado que é implausível a ‘história cobertura’ Meovíngia?  Tão persuasivo e mentalmente inovadora quanto possa ser ‘The Holy Blood and the Holy Grail’, sua explicação das metas e motivos do Priorado são basicamente insatisfatórias,  Claramente há algo acontecendo que é dificilmente provável, dado a quantidade enorme de tempo e energia que parece ter atraído com o passar dos séculos, tratar-se meramente da legitimidade de uma monarquia francesa. E seja o que for isso, deve ser uma tal ameaça ao status quo que, até mesmo na Idade da Iluminação, tinha que ser mantido em segredo, ser um assunto guardado estreitamente na rede subterrânea de iniciados.

Cedo em nossa pesquisa sobre Leonardo e o Sudário de Turim nos encontramos enfrentando, de tempos em tempos, o sentimento inevitável que existe um segredo real que tem sido ciumentamente guardado por uns poucos selecionados. Na medida em que nossas investigações continuavam não podemos afastar a suspeita que os temas que haviamos discernido na vida de Leonardo e em seu trabalho paralelizavam estreitamente com aqueles que tinhamos discernido no material disseminado pelo Priorado. E, certamente, valia a pena entrecruzar as intimações que estes mesmos assuntos estavam também enovelados no trabalho de Jean Cocteau. Já descrevemos o mural do artista na Igreja de  Notre-Dame de France em Londres. Mas exatamente qual a relevância deste peculiar conjunto de imagens para o trabalho muito mais anterior de Leonardo, e de algum putativo movimento esótérico e até mesmo herético? A mais óbvia conexão com a obra de da Vinci é o fato de que o artista se pintou olhando para longe da cruz. Leonardo, como já mencionamos, se apresentou deste modo ao menos duas vezes: na ‘Adoração dos Magos’ e na ‘Última Ceia’. Considerando a expressão da face de Cocteau, que certamente implica em profundo desconforto com a cena inteira, pode não ser esticar demais o ponto muito além de achar uma similar hostilidade na violência com a qual Leonardo se afasta da Sagrada Família na Adoração.  No mural de Cocteau podemos ver o homem na cruz apenas de suas coxas para baixo, o que implica em alguma suspeita sobre sua verdadeira identidade. Como temos visto na ‘Última Ceia’ de Leonardo, a curiosa completa falta de vinho parece implicar em uma séria questão sobre a natureza do sacrifício de Jesus: aqui o artista vai mais longe por não mostrar de todo Jesus. Muito similar também é a  gigantesca forma de um M; no trabalho de Cocteau ela liga as duas mulhers que lamentam, presumivelmente a Virgem Maria e Maria Madalena. E novamente pode-se assumir que é esta última que vemos afastando-se da figura de Jesus. Enquanto sua mãe olha para baixo chorando, é a mulher mais jovem que dá as costas a ele; o M da última Ceia de Leonardo liga Jesus a suspeita mulher ‘São João’ e esta ‘Dama M’ também está se inclinando o mais longe possível dele, enquanto ao  mesmo tempo parece estar perto.

O mural de Cocteau também contém o simbolismo que é, uma vez se esteja ciente das preocupações do Priorado de Sião, muito explicitamente ligado a ele. Por exemplo, há 58 pontos mostrados nos dados que estão sendo lançados pelos soldados e este é o número esotérico do Priorado. A surpreendentemente grande rosa azul avermelhada aos pés da cruz é claramente uma alusão ao movimento rosacruciano, que, como devemos ver, tem links estreitos com o Priorado e certamente com Leonardo. Como temos visto, os membros do Priorado acreditam que Jesus não morreu na cruz, e algumas de suas facções mantém que uma vítima substituta sofreu o que era para ser o destino dele. A julgar pelo conjunto de imagens apenas neste mural, pode-se ser tentado a pensar  que aquelas eram as próprias opiniões de Cocteau. Por exemplo, não somente deixamos de ver a face da vítima, mas há uma inclusão de uma figura não geralmente associada a cena da Crucificação. Este é o homem longe a direita cujo único olho visível é desenhado em uma inconfundível forma de peixe, certamente uma alusão ao código inicial cristão para “Cristo’. Então quem é supostamente este homem de olho de peixe? A luz da noção do Priorado que o próprio Cristo nunca foi pregado na cruz, não poderia esta ser uma figura extra do próprio Jesus?  Foi o que era para ser o Messias realmente uma testemunha da tortura e morte de um sub-rogado? Se isto fosse verdade, pode-se bem imaginar suas emoções. Então novamente, nos murais de Leonardo e Cocteau, vemos a ‘Dama M’, certamente em ambos os casos Maria Madalena.  Agora, que conhecemos a crença do Priorado que ela se casou com Jesus, explicaria porque ela estava na Última Ceia, a direita de seu marido, e porque ela,  como ‘sua outra metade’ está usando a imagem espelho das roupas dele.  Embora haja uma tradição pouco conhecida nos tempos medievais e iniciais da Renascença de apresentar Madalena na última ceia, Leonardo tornou conhecido que o personagem a direita de Jesus em sua versão era São João. Porque ele fez tal engano deste modo? Talvez este fosse um meio sutil de dar ao seu conjunto de imagens um acrescido poder subliminar? Afinal, se o artista nos diz que é um homem e nosso cérebro nos diz que é uma mulher a confusão é provável de nos fazer continuar a ponderar isso em um nível subconsciente por um longo tempo.

Em ambos murais, a Madalena parece estar quietamente expressando suas próprias dúvidas por meio de sua linguagem corporal sobre o suposto papel de Jesus. Era ela de fato tão próxima dele como conhecido na história real? Madalena era realmente a esposa de Jesus e portanto parte interna da informação sobre a verdadeira consequência da Crucificação? Este é o porque ela se afasta? O papel de Madalena é sagazmente – se subliminarmente – enfatizado na última Ceia, mas a maior obsessão de Leonardo parece ter sido com o trágico personagem do Novo Testamento, João Batista. Se ele realmente era um membro do Priorado de Sião – e dado sua suposta ênfase na linhagem sanguinea de Jesus – esta obsesssão com Batista parece de certo modo intrigante. Mas isto realmente atende aos interesses do Priorado de Sião?

Nosso misterioso informante Giovani tem nos deixado com uma tantalizante pergunta: “Porque os Grão mestres sempre são chamados de João?” Ao tempo pensamos se tratar de alguma alusão velada a sua própria escolha de pseudônimo, e devidamente tomamos o ponto de que ele próprio não tinha um escalão menor. Mas de fato ele nos chamou atenção para uma outra escolha de título, um assunto muito mais importante. Conquanto os Grão Mestres sejam conhecidos na organização como  ‘Nautonnier’ (timoneiro), eles também tomam o nome de João ou se mulher, Joana. Leonardo, por exemplo, aparece em outra lista como João IX. Isto não é importante, peculiar embora que possa parecer para uma tal antiga ordem cavaleiresca, o Priorado tem sempre declarado oportunidades iguais na sociedade secreta, e quatro de seus Grão Mestres tem sido mulheres. [Hoje, uma seção francesa do Priorado está sob o controle de uma mulher]. Contudo, esta politica é totalmente consistente com a verdadeira natureza e metas do Priorado, como viemos a entende-las.  As preocupações do Priorado são indicadas pelos titulos usados em sua hierarquia organizacional. Segundo seus estatutos, abaixo do Nautonnier está um grau consistente de três iniciados, chamados ‘Príncipes Noaquitas de Notre Dame’ e abaixo está um grau de nove chamado “Cruzados de São João”. Há seis graus posteriores, mas os três do topo compreendem os treze membros dos graus mais altos, formam o corpo regente.  Coletivamente isto é conhecido como  Arch Kyria – a última sendo uma respeitosa palavra grega para mulher, o equivalente inglês de ‘dama’. Especificamente no mundo helenico dos séculos iniciais  antes de nossa era cristã, era um epíteto da deusa Isis.

O primeiro Grão Mestre da sociedade foi, deve ser dito, um verdadeiro João, Jean de Gizors, um nobre francês do século XII. Ms o real enigma reside no fato curioso que seu título no Priorado foi realmente João II. Como os autores de ‘The Holy Blood and theHoly Grail’ pensam:  Uma maior questão com certeza, era que João: João Batista? João Evangelista, o ‘Discípulo Amado’ no quarto Evangelho? Ou João O Divino do Livro da Revelação? Parece bem ser um desses três. Quem então era João I? Um outro pensamento provocante da ligação João é mencionado no livro de 1982 “Rennes-le-Chateau: a capital secreta: da história da França’ de Jean-Pierre Deloux e Jacques Brétigny. Ambos autores são conhecidos estarem estreitamente envolvidos com  Pierre Plantard de Saint-Clair; eles estavam, por exemplo, entre a entourage deste quando Baigent, Leigh e Lincoln se encontraram com ele na década de 1980 e ele certamente contribuiu enormemente para o livro. Claramente a propaganda do Priorado explica como a sociedade foi formada. (Deloux e Brétigny também escreveram artigos relacionados ao Priorado de Sião na revista ‘The Unexplained’ – que, segundo alguns, foi criada e financiada pelo Priorado.) A idéia principal era, é afirmado, formar um ‘movimento secreto’ com Godfroi de Bouillon – um dos líderes da Primeira Cruzada, como o primeiro movimento. Na Terra Santa, Godfroi encontrou uma organização secreta chamada Igreja de São João e, como resultado, ‘formou um grande projeto’. Ele colocou sua espada a serviço da Igreja de São João, esta igreja esotérica e iniciática que representava a tradição, que baseava sua primazia no Espírito. Foi deste grande projeto que o Priorado de Sião e a organização tem sempre os nomes de seus Grão Mestres como João, e foram formados os Cavaleiros Templários.

E como diz Pierre Plantard de Saint-Clair por meio de Deloux e Brétigny: Então, no início do século XII foram reunidos os meios, espiritual e temporal, que vieram a permitir a sublime realização do sonho de Godfroi de Bouillon: a Ordem do Templo seria a sustentadora da espada da Igreja de São João e os porta estandartes da primeira dinastia, as armas que obedeciam ao espírito de Sião. A consequência deste fervente ‘Joanismo’ era para ser um ‘renascimento espiritual’ que virasse de cabeça para baixo a cristandade. A despeito de sua importãncia óbvia para o Priorado, a ênfase em João permaneceu extremamente obscura – no início desta investigação nós nem mesmo sabíamos que João era tão reverenciado, sem falar porque. Mas qual é a razão para tal obscuridade? Porque eles não nos dizem a que João eles estão se referindo? E porque a reverencia [contudo extrema] para qualquer dos santos João até mesmo começaria a ameaçar as próprias raízes da cristandade? É ao menos possível fazer uma suposição a que João o Priorado tinha em mente, se a obsessão de Leonardo com o Batista seja algo a se ir. Ainda que, como temos visto, a idéia do Priorado sobre o papel de Jesus fosse dificilmente ortodoxa, e parece ilógico achar isso de acordo com uma tal reverência ao homem que alegadamente somente era importante como o precursor de Jesus.  Pode ser que o Priorado, como Leonardo, secretamente reverencie João Batista acima do próprio Jesus?  Este era um pensamento muito grande. Se há qualquer razão para acreditar que Batista tenha sido superior a Jesus, então as repercussões seriam inimaginavelmente traumáticas para a Igreja.  Até mesmo se a ‘visão’ Joanita fosse baseada em um mal entendimento, não há dúvida dos efeitos que esta crença teria se isso fosse amplamente conhecido. Seria quase como a máxima heresia – e os Dossiês Secetos enfatizam repetidamente o caráter anticlerical dos descendentes Merovíngios e seu encorajamento positivo à heresia.

O Priorado é sagaz em conduzir a idéia que a heresia é uma boa coisa por alguma razão específica dele próprio. Entendemos que a putativa heresia Batista tem perplexantes implicações, e que se fossemos escavar posteriormente no Priorado precisariamos confrontar diretamente a questão de João Batista, embora de início não estivéssemos convencidos que encontrassemos qualquer evidência para apoiar a heresia. Até este momento tudo o que tínhamos como evidência  para as crenças do Priorado sobre o Batista era a própria manifesta obsessão de Leonardo por ele, e o fato de que eles chamassem seus Grão Mestres de João. Francamente, não tinhamos uma séria esperança então de encontrar nada mais concreto do que isso, ms na medida em que o tempo passava, iriamos descobrir muito mais do que evidência sólida que o Priorado de fato fazia parte de uma tal tradição Joanita. Com ou sem evidência a sustentar isso, esta heresia pode ainda ter sido acreditada por gerações de membros do Priorado. Mas isso era ao menos parte do grande segredo que eles supostamente possuem e guardam com tal tenacidade?

A outra figura do Novo Testamento que é de imensa importancia para o Priorado, é, como temos visto repetidamente, Maria Madalena. Os autores de  ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ tem explicado que sua particular importância reside apenas no fato [alegdo] que ela foi casada com Jesus e mãe de seus filhos. Mas considerando a menos que total admiração do Priorado por Jesus, esta explicação parece fraca. Para esta organização Madalena parece ter alguma importância toda sua, e o próprio Jesus é quase irrelevante. Na história do Documento Montgomery, por exemplo, o papel dele é simplesmente confinado a ser o pai dos filhos dela e ele não toma qualquer parte no resto da narrativa. Pode-se ir longe demais para dizer que até mesmo sem Jesus há algo sobre esta mulher que a torna de suprema importância.

Mais tarde em nossas pesquisas conseguimos contactar Pierre Plantard de Saint-Clair com algumas perguntas sobre o interesse do Priorado em Maria Madalena. Recebemos uma resposta do secretário de Plantard, Gino Sandri – um italiano que vive em Paris – que, embora curta e concisa, foi ainda fragrante do famoso senso do Priorado de travessura. Em sua resposta Sandri disse que era possivel ajudar, mas ‘talvez vocês já tenham a informação sobre o assunto?’ Claramente esta era uma dissimulada ‘pontada’ de algo que ele sabia sobre nós, mas tomamos coração deste comprimento de mão virada. Ele parecia estar implicando que já tínhamos toda a informação que precisávamos conhecer, mas era conosco fazer sentido dela. Mas a carta de Sandri tem uma parte de travessura: embora pós marcada de 28 de julho, a própria carta tem a data de 24 de junho, o Dia de João Batista, Para um externo, qualquer conexão particularmente esotérica entre Maria Madalena e João Batista é um assunto para fantasia, porque os textos conhecidos do Evangelho nem mesmo registram que eles se conheceram. Ainda aqui temos um aparente antigo segredo que envolve – e honra – a ambos de um modo não incerto. O que havia sobre estes persoagens do século I que asegurasse esta duradoura e herética tradição?  O que eles possivelmente até mesmo representem que fosse tão perturbador para a Igreja? Era, como se pode imaginar, muito mais difícil saber por onde iniciar. Mas sempre que nos aprofundávamos na história de Madalena uma área estava consideravelmente mais próxima de casa do que Israel se mantinha emergindo como importante. O Priorado particularmente ressaltou a história que a levou ao sul da França, de forma que era para onde tinhamos que ir, se apenas para descobrir por nós mesmos se esta história era meramente uma fabricação medieval que, como o Sudário de Turim, estava destinada a atrair um lucrativo comércio de romeiros.  Mas havia, desde o início, algo especialmente compelente sobre a conexão deste enigmático personagem do Novo Testamento com aquela área em particular, algo que ia além de tais considerações mercenárias. Fomos investigar o segredo de Madalena em seu solo lar.

CAPÍTULO III
NAS PEGADAS DE MADALENA

Ela é bela, muito do mesmo modo que as estátuas das deusas gregas são belas, muito mais do que bonitas ao modo moderno. Fortemente apresentada, com seu cabelo caindo partido ao centro, a impressão que ela dá é uma de quase severidade e integridade escolar. Há pouco aqui a sugerir a libertina voluptuosa das histórias, Porque isso, nos é dito, é a cabeça de Maria Madalena.  O cranio, normalmente na mostra de toda sua perturbadora glória terrível na basílica, agora está decentemente envolto em uma máscara dourada e apresentado diante de multidões na cidade de St Maximin na Provença. Este evento anual acontece no domingo mais próximo da festa de Madalena, 22 de julho. Em 1995, o ano de nossa visita, a parada aconteceu em 23 de julho, em um calor sufocante e a luz do dia. Quase as quatro horas da tarde, tendo apenas acabado de seus longos almoços franceses, o povo da cidade finalmente trouxe a relíquia em uma suspeitosa liteira oscilante. Centenas de pessoas convergeriam para a procissão, talvez exatamente porque estivessem lá – todo mundo ama uma parada – mas parecia haver muitos romeiros genuinamente fervorosos entre a multidão, os olhos fixos alegremente na curiosa cabeça que se movia entre eles. Temos que nos lembrar, contudo, que sempre há romeiros, sempre crentes fervorosos, em qualquer, ou toda, coisa, e que a crença é por si só não uma medida de autenticidade histórica. Não obstante, vindo como estavamos de uma cultura livre de Madalena, o absoluto poder deste festival nos deu uma pausa. Este de fato é um sério país de Madalena. Havia também uma certa ironia em nossa presença em St Maximin. A datação por carbono do Sudário de Turim em 1988, que tinha estabelecido que ele era uma falsificação, e que voltou nosso interesse por ele, tinha usado, como material de controle, o material de uma malha do século XIII pertencendo ao Santo Luis IX que estava guardada na basílica de St Maximin. Para os propósitos desta investigação, contudo, todos os pensamentos quanto ao Sudário de Turim foram postos de lado. Estavamos lá, no sul da França, para encontrar a verdade sobre Maria Madalena, a mulher acreditada estar no coração de muitos antigos mistérios, e cujo poder se estende a cultura de hoje de um modo que não haviamos ainda dominado completamente.  Em pé lá no calor extremo, um calor quase estupefaciente, testemunhamos a procissão anual da alegada cabeça de Madalena com uma mistura de sentimentos. Para nós trazidos da Inglaterra protestante, as festividades catolicas  e o inteiro ritual que cerca as relíquias tem algo de um choque de cultura. Estas coisas parecem sem gosto, pomposas e até mesmo horríveis.

Ainda que aqui o que atinge alguém forçosamente não fosse uma ridícula apresentação de superstição, mas a devoção e o orgulho do povo local, cujo entusiasmo por esta santa em particular não pode ser dito ser inteiramente solene. Talvez a palavra operativa aqui seja ‘local’, porque  é Provençal, não francesa, a bandeira que balança acima das cabeças e é tomada muito como uma santa local até mesmo se ela veio a estes litorais de algum modo tarde na vida. Maria Madalena, é acreditado, veio da Palestina pelo mar e se estabeleceu na Provença, onde morreu. Tal é seu poder continuado que ela não é apenas reverenciada, mas amada com uma curiosa paixão, na área neste dia. Certamente há uma devoção extraordinária, até mesmo fanática dedicada a ela na Provença e a história de sua morte nesta área persiste. Muitos acreditam nisso como matéria de fato. Ainda que isso seja meramente um outro exemplo da pia continuação de uma tradição católica. Fomos atacados pelo sentimento invasivo aqui que algo muito mais importante jaz sob a superfície. E foi precisamente o que submergiu, o veio subterrâneo do significado que estavamos determinados a descobrir.

Primeiramente, como pode ser que o corpo de uma judia da Palestina do primeiro século venha a ser colocado a repousar no sul da França? Exatamente o que há sobre esta mulher, esta santa em particular, que evoque tal paixão e devoção tanto tempo depois de sua morte? E porque – se de fato é verdade – o Priorado de Sião tem por ela tal não usual veneração? Até mesmo antes que fizesemos nossa primeira viagem para a França especificamente para pesquisar os sítios tradicionalmente associados ao culto dela, passamos muito tempo refletindo sobre seu background. Precisavamos saber como ela era percebida historicamente em nossa cultura, e quão forte seu impacto continuado pudesse ser. Porque em contraste com a relativa frieza com a qual ela é recebida na moderna Inglaterra protestante, para muitos catolicos de sangue quente europeu ela é objeto de uma devoção fervorosa e até mesmo apaixonada. Para eles, ela é a mulher mais importante depois da Virgem Maria. Pergunte as pessoas mais educadas de hoje quem era Maria Madalena e o que ela representou e as respostas são muito interessantes. Quase todo mundo responderá que ela era uma prostituta, mas depois  – dependendo do ponto de vista da pessoa envolvida – geralmente haverá um comentário sobre seu mal definido, embora implícito, relacionamento com Jesus. Esta assunção cultural, tão confusa quanto possa ser, encontra expressão na música de Tim Rice/Andrew Lloyd Webber  ‘I Don’t Know How to Love Him’ [eu não sei como ama-lo] do musical ‘Jesus Christ Superstar’ (1970),  no qual ela é retratada como ‘o picante com coração’ tão amado do teatro britânico, e seu papel como confortadora de Jesus que também deu a ela a auto-estima por ele. Quando o musical foi apresentado pela primeira vez, e mais tarde transformado em um filme, causou algo de uma sensação entre os principais cristãos, até mesmo entre os britânicos carateristicamente não emocionais. Isto foi, talvez, principalmente devido a um sentimento de ultraje  que uma história envolvendo Jesus tenha sido explorada pelo  ‘showbiz’ e transformada em uma ópera rock entre todas as coisas!

Uma versão de Madalena apareceu na ‘Vida de Brian’ de Monty Python (1979), embora esta não fosse a razão para os gritos de ultraje que se elevaram das fileiras dos cristãos pelo mundo. Dado o personagem de Brian ser uma pequenina alusão velada ao próprio Jesus, esta comédia sagaz e estranhamente perturbadora foi altamente considerada como claramente blasfema. Mas colocando de lado toda irreverência, o filme nunca estabeleceu retratar Jesus, sendo um comentario satírico dos cultos messianicos de hoje, que não obstante, em nossa opinião, talvez por acidente ou projeto, incorporou alguns profundos insights e alguma detalhe curiosamente bem pesquisado. Nele a namorada de Brian, Judite – surrrealmente representada como sendo gaulesa -, era o real poder por trás dele e de seu movimento; de fato sua feroz retórica fez dele um homem, ambora também acabasse por fazer dele um mártir.

Os cristãos fizeram piquetes em cinemas em vários países quando eles viram o filme de Martin Scorcese, ‘A Última Tentação de Cristo’  (1988).  Embora o próprio Jesus fosse retratado como algo de ingenuo, esta não parece ter sido a razão para uma reacão horrorizada tão disseminada. Isto era muito mais  devida a explícita apresentação de sexo entre Maria Madalena e Jesus – até mesmo embora fosse meramente uma sequência de fantasia. Por razões que analisaremos mais tarde, este inteiro conceito é curiosamente repugnante para a maioria dos cristãos, provavelmente porque eles tomam isso como implicando em certas perguntas fundamentais sobre a divindade de Jesus. Para eles, a noção de um Jesus sexuamente ativo, até mesmo dentro de um contexto de casamento, é automaticamente blasfemo; sugestões que de fato devem implicar que ele não pudesse também ser o Filho de Deus.

Mas o que foi mais significativo para nós sobre a feitura da ‘Última Tentação de Cristo’ foi o óbvio e persistente fascínio de Scorcese por Madalena, e com o conceito de seu relacionasmento íntimo com Jesus [e muito interessantemente, o próprio diretor é cristão]. Não é, contudo, meramente a permissividade moderna que tem feito de Madalena um ícone. Pela história ela sempre tem incorporado de certa forma a atitude ds mulheres – de modo não aberto apenas a outras importantes figuras femininas nos Evangelhos, a não sexual e remota Virgem Maria. Nos tempos vitorianos, por exemplo, Madalena era uma boa desculpa  para apresentar prostitutas penitentes meio nuas e em êxtase. Ao mesmo tempo de algum mmodo santa e pecadora, conhecida e desconhecida.  Era moda nos bordéis daquele tempo para alguns prisioneiros encenarem sua penitência, embora os detalhes particulares destas ‘Peças de Mistério’ possuissem pouco da história dela como contada nos Evangelhos. Nos tempos pós feministas de hoje, a ênfase está em seu relacionamento com Jesus. A Madalena pode ter mantido seu papel como teste no qual um evento ou qualidade mostra o fator decisivo dos contemporaneos costumes sexuais seculares, mas a imagem dela pela história também tem refletido a atitude da Igreja em relação as mulheres e sua sexualidade. É somente como uma prostituta arrependida que ela é admitida na congregação dos santos e a disseminação de sua história depende de sua penitência e desconfortável estilo de vida solitário. Ssua santidade repousa em sua auto-abegação. Nas últimas duas décadas esta Maria tem se tornado o foco do meio pelo qual A Igreja Cristã tem lidado com suas seguidoras femininas, particularmente quando a ordenação de sacerdotes mulheres na Igreja Anglicana pela primeira vez se tornou um assunto controvertido.

Não foi por acidente que na ornação das primeiras mulheres como vigários em 1994 a lição que foi lida do Novo Testamento foi a história de como o Jesus ressurecto se encontrou com Madalena no jardim. Não não naturalmente, sendo a única mulher importante na historia de Jesus além de sua mãe, ele é tomada por muitas mulheres ativistas dentro da igreja moderna como um simbolo potente de seus direitos. Msa o poder continuado de Maria Madalena não é imaginário: ele sempre tem existido e exercido uma profunda atração pelos séculos, como deixa claro Susan Haskins em seu estudo recente “Maria Madalena’ (1993).  De início o poder absoluto de Madalena parce intrigante, especialmente já que ela é dificilmente mencionada no Novo Testamento. Somos tentados a pensar que, como no caso de Robin Hood, a própria pobreza de informação fornecesse uma tentação para inventar um material mítico para preencher as lacunas.  Ainda que se alguém criou uma fantasia sobre Maria Madalena fosse a Igreja. A imagem dela como uma prostituta arrependida nada tem a ver com a história dela em Mateus, Lucas, Marcos e João: o personagem descrito no Novo Testamento é muito diferente daquele conjurado pela Igreja. Os Evangelhos são apenas textos relacionando Maria Madalena com a maiora das pessoas que são familiares, então voltemos a elas agora.

Até recentemente, o personagem dela tem sido visto pela maioria dos cristãos como sendo marginal à história mais ampla de Jesus e seus seguidores. Mas dentro dos últimos vinte anos tem havido uma distinta mudança na percepção dos eruditos sobre ela. Neste dias o papel dela parece ser consideravalmente mais importante e é sob a luz destas descobertas que baseamos nossa própria hipótese. Fora a Virgem Maria, Maria Madalena é a única mulher mencionada pelo nome em todos os quatro Evangelhos. Ela primeiro aparece durante o ministério de Jesus na Galiléia como uma de um grupo de mulheres que o seguiam – ‘e ministravam para ele a substância delas’. Era ela que tinha os sete demonios retirados dela. A tradição também a identificou com duas outras mulheres no Novo Testamento: Maria de Betania, irmã de Marta e Lázaro, e uma mulher não nomeada que unge Jesus com óleo de nardo de uma jarra de alabastro. Esta conexão será explorada mais tarde, mas pelo momento nos confinaremos a figura inequivocamente identificada como Maria Madalena. Seu papel toma um significado inteiramente novo, profundo e duradouro, quando ela é registrada como estando presente na crucificação e mais especialmente quando ela se torna a primeira testemunha da ressureição. Embora os quatro evangelhos falem da descoberta da tumba vazia eles são notoriamente diferentes; não obstante, todos concordam em identificar a primeira testemunha do Jesus ressurecto. Esta foi indubitavelmente Maria Madalena. Ela não foi apenas a primeira testemunha feminina, mas a primeira pessoa a ve-lo depois que ele emergiu da tumba, um fato que tem grandemente sido obscurecido por muitos que preferem contar apenas homens como sendo verdadeiramente discípulos de Jesus e seus apóstolos.

A Igreja, de fato, tem baseado sua autoridade inteiramente no conceito do apostolado. Pedro sendo o Primeiro Apóstolo e portanto o conduto pelo qual o próprio poder de Jesus foi transmitido para a posteridade. A autoridade Dele, embora muitos acreditem que isto tenha vindo da declaração ‘sobre esta rocha construirei minha Igreja’, é oficialmente acreditada vir dele ser o primeiro dos discípulos de Jesus a ve-lo no estado ressurecto. Mas a narrativa do Novo Tclaramente contradiz o ensinamentio da Igreja sobre isto. Claramente, em apenas uma narrativa, a Madalena tem sofrido uma enorme injustiça; uma que tem implicações de muito longo alcance. Mas há mais. Ela tambem foi a primeira discipula a ser instruida por Jesus para levar as novas de sua ressureição aos outros discípulos. Curiosamente talvez, a própria Igreja inicial reconheceu seu verdadeiro lugar na hierarquia e deu a ela o título de ‘Apostola Apostolorum’ (Apostola dos Apóstolos), ou mais explicitamente, o Primeiro Apóstolo. A razão pela qual Jesus deve ter escolhido  aparecer primeiro em sua forma resurrecta a uma mulher tem sido um espinho no quadril dos teólogos. Talvez a mais curioa explicação apareceu na Idade Média, quando foi seriamente sugerido que o meio mais rápido de espalhar uma nova seria dizer a uma mulher!

Agora geralmente é entendido pelos eruditos que as mulheres desempenharam um papel muito maior e mais ativo no movimento de Jesus tanto durante seu período de vida quanto mais tarde, quando este movimento se espalhou entre os gentios,  do que geralmente tem sido admitido pela Igreja. Ironicamente, talvez, a verdadeira imagem do lugar da mulher então pode até mesmo não conhecido agora se não fosse a grande controvérsia atiçada pela campanha contra a ordenação de mulheres. Foi apenas quando a Igreja se tornou uma instituição formalizada – sob a infuência de São Paulo – que o papel da mulher foi minimalizado. E o processo também foi retrospectivo. Em outras palavras, embora as mulheres não tenham sido personagens menores no primário drama cristão, Paulo e seus partidários se asseguraram que elas seriam empurradas para a margem pela história. É verdade que a impressão dada apenas nos Evangelhos é que os discípulos de Jesus são todos homens. Somente uma única referência no Evangelho de Lucas menciona mulheres viajando com Jesus. Isto pode ser confuso quando mais tarde parece que as mulheres subitamente aparecem do nada para tomar o lugar central ao redor da cruz. A julgar pela marginalização a cavaleiro ds muheres nas narrativas em geral, é intrigante porque eles se tornam tão abruptamente o centro de atenção: Poderia ser porque todos seus companheiros homens tenham realmente desertado dele? As mulheres foram deixadas neste ponto crucial da história apenas porque elas eram seus últimos amigos fiéis remanescentes? Os Escritores dos Evangelhos podem ter tido que recontar o papel das mulheres na crucificação simplesmente porque elas eram suas unicas testemunhas, e é somente com base em seu testemunho que a história de apoia. Significativamente, o testemunho das mulheres não era permitido nas cortes judaicas da lei naquele tempo, então a palavra delas sobre qualquer coisa não era considerada importante.

Entre as muitas implicações deste ponto é que a história de Maria Madalena, sendo a primeira a encontrar o Jesus ressurecto deve ter tido alguma base no fato. A história que foi baseada primariamente na palavra de uma mulher é altamente improvável de ter sido fabricada. Exemplos brilhantes de lealdade, e de coragem em permanecer com um criminoso condenado, as mulheres todas devem ser aplaudidas. Mas uma em particular se eleva acima das outras: Maria Madalena. A importância dela é sugerida pelo fato de quase sem exceção seu nome vem primeiro seja qual for a lista das seguidoras de Jesus. Até mesmo alguns católicos de hoje sugerem que isto foi porque ela era a líder das discipulas mulheres. Em uma tal sociedade rigidamente formalizada e hierarquica, esta honra não era nem menor nem acidental; a Madalena vem primeiro, até mesmo quando listada por aqueles sem qualquer consideração pelo lugar de qualquer mulher no movimento de Jesus e especialmente sem nenhum amor por esta mulher em particular. Ela estava, como temos visto, ‘ministrando para’ Jesus e seu discípulos msculinos. Isto sempre tem sido explicado pela idéia de que ela fosse um tipo de servente devotada, constantemente se prostrando diante dos homens muito mais importantes no grupo. Mas os fatos são muito diferentes: não há dúvida que as palavras originalmente usadas significa ‘apoiava’ os outros, e ‘de sua substância’ significa ‘com suas posses’. Na opinião de muitos eruditos Maria Madalena, talvez como outras mulheres do movimento de Jesus, não era pobretona, mas uma mulher de meios independentes que mantinha Jesus e os outros homens. Embora a narrativa bíblica também use estas palavras sobre outros mulheres apoiadoras, é, como temos visto, ela que vem primeiro. Maria Madalena é colocada a parte das outras mulheres por seu próprio nome. Todas as outras mulheres que são mencionadas pelo nome nos Evangelhos canonicos são definidas por seu relacionamento com um homem,  como esposa de, mãe de. Somente esta Maria tem o que pode ser considerado um nome completo, embora exatamente o que signifique será discutido mais tarde.

Ainda que este personagem poderoso e importante permaneça curiosamente enigmático. Depois de um cumprimento de certa forma de mão virada dado a ela nos Evangelhos quando ela parece ser selecionada fora, ela nunca é mencionada novamente – nem nos Atos dos Apóstolos nem nos escritos de Paulo [até mesmo em sua descrição da descoberta da tumba vazia], nem nas cartas de Pedro. Isto pode ser visto como ainda um outro mistério destinado a ser muito discutido  mas nunca resolvido – até que voltamos para os escritos conhecidos como Evangelhos Gnósticos, onde a imagem é subitamente esclarecida em um grau surpreendente. Estes documentos, dos quais há mais de cinquenta, foram descobertos em 1945 em Nag Hammadi no Egito e são uma coleção dos textos iniciais cristãos gnósticos, os originais de alguns são reconhecidos datarem de aproximadamente o mesmo tempo dos Evangelhos canonicos. Eles são escritos que foram considerados ‘heréticos’ pela Igreja inicial e portanto foram sistematicamente destruídos como se contivessem algum grande segredo que fosse potencialmente perigoso para o estabelecimento emergente. O que muitos destes textos proibidos proclamam foi a proeminência de Maria Madalena e um deles é até mesmo chamado Evangelho de Maria. A Maria deste evangelho não é a Virgem, mas Maria Madalena. Talvez não seja coincidência que os Quatro Evangelhos do Novo Testamento efetivamente a marginalizem, enquanto os evangelhos heréticos enfatizem a sua importância. Pode ser que o Novo Testamento seja realmente uma forma de propaganda em beneficio do grupo anti-madalena?  Conquanto estaremos discutindo os Evangelhos Gnósticos em muito maior detalhe  em um capitulo posterior, os seguintes pontos são de imediata importância. A história do Novo Testamento, como temos visto, rancorosamente implica que ela teve um maior papel no movimento de Jesus, mas os Evangelhos Gnósticos proclamam abertamente e confirmam a proeminência dela. Sobretudo, este status superior não está meramente confinado a seu lugar entre as mulheres – ela é literalmente a Apóstola dos Apóstolos  e portanto reconhecida  ser secundária apenas a Jesus, acima de todos ou outros seguidores. Ela parece, foi a única pessoa que era efetivamente a ponte entre entre Jesus e todos seus outros discípulos, e era ela que interpretava as palavras dele em benefício deles. Nestes textos não é Pedro que Jesus escolheu como segundo em comando, mas Maria Madalena. Ela era, segundo o Evangelho Gnóstico de Maria, quem reunia os desanimados discípulos depois da crucificação e colocou alguma espinha dorsal neles quando eles estavam bem preparados para desistirem e voltarem para casa depois da perda de seu carismático líder. Ela contornou todas as dúvidas, não apenas apaixonadamente mas com inteligência, e conseguiu inspira-los a se tornarem verdadeiros e devotados apóstolos. Isto pode não ter sido fácil, porque ela não teve apenas que conter o prevalecente sexismo de seu dia e cultura, mas ela também teve que enfrentar um poderoso antagonista pessoal.  Este era Pedro, o Grande Pescador da história, o mártir e fundador da Igreja Católico Romana. Ele, os Evangelhos Gnósticos repetidamente afirmam, a odiava e a temia, embora enquanto seu Mestre esteve vivo ele só pudesse protestar ineficazmente sob a extensão da influência dela. Varios textos recontam trocas acaloradas entre Pedro e Maria, com o primeiro exigindo saber de Jesus porque ele aparentemente preferia a companhia daquela mulher.

Como diz Maria Madalena em outro Evangelho Gnostico, o Pistis Sophia : ‘Pedro me faz hesitar: tenho medo dele porque ele odeia a raça feminina”. E no Evangelho Gnóstico de Tomás, encontramos Pedro dizendo: ‘Deixe Maria sair de nós, porque as mulheres não são dignas da vida”. Há algo mais sobre as narrativas Gnósticas que as tornam explosivas onde diz rspeito a Igreja. A imagem que eles pintam do relacionamento entre Maria e Jesus não era meramente aquele de professor e aluna, ou até mesmo um guru e seu estudante favorito. Eles são apresentados, frequentemente bem graficamente, como sendo em termos mais íntimos. Tome por exemplo o Evangelho Gnóstico de Felipe:

Mas Cristo a amava mais do que a todos os outros discípulos e costumava beija-la frequentemente na boca. O resto dos discípulos eram ofendidos por isso e expressavam desaprovação. Eles disseram a Ele: ‘Porque você a ama mais do que a todos nós?” O Salvador respondeu e disse a eles: “Porque não amo vocês como eu a amo?’ No mesmo evangelho gnóstico lemos esta frase aparentemente inócua: “Eram três que sempre andavam com o Senhor: Maria sua mãe, sua irmã e Maria Madalena, que é chamada sua companheira.  A irmã dele, sua mãe e sua companheira, todas se chamavam Maria. E a companheira do Senhor é Maria Madalena.’ Conquanto hoje a palavra companheira implique em camaradagem, amiga e colega em um sentido puramente platonico, a palavra grega original realmente significa ‘consorte’ ou parceira sexual. Os os Evangelhos canonicos foram incluidos no Novo Testamento apenas porque eles e somente eles são a verdadeira palavra de Deus e há muitos fundamentalistas para quem isso é assim, ou ou Evangelhos Gnósticos contém ao menos tanta informação válida quando Mateus, Marcos, Lucas e João. O equilíbro da probabilidade repousa a favor dos Evangelhos Gnósticos terem exatamente tanto uma afirmação a nosso respeito quanto aqueles do Novo Testamento. Se Madalena realmente foi a amante ou esposa de Jesus, então sua posição enigmática no Novo Testamento é explicada. Ela parece ser importante, mas a razão para o seu status nunca é esclarecida; talvez os escritores esperassem que sua audiência tivesse conhecimento ulterior de seu relacionamento com Jesus. Afinal, tem sido ressaltado, os rabinos geralmente eram casados como uma matéria de fato; um pregador solteiro teria causado mais comentário e uma declaração a este fato quase certamente teria sido incluida nos Evangelhos. Se Jesus tivesse sido celibatário e sem filhos em uma tal cultura dinástica, não somente isto teria causado uma sensação mas certamente teria formado uma parte muito mais óbvia de seus relatados ensinamentos. De fato, o cellibato era, e é, considerado tão horrível na tradição judaica como ser atualmente considerado pecador. Jesus teria sido notório por pregar o celibato e esta acusação nunca foi levantada contra ele, até mesmo por seus inimigos mais implacáveis.

A vida monástica foi muita mais tarde uma criação da cristandade; até mesmo o aparente misógino Paulo admitiu que “era melhor casar do que queimar”. A própria idéia de Jesus como um ser sexual é tão antipática para os cristãos modernos que, como temos visto, a sequência de fantasia do filme de Martin Scorcese de Jesus e Maria na cama provocou um grito em massa de horror. Os cristão de todas as partes denunciaram isso como sensacionalismo, sacrilégio e blasfemia. Mas a razão real para este ultraje não era menos que o subjacente medo atávico e ódio as mulheres. Tradionalmente eles estão sendo tão basicamente impuros e sua proximidade física como poluidora do corpo, mente e espírito do homem naturalmente puro e bom; certamente o Filho de Deus não pode ter se colocado em tal perigo mortal. O horror sentido pela idéia de Jesus, de todos os homens, sendo parceiro sexual de qualquer mulher, é multiplicado mil vezes quando sua amada é chamada de Maria Madalena, uma conhecida prostituta. Embora discutiremos este assunto completamente mais tarde, é suficiente dizer aqui que a questão dela ser, ou ter sido, uma mulher das ruas deve permanecer em aberto. Há evidência tanto a favor quanto contra sua profissão por um tempo, mas o aspecto mais importante deste assunto é que a Igreja escolheu retrata-la como uma prostituta, embora arrependida. Esta é uma interpretação altamente seletiva do personagem dela, também servindo para reunir duas maiores mensagens: que Madalena em particular e todas as mulheres em geral são impuras e espiritualmente inferiores aos homens e que a redenção é encontrada apenas na Igreja. Se é impensável que Jesus e sua [presumida] ex-prostituta fossem amantes, então para a maioria dos cristãos é igualmente ultrajante sugerir que eles eram marido e mulher. Como temos visto, os autores de ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ argumentam que se Madalena fosse a esposa de Jesus então isso explicaria porque ela era tão importante para o Priorado de Sião e sua idéia  de uma linhagem sanguínea sagrada.

Foi em 1931 que D.H. Lawrence publicou sua última novela, O Homem que Morreu, na qual Jesus sobrevive a cruz e acha a verdadeira redenção pelo ato sexual com Maria Madalena, que é claramente identificada como uma sacerdotisa de Isis. Lawrence também associa Jesus ao deus morto e ressucitado Osiris, consorte desta deusa. A história foi originalmente intitulada ‘The Escaped Cock’, e, como escreve Susan Haskins : O galo é associado com a idéia  de um corpo ‘elevado’ [a figura Cristo pungentemente exclama ” Eu sou elevado e finalmente obtenho uma ereção] (Parece estranho que tanta atenção tenha sido dada ao livro ‘O Amante de Lady Chatterley’ quando este outro, potencialmente mais controvertido, tem escapado a censura.) Embora seja posssível se fazer um bom caso para Jesus e Maria Madalena serem casados e, por implicação, até mesmo terem filhos, que por si só parece uma razão fraca para o Priorado investir tanta paixão em sua devoção a ela, porque, como vimos no capítulo anterior, há razões maiores para descartar a idéia que a dinastia Merovíngia tenha descendido destes dois. Claramente seu encanto reside em algo mais, algo mais evasivo mas não imposssível de vivenciar. Pistas disto podem ser vistas fugazmente no poder da imagem dela em nossa cultura, mas foi na França que a mulher real foi suposta ter terminado seus dias.

A narrativa mais famosa de Maria Madalena na França é a de Jacobus de Voragine em ‘Golden Legend’ (1250). Nela, de Voragine, o Arcebispo Dominicano de Genova, se refere a ela como Illuminata e Illuminatrix [a iluminada e a iluminadora’], o que é particularmente interessante porque estes são os papeis atribuidos a ela pelos proibidos textos gnósticos. Ela é retratada como sendo iluminada e a concessora da iluminação, a iniciada e a iniciante: não há sugestão de que ela fosse espiritualmente inferior por ser uma mulher, muito ao contrarío. Como é o caso com todas as histórias, há várias variações sobre um tema central, que não obstante permanecem notavelmente constantes. A principal história é a que se segue: pouco depois da Crucificação, Maria Madalena, juntamente com seus irmãos Marta e Lázaro, mais vários outros, [a identidade deles varia dependendo da versão da história] viajaram por mar para a costa do que agora é a Provença. Entre este movível grupo de extras está St Maximin, que é dito ter sido um dos 72 discípulos de Jesus e o legendário primeiro bispo de Provença; Maria Jacobi e Maria Salomé, alegadamente tias de Jesus, uma menina jovem servente negra chamada Sara e José de Arimatéia, um amigo rico de Jesus que é mais frequentemente ligado à história de Glastonbury. O motivo para o que supostamente foi uma fortuita e desconfortavelmente longa viagem também depende de que versão da história você leia. Uma é a de que este grupo havia escapado da perseguição da igreja inicial pelos judeus, e o outro principal motivo dado é que eles tinham deliberadamente sido colocados a deriva por seus inimigos em  um barco sem leme e sem remos. Era, com certeza, um milagre literal que eles alcançassem terra seca.

A imagem pintada nos dias medievais do sul da França dos dias de Madalena era de uma área vasta e remota habitada por pagãos selvagens. De fato, Provença era uma maior parte do Império Romano, uma área altamente civilizada com florescentes comunidades romanas, gregas e até mesmo judaicas. A família de Herodes possuia propriedades no sul da França. E longe desta jornada ser estranhamente longa e fora do mapa, era uma rota normal para os barcos de comércio e não mais difícil, digamos, do que a jornada de Tiro ou Sidom a Roma. Se este grupo em particular tinha vindo a Provença, eles bem pode ter feito isso volluntariamente, sem terem sido forçados a fugirem. As histórias concordam que eles desembarcaram no que é agora a cidade de  Saintes-Maries-de-la-Mer, em Camargue. Uma vez lá, o grupo se partiu e tomou seu vários caminhos para disseminar o Evangelho. A história continua que Madalena pregava pela região, convertendo os bárbaros antes de se tornar uma eremita em uma caverna em Sainte-Baume. Algumas histórias a tem vivendo lá por implausível, mas um período biblicamente honrado, de quarenta anos, passando o que devem terem sido dias muito longos, se arrependendo de seus pecados e meditando sobre Jesus. Para acrescentar um sabor à história, é acreditado que ela tenha passado todo este tempo nua, exceto pelo seu cabelo curiosamente abundante, que a vestia efetivamente de um modo reminescente as peles animais de João Batista. E pelo fim de sua vida, nos é dito, ele foi carregada pelos anjos para St Maximin (por então o primeiro bispo da Provença) que deu a ela os últimos sacramentos antes dela morrer. Seu corpo foi enterrado na cidade que recebeu o nome dele. Uma bela lenda, mas há verdade nisso? De início, é extremamente improvável que Madalena fosse uma eremita, por tanto tempo, em uma caverna em Sainte-Baume. Até mesmo o guardião oficial do templo católico de hoje admite que ela nunca esteve lá. Contudo, o sítio não é sem importância. Em tempos romanos ele estava associado a uma deusa pagá. Muito longe de seu uma lugar para um eremita da lenda, sendo uma área bem populada e a própria caverna era um centro de veneração da deusa Diana Lucifera (a ‘portadora da luz’ ou a ‘iluminante’].

Embora uma Madalena nua mas não tosada certamente tivesse sido o centro de atenção, ela dificilmente estaria só naquele lugar de veneração, porque muitas outras sacerdotisas e veneradores teriam enchido a caverna. Mas conquanto a cristianização dos sítios pagãos, se apenas restropectivamente, seja uma prática histórica bem conhecida, algo mais parece dar pistas aqui. [Interessantemente, Arles – a mais populosa cidade próxima ao lugar onde se acredita que Madalena tenha desembarcado – foi um maior centro do culto de Isis. Esta área inóspita e pantanosa parece ter sido lar de vários grupos veneradores da deusa, e sem dúvida continuou a fornecer um refúgio para membros do culto bem até dentro dos tempos cristãos]. De fato, a metamorfose daquela uma vez esplendidamente voluptuosa Madalena em uma eremita abatida e chorosa foi a deliberada cristianização de uma história muito mais ambivalente: todos os elementos chave foram retirados da história do século V de Santa Maria a Egípcia, que também era uma prostituta que se tornou eremita e cuja penitência na vastidão da Palestina durou 47 anos. [Obviamente, contudo, os velhos hábitos dificilmente morrem, porque ela financiou sua viagem de barco lá ao fornecer seus usuais serviços pessoais a marinheiros – e até mesmo mais notavelmente, ele foi considerada sagrada por fazer assim]. Claramente, e a luz de outra evidência dada mais tarde, a parte ‘penitente’ da história de Madalena é uma invenção deliberada da parte da Igreja medieval para torna-la mais aceitável. Mas descobrir  o que ela não era por si só não esclarece nem sua história e nem sua personalidade. Ainda que de tempos em tempos novamente tenhamos enfrentado esta curiosa atração por esta mulher, que vai além do mero carisma contemporaneo, e cujo apelo não apenas sobreviveu aos séculos mas realmente parece aumentar em nosso tempos.  Há milhares de histórias santas, algumas mais acreditáveis do que outras, mas tristemente, a maioria delas são meras fábulas. Porque o caso de Maria Madalena de qualquer modo deva ser diferente? Porque deva haver qualquer substância nesta história? Muitos comentadores tem afirmado que a história de Madalena na França foi simplesmente uma invenção de sagazes publicadores franceses, ávidos em criarem um espúrio legado bíblico para eles próprios [muito como as história do menino Jesus visitando as terras ocidentais da Inglaterra]. Inegavelmente, muitos dos detalhes da história da Madalea francesa são acréscimos posteriores, mas há razões para suspeitar que o todo seja baseado em fato. Porque embora possa ser ir longe demais declarar que Jesus visitou a parte ocidental da Inglaterra, então uma área muito remota fora do império romano, dificilmente é a mesma coisa sugerir que uma mulher que possuia meios independentes navegasse para uma cultura próspera nas margens do Mediterrâneo romanizado. Mas muito mais notável era a natureza do papel dela nestas histórias: ele é explicitamente apresentada como uma pregadora.  Como temos visto, a própria Igreja inicial se referia a ela como ‘A Apóstola dos Apóstolos’, mas pela Idade Média teria sido impensável atribuir tal papel a uma mulher. Se, como os críticos mantém, a história da Madalena francesa tinha sido inventada pelos monges medievais então eles dificilmente teriam garantido a ela o então enfaticamente masculino papel de apóstolo. Isto sugere que a história foi baseada em uma memória real, contudo embelezada através dos séculos, da própria mulher. E significativamente, os historiadores concordam que a cristandade foi estabelecida na Provença no século I.

Tomando a cidade de Marselha como nossa base, fomos visitar os principais sítios associados com a história de Madalena. A trilha, como a própria história, começa em  Saintes-Maries-de-la-Mer, que fica a umas duas horas de Marselha na direção de Camargue, a área pantanosa pontilhada de lagoas [poças?] onde a boca do Rhône encontra o Mediterrâneo.  Saintes-Maries é apenas uma cidade em um área de outro modo dedicada a criação de cavalos, pelo que Camargue é famosa, e que também fornece um santuário para muitas espécies de aves aquáticas, inclusive bandos de flamingos que visitam esta linha costeira vindo da África. É um lugar selvagem, infestado de nuvens de mosquitos ao entardecer, e depois de um longo caminho através dos pântanos a partir de Arles há algo de um choque quando se chega a Saintes-Maries e se descobre ser este um fervente centro turístico, completo com diversões, bares e e restaurante. Como o resto de Camargue, ela tem um sentido distintamente hispânico, até mesmo pela arena de touros, que, aqui, é ao lado da praia.

A igreja como um galeão de Notre-Dame de la Mer se eleva abruptamente acima das construções baixas da cidade e não é surpresa saber que esta igreja do século XII foi construída completa com fortificações: sendo um remoto centro costeiro, estava sob constante ameaça de piratas e outros inimigos.  Três Marias são veneradas aqui: Maria Madalena, Maria Jacobi e Maria Salomé. A igreja era de particular interesse para Rene D’Anjou (1408-1480), Rei de Nápoles e da Sicília e, segundo o Priorado de Sião, uma vez seu Grão Mestre. o Bom Rei Rene, como ele é conhecido na história, foi um devoto apaixonado de Maria Madalena, e teve permissão concedida pelo Papa para escavar a cripta. Ele encontrou dois esqueletos, que declarou serem de Maria Jacobi e Maria Salomé, mas de Madalena não encontrou sinal. Ns entranhas da igreja há um curioso altar dedicado a Sara a Egípcia, supostamente a servente das Marias. Tradicionamente acreditada ser negra, ela é a santa patrona dos ciganos, que convergem para a cidade aos milhares todos os dias 25 de maio para um festival em sua honra. Eles elegem este ano a Rainha Cigana em frente da estátua de Sara, que então é levada em procisssão e cerimoniosamente molhada no mar. Naturalmente este evento tem se tornado uma maior atração turística da área, e tem atraído nomes famosos durante anos: incluindo Bob Dylan, que foi inspirado a escrever uma música sobre sua visita. Entre outras visitas ilustres está uma comemorada por uma placa na praça fora da Igreja: aquela do Cardeal Angelo Roncalli  (1881-1963), então embaixador do Vaticano para a França e mais tarde Papa João XXIII. Tem sido declarado que ele era um membro do Priorado de Sião, ao tempo em que Jean Cocteau tinha o título de João XXIII como Grão Mestre.

Seguindo o que é afirmado ter sido o itinerário de Madalena, voltamos para o calor e agitação de Marselha onde ela pregou. De duas catedrais, que ficam lado a lado, uma tem meramente 150 anos e ainda está em uso hoje. Embora sua decoração celebre o tema de Madalena, isto presumidamente é o resultado das tradições locais e expectativas. Na construção mais velha, Vieille Major, que muito mais interessante  entre as duas, contém aparentemente apresentações autênticas da vida e do trabalho da santa na área. E exatamente como o domo de  Notre-Dame de France em Londres, o teto tem sido decorado para parecer uma gigantesca teia de aranha. Por agora considerada insegura, contudo, esta catedral não mais está aberta ao público. Construída no século XII em um sítio de um batistério do século V, é aromática do antigo Madalenetismo. Não apenas há uma capela dedicada especificamente a ela, mas também a capela de São Serenus tem uma série de baixo-relevos apresentando cenas da vida dela, que foram comissionadas por Rene D’Anjou. Uma delas especificamente a apresenta pregando, assim reforçando a imagem dos Evangelhos Gnósticos dela como Apóstola. E se ela foi bem sucedida em converter os pagãos, alguém deve ter estado  a mão para batiza-los na fé cristã, mas quem era? Podia possivelmente ser que ela, a Apóstola dos Apóstolos, desempenhasse ela própria este papel? A tradição local a tem pregando nos velhos degraus do templo de Diana. Esta construção de fato não forneceu as atuais fundações para a catedral de Marselha, mas é dito ter se localizado no que é agora a Place de Lenche, em um emaranhado de ruas a 200 metros dali. Nada há lá para comemorar sua declaração de fama histórica, mas há algo de compelente na insistência dos locais que este ponto triangular nada notável é o lugar onde uma vez Madalena pregou. Passando o forte de São João Batista e o pitoresco velho porto de fama mundial, se mal cheiroso, o mercado do peixe, está a Abadia de São Vitor. Este é um outro importante sítio religioso, que tem sido um monastério desde o século V e que, por sua vez, foi construido em um cemitério pagão. A presente construção data do século XIII mas sua cripta é muito mais velha e contém muitos sarcófagos ornados do período romano. A cripta também contém uma capela como caverna dedicada a Madalena. Mas para nós, a caratéristica mais fascinante deste lugar foi uma estátua do século XIII de Notre-Dame de Confession. Tendo uma criança em seus braços, ela é mostrada como negra. Ela é uma das controvertidas Madonas Negras.

A leste Marselha está Sainte-Baume – a grande caverna onde Madalena supostamente terminou seus dias como uma eremita. Uma estrada escarpada e sepenteada sobe agudamente por quase 1.000 metros, antes de se nivelar em um platô e eventualmente conduzir o visitante a um pequeno agrupamento de construções que constituem a vila de  Sainte Baume. De lá é uma longa e quente caminhada entre os bosques até a própria gruta, agora um santuário católico. Contudo não há revelações de ter havido aqui, como que temos visto, o que a Igreja enxertou Sainte-Baume na história de Madalena para torna-la paralela a vida de uma outra prostituta-santa, Maria a Egípcia, e ao tempo de Madalena a gruta era um centro de veneração pagã da deusa. O mito tinha o duplo valor de fazer a dissidente Madalena em alguém mais fácil para a Igreja patronizar, e por sua vez tranformar um lugar pagão em um foco de romarias cristãs. De Saint Baume a estrada continua para o suposto local da morte e enterro de Madalena,  Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, onde o festival anual dela estava em pleno acontecimento. A gloriosa procissão da cabeça de Madalena começa com um serviço na basílica de Sainte-Marie-Madeleine, então as relíquias, que normalmente são trancadas na sacristia, são montadas em liteiras e carregadas em uma rota prescrita pelas ruas sinuosas e estreitas da cidade de  St Maximin. Uma banda de tambores e instrumentos de sopro, vestida no tradicional costume provençal, lidera a parada, conduzindo bispos, sacerdotes, monges dominicanos e os veneradores locais. Como algo de aquecedor talvez, seguem duas liteiras adicionais levando pequenas estátuas de santos menores. Então, depois de uma longa espera, vem a própria cabeça. Adornada com pequenas medalhas de ouro ao redor da borda da canópia, a preciosa relíquia é claramente de enorme importância. Pessoas da cidade sustentam lanças mantendo uma guarda simbólica ao redor dela, e tal é seu poder que localizamos uma jovem mulher que completamente esqueceu todas as idéias de modéstia e se inclina em sua janela para espiar sem uma roupa em cima. [Há aqueles que podem dizer que isto foi apropriado demais no que diga respeito a esta santa em particular]. Em todos os lugares a relíquia é tomada pelo mesma assustadora repetição do clérigo oficiante e da multidão, um hino especial a Maria Madalena, que culmina na ascendente rendição dentro da própria basílica, liderado pelo seu grande órgão de fama mundial.  Mas é toda esta gritaria e cerimonial meramente uma manipulação para dar melhor impressão? Isto nos fala algo afinal sobre a real Maria Madalena, a enigmática mulher do Novo Testamento que pode realmente ter sido esposa de Jesus?

Suas relíquias foram encontradas, assim é dito, enterradas na cripta da Igreja de St Maximin em 9 de dezembro de 1279 por Charles II d’Anjou, Conde de Provença. O que era acreditado ser o esqueleto dela foi descoberto um um custoso sarcófago de alabastro datando do século V. A explicação para este enterro tardio foi encontrada nos documentos dentro dele dizendo que em 710 o corpo de Madalena tinha sido oculto em um outro sarcófago para protege-lo dos invasores Sarracenos e foi apenas na data posterior que o registro foi estabelecido. O esqueleto ainda está em seu caixão de pedra na cripta da basílica, embora o cranio esteja em um relicário ornado de ouro dentro da sacristia. Charles D’Anjou patrocinou a construção da basilica e ele também – com a autorização papal – a colocou sob a proteção da Ordem Dominicana. A construção, iniciada em 1295, foi aparentemente completada 250 anos depois, mas, como é a tendência com catedrais, nunca foi realmente terminada. A intenção original de Charles tinha sido de fazer deste um centro para as romarias a Madalena, embora não fosse para obter a mesma fama, digamos, de São Tiago de Compostela. O comercio de relíquias medievais era, até mesmo naquele tempo, infame entre os educados como sendo um claro exercício de fazer dinheiro ás custas da piedade simples. Milhares de romeiros e crentes pingam dinheiro nos cofres destas autoridades da Igreja que afirmaram serem genuinas as relíquias em seus territórios. De fato de longe o mais lucrativo tipo de relíquia era o real corpo de um santo, ou ao menos parte de um. Seja onde for que você vá na cristandade, está certo encontrar a unha do polegar de uma pessoa sagrada e o lóbulo da orelha de outra. A ironia foi que até mesmo os mais cínicos e ultrajantes dos exibidores acharam dificil convencer as hordas de ávidos romeiros que eles tivessem algo ligado ao próprio Jesus, porque ele não havia ascendido aos céus em seu corpo físico? O mais próximo que eles podiam imaginar eram os espinhos da ‘coroa’ ou os pregos da sagrada cruz, que havia tantos que estimou-se, se reunidos, fariam uma verdadeira floresta. Estes dias muito poucos comentadores, especialmente fora da Igreja Católica, tem qualquer escrúpulo em denunciar quase todas as chamadas relíquias como falsas, até mesmo admitindo que elas sejam fraudes patéticas e que acrescentam insulto à injuria.

Tristemente, ‘os ossos de Maria Madalena’ em  St Maximin são definitivamente falsos, e isso pode ser provado além de qualquer dúvida que os documentos que os autenticaram eram claras falsificações – eles usaram o atual sistema de datação no século XIII, que era difrente daquele do VIII e não havia uma ameaça Sarracena na França no tempo indicado. Há, contudo, elementos nesta história que sugerem algo mais do que simples venalidade estivesse por trás da farsa. É verdade que a posse de relíquias é um negócio lucrativo mas onde diga respeito aos alegados corpos de grandes figuras históricas há sempre um outro motivo envolvido. Por exemplo, os alegados restos do Rei Arthur e de sua Rainha foram encontrados em Glastonbury no século XI. A maioria das pessoas pensa que era meramente o truque do abade para por no mapa a sua abadia, mas há uma outra dimensão nisso. Naquele tempo os ingleses estavam envolvidos na conquista de Gales, e o Rei Gaulês Arthur era um herói legendário, um simbolo do desafio deles, que, foi popularmente acreditado, não havia morrido e em algum ponto no futuro voltaria para estar do lado deles contra seus inimigos. Ao produzir seu cadáver, os ingleses enviavam uma exlosão psicológica aos gauleses. Os ossos de Maria Madalena foram pensados estarem em Vézelay em Burgundy, onde eles teriam sido levados da Provença e foram colocados sob o altar da Abadia de Sainte-Marie-Madeleine e nunca vistos. Então, em 1265, São Luis, um grande colecionador e venerador de relíquias, ordenou que eles fossem exumados e, dois anos depois, que eles fossem exibidos em uma grande cerimônia, a qual ele comparaceu. Infelizmente tudo o que todos os monges de Velezay puderam manipular foram uns poucos ossos em um cofre de metal, não o esqueleto completo que eles supostamente teriam. [esta história é notável pela completa falta de sabedoria mostrada pelos monges nesta situação]. Como sobrinho de Luis, Charles II D’Anjou, então com dezenove anos, teria estado presente a esta cerimonia. Depois deste evento, Charles tornou-se convencido, por razões que permanecem um mistério, que o corpo real de Maria Madalena ainda estava em algum lugar na Provença, e ficou obsecado por encontra-lo. Sua paixão por ela sempre tem intrigado os eruditos e tem feito com que um historiador francês escrevesse: “Gostaria de saber de onde o príncipe retirou esta devoção’. Chales ordenou escavações sob a Igreja de St Maximin, escavando com suas próprias mãos. Embora as relíquias tenham sido desenterradas, e que hoje sejam reverenciadas, são falsas, e das ações de Charles pareceria que se houvesse qualquer engano envolvido, ele não foi realizado por ele. Enquanto isso, Charles e sua família continuariam a buscar secretamente. Quando os ossos foram encontrados, Charles conseguiu que o Papa desse o reconhecimento oficial a estas relíquias ao invés de para aquelas em Velezay, o que ele fez em 1295, e aprovasse a construção da basilica. Contudo, parece que algo mais estava acontecendo, já que Charles é sabido ter feito seus planos em encontros secretos com os arcebispos locais. Ele também foi sagaz em ter a Ordem Dominicana substituindo os Beneditinos que já estavam instalados em St Maximin, até mesmo embora os anteriores fossem relutantes a tomada e eventualmente tiveram que ser ordenados a assim o fazerem pelo próprio Papa. A basílica foi colocada sob direto controle do Papa, não do arcebispo local, mas a mudança de auspícios encontrou tal feroz rsistência local que Charles teve que enviar tropas na ajuda dos novos senhores dominicanos e representantes do Papa e o rei quando oficialmente tomou o cargo. Um resultado curioso disso foi que os Dominicanos adotaram  Madalena como sua santa patrona em 1297, com o epíteto de ‘filha, irmã e mãe’ da ordem. Como temos visto, um descendente posterior de Charles, Rene D’Anjou [um alegado Grão Mestre do Priorado de Sião], tinha Madalena em alta estima. É dito que ele possuia uma taça no estilo do Gral tendo a enigmática inscrição: “Ele que bebe profundamente verá Deus. Ele que bebe nela tudo em um único gole verá Deus e Maria Madalena’. Maria Madalena era claramente de grande e permanente importância para a família D’Anjou; ainda que haja um mistério oculto no fervor deles por ela. O fato que Ren D’Anjou escavou em Saintes-Maries-de-la-Mer, aparentemente em busca dos restos de Madalena, foi particularmente estranho porque 200 anos antes Charles D’Anjou afirmou os haver encontrado em St Maximin. Parece que, a despeito das afirmações rivais de terem os restos dela, ninguém realmente os havia encontrado.

Em Marselha temos encontrado uma das estranhas Madonas Negras que sabemos estarem intimamente conectadas com a tradição de Madalena, embora bem o porque ou como não estejamos certos, Estas estátuas religiosas são precisamente como as usuais apresentações da Madona e a criança, mas por alguma razão a Madona é mostrada tendo a pele escura. Elas não são, deve ser dito, grandemente amadas pela Igreja, que as vê com suspeita, para dizer o mínimo, e há muitas teorias para atribuir a sua negritude. Que possivel conexão elas podem ter com Madalena, ua mulher que é presumida ter sido da raça do Oriente Médio e que geralmente é pensada como sendo sem filhos? Nos aprofundamos posteriormente no culto da Madona Negra na esperança de achar algumas pistas. Conhecidas também como Virgens Negras, cada uma destas estátuas tem se tornado o centro de um culto onde quer que seja que ela é localizada. Embora as Madonas Negras são encontradas em uma ampla área na Europa, incluindo sítios na Polônia e até no Reino Unido, a mais alta proporção delas, por volta de 65% segundo a pesquisa de Ean Begg em 1985 – é encontrada na França, e a maioria está localizada no sul. Embora estas estátuas claramente evoquem enormes sentimentos apaixonados  elas o são em uma escala local e nunca são oficialmente reconhecidas ou apoiadas pela Igreja Católica. Há, como atestamos por nossas próprias experiências,  algo julgado ‘não muito bom’ sobre as Madonas Negras.

Ean Begg, em seu livro  ‘The Cult of the Black Virgin'(1985), escreve: ‘não houve engano ou hostilidade quando, em 28 de dezembro de 1952, quando [os papéis foram apresentados] sobre as Virgens Negras para a Associação Americana Para o Avanço da Ciência, cada sacerdote e freira na audiência saisse.’ Ele continua para mencionar que, fora a ativa hostilidade, a maioria dos modernos sacerdotes professa ou uma falta de interesse ou ignorância sobre o assunto, e não tem qualquer desejo de investiga-lo. Durante a pesquisa para seu livro, Begg frequentemente visitou conhecidos sítios de Madonas Negras apenas para descobrir que o sacerdote local declarou que não tinha conhecimento de tal estátua, ou afirmou que ela havia desaparecido de um modo ou outro. Ainda que sempre que as Madonas Negras tem existido ou continuem a serem encontradas, há uma enorme amor e devoção local demonstrado a elas. Então o que há sobre tais cultos que é tão antipático para o principal catoliscismo? Há muitas teorias levadas adiante para responder por sua negritude, variando do ridículo ao sublime, embora pesadamente se inclinando para o primeiro. Ean Begg cita uma simples troca entre um colega e um sacerdote sobre o assunto: para a pergunta: ‘Padre, porque é negra a Madona?” a resposta do sacerdote foi: ‘Meu filho, ela é negra porque é negra’. Outras explicações incluem a sugestão padronizada que tais estátuas tem apenas se tornado negras com o passar dos séculos porque tem sido submetidas a a atmosferas que são espessas da fumaça de velas. Com certeza o fato de que todas as outras estátuas da mesma idade e no mesmo lugar tenham permanecido ao menos laváveis oferece muito em perguntas óbvias. As pessoas não são tão ingenuas que possam venerar erronamente as Madonas de face escura por séculos com uma tal rara e especial paixão. Além disso, a maioria destas estátuas foram de fato deliberadamente pintadas de negro ou feitas de material negro, como o ébano; portanto, pode-se razoavelmente supor, elas pretendiam serem negras. Talvez mais plausível seja a idéia que estas estátuas são escuras porque eles foram trazidas pelos Cruzados de lugares onde s pessoas eram de pele escura. O fato é, contudo, que a maioria das Virgens Negras foi realmente feita nos lugares onde elas eram para serem veneradas, e que elas não foram copiadas de um projeto trazido de um exótico país estrangeiro pelos Cruzados. Então há ainda uma outra teoria mais persuasiva. As Madonas Negras são quase sempre associadas com muito mais antigos sítios pagãos. E sempre que a cristianização de tais lugares tem sido um fenômeno bastante comum na Europa, a propria negritude destas imagens sugere que elas representem a continuação da veneração da deusa pagã que é revestida pela cristandade.

Isto é o porque presumidamente a Igreja as trata com desdém, embora o fervor dedicado a elas faça de tal adoração algo impossível de se banir. Além disso, para que um tal banimento fizesse efeito, certamente nestes dias, as razões teriam que serem apresentadas, o que chamaria muito mais atenção para o que tem estado acontecendo por quase 2.000 anos. As conexões pagãs por elas próprias, com certeza, não explicam  porque as Madonas são negras – a  despeito dos apologistas cristãos que afirmam que tal ligação deve, ao menos simbolicamente, ser ‘escuro’, Ainda que muitos destes sítios tenham sido associados a deusas pré-cristãs tais como Diana e Cibele, que tem sido apresentadas como negras durante o longo perpiodo em que tem sido veneradas.

Uma outra deusa que as vezes é representada como negra é Isis, cujo culto durou até bem a era cristã no Mediterrâneo. Irmã de Nepythis, ela era uma deidade multifacetada cujos dons especiais incluiam a mágica e a cura, e que estava estreitamente associada ao mar e a lua. O marido dela, Osiris, que era o deus do submundo e da morte, também era representado como negro, e foi completamente traído e morto pelo deus mau Set, mas magicamente restaurado a vida por Isis, para lhe dar o filho Horus. É reconhecido que os cristãos iniciais se apropriaram muito da iconografia de Isis para a Virgem Maria. Por exemplo, ela recebeu vários titulos que eram de Isis, tais como ‘Estrela do Mar’ e ‘Rainha do Céu’. E, tradicionalmente, Isis eram mostrada de pé em uma lua crescente com estrelas em seu cabelo ou ao redor de sua cabeça; assim também o é com a Virgem Maria. Mas a imagem mais surpreendentemente similar é aquela da mãe com a criança. Os cristãos podem acreditar que as estátuas de Maria com o bebê Jesus representem uma iconografia exclusivamente cristã, mas de fato o inteiro conceito da Madona com a criança já estava firmemente presente no culto a Isis. Isis, também, era venerada como uma virgem sagrada.  Mas embora ela também fosse mãe de Horus, isto não apresentava problema para milhares de seus seguidores. Embora os cristãos modernos sejam esperados aceitarem o nascimento virgem como um artigo de fé e um real evento histórico, os seguidores de Isis e outros pagãos não enfrentaram um tal dilema intelectual. Para eles, Zeus, Venus ou Ma’at pode ou não terem andado sobre a terra; o que importa é o que eles incorporavam. Cada um no panteão governava sobre sua própria esfera da vida humana; por exemplo, a deusa egipcia Ma’at lidava com o conceito de justiça no mundo material e quando as almas dos mortos eram pesadas na balança. Os deuses eram compreendidos como arquétipos vivos, não como personagens históricos. Os veneradores de Isis não perdiam  tempo buscando roupas que possam ter vestido o corpo de Osiris, e nem consideravam importante encontrar os pregos da caixa no qual isto foi confinado. Longe de ser uma religião não sofisticada e ignorante, a deles parece ter tido uma profunda compreensão da psique humana. Isis era venerada como Virgem e Mãe, mas não como uma Mãe Virgem. Os veneradores de Isis considerariam a noção do nascimento virgem francamente ridícula; os deuses podem ser capazes de maravilhas mas eles não exigem que seus adoradores suspendam tanto sua descrença. A veneração da maioria das maiores deusas enfatizava sua essencial feminilidade ao dividir isso em três aspectos principais, cada um representando o ciclo de vida das mulheres reais. Primeiro, elas eram Virgens, então Mães e então Idosas; todas as três também estavam ligadas a lua nova, a lua cheia e ao escuro da lua. Cada deusa, incluindo Isis, era entendida passar por toda a experiência feminina, incluindo o amor sexual, e portanto podia ser evocada em ajuda de uma mulher com qualquer tipo de problema – diferente da Virgem Maria cuja própria presumida pureza é uma barreira impenetrável para aqueles que gostariam de partilhar seus problemas sexuais com ela. Isis, uma mulher de sangue completo que representa o completo ciclo de vida feminino, era algumas vezes representada como sendo negra. E o culto dela era muito mais disseminado do que se possa supor. Por exemplo, um  templo dedicado a ela tem sido encontrado tão ao norte quanto Paris, e há evidência que este não foi um estabelecimento isolado. Isis, a bela deusa menina para a qual as mulheres podem orar – com uma clara consciência – sobre absolutamente qualquer coisa, apelava a mulheres de todas as culturas.  Quando a Igreja Patriarcal apareceu, seu primeiro instinto foi erradicar a venração da deusa pagã. Mas o domínio por uma deusa permaneceu firme e oferece uma ameça aos Padres de Igreja. Então foi permitido que existisse a Virgem Maria, como um tipo de versão expurgada de Isis, resolutamente não familiarizada com os imperativos biológicos, emocionais e espirituais das mulheres reais, uma deusa substituta criada pelos misóginos e para misóginos.

Mas era improvável que a asexuada Virgem Maria tivese tomado o lugar de Isis sem algum tipo de retrocesso de seus seguidores. Como poderia a boa, mas essencialmente incolor mãe de Jesus completamente tomar o lugar da completa Isis, não apenas Virgem, Mãe e Idosa mas também a iniciática sexual e controladora dos destinos dos homens? Pode ser que o culto a Maria Madalena, como aquele que da Madona Negra que é desdenhado pela Igreja, realmente oculte uma idéia muito mais antiga e completa da feminilidade? Tem sido bem estabelecido que os sítios das Madonas Negras estão associados a velhos locais pagãos, mas há uma outra ligação que não é tão amplamente conhecida. De tempos em tempos novamente estas estátuas enigmáticas e seus cultos antigos parecem florecer ao longo daquele de Maria Madalena. Por exemplo, a famosa estátua negra de Santa Sara A Egípcia é encontrada em  Saintes-Maries-de-la-Mer – o mesmo lugar onde é dito Madalena ter desembarcado depois de sua viagem da Palestina. E em Marselha não há menos do que três Madonas Negras, uma na cripta da basílica de São Vitor, imediatamente fora da capela subterrãnea que é dedicada a Maria Madalena. A outra está na igreja ‘dela’ em  Aix-en-Provence (perto do lugar onde é acreditado ela ter sido enterrada] e ainda outra nesta principal igreja da cidade, St Saveur. A ligação ente o culto de Maria Madalena e o das Madonas Negras é inegável. Ean Begg nota que não menos de 50 centros desta última também contém a Virgem Negra.

Um estudo do mapa dos sítios das Madonas Negras na França mostra que a maior concentração está na área de Lyons/Vichy/Clermont-Ferrand, centrada em um alcance de montanhas chamado Monts de la Madeleine. Sítios de alta concentração de Madonas Negras também são encontrados na Provença e nos Pirineus orientais, ambas áreas intimamente relacionadas a história de Madalena – então a associação entre os dois cultos é clara, embora a razão para isso não o seja. Aqui novamente encontramos o Priorado de Sião, para – embora isso não seja amplamente sabido – estar particularmente interessado no culto da Madona Negra. (É curioso que isso não seja mencionado em ‘The Holy Blood and the Holy Grail porque dois de seus autores, Michael Baigent e Richard Leigh, escreveram artigos sobre o assunto na publicação semanal ‘The Unexplained’ ao mesmo tempo em que seu livro foi publicado). Vários lugares associados ao Priorado tem suas próprias Madonas Negras, tais como Sion-Vaudémont e o lugar onde seus membros tradicionalmente se encontram para eleger os Grão Mestres, Blois no Vale do Loire. O culto da Madona Negra é central ao Priorado. Seus membros selecionaram um em Goult, perto de Avignon, para veneração especial; ela é mostrada como ‘Notre-Dame de Lumières’ (Nossa Senhora das Luzes). Para eles, ao menos, não há dúvida sobre a importãncia real da Madona Negra.
Pierre Plantard de Saint-Clair escreve explicitamente: “A Virgem Negra é Isis e seu nome é Notre-Dame de Lumière.’

Parece haver uma discrepância aqui, qual o possível link pode existir entre Isis/Madona Negra e a obsessão do Priorado com a linhagem sanguinea Merovingia?  Plantard de Saint-Clair explica a ligação entre o Priorado e as Madonas Negras ao dizer que sua veneração foi promovida pelos Merovíngios. Até mesmo levantando a descrença sobre a realidade desta linhagem sanguínea, isto se encaixa desastradamente com a afirmação de que eles descenderam de judeus da linhagem de David. Begg nota uma outra discrepância: conquanto a moderna veneração de Isis pelo Priorado possa ser uma tentativa de fornecer a ele próprio um pedigree que remonte ao tempos romanos e além, as deidades femininas veneradas no Gaul eram muito grandemente Cibele e Diana, não Isis. Plantard de Saint-Clair insiste que o envolvimento do Priorado é especificamente com Isis, mas porque? Begg sugere que possa ser um modo de apontar para alguma antiga conexão egípcia. Se há uma figura lendária que possa fornecer uma resposta a este enigma, ou que represente uma ponte entre as tradições pagãs e cristãs que se reuniram no culto da Madona Negra, certamente é Maria Madalena. Temos visto o quão importante ela é para o Priorado, que vê Isis nas Madonas Negras. Mas exatamente porque esta famosa penitente cristã deva vir a ser associada a antigos sítios pagãos? Uma pista pode estar em ‘Song of Songs’, a coleção de poesia erótica que está bizarramente incluída no Velho Testamento e que é tradionalmente atribuida ao Rei Salomão, escrevendo para louvar os encantos da Rainha de Sabá. E estranhamente, é uma dessas passagens que é lida nos dias de festa de Maria Madalena ns igrejas católicas.  Leia  (Song of Songs 3:1-4): ‘De noite em minha cama procuro aquele que minha alma ama; procuro-o mas não o encontro. Levantarei agora e irei pela cidade nas ruas e nos amplos caminhos buscarei aquele que minha alma ama. Buscarei por ele e não o encontrarei. Os vigias que vão pela cidade me encontrarão, para eles digo, vocês viram aquele que minha alma ama? Foi apenas um pouco que eu passei pore eles, mas encontrei aquele que minha alma ama; mantenho-o e não o deixo ir até que o tenha levado a casa de minha mãe e na camara dela que me concebeu. ‘

O Song of Songs tem sido associado nos dias iniciais da era cristã a Madalena. Neste caso, talvez haja alguma ligação oculta nos versos, porque eles sempre tem uma mulher apaixonada dizendo ‘sou negra mas atraente’, o que ainda seria uma outra ligação ao culto da Madona Negra. E se o Priorado a este ponto é para ser acreditado, estaria associado a deusa egípcia Isis. Isto era desconcertante, porque parece haver uma poucas conexões óbvias entre Madalena e as Madonas Negras, e há também poucas entre a santa e o ‘Song of Songs’.  Embora, como a apaixonada mulher que lamenta nestes versos, Isis vai buscar seu marido Osiris, que possível paralelo há com a história de Maria Madalena? De início não parce haver respostas diretas. Parece que nenhum conjunto de permutações se encaixe em todos os fatos conhecidos.

Há um outro elemento, até mesmo mais confuso, a ser levado em consideração. Provença, o lar do Madalenismo e de várias Madonas Negras, é também impreganado com um forte sentimento de uma outra importante figura do Novo Testamento: João Batista. Ficamos perplexos com o número de igrejas dedicadas a ele, e lugares que recebem seu nome dele, na mesma área. Em Marselha, fora uma igreja dedicada a Batista, há o velho forte dos Cavaleiros Hospitalários de São João, que ainda guarda a entrada da baía. Em  Aix-en-Provence encontramos a grande igreja de São João de Malta; lá há um baixo relevo de São João decapitado na parede de uma casa na rua que leva acima até a igreja. Em todos os lugares de nossa viagem encontramos o mesmo fenômeno inexplicável; a mais alta concentração de sítios de Madalena também contém mais do que um número médio de igrejas dedicadas a João Batista. Talvez esta conexão aparentemente estranha foi o que fez Ean Begg pensar: ‘a história da Virgem Negra também incluir algum segredo herético com o poder de chocar e perplexar  até mesmo as atuais atitudes pós-cristãs, um segredo, sobretudo, envolvendo forças políticas ainda influentes na Europa moderna’. De fato, a prevalência de igrejas dedicadas a João Batista possa ser facilmente explicada pelo fato de que os Cavaleiros Hospitalários de São João [que mais tarde se tornaram conhecidos como Cavaleiros de Malta] sempre particularmente o veneraram e eles tem tido uma forte presença na área. Mas uma outra maior força a ser reconhecida no sul da França que eram os ainda mais famosos Cavaleiros Templários – e eles também prestavam uma especial homenagem a João Batista.

Enquanto estavamos na Provença dificilmente podiamos perder a oportunidade de visitar a área de St-Jean-Cap-Ferrat, onde Jean Cocteau fez seu lar. A viagem de Marselha para Nice pareceu durar para sempre, até mesmo embora fique apenas um pouco posterior a linha costeira na direção da cidade Estado de Monaco.  St-Jean-Cap-Ferrat fica na ponta da península e sua história de fornecer um paraiso para os luminares do cinema tal como David Niven inevitavelmente evoca um conjunto de imagens cinemáticas. Certamente ela contém as mais ricas residências que se possa possivelmente imaginar fora de um filme de James Bond e um certo  Château St Jean que parece quase ameaçador por trás de suas sombras sinistras que é como algo de um filme de Hitchcock. Ainda que neste parque de diversões de ricos e famosos tudo não seja tão materialista quanto possa parecer; a ênfase local em São João não é acidente. A própria vila tem uma igreja dedicada a João Batista, de quem a área recebeu seu nome. Mais uma vez, isso é graças a presença dos Cavaleiros de Malta, cuja capela de St Hospice ainda está no sítio de seu forte original na ponta extrema da península. A Ponta de São João claramente é um excelente local para se manter a observação. As paredes  ‘Place des Chevaliers de Malte’ . Ela é dominada por uma enorme estátua de bronze de uma Madona Com a Criança, que, embora tenha adquirido uma distinta pátina verde azulada, é conhecida localmente como A Virgem Negra. Com mais de cinco metros de altura, ele tem tido uma visão geral do mar por quase um século. Aqui está um estranho fenômeno do relacionamento aparentemente simbiótico dos sítios da Madona Negra e aqueles dedicados a Batista. Está perto da terra principal, contudo, alguém encontra uma inesperada conexão com o Priorado de Sião.

No pequeno centro de  Villefranche-sur-Mer há uma pequenina capela lateral a baía usada pela comunidade pesqueira. Por causa desta associação ela é dedicada a São Pedro. mas para nós o principal interesse reside na identidade do criador desta notável decoração – ela foi projetada e executada por Jean Cocteau, que a completou em 1958, embora este tenha sido o seu sonho por muitos anos. No fim ele foi pessoalmente responsável por cada aspecto da decoração da capela, do engessamento das paredes ao desenho dos candelabros. E o resultado final é, não colocando um ponto muito bom nisso, estranho. Há uma vaga similaridade com a decoração de um templo maçonico, embora o conjunto de imagens seja consideravelmente mais surreal.  Olhos fixos estão pintados em todos os lugares; há uns gigantes de um lado ou outro do altar, mas um monte de menores são liberalmente pontilhados por ela; e figuras peculiares, tais como uma mulher levantando três dedos muito deliberadamente ao observador- enfeitam as paredes. De todos, o mais bizarro conjunto de figuras e símbolos na capela, contudo, um particularmente salta a nós: mostra figuras de ciganos dançando na companhia de uma menina como uma deusa – claramente uma alusão a cerimonia anual em Saintes-Maries-de-la-Mer. Esta é uma estranha referência a ser encontrada na outra ponta da Provença, e em uma capela dedicada a São Pedro, que, segundo os Evangelhos Gnósticos, era um inimigo da amada Maria Madalena do Priorado. Cocteau decorou esta capela imediatamente antes de trabalhar no mural de Londres, e em ambos os casos o visitante tem um sentimento desconfortável como se as mensagens subliminares estivessem comunicando algo a nível subconsciente que é muito diferente da mensagem contida dentro das construções cristãs.

Aproximadamente a uns 30 quilometros ao norte do luxo de Nice, está um agrupamento de vilas que fazem parte do emergente padrão de sítios coexistentes de Maria Madalena e João Batista. Ao longo do Vale do Rio Vésubie corre a uma vez importante rota dos Alpes para a costa, e é perto desta área que encontramos evocativos nomes de lugares com as mesmas associações que encontramos perto de St Jean-Cap-Ferrat.  Por exemplo, a vila de Sainte-Madaleine (sic) é encontrada perto dos lugares de Maria e São João. Mas não é tudo. Na mesma área está a velha cidade Templária de Utelle, cujas casas medievais ainda tem símbolos esótericos dos alquimistas, e mais acima do vale está Roquebillière, um outro assentamento da fraternidade cavaleiresca.  A maior cidade é St-Martin-de-Vésubie, sítio do legendário massacre dos Templários em 1308. Esta é terra natal da famosa Madona Negra : A Madona das Janelas que foi introduzida na área pelos Templários.  Mas a estátua foi, segundo a tradição, trazida para a França por Maria Madalena. E conquanto as lendas necessáriamente não precisem ter base em fatos, é ainda interessante que as pessoas aqui aparentementemente achem natural fazer associação entre a Madalena, o culto da Virgem Negra e os Templários. Exatamente através do vale de St-Martin-de-Vésubie está a vila de Venanson, onde a capela de São Sebastião é cravada na rocha acima alto da única estrada.  Dentro, ela tem uma imagem de St Grat, que uma vez foi o bispo local, segurando a cabeça de João Batista. A uns meros cinco quilometros desta capela há, na vila de  Saint-Dalmas, a igreja Templária de Sainte-Croix, uma das mais antigas construções religiosas da França. Suas paredes apresentam pinturas de Salomé apresentando a cabeça de João Batista a sua mãe Herodia e seu padrastro Herodes.

De fato muitas igrejas, tanto católicas quanto protestantes, tem algum tipo de representação de Batista, ms elas geralmente mostram Batista batizando Jesus. Muito poucas apresentam João sendo decapitado ou sua cabeça cortada, porque apenas nestes lugares onde ele é particularmente venerado uma tal imagem é considerada apropriada. Nesta área da França, contudo, há um número de tais apresentações e isto não pode ser um acidente porque, como temos visto, está é a terra onde uma vez existiu uma grande concentração de Templários e Ordens associadas. João Batista sempre tem sido conhecido ser o santo patrono dos Templários e portanto especialmente reverenciado por eles. Mas exatamente porque João Batista é tão especialmente importante para os Templários e os Cavaleiros de Malta? Esta era uma questão que era para assumir uma importância muito maior em nossa investigação na medida em que a pesquisa continuava. Nossa viagem a Provença tinha revelado que havia algo de substancial por trás das histórias de Madalena na área, mas também permitiu rápidos olhares tantalizantes de algo mais antigo, maior e mais organizado – talvez até mesmo mais escuro. Na medida em que seguiamos as pegadas dela começamos a achar camada após camada de associações esotéricas que frequentemente remontavam a séculos. Onde Madalena estava, geralmente estava a Madona Negra, e onde o culto tinha operado houve uma vez um florescente templo a uma deusa pagã. Os outros fios na meada ligando a este triunvirato feminino ao Priorado de Sião e – inexplicavelmente – com a veneração dos Templários a São João Batista. Nestes estágios iniciais de nossa investigação, fatos aparentemente irreconciliáveis, histórias e personagens começaram a entrar no lugar da figura completa – e esta era uma que o próprio Leonardo pode ter estado orgulhoso. Sem qualquer idéia de o quanto pudessem ser perturbardoras as nossas descobertas, deixamos Provença para trás e nos dirigimos mais profundamente no coração da heresia  européia.

CAPÍTULO IV
O CORAÇÃO DA HERESIA EUROPÉIA

As histórias sobre Maria Madalena se estendem além da Provença, embora os locais associados a vida terrena dela na França sejam encontrados apenas lá. As histórias sobre ela abundam exatamente atravesssando o sul, e estão particularmente concentradas perto dos Pirineus no sudoeste, e em Ariège. E é para estas terras que é dito ela ter levado o Santo Gral. Previsivelmente, elas são também lares para muitas grandes Madonas Negras, particularmente nos Pirineus orientais. Se dirigindo a oeste deixando Marselha para trás de nós. nos aproximamos da região de Languedoc-Roussillon, uma vez a mais rica área da França, e agora está entre suas mais pobres. Nesta área depopulada, a terra parece ecoar os pensamentos de alguém e milha após milha, a despeito do crescente número de turistas que vem absorver sua história empapada de sangue, sem mencionar o vinho local. E conquanto nós, como bons europeus, fizéssemos nossa própria contribuição a economia local, estavamos em primeiro lugar a examinar seu passado. A evidência da turbulenta história da região está em todos os lugares. Castelos arruinados e antigas cidadelas, destruidos por ordem de reis e papas, espalham desordem ao panorama e contam as histórias de brutalidades que ultrapassam até mesmo a usual tendência medieval para dominar pela atrocidade. Porque se algum lugar na Europa pode ser dito ter sido um lar para a heresia, este é Languedoc-Roussillon. E este é o único fato na história que tem sido o responsável pelo empobrecimento da região. Fora de regiões como a Bósnia e a Irlanda do Norte, raramente a religião tem deixado sua marca sobre as fortunas de uma área de um modo tão obvio. Anteriormente apenas o Languedoc – de Langue d’Oc , a linguagem local -, se estendia da área de Provença para a área entre Toulouse e os Pirineus orientais. Até o século XIII isso não era propriamente parte da França, mas governado pelos Condes de Toulouse, que, embora nominalmente devendo fidelidade aos reis da França, eram na prática até mesmo mais ricos e poderosos. Nos séculos XI e XII esta área era a inveja da Europa por sua civilização e cultura. Sua arte, literatura e ciência eram de longe as muito mais avançadas da época, mas no século XIII esta cultura brilhante e luminosa foi rasgada por uma invasão do bárbaro norte, causando um fervente ressentimento que persiste até hoje. Muitos de seus habitantes ainda preferem ver a terra como Ocitânia, seu antigo nome.

É, como estavamos para descobrir, uma região com uma memória particularmente longa. O velho Languedoc tem sempre sido a terra central para as idéias heréticas e não ortodoxas, provavelmente porque uma cultura que encoraje a busca do conhecimento tenda a tolerar o novo pensamento radical. Uma parte central destes arredores eram os trovadores – estes menestréis viajantes cujas músicas de amor eram essencialemente hinos ao Princípio Feminino. Esta inteira tradição de amor nobre centrado em uma feminilidade idealizada, e na mulher ideal, a Deusa. Romanticas como elas devem ter sido, as músicas dos trovadores também reuniam o erotismo real. A influência do movimento, contudo, estendeu-se além do Languedoc e foi particularmente bem sucedido na Alemanha e Países Baixos onde os trovadores eram conhecidos como ‘ asminnesingers’ – literalmente, ‘Cantadores das Mulheres’ -, embora aqui a palpavra transportasse o significado de uma mulher idealizada ou arquetípica. O Languedoc viu o primeiro ato do genocídio europeu, quando mais de 100.000 membros da heresia cátara foram massacrados por ordens do Papa durante a Cruzada Albigense [que recebeu seu nome da cidade de Albi, uma fortaleza cátara]. Foi especificamente para o interrogatório e extermínio dos catáros que a Inquisição foi criada. Talvez isso seja simplesmente porque a Cruzada Albigense aconteceu remontar ao século XIII que seu impacto nunca tenha estado perto daquele dos holocaustos mais modernos. Muitos locais, contudo, ainda ardem com as velhas paixões, e alguns até mesmo sugerem que tem havido um acobertamente oficial através dos séculos, uma conspiração para evitar que a história cátara seja mais amplamente conhecida.

Além dos cátaros, a região era, e sempre tem sido, um centro de alquimia, e várias vilas atestam as preocupações alquímicas dos antigos residentes, notavelmente Alet-les-Bains perto de Limoux, onde as casas ainda são decoradas com simbolismo esotérico. Foi também em Toulouse e Carcassone que as primeiras acusações conhecidas de frequentar os chamados Sabbaths das feiticeiras apareceram, nos anos de 1330 e 1340. Em 1335 63 pessoas foram acusadas de feitiçaria em Toulouse e suas confisssões foram extraídas delas pelos usuais métodos garantidos. A chefe entre elas era uma jovem mulher chamada Anne-Marie de Georgel, que é pensado ter falado pelas outras quando descreveu as crenças delas. Ela disse que elas viam o mundo como um campo de batalha entre dois deuses, o Senhor do Céu e o Senhor deste Mundo. Ela e as outras apoiavam este último porque pensavam que ele venceria. Isto pode ter sido ‘feitiçaria’ para os juízes eclesiásticos, mas era Gnosticismo, puro e simples. Uma outra mulher, similarmente denunciada, testemunhou que ela compareceu ao ‘Sabbath’ para ‘servir a Cathari na ceia’. Muitos elementos pagãos sobrevivem nestas regiões mais rurais da Europa – e podem ser vistos nos mais surpreendentes lugares. Porque embora as gravações do ‘Grande Homem’ – o deus da vegetação que tem sido venerado nas regiões mais rurais da Europa -, pode ser visto igualmente em muitas igrejas cristãs, tais como a Catedral Norwich, e ele não é geralmente apresentado como sendo a prole de uma deusa do Velho Testamento. Como escrevem A. T. Mann e Jane Lyle: Na catedral nos Pirineus de St-Bertrand-de-Comminges, Lilith tem encontrado seu caminho em uma igreja: em uma gravação lá apresenta uma mulher alada e com pés de ave dando a luz a uma figura dionísia, um Homem Verde. A mesma pequena cidade afirma ter sido o local da tumba de um personagem que é nada menos do que Herodes Antipas, o governante palestino que mandou executar João Batista.

Ssgundo o cronista judeu do século I, Josephus, o perverso triunvirato de Herodes, sua mulher, a maquinadora Herodia e sua enteada Salomé, ela da chamada ‘Dança dos Sete Véus’, foram todos exilados para a cidade romana de Lugdunum Convenarum no Gaul, que agora é St-Bertrand-de-Comminges. Herodes desaparece sem traços, mas Salomé morreu em um riacho da montanha e Herodias viveu na história local se tornando a líder de um congresso de bruxas de ‘bruxas da noite’.

Uma outra colorida história Languedociana se refere a ‘Rainha do Sul’ (Reine du Midi), um título da condessa de Toulouse. No folclore, a protetora de Toulouse é La Reine Pedauque (a Rainha Pés de Ganso). Isso pode ser uma referência no jogo de trocadilhos, a ‘linguagem esotérica das aves’ do Pays d’Oc, mas pesquisadores franceses tem identificado esta figura com a deusa síria Anath, que por sua vez é estreitamente ligada a Isis.  E há também a óbvia associação com Lilith de pés de aves. Ainda que outro personagem lendário na área seja Meridiana. O nome dela parece liga-la ao meio dia e a ao sul [ambos midi em francês] Seu mais famoso aparecimento aconteceu quando Gerbert d’Aurillac (c.940-1003), que mais tarde se tornou o Papa Silvestre I, viajou para a Espanha para aprender os segredos da alquimia. Silvestre, que possuia uma oracular cabeça falante, recebeu sua sabedoria desta Meridiana, que ofereceu a ele ‘seu corpo, riquezas e sabedoria mágica’, claramente alguma forma de conhecimento alquimico e esotérico que foi comunicado pela iniciação sexual. A pesquisadora e escritora americana Barbara G. Walker deriva o nome de Meridiana de Maria-Diana, desta forma ligando esta composta deusa pagã com as histórias de Madalena no sul da França.

Foi também o Languedoc que foi lar de uma muito maior concentração de Cavaleiros Templários na Europa até a supressão deles no início do século XIV, e a área ainda é envolvida com as ruinas de seus castelos e comandarias. Se, como suspeitamos, existiram ramos muito mais heréticos do culto a Madalena do que aqueles que encontramos na Provença, então certamente aqui seria onde os encontrariamos. Certamente um dos maiores centros onde iriamos passar na auto estrada de Marselha tinha visto incríveis paixões arrebatadas ao nome dela – e milhares de pessoas tinham sido horrivelmente condenadas a morte por causa do que ela significava para eles. Béziers hoje fica no departamento de Hérault no Languedoc-Roussillon, um cidade populosa grosseiramente a dez quilometros do Golfo de Lions no Mediterrâneo. Mas em 1209 até o último habitante da cidade foi caçado sem misericórdia e morto pelos Cruzados Albigenses. Até mesmo pelos anais encharcados de sangue – e frequentemente francamente bizarros -, desta longa campanha, esta é uma história particularmente estranha. A lenda foi contada pelos historiadores contemporaneos, mas aqui nos confinaremos ao que Pierre des Vaux-de-Cernat, um monge Cisterciano escreveu em 1237. Ele não esteve pessoalmente presente nos eventos, mas baseou sua narrativa naquela de Cruzados que lá estiveram presentes. Béziers tinha se tornado algo de um centro de heréticos, que foi o porque quando os Cruzados a atacaram havia um enclave de 220 cátaros vivendo lá não molestados pela população em geral. Embora não seja conhecido se o Conde de Béziers era ele próprio um cátaro ou meramente um simpatizante, o que é certo é que ele nada fez para perseguir ou suprimi-los, e isso particularmente enraiveceu os Cruzados. Eles exigiram que as pessoas da cidade – geralmente católicas -. ou entregassem os cátaros ou deixassem a cidade de forma que apenas os cátaros remanescentes pudessem ser facilmente localizados. Embora esta exigência fosse feita sob a ameaça de excomunhão – um assunto que não era ligeiro naqueles dias quando o Inferno era muito uma realidade -, e a opção alternativa parecesse bastante genorosa no que significava que era dado aos católicos a chance de escaparem do vindouro massacre, uma coisa surpreendente aconteceu. O povo da cidade recusou-se a cumprir uma exigência ou outra. Como escreveu des Vaux-de-Cernat, eles ‘peferiram morrer como hereges a viverem como cristãos’. E segundo o relato enviado ao Papa por seus representantes, o povo da cidade fez um juramento de defender os hereges. De acordo com isso, em 1209 os Cruzados marcharam para dentro de Béziers, e sem dificuldade, tomaram a cidade e mataram todo mundo nela – homens, mulheres, crianças e sacerdotes – e o lugar foi posto para queimar. Entre 15.000 e 20.000 pessoas foram massacradas: destas, apenas 220 eram hereges. ‘Nada poderia salva-los, nem cruz, altar ou sacrifício’. Foi aqui que os legados do Papa foram perguntados pelos cruzados como eles saberiam quem era herege entre o restante da população da cidade e receberam a notória resposta: “mate todos eles. Deus reconhecerá os seus’. Conquanto seja fácil de entender que o povo da cidade quisesse defender sua cidade contra as caraterísticas depredações de um exército, deve ser lembrado que eles haviam recebido a oportunidade de sair, e se a segurança de sua propriedade era o principal nas mentes deles eles poderiam simplesmente terem entregue os cátaros e voltarem para suas vidas diárias sem em um olhar para trás. Contudo, eles permaneceram, e efetivamente assinaram sua sentença de morte duas vezes por ativamente fazerem o juramento de defender os cátaros. Exatamente o que estava acontecendo em Béziers?

Primeiro, a data precisa do massacre deve ser levada em consideração. Foi 22 de julho, o dia da festa de Maria Madalena, que era indicada como sendo de singular importância para todos os escritores contemporaneos. E havia sido na Igreja de Maria Madalena em Béziers quarenta anos anteriormente que o senhor local, Raymond Trencavel I, tinha sido assassinado – embora a razão para isto permaneça não esclarecida.  Ainda que em Béziers ao menos, a ligação entre Maria Madalena e ela não fosse acidente, ela fornece o insight para o background da Cruzada Albigense como um todo. Como escreveu Pierre des Vaux-de-Cernat: “Béziers foi tomada no Dia de Santa Maria Madalena. Oh, suprema justiça da Providência!. Os hereges afirmavam que Santa Maria Madalena era a concubina de Jesus Cristo, foi portanto com justa causa que estes desagradáveis cachorros foram tomados e massacrados durante a festa de um daqueles que eles haviam insultado.” Chocante embora esta idéia possa ter sido ao bom monge e aos Cruzados, obviamente não era tal coisa para a vasta maioria do povo da cidade, que tinha efetivamente se colocado ao lado dos hereges até a morte. Claramente esta crença era uma tradição local do poder quase único sobre os corações e mentes das pessoas. Como temos visto, os Evangelhos Gnósticos e outros textos iniciais não tem hesitação em descreverem o relacionamento entre Jesus e Maria Madalena como sendo abertamente sexual. Mas como na terra este povos francês de uma cidade medieval ouviu isso? Os Evangelhos Gnósticos ainda não haviam sido descobertos´[e até mesmo se o tivessem seria improvável que tivessem sido disseminados até eles]. Então de onde veio a tradição? Este episódio agiu como um levantador da cortina para toda a Cruzada Albigense, que era para rasgar o Languedoc por quarenta anos, causando cicatrizes tão profundas na psique coletiva que por nenhum meio é estranho detecta-lo ainda. Então exatamente quem eram estes cátaros – cujas crenças eram para causar que uma inteira cruzada fosse montada contra eles? Quem mantinha tal terror para o estabelecimento que criou especificamente a Inquisição como arma contra eles? Ninguém pode, com qualquer acurácia, localizar a gênese da fé cátara, mas ela rapidamente se tornou um poder a ser reconhecido no Languedoc no século XI.

Para os Languedocianos os cátaros não eram tratados com desdém ou ridículo com o qual a nossa cultura tende a considerar os cultos religiosos minoritários; eles eram a religião dominante da região e tratados com um supremo respeito localmente. Todas as famílias nobres da área ou eram elas próprias conhecidas como cátaras ou simpatizantes dos cátaros que davam a eles um apoio ativo. O Catarismo era virtualmente a religião de Estado do Languedoc. Conhecidos como Les Bonhommes ou ‘Les Bons Chrétiens’ [os bons homens ou bons cristãos] os cátaros pareceriam não ter ofendido a alguém. Os comentadores modernos, especialmente aqueles com uma perspectiva New Age, afirmam que eles representavam um movimento perfeito de retorno aos fundamentos da Cristandade. Embora, como devemos ver, eles absorveram muitas outras idéias e tivesem a sua de certa forma confusa ideologia, é verdade que seu meio de vida era uma tentativa de obedecer aos ensinamentos de Jesus. Eles acusavam a Igreja Católica de ter se afastado muito longe do conceito original do movimento de Jesus. Eles viam como um anátema a riqueza e a pompa da Igreja, que eles viam como sendo o oposto ao que Jesus tinha pretendido para seus seguidores. Superficialmente, então, eles podem parecer terem sido os precursores do movimento protestante, mas a despeito de certas similaridades, este não foi o caso. Os Cátaros levavam vidas muito simples. Eles preferiam se reunir a céu aberto ou em casas comuns muito mais do que em igrejas, e embora eles tivessem uma hierarquia administrativa que incluia bispos, todos os membros batizados eram espiritualmente iguais e vistos como sacerdotes. Talvez o mais surpreendente nestes dias, era a ênfase deles na igualdade dos sexos, embora o culto Languedoc já tivesse uma atitude mais iluminada em relação as mulheres do que o usual. Eles eram vegetarianos e comedores de peixe [por razões ligeiramente mal percebidas, como veremos mais tarde] e pacifistas, e acreditavam em uma forma de reencarnação. Eles também eram pregadores itinerantes, viajando em pares, vivendo na completa pobreza e simplicidade, parando para ajudar e curar fosse onde fosse que eles pudessem. De muitos modos os Bons Homens teriam parecido não oferecer uma ameaça a qualquer pessoa, exceto a Igreja. Esta organização encontrou muitas razões para perseguir os Cátaros. Eles eram vociferantemente antagonistas do símbolo da cruz, vendo nele um lembrete horrível e doentio do instrumento que torturou Jesus até a morte. Eles também odiavam o inteiro culto do morto e da cruz e seu associado comércio de relíquias – um meio maior de encher os cofres de Roma em seus dias. Mas a razão dominante porque os cátaros caíram no desprazer da Igreja era que eles se recusavam a reconhecer a autoridade do Papa.

Pelo século XII vários Concílios da Igreja tinham condenado os Cátaros, mas finalmente em 1179 eles e seus protetores foram pronunciados ‘anátema’. Até este ponto a Igreja havia despachado missionários específicos – os talentosos oradores daquele tempo – para tentar reconqustar o Languedoc para a ‘verdadeira fé’ mas tais missões foram  recebidas com apatia. Até mesmo o Grande São Bernardo de Clairvaux (1090-1153) foi enviado a área para apenas retornar exasperado com sua intransigência. Significativamente, contudo, seu relato ao Papa teve o cuidado de explicar que conquanto os Cátaros estivesse doutrinariamente em erro, se ‘você fosse examinar seu modo de vida, nada encontraria de mais impecável’. Isto era para ser uma caraterística comum da inteira Cruzada que até mesmo os inimigos dos cátaros tivessem que admitir que o modo de vida deles era exemplar. A tática seguinte da Igreja foi tentar jogar os hereges em seu jogo comum de enviar pregadores itinerantes. Entre os primeiros deles, em 1205, estava o famoso Dominic Guzman, um monge espanhol que foi para fundar a Ordem dos Frades Pregadores [que mais tarde se tornou a Ordem Dominicana, cujos membros até mais tarde eram responsáveis pela Santa Inquisição]. Então os dois lados se encontraram em uma série de disputas abertas, um tipo de mortal debate público, que nada resolveu. Finalmente, em 1207, o Papa Inocente III perdeu a paciencia e excomungou o Conde de Toulouse, Raymond VI, por falhar em tomar ação contra os hereges. Este foi obviamente um movimento impopular, porque o legado papal que levou estas novas foi morto por um dos cavaleiros de Raymond. Esta foi a última gota. O Papa  declarou uma cruzada completa contra os Cátaros e aqueles que os apoiavam e simpatizavam com eles. A Cruzada foi convocada em 24 de junho de 1209 – o dia da festa de São João Batista. Até este ponto todas as Cruzadas tinham sido convocadas contra os muçulmanos – contra os estrangeiros selvagens’ que viviam em terras tão distantes como literalmente iimagináveis. Msa esta Cruzada era para ser o combate de Cristãos contra Cristãos, quase na porta do Papa. Havia toda chance que os Cruzados pudessem conhecer pessoalmente os hereges que juravam exterminar. A Cruzada Albigense, que começou em Béziers em 1209, continuou com a suprema brutalidade, na medida em que cidade após cidade caia diante dos soldaos sob o comando de Simon de Montfort. A campanha durou até até 1244, um período não inconsiderável para os Cruzados fazerem o pior. Há lugares no Languedoc, onde, até mesmo hoje, o nome de Simon de Montfort evoca uma resposta misturada de medo e repulsa. Naquele tempo as razões abertamente religiosas para a campanha logo se misturaram aos mais cínicos motivos políticos. A maioria dos Cruzados veio do norte da França e a riqueza e o poder do Languedoc era atraente demais para ser ignorado. No inicío da Cruzada esta área pode ter desfrutado de uma considerável independência; ao fim era definitivamente parte da França. Este episódio na história européia foi, para os padrões de qualquer pessoa, maciçamente importante. Não apenas era o primeiro genocídio europeu, mas era também um movimento crucial para a unificação da França e isso forneceu o ímpeto direto por trás da criação da Inquisição. Mas, em nossa opinião, há muito mais na Cruzada Albigense do que uma campanha curiosamente esquecida de atrocidade. Os Cátaros eram pacifistas, que desprezavam o ‘sujo envelope da carne’ que eles estavam ávidos por se livrarem, até mesmo se os meios de o fazer significasse o martírio de serem queimados vivos. Durante a campanha incontáveis milhares de cátaros terminaram seus dias na fogueira e entre eles muitos não manifestaram o menor terror ou medo quando enfrentaram isso.  Alguns aparentemente foram adiante e não demonstraram dor. Isto foi particularmente notável no final do cerco de seu último refúgio, Montsegur.

Uma parada essencial para o turista moderno, Montsegur tem se tornado algo de um lugar mítico, muito similar a Glastonbury Tor. Mas embora aqueles que estejam fora de treinamento possam encontrar este último uma subida rígida, nada é comparado a estrada no topo do ‘castelo’ de Montsegur. Uma cidadela de pedra, é empoleirado quase que impossivelmente nas estonteantes alturas de uma montanha escabrosa, grosseiramente na forma de um velho pão de açúcar, que tem a visão geral da vila e de um vale mais perigoso pelas regulares quedas de rochas dos penhascos. Sinais em várias linguagens advertem contra as rispidas tentativas de subir ao ‘castelo’, por aqueles cuja estamina esteja em qualquer dúvida; até mesmo mochileiros bronzeados acham o lugar muito notável. É dificil imaginar como os cátaros e seus suprimentos chegasem ao topo. Uma vez lá, contudo, é relativamente fácil excluir porque os cruzados, com suas armaduras e cavalos não podiam nem mesmo tentar a subida. Pelos anos iniciais de 1240 quando os cruzados haviam forçado os cátaros remanescentes cada vez mais adiante aos pés dos Pirineus, Montsegur havia se tornado a sede deles. Como um lar para aproximadamente 300 cátaros, mas mais particularmente seus líderes, este era um preço brilhante para os homens do Papa. A Rainha da França, Blanche de Castilha, reforçou a importância de Montsegur quando escreveu sobre sua captura:  ‘devemos cortar a cabeça do dragão’. Durante os dez meses de cerco a Montsegur, aconteceu um curioso fenômeno. Vários soldados que faziam o cerco desertaram para os cátaros, a despeito do conhecimento certo de como isso terminaria para eles. O que possivelmente pode ter causado tal deserção? Alguns tem sugerido que eles ficaram tão impressionados pelo comportamento exemplar dos cátaros que sofreram uma profunda conversão interna.

Como temos visto, os cátaros abordavam sua morte certa por tortura não apenas com estoicismo, mas com uma calma total – até mesmo, é dito, quando as chamas começavam a lamber ao redor deles. Para aqueles que podem lembrar os anos de 1970 isto imediatamente traz à mente a imagem assustadora daquele monge busdista que se imolou em protesto contra a guerra do Vietnã. Ele sentou-se perfeitamente ereto, em um transe nascido de um longo treinamento e disciplina inimaginável, na medida em que o fogo o matava. E os cátaros coscientemente se prepararam para a morte, até mesmo fazendo um juramento que especificamente prometia sua fidelidade a fé diante de todos os tipos de tortura. Eles também praticavam uma similar técnica de transe que os capacitasse superar as mais extremas agonias? Certamente este segredo era algo que os soldados desde tempos imemoriais tem querido saber. Seja o que possa ser, a queda de Montsegur tem criado muito mais mistérios persistentes que tem exercido fascínio sob gerações, inclusive para os caçadores nazistas de tesouros e aqueles que buscam o Santo Gral. O mais persistente mistério de todos diz respeito ao chamado Tesouro dos Cátaros, que quatros deles conseguiram retirar na noite anterior do restante ser massacrado. Este intrépidos hereges de alguma forma conseguiram sair ao serem descidos por cordas sobre o lado particularmente em precipício da montanha no meio da noite. Embora eles tivessem formalmente se rendido em 2 de março de 1244, por razões que tem sido especuladas mas nunca explicadas, eles tiveram permissão para permanecerem na cidadela por mais quinze dias – depois destes tempo seriam queimados. Algumas narrativas vão adiante e os descrevem como realmente tendo corrido pelo lado da montanha e pulado ns fogueiras que os aguardavam abaixo. Tem sido especulado que eles pediram este tempo extra para realizarem algum ritual, mas ninguém nunca saberá a verdade sobre este asssunto. A exata natureza do Tesouro Cátaro é assunto de enérgica especulação. A julgar pela rota perigosa tomada pelos quatro que escaparam, dificilmente pode ter sido sacos de pesadas barras de ouro. Alguns tem especulado que este era o próprio Santo Gral, ou algum outro objeto ritual de grande importância – enquanto outros afirmam que eles tomavam a forma de escritos, ou conhecimento, ou até mesmo que os quatro cátaros eram eles próprios importantes de algum modo. Eles podem ter representado uma linha de autoridade, talvez até mesmo literalmente encorporando a legendária linhagem sanguínea de Jesus. Mas se realmente o tesouro dos cátaros fosse o conhecimento secreto, que forma ele pode ter tomado? No que os cátaros realmente acreditavam? É difícil avaliar as crenças deles com qualquer acurácia, porque eles deixaram poucos registros escritos e muito do que eles eram ditos acreditarem veio dos escritos de seus inimigos – a Inquisição. E como ressaltam sabiamente Walter Birks e R.A. Gilbert em seu ‘The Treasure of Montségur'(1987), ênfase demais tem sido colocada em sua putativa teologia quando em toda probabilidade era o estilo de vida deles que atraia atenção. Ainda que a religião crescesse de uma específica visão de mundo, e suas origens precisas permaneçam debatíveis.

Os cátaros eram uma prole dos Bogomils, um movimento herético que primeiro floresceu nos Balcãs em meados do século X, mas que permaneceu influente na área até depois dos cátaros encontraram seu final. O Bogomilismo se disseminou amplamente – ao menos tão longe quanto em Constantinopla – e foi visto como uma séria ameaça a ortodoxia religiosa. Os Bogomils da Bulgária eram eles próprios herdeiros de uma longa linha de heresia e tinham adquirido uma reputação colorida entre seus oponentes. Por exemplo, nossa palavra  ‘bugger’ [sodomita] é derivda do nome Bulgar, e significa literalmente – todos os hereges são acusados de desvio sexual, seja ou não justificada a acusação – e no sentido geral pejorativo. Os Bogomils e seus derivados tais como os Cátaros eram Dualistas e Gnósticos: para eles, o mundo era inerentemente mal, o espírito sendo aprisionado em um corpo de sujeira, e o único meio de se libertar é através da Gnose – a revelação pessoal que leva a alma à perfeição e a um conhecimento de Deus. Há muitas possíveis raízes do Gnosticismo – a antiga filosofia grega, os cultos de mistério tais como o Dionisianismo, a as religiões dualistas tais como o Zoroastrismo são prováveis cadidatos. [detalhes posteriores podem ser encontrados no estudo magistral de Yuri Stoyanov ‘The Hidden Tradition in Europe’ (1994).]  Diante do tipo de literatura sobre o assunto do Catarismo que é encontrado em muitas lojas turísticsas no Languedoc, pode-se ser perdoado ao pensar que seja um tipo de religião de olhos úmidos New Age, com uma ideologia simplista. Há literalmente dúzias de livros e panfletos que celebram o humanitarismo e as crenças cátaras em tais princípios ‘modernos’ de reencarnação e vegetarianismo. Mas em grande parte, é puramente falta de lógica sentimental. Os cátaros praticavam o vegetarianismo não por causa de seu amor pelos animais, mas porque eles odiavam a procriação, e apenas comiam peixe pela crença enganosa que os peixes se reproduzissem assexuadamente. Novamente, a idéia da reencarnação era baseada no conceito do ‘bom fim’ [a morte] que geralmente significava ser martirizado pela fé. Se eles encontrassem um tal fim não havia dúvida que eles não reencarnassem novamente neste vale de lágrima; se eles não encontrassem este fim , então eles teriam que voltar até fazerem isso certo.

Alguns tem tentado argumentar que o Catarismo era inteiramente um produto languedociano. Isto é manifestamente não verdadeiro, mas incorporou material local em sua teologia. Significativamente, uma coisa que é única aos Cátaros é a crença que Maria Madalena era esposa de Jesus, ou talvez sua concubina. Isto, contudo, não era considerado conhecimento apropriado para todos os Cátaros, mas era reservado aos Altos Iniciados – o círculo interno – apenas. Os cátaros eram virulentamente contra o sexo e contra o casamento, então era improvável que eles tivesem feito isso acima; talvez eles fossem tão horrorizados por isso que eles reservassem isso para aqueles que já haviam se provado fiéis. Os Cátaros frequentemente se encontravam em uma desconcertante posição teologicamente; por um lado eles ativamente encorajavam seus seguidores a lerem a Bíblia por eles mesmos [em contraste com o catolicismo ortodoxo que fortemente se opunha ao acesso popular às escrituras], mas por outro lado eles tinham que radicalmente reinterpretar os eventos bíblicos para fazer com que eles se encaixassem em suas crenças. O maior exemplo de sua reinvenção do Novo Testamento é a visão deles da Crucificação, na qual eles apresentavam um Jesus puro espírito sendo pregado na cruz. Embora não haja evidência biblica disso seja onde for, eles tinham que inventar este ‘outro’ Jesus por causa de sua repulsa pelo corpo físico – e ter um Jesus corpóreo era para eles inacreditável. Então a idéia deles de Jesus e Maria Madalena serem parceiros sexuais pode dificilmente ter sido o resultado de um desejoso pensamento da parte deles. De fato, eles lutaram com várias justificativas teológicas para explicar o casamento, algo que não teria exercido neles tão grandemente se eles sentissem que podiam descartar a história como completamente falta de senso.  O que isto pareceria apontar é a prevalência da idéia do relacionamento de Jesus e Maria Madalena no Languedoc daquele tempo – e isso não era apenas parte e parcela do que o povo comum acreditava sem questionar, mas também tão central para o inteiro mundo cristão naquele lugar que tinha que ser lidado muito mais do que ignorado.

E como escreve Yuri Stoyanov: O ensinamento de Maria Madalena como esposa ou concubina de Cristo aparece, sobretudo, uma original tradição cátara que não tem qualquer contraparte nas doutrinas Bogomils. Embora Madalena fosse, e ainda é, um santo curiosamente popular na Provença, onde é suposto que ela viveu, é no Languedoc que ela tem se tornado o foco das crenças abertamente e, como descobririamos, é também nesta região que estas crenças tem dado elevação a perplexantes paixões, rumores selvagens, e escuros segredos. Como temos visto, a idéia de Jesus e Maria Madalena serem amantes foi também encontrada nos Evangelhos de Nag Hammadi, que foram escondidos no Egito no século IV. Pode ser que as crenças Languedocianas realmente tenham vindo deles ou de uma fonte comum? Alguns eruditos, notavelmente Marjorie Malvern, tem especulado que o culto a Madalena no Sul da França preservou estas idéias iniciais Gnósticas. Em 1330 um notável tratado chamado Schwester Katrei (Irmã Catherine) foi publicado em Strasbourg, alegadamente escrito por um místico alemão Meister Eckhart – mas eruditos concordam que seu real autor foi uma das suas seguidoras femininas. Ele apresenta uma série de diálogos entre a Irmã Catherine e seu confessor sobre a experiência religiosa de uma mulher, e embora ele incorpore muitas idéias ortodoxas, ele também apresenta muitas que decididamente não o são. Por exemplo, ele realmente faz a declaração: ‘Deus é a Mãe Universal’ e claramente revela uma forte inspiração cátara, além daquela tradição do trovador/menestrel. Este tratado não usual e expressivo liga Madalena a Minne – a dama do amor dos menestreís, mas até mesmo mais excitantemente, tem dado aos eruditos uma pausa para pensar porque ele contém idéias sobre Maria Madalena que apenas são encontradas nos Evangelhos de Nag Hammadi: ela é retratada como sendo superior a Pedro por causa de seu maior entendimento de Jesus, e há a mesma tensão entre ela e Pedro. Sobretudo, reais incidentes que são descritos nos textos do Nag Hammadi são mencionados no tratado da Irmã Catherine. A Professora Barbara Newman da Universidade da Pennsylvania ressalta a perplexida academica nas palavras: ‘O uso da Irmã Catherine destes motivos oferece um problema espinhoso de transmissão histórica e confessa que isso é um real perplexante fenômeno’. ‘Como, na Terra, o autor de Irmã Catherine no século IV obteve os textos que não foram descobertos senão no século XX? Não pode ser coincidência que o tratado mostre a influência dos Cátaros e dos trovadores do Languedoc, e a conclusão óbvia é que embora eles tivessem conhecimento dos Evangehos Gnósticos relacionados a Maria Madalena, que foram transmitidos; seus segredos podem residir não apenas no que conhecemos como textos do Nag Hammadi, mas também em documentos similares de igual valor que ainda não foram descobertos. É interessante que há uma crença duradoura na natureza sexual do relacionamento entre Jesus e Maria Madalena no Sul da França. A pesquisa não publicada de John Saul tem desenterrado muitas referências a uma tal união na literatura do sul da França até o século XVII – especificamente nos trabalhos de homens associados ao Priorado de Sião, tais como Cesar, o filho de  Nostradamus (que foi publicado em Toulouse).

Temos visto na Provença que seja onde for que haja centros de Madalena há geralmente sítios associados a João Batista. Como os cátaros pareciam considera-la altamente, então talvez eles também mostrassem alguma veneração em relação a Batista. Ao contrário, contudo, parece que os cátaros ativamente não gostavam de Batista, ao ponto de descreve-lo como ‘demonio’. Isto vem diretamente dos Bogomils, alguns dos quais se referiam a ele [de certo modo confusamente] como ‘o precursor do Anticristo’. Um dos poucos textos remanescentes dos cátaroa é o Livro de João [também conhecido como Liber Secretum], que é a versão gnóstica do Evangelho de um outro João: muito do qual é exatamente o mesmo do Evangelho canonico mas contém algumas revelações ‘extras’ supostamente dadas particularmente a João O Discípulo Amado.

Estas são idéia gnósticas dualistas que estão de acordo com a teologia geral dos cátaros. Neste livro, Jesus diz a seus discípulos que João Batista era, de fato, um emissário de Satã [o senhor do mundo material], enviado para tentar impedir sua missão de salvação. Este era originalmente um texto Bogomil e não era completamente aceito seja por todos Bogomils, seja por todos os Cátaros. Mutas seitas cátaras mantiveram idéias muito mais ortodoxas sobre João, e há até mesmo sinais que os Bogomils nos Balcãs realizavam ritos em seu dia de festa, 24 de junho. O que é certo é que os Cátaros tinham uma consideração especial pelo Evangelho de João, o que é geralmente aceito pelos eruditos como sendo o Mais Gnóstico do Novo Testamento. Nos círculos ocultos há um rumor que persiste a muito tempo que os cátaros tinham uma outra, agora, perdida, versão do Evangelho de João e muitos ocultistas tem procurado, sem sucesso, na área de Montsegur. Claramente os cátaros tinham idéias não ortodoxas e talvez confusas sobre João Batista. Mas havia afinal algo em seu conceito de um mal João e um bom Jesus? Talvez nem tanto, mas, como vários comentadores modernos tem sugerido – o relacionamento entre os dois homens pode não ter sido tão nítido quanto a maioria dos cristãos são levados a acreditarem. A idéia cátara pode ter representado sua filosofia dualista em sua forma mais simplista: no par um é bom e o outro mau. Mas se assim,  então uma conclusão lógica é que eles os viam como iguais. Isto implica que os cátaros pensavam neles como rivais, o que dificilmente é a visão cristã tradicional – e isso revela que as dúvidas desconcertantes a respeito do suposto apoio de João a missão de Jesus tem sido reconhecidas nesta área a muito tempo atrás. Como o relacionamento de Madalena e Jesus, este de João e Jesus parece ter sido percebido como radicalmente diferente da versão ensinada pela igreja. Superficialmente, é desapontador olhar para os cátaros para a confirmação da importância de João nos movimentos heréticos. Mas há uma organização importantemente histórica que faz mais do que revestir este equilíbrio. É, com certeza, os Cavaleiros Templários, para os quais João Batista tem sempre sido – inexplicavelmente – um objeto de grande devoção. E exatamente como a Cruzada Cátara tem deixado um legado visível de seu trauma no panorama de Languedoc, assim os castelos destes enigmáticos cavaleiros ainda se elevam das névoas nas partes mais remotas deste interior.

Os Templários são agora um tipo de clichê esotérico, como se alguém que está familiriarizado com a ficção de Umberto Eco reconhecerá, e a maioria dos historiadores não sente qualquer remorso em descartar qualquer coisa que afirme retirar de seus ‘segredos’ com absoluto desdém. Contudo, qualquer mistério ligado ao Priorado de Sião também envolve os monges guerreiros, e então eles são uma parte intrínseca desta investigação. Um terço de todas as propriedades européias dos Templários uma vez era localizada no Languedoc, e suas ruínas apenas se acrescentam a beleza selvagem da região. Uma das mais pitorescas histórias locais tem que sempre que 13 de outubro cai em uma sexta-feira [o dia e data da súbita supressão da ordem] estranhas luzes aparecem nas ruinas e figuras escuras podem ser vistas se movendo ao redor delas. Infelizmente nas sextas-feiras quando estavamos na área, nada vimos ou ouvimos exceto os alarmantes fungados de javalis; mas a história mostra quanto os Templários tem se tornado parte da história local.  Os Templários tem vivido nas memórias das pessoas locais e estas memórias não são negativas. Até mesmo neste século, a famosa cantora de ópera Emma Calve, que veio de Aveyron no norte do Languedoc, recordou em suas memórias que os locais diriam sobre um garoto especialmente bonito ou inteligente ‘É um verdadeiro filho dos Templários’. Os fatos principais relativos aos Cavaleiros Templários são simples. Oficialmente conhecidos como A Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão, eles foram formados em 1118 pelo nobre francês Hugues de Payens como escolta de cavalaria para os romeiros na Terra Santa. Inicialmente havia apenas noves deles e assim o foi por nove anos, e então a Ordem abriu-se e logo tinha se estabelecido como uma força a ser reconhecida, não apenas no Oriente Médio, mas pela Europa.

Depois do recohecimento da Ordem, o próprio Hugues de Payens realizou uma viagem a Europa, solicitando terra e dinheiro da realeza e nobreza. Ele visitou a Inglaterra em 1129, onde fundou o primeiro sítio templário no país, do lado do que agora é a Estação Subterrânea Holbon em Londres. Como todos os outros monges, os Cavaleiros Templários faziam voto de pobreza, castidade e obediência, mas eles estavam no mundo, eram dele e solicitaram o uso da espada se necessário contra os inimigos de Cristo. A imagem dos Templários se tornou inseparavelmente ligada a de cruzados montados para expulsarem os infiéis de Jerusalém, e manter a cidade cristã. Foi em 1128 que o Concilio de Troyes oficialmente reconheceu os Templários como uma Ordem religiosa e militar. O principal protagonista por trás deste movimento foi Bernard de Clairvaux, o chefe da Ordem Cisterciana, que mais tarde foi canonizado com São Bernardo. Mas como escreve Bamber Gascoigne: Ele era agressivo, era abusivo e era um político perturbador que era tão inescrupuloso nos métodos que ele usava para derrubar seu inimigos. Bernardo realmente escreveu as Regras dos Templários que eram baseadas naquelas dos Cistercianos  e foi um de seus protetores que, como o Papa Inocente II declarou em 1139, os Cavaleiros só responderiam ao Papa dali por diante. Os Templários e os Cistercianos se desenvolveram paralelamente, pode-se discernir uma certa quantidade de deliberada coordenação entre eles. Por exemplo, o senhor de Hugues de Payens, o Conde de Champagne, doou a São Bernardo a terra em Clairvaux na qual ele construiu seu ‘império’ monástico. E significativamente,  André de Montbard, um dos nove cavaleiros fundadores da Ordem dos Templários, era tio de Bernardo. Tem sido sugerido que os Templários e os Cistercianos agiam juntos segundo um plano predeterminado para tomar a Cristandade, mas este esquema nunca teve sucesso.

É difícil exagerar o poder financeiro e o prestígio dos Templários quando eles estavam nas alturas de sua influência na Europa. Dificilmente houve um grande centro de civilização onde eles não tivessem um preceptório como, por exemplo a ampla disseminação de tais nomes de lugares como  Temple Fortune e Temple Bar (Londres) e Temple Meads (Bristol) na Inglaterra ainda aparecem. Mas a medida em que seu império se espalhava, assim crescia a arrogância deles e começou a envenenar as relações deles com os chefes de Estado temporal e secular. A riqueza dos Templários era parcialmente devida a sua regra: todos os novos membros tinham que entregar suas propriedades para a Ordem, e eles também ganharam uma fortuna considerável por meio de maciças doações de terra e de dinheiro de muitos reis e nobres. Seus cofres estavam sempre super cheios, não menos porque eles também reunissem uma impressionante austúcia financeira, que tinha resultado deles se tornarem os primeiros banqueiros internacionais, de quem o julgamento das taxas de crédito de outros dependiam. Era certamente um meio de se estabelecerem como um maior poder. Em um curto espaço de tempo seu título de Pobres Cavaleiros se tornou uma vergonha vazia, até mesmo o escalão e a fila pode muito bem ter continuado sem bens. Além de sua surpreendente riqueza, os Templários eram renomados por seu talento e coragem em batalha – algumas vezes a ponto da imprudência. Eles tinham regras específicas para governar a conduta deles como combatentes; por exemplo, eles eram proibidos de se renderem a menos que seus inimigos os superassem em três a cada um, e até mesmo então tinham de ter a aprovação de seu comandante. Eles eram os Serviços Especiais daqueles dias, uma força de elite com Deus e dinheiro do lado deles. A despeito de seus maiores esforços, a Terra Santa caiu pouco a pouco nas mãos dos Sarracenos até que em 1291 o último território cristão, a cidade de Acre, estivesse ns mãos inimigas. Nada havia para os Templários fazerem senão voltar a Europa e tramar a eventual reconquista, mas infelizmente por então a motivação para uma tal campanha tinha desaparecido entre os vários reis que a haviam financiado. Sua principal razão de existir foi reduzida a nada. Faltando emprego mas ainda ricos e arrogantes, eles estavam amplamente ressentidos porque eles eram isentos de impostos e sua fidelidade era apenas ao Papa e a ninguém mais. Então em 1307 veio a inevitável queda deles da graça. O rei francês supremamente poderoso, Felipe o Belo, começou a orquestrar a queda dos Templários com a conivência do Papa, que de qualquer modo estava no bolso dele. Foram emitidas ordens secretas para os representantes aristocráticos do Rei e os Templários foram cercados na sexta-feira 13 de outubro de 1307, presos, torturados e queimados.

Esta é ao menos a história que é contada nos trabalhos mais padrão sobre o assunto. Pode-se ficar com a idéia que a inteira Ordem encontrou seu fim horrível neste dia a muito tempo atrás, e que os Templarios tenham sido efetivamente varridos da face da terra para sempre. Ainda que isto esteja longe de ser verdade. Para começar, realmente muito poucos Templários foram executados, embora a maioria que fora aprisionada fosse ‘colocada sob interrogatório’ – um eufemismo bem conhecido para o sofrimento de uma excruciante tortura. Relativamente poucos enfrentaram a fogueira, embora notavelmente o Grão Mestre deles Jacques de Molay tenha sido assado em fogo lento até a morte na Ile de la Cité, as sombras da Catedral de Notre-Dame, em Paris. Dos milhares de outros, somente aqueles que se recusaram a confessar ou negaram sua confissão foram mortos. Mas quão válidas eram as cofissões deles extraídas sob excruciantes torturas? As narrativas das confissões dos Templários são coloridas, para dizer o mínimo. Lemos sobre eles terem adorado um gato, participado de orgias homossexuais como parte de seus deveres cavaleirescos, venerarem um demonio conhecido como Baphomet e/ou uma cabeça cortada. Também foi dito que eles pisassem e cuspissem na cruz em um rito iniciático. Tudo isso, com certeza, não faria sentido com a idéia de que eles eram devotados cavaleiros de Cristo e mantenedores de um ideal cristão, e quanto mais eles eram torturados mais esta divergência tornou-se aparente. Isto dificilmente seja surpreendente: não muitas vítimas de tortura conseguem rangir os dentes e se recusarem a concordar com as palavras colocadas em suas bocas por seu torturadores. Mas neste caso há mais nesta história do que o olho vê. Por um lado, tem havido sugestóes que todas as acusações levantadas contra eles foram alardeadas por aqueles invejosos da riqueza deles e exasperados pelo poder deles e que elas forneceram uma boa desculpa para o Rei francês se livrar de sua atual dificuldade economica se apoderando da riqueza deles. Por outro lado, as acusações podem não ter sido estritamente verdadeiras, mas há evidências de que os Templários estavam acima de algo misterioso e talvez ‘escuro’  no sentido oculto.  Com certeza, estas duas alternativas não são mutuamente exclusivas. Muita tinta tem sido gasta no debate sobre as acusações feitas aos Templários, e suas confissões. Teriam eles realmente cometido os atos que confessaram ou os Inquisidores anteriormente inventaram as acusações e simplesmente torturaram os cavaleiros até que eles concordassem com elas? Por exemplo, alguns cavaleiros tinham testemunhado que lhes fora dito que Jesus era ‘um falso profeta’. É impossivel dizer conclusivamente de um modo ou outro. Há, contudo, uma particular confissão que deve dar uma pausa para reflexão. Esta é a de um Fulk de Troyes, que disse ter sido mostrado a ele um crucifixo e dito: ‘Não coloque muita fé nisto porque é novo demais’. Dado o conceito não educado de história naquele tempo, esta declaração enigmática parece uma coisa improvável de um Inquisidor ter criado.

Certamente o Priorado de Sião afirma ter sido o poder por trás da criação dos Cavaleiros Templários: se assim o é, este é um dos segredos mais bem guardado da história. Ainda que seja dito que as duas Ordens eram virtualmente indistinguíveis até um cisma em 1188 a ter as separado.  Se nada mais, parece ter sido um tipo de conspiração sobre a concepção dos Templários. O senso comum sugere que teria sido necessário mais do que apenas os nove cavaleiros originais para proteger e dar refúgio aos romeiros que visitavam a Terra Santa, especialmente durante nove anos; sobetudo, há pouca evidência que eles tenham feito qualquer tentativa séria de assim o fazer. Os Templários logo se viram os queridos mimados da Europa, recebendo privilégios e honras muito desproporcionais a que realmente mereciam. Por exemplo, foi garantido a eles uma ala inteira da palácio real na própria Jerusalém; o lugar que anteriormente era uma mesquita. Esta, por sua vez, erroneamente, é dita ter sido construída sob as fundações do Templo de Salomão, de quem os Templários tomaram seu nome completo. Um outro mistério ligado aos seus centros iniciais é que de fato há evidências que a Ordem realmente existisse antes de 1118, embora porque a data tenha sido falsificada permaneça não esclarecida. Muitos comentadores tem sugerido que a primeira narrativa de sua criação, por William of Tyre e escrita cinquenta anos completos depois do evento – fosse simplesmente uma história cobertura. Embora William fosse profundamente hostil aos Templários, ele estava, presumidamente, recontando a história como a havia entendido. Mais uma vez, exatamente o que isso encobrira é assunto para especulação.

Hugues de Payens e seus nove companheiros todos vieram de Champagne ou do Languedoc, e incluiam o Conde de Provença. É bem aparente que eles foram a Terra Santa com uma missão em mente. Talvez, como tem sido sugerido, eles estivessem procurando a Arca da Aliança ou outro tesouro antigo ou documentos que pudessem levar a eles. Ou algum tipo de conhecimento secreto que daria a eles a maestria das pessoas e sua riqueza. Recentemente, Christopher Knight e Robert Lomas em seu ‘The Hiram Key’ tem argumentado que os Templários procuraram e encontraram um grupo de documentos da mesma fonte dos Pergaminhos do Mar Morto. Contudo, tão intrigante embora quanto possa ser esta sugestão, eles não fornecem qualquer evidência convincente para isso e, como devemos ver, o inteiro assunto da proveniência dos Pergaminhos é repleta de más interpretações e mitos. Mas há  de fato evidências que os Templários procuraram e tenham buscado um novo conhecimento dos árabes e de outros durante suas viagens. Para nós uma das coisas mais fascinantes sobre os Templários foi sua geralmente forte veneração a João Batista, que parece ser consideravelmente mais importante para eles do que o médio santo patrono. O Priorado de Sião, uma vez, é afirmado, inseparável deles, chama seus Grão Mestres de João, talvez fora de reverência a ele. Ainda que seja virtualmente impossível descobrir a razão para a lealdade dos Templários em qualquer das histórias padrão; a explicação usual é que João era especial para eles por ter sido professor de Jesus. Alguns tem sugerido que a cabeça cortada que era venerada por eles fosse a própria cabeça de João, mas a veneração de tal totem implica, em qualquer caso, que os Templários fossem algo mais do que descomplicados cavaleiros cristãos. Até mesmo muito de seu simbolismo aparentemente ortodoxo oculta especificamente alusões a João. Por exemplo, o Cordeiro de Deus, foi uma de suas mais importantes imagens. A maioria das pessoas toma isso como se significasse Jesus, o Batista tendo aparentemente dito “Acautele-se do Cordeiro de Deus”, mas em muitos lugares, tal como no interior oeste da Inglaterra, este símbolo é tomado como se referindo ao próprio João, e os Templários parecem ter dado a ele o mesmo significado. O símbolo do Cordeiro de Deus foi adotado como um dos selos oficiais dos Templários; este selo era específico para Ordem no Sul da França. Uma pista de que a veneração a João Batista não era uma simples matéria de prestar homenagem ao seu escolhido santo patrono, mas ocultasse algo muito mais radical, é encontrada no trabalho de um sacerdote erudito chamado  Lambert de St Omer. Lambert era um associado de um dos nove cavaleiros fundadores originais e o segundo em comando depois de Hugues de Payens, Godefroi de St Omer. Na ‘The Hiram Key’, Christopher Knight e Robert Lomas reproduzem uma ilustração da apresentação de Lambert da ‘Jerusalém Celestial’ e nota que ela: ‘aparentemente mostra o fundador [da Jerusalém Celestial] ser João Batista. Não há menção a Jesus em todo este chamado documento cristão. Como no simbbolismo das pinturas de Leonardo, a implicação é que João é importante por seu próprio direito, e não meramente por seu papel como precursor de Jesus. Dois anos depois das prisões em massa, enquanto os cavaleiros ainda estavam em julgamento, o visionário catalão e ocultista Ramon Lull (1232-c.1316), anteriormente um veemente apoiador da Ordem, escreveu ‘perigos ao barco de São Pedro’ acrescentando que: ‘há por acaso entre os cristãos muitos segredos, dos quais um [em particular] pode causar uma incrível revelação , exatamente como aquela que está emergindo dos Templários – uma tal pública e manifesta infâmia pode por si só colocar em perigo o barco de São Pedro’. Lull parece estar se referindo não apenas aos perigos causados para a Igreja pelas revelações sobre os Templários mas também a outros segredos, de igual magnitude. Ele também parece aceitar as acusações levantadas contra os Templários, embora, naquele estágio, pode ter sido não sábio questiona-los. Pode o Languedoc, uma vez lar da mais alta concentração de Templários na Europa, manter qualquer pista como as verdades sobre a Ordem? Até mesmo no final deste tempo, esta era uma área com memórias muito antigas e um alto desrespeito pela convenção.

Como temos visto, os cátaros e templários floresceram lá ao mesmo tempo, mas, dado o que geralmente é compreendido de seus valores relativos, pareceria que este dois grupos altamente influentes devam estar em lados opostos. De fato, o símbolo Templário da cruz vermelha no fundo branco é frequentemente tomado como aquele de um típico Cruzado. Contudo, existe muitas indicações que os Templários eram, se não ativamente apoiadores, certamente simpáticos aos heréticos ns montanhas – e é indiscutível que os Templários foram evidentes em sua ausência na Cruzada Albigense. Admitidamente, o interesse primário dos cavaleiros naquele tempo reside muito longe da Terra Santa, e muitos deles foram retirados das mesmas famílias dos cátaros, mas talvez nenhuma destas razões explique totalmente sua falta de interesse em perseguir os cátaros. Mas quais eram os reais motivos e interesses dos Templários? Eles eram simplesmente os monges-guerreiros que afirmavam serem ou havia uma dimensão secreta, oculta, nos planos deles?

CAPÍTULO CINCO
OS GUARDIÕES DO GRAL

A linha padrão academica é que as idéias ‘ocultas’ sobre os Templários não façam sentido. A maioria dos historiadores afirma que eles eram os meros monges guerreiros que afirmavam ser, e qualquer sugestão que eles estivessem envolvidos em algo mais remotamente esotérico é o resultado de uma imaginação super-ativa ou pesquisa superficial. Porque este é consenso, os historiadores que tem um interesse neste lado da Ordem não ousam mostrar isto abertamente por medo de perderem sua reputação [e custeio academico]. Então uma tal pesquisa ou é evitada ou, se é feita, nunca é publicada. [Há vários historiadores respeitados que privadamente reconhecem que este lado esotérico dos Templários é importante, mas nunca o dirão publicamente]. Esta atitude tem levado a neglicenciar o estudo de certos importantes sítios templários.  Como encontramos  que uma região que sofreu mais do que a maior parte deste fenômeno, em um grau mistificante -, é a área de nosso particular interesse: o Languedoc-Roussillon. Fora da Terra Santa, esta era a terra natal da Ordem, mais de 30% das fortalezas templárias e comanderias em toda Europa estavam nesta pequena área. Ainda que apenas uma quantidade desprezível de trabalho arqueológico tenha sido realizado lá, e haja alguns sítios chave que nunca tem sido investigados. Felizmente a negligência oficial é equilibrada pelos muitos investigadores particulares com interesse apaixonado nestes misteriosos cavaleiros, e muitos locais vêem isso como dever deles de preservar e proteger os velhos sítios templários. Há tambémm muitas organizações de pesquisa ‘amadoras’ [no sentido de que elas não são subsidiadas, mas de forma alguma a respeito da qualidade de sua erudição] tal como o Centro para Estudos e Pesquisa dos Templários, dirigido por Georges Kiess em Espéraza (Aude), que tem colocado os academicos envergonhados. As descobertas feitas por estes entusiastas de um estudo de ambos os sítios e dos principais documentos templários guardados intocados nos arquivos locais, são impressivos, especialmente dado a falta de custeio e a completa frustração de lidar com arquivistas apáticos e historiadores profissionais. Um tal grupo de pesquisa é Abraxas, dirigido pelo expatriado britanico Nicole Dawe e o texano Charles Bywaters da cidade de veraneio de Rennes-les-Bains, Aude. As pesquisas deles, juntamente com aquelas da rede de grupos similares, tem feito descobertas sólidas e documentadas que literalmente reescrevem o estudo dos tempários. Lutando contra a maré de apatia oficial por um lado, e super entusiasmo de caçadores de tesouros locais, que oferecem uma ameaça muito real ao tecido dos sítios, por outro, Nicole e Charles tem descoberto sítios chave templários que nunca foram ainda tocados pelas pás de arqueologistas. Muito de seu trabalho ainda tem que ser publicado, embora eles planejem a publicação em um futuro próximo. Portanto para descobrir mais sobre os Templários neste coração natal da terra herética de Languedoc-Roussillon, não fomos para a academia, mas sim para Charles  e Nicole. Sentados no apartamento de Charles em Rennes-les-Bains’ na rua principal [e quase a única], começamos por perguntar a ele e Nicole sobre a possível ligação entre eles e os cátaros. Eles responderam que há ligações claras entre os dois grupos que vão bem além de meros laços familiares e que geralmente são menosprezados pelos historiadores; por exemplo, até mesmo no auge da Cruzada Albigense os Templários deram abrigo a fugitivos cátaros e há exemplos documentados destes também dando socorro aos cavaleiros que ativamente lutavam pelos cátaros contra os Cruzados. Como disse Nicole: Você só tem que examinar os nomes de famílias cátaras nos documentos da Inquisição e os nomes dos Templários no mesmo período para descobrir que eles são os mesmos. Mas, mais particularmente, é inegável que certos sítios templários abrigaram, ou deram abrigo, e até mesmo enterraram em solo sagrado, cátaros. Alguns tem sido cínicos e sugerem que isto era porque estas pesssoas, para se tornarem membros leigos do Templo, davam a ele suas posses e bens.

De fato, temos provas de cátaros que foram aos Templários depois de serem completamente desposssuídos, e não apenas recebidos e abrigados, mas morreram e foram enterrados lá. Mais tarde, os templários algumas vezes faziam o que podiam para assegurar que as famílias cátaras, ou seus descendentes, recebessem de volta sua terra. Charles continua: Em uma área em particular os Templários muito claramente permitiram a atividade hostil em seu local. Os cavaleiros cátaros continuaram a tomar parte da luta e então se retiraram de volta as propriedadades dos Templários. Isto é muito facilmente documentado. Isto pareceu enomemente significativo para nós que, dado algumas das acusações levantadas contra os Templários, que eram definitivamente inventadas, a única coisa que não tenha sido usada como evidência contra eles fosse seu estreito relacionamento com tais excomungados como os cátaros. Que a Inquisição estava completamente ciente disso é revelado por eles terem desencavado corpos cátaros enterrados em terras dos Templários para queima-los como dissuassores dos outros que seriam heréticos, até mesmo mais de trinta anos depois do fim da cruzada. [e foi a Inquisição que tinha torturado os Templários e então se havia alguém que sabia da ligação com os cátaros era ela]. Claramente havia algo mais acontecendo, talvez algo conhecido pela coroa francesa, mas que parecia tão perigoso se se tornasse público que nem uma palavra sobre isso transpirou. Em todas as nossas pesquisas sobre os Templários, de fato, tivemos o sentimento desconfortável, embora crescente, que havia um segredo monumental se esgueirando sob a superfície da história oficial. Pode ser que os Templários e os cátaros partilhassem algum segredo explosivo? E pode este segredo ter sido o real motivo para que Felipe O Belo montase uma tal campanha bem planejada contra os Templários? Nem todos os Tempários foram destruidos naquela fatídica sexta-feira de 13 de outubro. Muitos tiveram a permisssão para viver e se reformar sob um diferente nome, e dois países em particular ofereceram abrigos seguros para os cavaleiros fugitivos – Escócia e Portugal. [em Portugal os Templários se tornaram conhecidos como Cavaleiros de Cristo]. A área ao redor do Languedoc, aprendemos com  Charles e Nicole, viu uma curiosa exceção do padrão dominante da perseguição. Roussillon, a leste da área, realmente veio sob os auspícios do reino espanhol de Aragão, embora as partes nortes, que incluiram Carcassonne, fossem parte da França. Os Tempários de Roussillon foram presos e julgados, mas declarados inocentes e quando o Papa oficialmente debandou a ordem, eles se uniram a similares fraternidades ou viveram o resto de suas vidas com uma pensão sobre suas terras. Como vários comentadores tem sugerido, os Templários sobreviveram a tentativa de extermina-los totalmente e continuam a existir até hoje, embora a evidência sugira que eles tenham sofrido muitos cismas e operem como diferentes organizações, todas afirmando serem descendentes diretas da Ordem original. Se os Templários estivessem escondendo algo, que fosse considerado perigoso para o rei francês a ponto dele tomar tal ação drástica contra eles, o que poderia ser? Exatamente quem estava usando quem, o Papa ou Felipe o Belo? Seja qual for o ângulo da história que seja visto, parece haver um crucial elo perdido. Suponha que este elusivo componente diga respeito ao Priorado de Sião.

Como já temos visto, há indicações de uma presença sombria por trás do próprio início dos Templários, e este mesmo grupo-fantoche-mestre [ seja quem for que eles fossem] pareceu dirigir as cenas que se emitiam. Certamente Charles e Nicole não tem dúvida de um ‘círculo interno’ que existia dentro da liderança dos Templários e que realmente antecedeu seu início oficial. Eles vão tão longe para argumentar que o inteiro movimento templário foi criado para dar a este ‘círculo interno’ uma face pública exatamente ao tempo quando a Terra Santa havia sido aberta aos viajantes europeus. Outros pesquisadores tem chegado a mesma conclusão. Como diz o escritor francês Jean Robin (basendo-se nas pesquisas de Georges Cagger): A Ordem do Templo foi de fato constituída por sete ‘círculos exteriores’ dedicados a mistérios menores, e três ‘círculos interiores’ correspondendo a iniciação nos grandes mistérios. E o ‘núcleo’ era composto destes setenta templários interrogados por Clemente V [depois da prisão deles em 1307]. Similarmente, em seu livro ‘The Sign and the Seal’, o autor britânico Graham Hancock escreve: ‘a pesquisa que realizei das crenças e comportamentos deste estranho grupo de monges guerreiros tem me convencido que eles tinham dado com alguma tradição de sabedoria excessivamente antiga. Era possível manter um secreto grupo interno porque os Templários eram essencialmente uma Escola de Mistérios, isto é, eles operavam como uma hierarquia que era baseada na iniciação e segredo. É portanto provável não apenas que um Templário de escalão e posto soubesse consideravelmente menos que seus superiores e que suas crenças reais fossem diferentes. O círculo interno dos Templários parece ter existido para posterior pesquisa ativa de assuntos religiosos e esotéricos. Talvez uma das razões para o segredo deles fosse o fato de que eles lidassem com aspectos arcanos dos mundos judaico e islâmico. Eles buscavam, literalmente, os segredos do universo seja onde for que suspeitasem que eles pudessem ser encontrados e no curso de suas andanças geográficas e intelectuais vieram a tolerar, ou até mesmo abraçar, algumas crenças muito não ortodoxas. Naqueles dias tinha que haver uma força diretora particularmente forte para buscar o conhecimento contra todas as probabilidades, e os Templários não estavam preocupados com o intrincado das pesquisas por seu próprio gosto, eles nada mais eram do que pessoas extremamente práticas. Quando eles buscavam uma linha particular de investigação era por uma razão muito boa, e por causa disso eles deixaram certas pistas do que era particularmente importante para eles. Uma destas pistas reside nas obsesssões de Bernard of Clairvaux, a inicial eminência parda deles. Este monge intelectual mas feroz era aparentemente absolutamente devotado a Virgem Maria, como o demonstra muitos de seus sermões. Contudo, parece que a Virgem não era o verdadeiro objeto do amor espiritual de São Bernardo. Era uma outra Maria, uma cuja real identidade é sugerida pelo fato que ele era particularmente interessado nas Madonas Negras. Ele também era para escrever quase noventa sermões sobre o assuntos dos Song of Songs [Cânticos de Salomão], e pregar mais explicitamente ligando a ‘Noiva’ a Maria de Betania, que nestes dias era inquestionavelmente assumida ser o mesmo que Maria Madalena. ‘Sou negra mas atraente’, diz a apaixonada mulher, uma frase que também liga o ‘Song of Songs’ com o culto da Madona Negra – a que Bernardo [que nasceu em um centro de Madona Negra –  Fontaines, perto de Dijon) era excepcionalmente devotado. Ele afirmou ter recebido sua inspiração quando criança ao ter recebido três gotas do miraculoso leite do seio da Madona Negra de Châtillon. Tem sido especulo que esta era uma referência codificada a sua iniciação no culto dela. E quando Bernardo pregou a Segunda Cruzada ele escolheu assim o fazer do centro de Maria Madalena em Vezelay. É provável, portanto, que a aparente devoção de Bernardo a Virgem fosse simplesmente uma tela de fumaça para sua indubitável paixão por Madalena, embora de fato elas não fossem mutuamente exclusivas. Contudo, ao criar a Regra dos Templários, Bernardo ordenou que os cavaleiros devessem obediência a Betania, o Castelo de Maria e Marta’ e ele é conhecido por ter passado esta particular devoção à Ordem.

Até mesmo quando enfrentavam a extinção total, os cavaleiros aprisionados com o Grão Mestre Jacques de Molay nas masmorras da fortaleza de Chinon compuseram uma prece dedicada a ‘Notre Dame’ (Nossa Senhora) na qual eles lembravam São Bernardo como tendo fundado a religião da abençoada Virgem Maria. Mas dado a toda outra evidência, isto bem pode ter sido uma outra referência codificada ao culto de Madalena. É importante que o juramento dos templários fosse feito a ‘Deus e Nossa Senhora’ ou frequentemente a ‘Deus e a Abençoada Maria’. Há uma sugestão que a Nossa Senhora falada no voto não é a Virgem, o que também é reforçado pelas palavras de absolvição templária: ‘oro a Deus que ele lhe perdoe seus pecados como ele os perdoou a Santa Maria Madalena e ao ladrão que foi posto na cruz’. No mínimo isso mostra a importância de Maria Madalena para os Templários.  [é digno de nota que neste caso de Roussilon, os templários durante o cativeiro, as condições em que eles se encontravam acorrentados foram especialmente pioradas ‘por ordens do Papa’ no dia da festa a Maria Madalena. Lembre-se que o massacre em Béziers aconteceu no dia desta festa  para ressaltar a natureza da heresia].  De fato os Templários estavam preocupados com a idéia inteira do Feminino – um conceito que pode parecer seriamente contrastante com sua imagem de guerreiros. Ainda que, como o notam Charles e Nicole, a Ordem do Templo incluisse mulheres. Dentro dos primeiros anos de sua existência muitas mulheres fizeram o juramento da Ordem, embora elas permanecessem membros das pessoas leigas do Templo. Conquanto não haja sugestões de haver um enclave secreto de rainhas guerreiras dentro da Ordem do Templo, como escrevem   Michael Baigent e Richard Leigh em ‘The Temple and the Lodge’ (1989): ‘uma narrativa do século XII na Inglaterra fala de uma mulher sendo recebida no Templo como Irmã, e parece muito claramente implicar algum tipo de ala feminina adjunta a Ordem. Mas nenhuma elaboração ou esclarecimento sobre o assunto tem sido encontrado. Até mesmo tal informação como possa ter sido contida nos registros oficiais da Inquisição há muito desapareceram ou foram suprimidos. Nicole e Charles, de seu estudo estreito de documentos templários, são mais enfáticos: se você voltar a documentos do século XII, há numerosos casos de  mulheres terem se unido a Ordem, certamente em seu primeiro século. Qualquer um  que se unisse tinha que fazer um juramento de ‘dar minha casa, minhas terras, e meu corpo e alma para o Ordem do Templo’. Você tem nomes de mulheres no fim destes documentos bem como de homens, e você frequentemente tem casais se unindo – então as mulheres devem ter feito o juramento também. Estes documentos estão principalmewnte nesta área [o Languedoc] e há bastante casos para mostrar que havia um número bem grande de mulheres envolvidas naquele tempo. Eles também ressaltam que houve uma alteração tardia na Regra, na qual os Templários passaram a ser proibidos de admitirem mulheres – com a implicação que até então eles teriam podido faze-lo. Quando expressamos alguma surpresa que isso não fosse amplamente conhecido, e certamente, fora de algumas pistas vagas, o envolvimento das mulheres  não se apresenta nos trabalhos padrão sobre os Templários, Charles explicou: As vezes parece que grande parte desta informação tenha sido intencionalmente minimalizada. O que você obtém dos livros é um monte de informação retundante, a mesmo coisa repetidamente apresentada. Há duas coisas que isso possa significar: ou estas pessoas são cegas, ou por alguma razão muito específica elas não estão se focalizando na informação. Se você é um pesquisador, que é o que supostamente estas pessoas sejam, isto deve lhe saltar da página. Mas é descartado.

É notável que o cerco de 13 de outubro de 1307 fosse tão sem sangue. Por toda a França, os senescais do Rei abriram suas ordens lacradas, que os determinava a organizarem tropas suficientes para prenderem os mais bem treinados guerreiros da Cristandade, muito mais do que a média estação policial da vizinhança no Reino Unido sendo ordenada a medir forças para prender membros do SAS que estejam estacionados em sua área. E a maioria dos Templários na França parece ter ido como cordeiros para a matança. Significativamente, alguns dos cavaleiros, incluindo o tesoureiro da Ordem, conseguiram escorregar de uma maneira que sugeriu que eles tivessem sido avisados. Além disso, a famosa frota templária, que tinha estado baseada na França, desapareceu desta vez. Em todos os registros das depredações templárias do rei francês não há um único navio listado. Para onde foi a frota? Ela dificilmente desapareceria no ar. O círculo interno dos Templários, contudo, pareceu ir a grandes alturas para preservar seu conhecimento secreto. Como tem demonstrado o respeitado erudito no Novo Testamento Hugh Schonfield, os Templários usavam um código cohecido como Cifra Atbash. Isto é verdadeiramente notável porque ela tem sido usada por alguns autores dos Pergaminhos do Mar Morto  a menos mil anos antes da fundação da Ordem Templária. Seja o que for que isso possa sigificar, isto por si só revela que os Templários eram adeptos de guardar seus segredos dos modos mais engenhosos – e também que o conhecimento deles veio de muito distante e de fontes esotéricas. Schonfield revela que quando o código é aplicado ao nome do ídolo de cabeça cortada alegadamente venerado pelos templários – Baphomet – então se transforma na palavra grega ‘sophia’.  Graham Hancock escreve em ‘The Sign and the Seal’ que ‘sophia’ ‘significa nem mais e nem menos do que sabedoria’, Mas de fato significa mais do que isso, e seu significado completo acrescenta um brilho diferente a inteira razão de ser dos Templários. Simplesmente aludido a uma ‘sabedoria’ no hebraico Chokmah – uma figura feminina que aparece no Velho Testamento, especialmente no Livro dos Provérbios, Sophia tem causado muito embaraço entre comentadores judaicos e cristãos porque ela é apresentada como sendo parceira de Deus. Ela é que tem influência sobre ele e lhe dá conselho. Sophia também era central para a cosmologia Gnóstica – de fato, no texto do Nag Hammadi chamado Pistis Sophia ele estava intimamente associada a Maria Madalena. E como Chocknah ela é a chave para o entendimento gnóstico da Cabala [o sistema importante e muito oculto que formou a base da mágica medieval e da Renascença]. Para os Gnósticos ela era a deusa grega Atena e a deusa egipcia Isis. que era algums vezes realmente chamada Sophia. Tomado isoladamente, com certeza, o uso dos Templários da palavra Sophia – como codificado em  ‘Baphomet’ não provaria qualquer veneração especial da parte deles pelo feminino. Eles podem simplesmente ter admirado a busca da sabedoria.  Contudo, há muitas outras indicações que isto era parte de uma profunda obsessão com o princípio feminino, que se estendia bem além da mera semântica – no que diz respeito aos Templários, e de fato a outros grupos esotéricos. Como o pesquisador escocês Niven Sinclair, cujo conhecimento sobre os Templários é particularmente extenso, nos disse: “Os Templários eram fortes crentes no lado feminino’. Para ele, não há dúvida sobre isto, e nada há de estranho nisso. Os Templários rotineiramente fizeram suas igrejas redondas,  porque eles acreditavam ser esta a forma do Templo de Salomão. Por sua vez, isto pode ter simbolizado a idéia de um universo redondo, mas é mais provável que representasse o Feminino. Círculos e círculos sempre tem sido associados com deusas e coisas femininas, tanto esotéricas quanto biológicas. Este é um símbolo arquetípico que reaparece pela civilização: os montes pré históricos de tumbas eram redondos porque eles representavam o útero da terra, que levaria o morto de volta ao seu renascimento como espírito. E todo mundo estava familiarizado com o redondo de uma barrriga grávida, e o símbolo da fase Mãe da deusa, a lua cheia. Seja qual for o preciso significado do redondo para os templários não há dúvida dele até mesmo ser homem. E depois do tempo dos Templários, a construção de igrejas redondas foi considerada herética oficialmente pela Igreja. Contudo, como temos notado, a igreja francesa em Londres é redonda, uma caraterística que é repetida e reforçada por outros motivos fora e em seu interior. Os Templários, parece, tem adquirido conhecimento exótico e herético, mas foi por acidente ou projeto? A evidência aponta para o último. Eles foram buscar certos segredos que, uma vez deles, eles estavam em posição de  doar ou retirar. Conquanto muitos dos segredos permaneçam na guarda deles, eles deixaram pistas de alguns deles na forma de códigos, e até mesmo gravados em pedra.

Os Cavaleiros Templários foram os primeiros movimentadores por trás da construção de grandes catedrais góticas, especialmente aquela de Chartres. Como os desenvolvedores predomiantes, e as vezes únicos, nos grandes centros europeus de cultura, eles estavam por trás da formação de guilda de ‘construtores’, inclusive daquelas de pedreiros, que se tornaram membros leigos da Ordem Templária e que tinham todas as suas vantagens, com a exceção de pagarem impostos. Pela longa história das grandes catedrais o estranho simbolismo de sua decoraçãoa e projeto tem intrigado especialistas de muitas disciplinas. Apenas recentementemente que tem sido visto o que isso indubitavelmente era: a codificação templária do conhecimento esotérico. Graham Hancock, quando discutindo a sagrada arquitetura dos antigos egípcios, nota que ‘ela tem sido igualada na Europa apenas pelas grandes catedrais góticas da Idade Média tal como Chartres e oferece uma pergunta: ‘isso foi por acidente?’ Hancock continua: A muito tenho suspeitado que tem havido de fato uma conexão e que os Cavaleiros Templários, pelas suas descobertas durante as Cruzadas, podem ter formado o elo perdido na cadeia da transmisssão do secreto conhecimento arquitetural. São Bernardo, o patrono dos Templários, tem definido Deus, atonitamente para um cristão, como ‘comprimento, largura, altura e profundidade’. Nem posso esquecer que os Templários tinham sido grandes construtores e grandes arquitetos, ou que a ordem monástica cisterciana a qual tinha pertencido São Bernardo tinha também sido excelente neste campo particular de comportamento humano. O layout das catedrais foi projetado especificamente para levar em conta – para exemplificar – os princípios da geometria sagrada. Esta é a idéia que a proporção geométrica tem nela propria uma ressonancia com a divina harmonia, e que alguma particular proporção é mais divina do que outras. Esta ressaltada declaração brusca Pitogoriana de que ‘o número é tudo’, e reforçada pelo conceito hermético que a matemática é o código através do qual Deus fala ao homem. Adeptos particulares desta arquitetura esotérica eram os artistas da Renascença e os projetistas, para quem ‘A Medida de Ouro’ , a perfeita proporção, era pouco de uma panaceía universal. Contudo, este não era por meio algum a soma total do pensamento deles, e o inteiro conceito da geometria sagrada permeou todas as vidas de seu intelectuais. Os desenhos de Leonardo, sejam eles de homens ou máquinas, o interior de flores ou a forma de uma onda, comunicam a crença do artista que havia desenhos, o Homem Vitruviano, que literalmente incorporam a Medida de Ouro.

O legendário Templo de Salomão era, para os Templários e mais tarde para os Maçons Livres, a mais fina flor e exemplar de toda geometria sagrada. Não era apenas a suprema delícia ao olho de quem o via ou nele venerava, mas estava mais além dos cinco sentidos. Foi considerado ressoar de uma maneira única e transcendental com a própria harmonia celestial do céu; seu comprimento e largura, altura e profundidade sendo absolutamente em manter as proporções mais amadas pelo universo. O Templo de Salomão, se você desejar, era a própria alma de Deus escrita em pedra. Muitos visitantes modernos tem ficado perplexos pelas decorações de pedra das velhas catedrais que são claramente astrológicas em sua natureza. Certamente, pode-se pensar hoje, o inconfundível signo de Áries gravado na porta principal de uma tal venerável construção deve ser uma aberração, uma fraqueza pessoal de um maçom individual? Ainda que de tempos em tempos novamente, em muitas catedrais diferentes, estes sinais aparecem, e eles nunca sejam aleatórios. Todo o arrogante simbolismo que pode ser encontrado em catedrais era entendido pelos iniciados a tempo de refletir um adágio hermético antigo: ‘Acima como é embaixo’. A frase que foi acreditada ter vindo das Tábuas de Esmeralda de Hermes Trismegistus, o legendário mágico egipcio, ou mago, embora as palavras sejam muito mais antigas. Elas significam que tudo na Terra tem uma contraparte no céu e vice-versa, algo que Platão tornou popular com sua noção de ideal, que existia em um tipo de dimensão alternativa cheia de modelos perfeitos. Os mágicos, ou magos, foram mais adiante acreditando que cada pensamento ou ato estava espelhado em um outro plano, e que ambas as dimensões de certa forma afetavam uma a outra irresistivelmente. Há ressonancias deste conceito na moderna idéia científica de universos paralelos. Então a história de deuses antigos, com seus miseráveis ciúmes e frequentemente sórdidas obsessões, eram vistos como sendo representantes arquetípicos da raça humana. Para os antigos, não há discrepância entre se humilhar diante do grande deus do Olimpo Zeus e acreditar que ele ocasionalmente tomasse a forma de um animal para seduzir donzelas terrenas.

Era esperado de um deus que ele se comportasse como um homem – mas o reverso deste conceito era a idéia, herética para os judeus e cristãos, que um homem pudesse se tornar um deus. Nada disso era novidade para os Templários. O projeto das catedrais revela um entendimento dos princípios herméticos da parte dos pedreiros, e os cavaleiros que patrocinavam o trabalho de construção. Eles, de todas as pessoas medievais, especialmente apreciavam a aplicação prática, seja onde fosse possível, de qualquer conhecimento esotérico. Para eles, a codificação de mensagens secretas nas mesmas pedras das catedrais foi além de mera fantasia. Como dizem  Baigent e Leigh em ‘The Temple and the Lodge’ : ‘Deus, tinha realmente ensinado a aplicação prática da sagrada geometria pela arquitetura’. E mais uma vez, nos encontramos apontados na direção do Templo de Salomão. Filho do legendário herói judeu, o Rei David, Salomão construiu o templo de insuperável beleza, usando os materiais melhores e mais caros. Mármore e pedras preciosas, madeiras aromáticas e os mais raros tecidos foram usados para criar um lugar que faria os sentidos dos veneradores nadarem em delícias, mas também para que o próprio Deus se sentisse em casa. Em seu coração estava o Santo dos Santos, onde o alto sacerdote podia realmente receber o Onipotente pelo que era o mais misterioso instrumento, a Arca da Aliança. Este instrumento notoriamente temperemental era conhecido por um lado doar grandes bençãos sobre os ‘justos’, e por outro, destruir os fazedores do mal ou aqueles a quem não era dito como combater os efeitos de sua sinistra presença. Talvez para os Templários isso soasse como a máxima arma, e então eles foram procura-lo, como alguns tem sugerido. Há, talvez, pistas do que os Templários realmente acreditavam ser o significado da Arca na decoração de suas catedrais. Por exemplo, a Catedral de Chartres,  o filho cerebral da eminência parda deles, São Bernardo de Clairvaux, contém uma pedra gravada do que parece ser a Virgem Maria, com o rótulo gravado: ‘arcis foederis’ – a Arca da Aliança. Isto por si só não é muito significativo, porque era um símbolo padrão cristão em tempos medievais. Mas como Chartres era um centro de culto a Madona Negra, é a Arca sendo igualada com aquela outra Maria, a Madalena, ou até mesmo uma deusa pagã muito mais antiga? Talvez seja o próprio Princípio Feminino que está sendo evocado, usando a ‘cobertura’ de um símbolo Mariano. Não pode ser uma referência a própria Virgem, porque os arquitetos da catedral gótica não tinham uma razão especial para evocar o arquétipo da arquetípica mulher assexuadamente ativa. [é também importante que as primeiras apresentações da história da vida de Maria Madalena na França estavam nas janelas em vitrais da Catedral de Chartres]. É de fato, a muito amaldiçoada e mal entendida disciplina da alquimia que esteja por baixo das frequentes aparentemente bizarras decorações de construções góticas [como, de fato, era a alquimia que parecia ser o denominador comum da maioria dos Grão Mestres do Priorado de Sião]. A alquimia é acreditada ter vindo dos antigos egípcios por meio dos árabes [o próprio mundo deriva dos árabes]. Era mais do que uma ciência: a prática abraçou uma fina teia de atividades interligadas e modos de pensamento, da magia a química, da filosofia ao hermeticismo a geometria sagrada e a cosmologia. Isto também dizia respeito ao que o povo hoje chama de engenharia genética e métodos de retardar o envelhecimento, e tentar atingir a imortalidade física. Os alquimistas eram famintos por conhecimento e não tinham tempo para o antagonismo da Igreja em relação a experimentação, então eles foram para o subterrâneo e continuaram suas pesquisas encobertamente. Para o alquimista não existe uma tal coisa como heresia – enquanto para a Igreja não havia tal coisa como um alquimista não herético, e toda a prática se tornou conhecida como ‘arte negra’. Há muitos níveis para a alquimia: o externo ou exotérico, estava preocupado em trabalhar e experimentar com metais, mas havia outros níveis, até mesmo mais secretos que incluiam o alcance do misterioso Grande Trabalho. Isto tem sido entendido ser o momento coroador da vida de um alquimista, quando finalmente torna o metal base em ouro. Contudo, nos círculos esotéricos é também visto como o ponto onde ele se torna espiritualmente iluminado e fisicamente revitalizado – pelo trabalho mágico que evolui ao redor da sexualidade. [Isto será discutido em maior detalhe mais tarde]. Parece que o Grande Trabalho representasse um ato de suprema iniciação. Talvez este rito fosse acreditado conferir longevidade: Nicolas Flamel, alegadamente um Grão Mestre do Priorado de Sião, que alcançou o Grande Trabalho em companhia de sua esposa Perenelle em 17 de janeiro de 1382, foi murmurado ter vivido por um tempo excepcionalmente longo depois.

Na alquimia, o símbolo do perfeito Grande Trabalho é hermafrodite – literalmente o deus Hermes e a deusa Afrodite unidos em uma só pessoa. Leonardo era fascinado com hermafroditas, até indo tão longe quando cobrir folha após folha de sua prancha de desenho com desenhos deles – alguns pornográficos. E o recente trabalho sobre o mais famoso retrato no mundo – a enigmaticamente de sorriso forçado Mona Lisa- tem mostrado persuasivamente que ‘ela’ não era outro que o próprio Leonardo. Os pesquisadores Dr, Digby Quested do Hospital Maudsley em Londres e Lillian Schwartz do Bell Laboratories nos Estados Unidos usaram as mais sofisticadas técnicas de computador, independentemente um do outro, para combinar a face do retrato e a face do artista e o resultado se encaixou perfeitamente. Talvez esta fosse meramente uma de suas piadas excepcionalmente sagazes para a posteridade, mas há também a possibilidade que Leonardo, como um alquimista, estava também encapsulando sua idéia de ter alcançado o Grande Trabalho. Alguns acreditam que isso possa trazer uma tal profunda transformação física que o alquimista bem sucedido possa até mesmo ter mudado de sexo – e talvez este fosse o conceito por trás da Mona Lisa. Mas o símbolo do hermafrodita também representa o momento do orgasmo, quando os participantes masculino e feminino na experiência ritual da sensação de se mesclarem um com a outra e ultrapassaram suas próprias fronteiras na consciência mística deles próprias e do universo.

As catedrais góticas ostentam muitas figuras curiosas, de demonios ao Homem Verde. Mas algumas são passageiramente estranhas: uma gravação no Catedral de Nantes mostra uma mulher olhando por um espelho, embora a parte de trás de sua cabeça, seja de fato a de um homem velho. E em Chartres a chamada ‘Rainha de Sabá’ realmente ostenta uma barba! Os símbolos alquimicos são encontrados em muitas catedrais que são associadas aos Cavaleiros Templários. Estas são ligações implícitas, mas Charles Bywaters e Nicole Dawe tem descoberto sítios templários no Languedoc-Roussilion com explicíto simbolismo alquímico: nossa pesquisa tem mostrado, entre outras coisas, que eles de certa forma eram muito familiarizados com as propriedades do solo. Em uma área em particular eles criaram um hospital para os Templários que voltavam da Terra Santa, porque o solo tinha propriedades curativas. Há sinais alquímicos neste sítio e fica muito claro que eles estavam familiarizados com a alquimia. É importante quando você encontra uma localização que foi especificamente escolhida pela natureza do solo, onde há claramente sinais na estrutura, e onde há ligações aos cátaros e muçulmanos. E está é uma evidência sólida e documentada: é muito fácil de ser comprovada. Durante as nossas viagens na França, repetidamente encontramos os centros que tinham anteriormente sido de propriedade dos Templários – tais como Utelle na Provença e Alet-les-Bains no Languedoc – subsequentemente se tornaram centros de alquimia. É também importante que os alquimistas, como os Templários, tinham uma veneração especial por João Batista. Como temos visto, as grandes catedrais e muitas igrejas famosas foram construídas em sítios   conhecidos terem sido sagrados a antigas deusas. Por exemplo,  NotreDame em Paris se eleva sobre as fundações de um templo de Diana, e São Suspílcio em Paris foi construído sobre as ruínas de um templo de Isis. Isto por si só não é não usual, por toda a Europa as igrejas cristãs foram construidas em velhos sítios pagãos, como um movimento deliberado da parte da Igreja para mostrar que ela havia triunfado sobre o gentio. Mas meramente o que frequentemente aconteceu foi que os locais meramente adaptaram sua forma de paganismo para incluir o cristianismo, e viam o sítio da nova igreja como complementar aquele da velha religião, muito mais do que o oposto.  Contudo, dado a evidência dos interesses mais profundos dos Templários, não pode este ser o caso dsa catedrais que pretendiam continuar a veneração do feminino muito mais do que suprimi-la?  Talvez as catedrais fossem hinos as deusas gravados na pedra,  e  a ‘Notre Dame’ a quem tantas delas tem sido dedicadas fosse realmente ao próprio princípio feminino – Sophia. A maioria das pesoas hoje pensa na arquitetura gótica como sendo mais masculina com suas elevadas espirais e naves em forma de cruz, mas a maior parte da decoração dentro é decididamente feminina, especialmente as esplêndidas janelas em rosa. Barbara G. Walker ressalta a importância de: ‘a rosa, que a antiga Roma sabia ser a flor de Venus, era o símbolo de suas sagradas prostitutas. As coisas faladas ‘sob a rosa’ [sub rosa] eram parte dos mistérios sexuais de Venus, que não podem ser revelados a não iniciados. Na grande era da construção das catedrais, quando Maria era venerada como uma Deusa em seus ‘Palácios da Rainha dos Céus’ ou, Notre Dames, ela era frequentemente dirigida como Rosa, Rose-bush, guilanda de rosas, Rosa Mística. Como nos templos pagãos a catedral gótica representava o corpo da Deusa que também era o universo, contendo a essência da divindade masculina dentro dela própria. A rosa, como veremos, era também o símbolo adotado pelos trovadores, aqueles cantores de canções de amor do Sul da França que estão intimamente ligados aos mistérios eróticos. Outros símbolos reunidos em catedrais góticas contêm fortes mensagens subliminares sobre o poder do Feminino. Teias de aranha gravadas – uma imagem repetida na luz do céu em domo da igreja de Notre-Dame de France em Londres, representam Arachne, a deusa aranha que tece o destino dos homens, ou Isis, em seu papel de tecedora do destino. Similarmente o grande labirinto desenhado no chão da Catedral de Chartres se refere aos mistérios femininos pelos quais o iniciado pode encontrar seu caminho somente por seguir o fio que o leva até a deusa. Claramente este lugar não pretendia louvar a Virgem Maria, particularmente porque este também era o lar de uma Madona Negra – Notre Dame de Souterrain (Nossa Senhora do Submundo). Também em Chartres  há uma janela vitral apresentando Maria Madalena chegando a França em um barco, então combinando uma referência a lenda que Isis, de quem era também o meio favorito de transporte. [ talvez o titulo do Grão Mestre do Priorado, Nautonier [timoneiro] se refira a seu assumido papel no Barco de Isis]. Esta janela é a mais velha representação da história de Madalena na França, e, na catedral a tantas milhas da Provença, era claramente considerada ser de grande importância para os arquitetos.

Ao mesmo tempo em que eram construídas as catedrais, a heresia encontrou um outro abrigo, assim assegurando que sua mensagem iria adiante pela história, embora, como a Última Ceia de Leonardo, os códigos pelos quais elas encontraram sua expressão sejam mal compreendidos. Esta outra tradição herética foi aquela das histórias do Santo Gral. Hoje o termo Santo Gral é usado frequentemente para significar uma meta elusiva, o brilhante preço que coroará o trabalho de uma vida inteira. A maioria das pessoas entende que isto se refere a algo mais antigo, e de natureza religiosa, geralmente a taça em Jesus bebeu na última ceia. Uma das histórias é que José de Arimatéia, o rico amigo de Jesus, coletou nela o sangue da Crucificação, o que então foi descoberto conter propriedades curativas. A busca do Santo Gral é compreendida como sendo a busca repleta de perigos físicos e espirituais, na medida em que o buscador combate com todos os tipos de inimigo, inclusive aqueles do reino sobrenatural. Em todas as versões da história a taça é o objeto literal e um símbolo da perfeição. Parece representar algo que pertence a duas dimensões de uma só vez, a real e a mítica, e como tal tem mantido a imaginação que não seja secundária a nada. O Gral pode ser visto como um objeto misterioso, um tesouro real que existe em alguma caverna em algum lugar, mas sempre carrega a idéia implícita que simbolize algo inefável, além do mundo diário. Esta aura de busca espiritual se elevou, não apenas das originais histórias do Gral, mas também da cultura na qual ela uma vez floresceu. De milhões de palavras que tem sido devotadas a este assunto durante o curso dos séculos, em nossa opinião algumas das mais sábias são para serem encontradas em ‘The Holy Grail’ de Malcolm Godwin, publicado em 1994. Este é sumário notável de todas as histórias desparatadas e interpretações, e perceptivamente vê direto através verborragia no coração do assunto.

Fora dos usuais fios cristãos e celticos dos romances do Gral dos séculos XII e XIII, Godwin também identifica um terceiro fio igualmente importante – o alquímico. Ele revela que as versões mais iniciais da história do Gral indubitavelmente sairam de mitos celticos que envolviam as histórias do grande heroi Rei Arthur e sua côrte, e muitos dos elementos destas histórias eram focalizados na noção de veneração céltica à deusa. As histórias do Gral redefiniram as velhas histórias celticas e as estenderam para abarcar as idéias heréticas no século XIII. O primeiro dos romances do Gral foi o inacabado Le Conte del Gral de Chrétien de Troyes (c.1190). é importante que a cidade de Troyes, de quem Chretien tirou seu sobrenome, fosse um centro cabalistico e um sítio de um original preceptório templário e foi onde o Conde de Champagne mantinha sua côrte. [De fato, a maioria dos nove originais Cavaleiros Templários eram vassalos dele]. E a mais famosa igreja em Troyes é dedicada a Maria Madalena. Na versão de Chretien da história não há menção do Gral ser uma taça ou cálice nem há qualquer ligação com a última Ceia ou até mesmo Jesus explicitamente descrita. De fato, não há de todo qualquer conotação religiosa, e tem sido dito que seu ambiente total, se algo, é distintamente pagão. Aqui, contudo, o objeto do Gral era um prato ou placa que, como devemos ver, é altamente importante. De fato, Chretien tinha se dirigido de uma história celtica muito mais antiga que tinha como seu herói Peredur, a busca envolvendo um encontro de uma pavorosa e de certa forma altamente ritualística procissão em um remoto castelo. Carregado nisto estava, entre outras coisas, uma lança que pingava sangue e uma cabeça cortada em um prato. Uma característica comum nas histórias do Gral é o momento crítico onde o herói deixa de fazer uma importante pergunta: e é este pecado de omissão que o leva a um grande perigo. Como diz Malcolm Godwin: ‘Aqui a questão que não é formulada diz respeito a natureza da cabeça. Se Peredur tivesse perguntado de quem era a cabeça, e o quanto isso o preocupava, ele teria sabido como levantar os encantamentos de  Wasteland.’ (A terra tinha sido amaldiçoada e tornada infértil). Até mesmo sem um final, a história de Chretien foi um enorme sucesso e deu nascimento a um número de histórias imitadoras – a maioria das quais era explicitamente cristã. Mas, como diz Malcolm Godwin, falando dos monges que as escreveram: Eles manipularam obscurecer um trabalho da mais profunda heresia no qual o pio mistério que história e autor sobreviveram ao feroz zelo dos Pais da Igreja.  As mentes ortodoxas da Roma Papal, conquanto nunca realmente reconhecessem a existência do Gral, também estavam surpreendentente medrosas de denunciar isso. Até mesmo mais curiosamente a história permaneceu não manchada pela queda dos heréticos cátaros – e até mesmo os Cavaleiros Templários que se caracterizam implicitamente dentro de vários textos. Uma destas versões cristianizadas foi Perlesvaus, que foi, alguns dizem, escrita por um monge na Abadia de Glastonbury em por volta de 1205, enquanto outros acreditam ter sido um trabalho de um Templário anônimo. Esta história é realmente sobre duas buscas interligadas. O Cavaleiro  Gawain busca a espada que decapitou João Batista e que magicamente sangra todo dia ao meio dia. Em um episódio o herói encontra uma carta contendo 150 cabeças cortadas de cavaleios; algumas delas estavam lacradas em ouro, outras em prata e ainda outras em chumbo. Então há uma bizarra donzela que carrega em uma mão a cabeça de um rei, selada em prata, e na outra a de uma rainha, selada em chumbo. Em Perlesvaus a elite de atendentes do Gral usam indumentárias brancas emblazonadas com uma cruz vermelha – exatamente como os Templários. Há também uma cruz vermelha que fica em uma floresta, a qual cai presa de um sacerdote que bate nela em cada parte com um bastão, um episódio que tem uma clara ligação com a acusação que os Templários cuspiam e pisavam na cruz. Mais uma vez, há uma curiosa cena envolvendo cabeças cortadas. Um dos guardiães do Gral diz ao herói, Perceval, ‘Há cabeças lacradas em prata, e cabeças lacradas em chumbo e os corpos a quem estas cabeças pertencem: Digo a você que você deve fazer vir para ali as cabeças do rei e da Rainha’. O simbolismo alquímico é ilimitado; base e metais preciosos, reis e rainhas. Tal conjunto de imagens é também encontrada em abundância em um outro maior retrabalho da história do Gral, como devemos ver. A despeito do desgosto tácito da Igreja pelo Gral, a versão mais cristianizada foi realmente escrita por um grupo de monges cistercianos. Chamada ‘Queste del San Grail’, é mais notável pelo fato que se dirige aos Cânticos de Salomão para seu poderoso simbolismo místico. De todas as histórias do Gral francamente bizarras a mais estraha e mais provocante é a do poeta bavaro Wolfram van Eschenbach – Parzival (c. 1220). Nela o autor afirma que ele está deliberadamente corrigindo a versão de Chretien de Troyes, que não contém toda a informação disponível.

Ele afirma que a dele é a mais acurada porque ele obteve a história de um certoKyot de Provence – que tem sido identificado como Guiot de Provins, um monge que era a um só tempo uma voz para a Ordem Templária e um trovador. Como escreve Wolfram em Parzival: ‘A história autêntica com a conclusão do romance tem sido enviada a terras alemãs de Provença’. Mas o que era esta importante conclusão? Em Parzival o Castelo do Gral é um lugar secreto, guardado pelos Templários que, significativamente, Wolfram chama de ‘homens batizados’ – que são enviados para disseminar sua fé em segredo. O segredo e a aversão da Companhia do Gral de ser questionada são ressaltados. E no fim da história Repanse de Schoye (a mantenedora do Gral) e o meio-irmão de Parzival Fierefiz vão para a Índia e tem um filho chamado chamado João – o famoso  Prester John – que é o primeiro de uma linhagem que sempre recebe o nome de João. Pode isso ser uma referência codificada ao Priorado de Sião, cujos Grão Mestres sempre supostamente tomam este nome? É o conceito da linhagem que é central para as teorias de Baigent, Leigh e Lincoln relativas ao Gral. Como o título do primeiro livro deles deixa claro, para eles o Santo Gral era realmente o Sangue Sagrado. Isto é baseado na idéia que o original francês sangraal, que é geralmente tomado assan graal (Santo Gral) deva propriamente ser o sangue real, que eles assumem significar uma linhagem sanguinea. Baigent, Leigh e Lincoln ligaram a ênfase nas histórias do Gral a linhagem com a qual eles acreditam estar o segredo sobre Jesus e Maria Madalena terem sido marido e mulher, e apresentam sua própria teoria: as histórias do Gral são uma referência simbolica aos descendentes de Jesus e Maria Madalena. Segundo esta teoria, os guardiães do Gral eram aqueles que conheciam o segredo, a linhagem sagrada, tais como os Templários e o Priorado de Sião. Contudo, há um problema com esta idéia: nas histórias do Gral a ênfase está na linhagem dos guardiães do Gral ou encontradores do Gral: o próprio Gral é separado deles. Conquanto pode bem ser que as histórias se refiram ao segredo mantido por certas famílias, e transmitido de geração em geração, parece improvável que eles realmente aludam a uma linhagem sanguínea. Afinal, a idéia vem apenas de manusear uma única palavra francesa [sangraal], e já temos visto as dificuldades que se elevam de qualquer hipótese que repouse sobre a idéia da manutenção de uma ‘pura’ linhagem sanguínea através de eras. O elo entre as histórisa do Gral e o legado dos Templários parece ser bastante real.  Wolfram von Eschenbach é acreditado ter viajado amplamente e não ser estranho aos centros templários no Oriente Médio, e sua história é muito mais explícitamente Templária do que todos os romances do Gral. Como diz  Malcolm Godwin : ‘Através de Parzival Wolfram entremeia a narrativa com alusões a astrologia, alquimia, a Cabala, e as novas idéias espirituais do Oriente. Ele também inclui o simbolismo óbvio retirado diretamente do Tarot. É nesta versão que os Guardiães do Gral no Castelo de Montsalvasch são explicitamente chamados Templários. O castelo original tem sido identificado com Montsegur, a maior fortaleza cátara, e, significativamente, em outros de seus poemas Wolfram chama o Senhor do Castelo do Gral de Perila. O real senhor de Montsegur nos dias do poeta era Ramon de Perella. Mais uma vez novamente encontramos ligados templários e cátaros, cada um com um tesouro mal definido e de alto valor. Não há uma taça dotada de poderes sobrenaturais na versão de Wolfram; aqui o Gral é uma pedra – lapsit exillis – o que possivelmewnte signifique Pedra da Morte, embora isso seja mera especulação. Ninguém sabe realmente. Outras explicações tem sido a pedra como uma jóia que caiu da coroa de Lúcifer quando eles descia a Terra dos céus, e a famosa Pedra Filosofal (lapis elixir) dos alquimistas. No contexto, a última interpretação é a mais provável. O texo como um todo é abundante em simbolos alquimicos. Alguns escritores tem visto o personagem Cundrie, ó mensageiro do Gral’, em Parzival, como representando Maria Madalena. [Certamente Wagner o fez, em sua ópera Parsival [1882], sua Kundry ostenta o frasco de bálsamo e lava os pés do herói que ela então, como Madalena, seca com seu cabelo]. Talvez haja alguma ressonância da taça do Gral no vaso de alabastro que Madalena carrega na tradicional iconografia cristã.

Em todas as histórias, contudo, a busca do Gral é uma alegoria da jornada espiritual do herói em direção – e além – da transformação pessoal. E como temos visto, um dos maiores motivos da alquimia séria tem sido este. Mas foi meramente seu subtexto alquímico que tornou herética as histórias do Gral? A Igreja foi sem dúvida mortalmente ofendida pelo modo no qual as histórias do Gral ignoravam ou abnegavam sua autoridade e aquela de sucessão apostólica. O herói era por ele próprio – embora ocasionalmente com ajudantes -,  a busca da iluminação espiritual e transformação. Então em essência as histórias do Gral são textos Gnósticos, enfatizando a responsabilidade do indivíduo para o estado de sua própria alma. Há, contudo, mais a ofender as sensibilidades da Igreja que está implícito eternamente na história do Gral. Porque a experiência do Gral é apresentada inevitavelmente como sendo reservada apenas para os altos iniciados, o creme da elite, algo que vai muito além até mesmo da transcendência da missa. Sobretudo, em cada história do Gral, o próprio objeto – seja o que for que seja considerado ser – é guardado por uma mulher. Até mesmo na história celtica de Procedure os jovens é que devem ostentar a lança mas é as donzelas que carregam o que é dito ser o protótipo Gral – o prato com a cabeça nele. Mas quem eram as mulheres que tinham tal papel autoritário em algo que era efetivamente uma forma mais alta de missa ? [Lembre-se dos cátaros, cuja cidadela em Montsegur foi quase certamente o original do Castelo do Gral de Wolfram, operava um sistema de igualdade sexual em que ambos – mulheres e homens – podiam ser chamados sacerdotes] . Ainda que esta conexão com os Templários seja a mais penetrante nas histórias do Gral. Como vários comentadores tem ressaltado, a acusação que os Cavaleiros veneraram uma cabeça cortada, que era acreditada ser chamada de Baphomet – tinha ressonâncias com os romances do Gral, nos quais, como temos visto, as cabeças cortadas figuram amplamente. Os Templários foram acuados de atribuirem podere como os do Gral a este Baphomet; ele podia fazer as árvores florescerem e a terra ficar fértil. De fato, os Templários não foram apenas acusados de reverenciarem esta cabeça ídolo, mas também eles possuiam um relicário em prata na forma de um cranio feminino que era rotulado simplesmente como ‘caput’ [cabeça] 5853.  Hugh Schonfield, quando considerando as implicações desta cabeça feminina, juntamente com sua ‘decodificação’ de Baphomet como Sophia, escreve: Parece haver pouca dúvida de que a bela cabeça de mulher dos Templários representasse Sophia em seu aspectos feminino e de Isis, e ela estava ligada a Maria Madalena na interpretação cristã. As relíquias dos Templários eram também reputadas terem incluído o alegado dedo indicador direito de João Batista. Isto pode ser mais importante do que parece. Como vimos no Capítulo Um, Leonardo frequetemente apresentou personagens em cenas religiosas deliberadamente e ritualisticamente apontando para cima com seu indicador direito e este gesto parece estar ligado a João Batista, Por exemplo, vimos como um indivíduo que parecia estar reverenciando a árvore de alfarroba na ‘Adoração dos Magos’ estava fazendo este gesto: tanto a árvore quanto o gesto estão ligados a João. A relíquia que é dita ter sido possúida pelos Templários pode ter sido a razão material para Leonardo  ter esposado esta imagem. (Jacobs de Voragine em seu ‘Golden Legend’ faz a crônica de uma tradição que o dedo de João Batista –  a única parte do cadáver sem cabeça que escapou da destruição do Imperador Juliano – foi trazido para a França por Santa Tecla, então talvez haja razão para acreditar que a relíquia Templária e aquela da história fossem a mesma. E de Voragine também registra a história que fala da cabeça de João Batista sendo enterrada sob o Templo de Herodes em Jerusalém, onde os Templários escavaram]. Os Templários repetidamente são ligados ao Gral. O escritor viajante britânico Nina Epton em seu ‘The Valley of Pyrene’ (1955) descreve como ela subiu para as ruínas do castelo dos Templários de Montéal-de-Sos no Ariége e vê murais que apresentavam uma lança com três gotas de sangue e um cálice – uma imagem claramente tirada diretamente das histórias do Gral. Outro grafite bizarro tem sido encontrado no castelo em Domme onde muitos Templários foram aprisionados. Ean e Deike Begg descrevem uma estranha cena de crucificação na qual José de Arimatéia ´sustentando uma cruz de Lorraine] é mostrado, a direita, pegando gotas do sangue de Jesus. A esquerda está uma mulher nua e grávida tendo um bastão ou varinha mágica.

Há outras ligações mais curiosas. Em  St-Martin-du-Vésubie na Provença, que, como temos visto, é um renomado sítio Templário e da Madona Negra, há uma história que incorpora elementos interessantes das historias do Gral. É dito que os templários foram todos decapitados durante a supressão – algo que, dado a completa falta de verificação oficial, parece altamente improvável, e que eles amaldiçoaram a terra com ressecamento. Os homens se tornaram impotentes ou estéreis e a terra infértil. Seja qual for a verdade sobre este assunto, é um fato histórico que em 1560 o Duque Emmanuel Filibert de Savoy teve a terra exorcizada, porque estava em estado lamentável. De fato, um de seus picos vizinhos ainda é conhecido como Maledia (grosseiramente traduzido como ‘doença). Mas a parte mais importante desta lamentável história é que ela liga os templários sendo decapitados com a maldição sobre a terra, dois maiores elementos no canone do Gral. Para os escritores das histórias do Gral há algo sobre cabeças cortadas, ou talvez uma cabeça cortada, que trouxe destruição a terra, ainda que isso pudesse também fornecer dádivas a quem favorecesse. As diferentes histórias do Gral  e os vários fios dentro delas podem parecer confusos, mas no monumental estudo das histórias do Santo Gral, com astúcia, ele não afirma que esta seja a única possível conexão, porque não há evidência conclusiva para isso, mas ele admite que é a mais plausível.  Contudo, ele está certo que os romances do Gral foram baseados em algum tipo de ‘igreja oculta’ que estava ligada aos Templários. A ênfase de Waite em uma tradição ‘Joanita’ era de certo modo tantalizante – ele não elaborou sobre isso e sua fonte permanece envolta em mistério. Mas claramente pareceu fornecer um ele potencialmente excitante entre as histórias do Gral e São João.- um que, como devemos ver no próximo capitulo, era para fazer sentido de muito da aparente confusão que cerca a matéria. As histórias do Gral ainda que sejam manifestações de idéias subterrãneas que estavam circulando na França medieval sob os auspícios dos Templários, tal como o culto das Madonas Negras. A ligação entre os dois é surpreendente. Ambos são baseados em anteriores temas pagãos. As histórias do Gral nos mitos celticos e o culto das Madonas Negras em templos de deusas pagãs. Ainda que ambos florescessem nos séculos XII e XIII por causa do contacto – via Templários – com a Terra Santa. Os Templários eram um repositório de conhecimento retirado de muitas fontes esotéricas, incluindo aquelas da alquimia e sexualidade sagrada. [a ligação entre as Madonas Negras, Templários e alquimia é assunto de um estudo do historiador francês Jacques Huynen em seu L’énigme des Vierges Noires (O Enigma das Virgens Negras) (1972).) E a ponte entre suas idéias exóticas e esotéricas e o mundo cristão de seus dias era incorporada na imagem de uma mulher: Maria Madalena. Tudo isso aconteceu a muito tempo atrás. Os cátaros a muito tempo se foram, e a Ordem dos Templários se foi logo depois, mas está este conhecimento secreto, esta consciência mística e alquímica do Feminino, também enterrada sob a poeira dos séculos? Talvez não. Talvez isto tenha se tornado o mais excitante segredo e o mais perigoso e bem guardado vivo no subterrâneo da Europa hoje.

CAPÍTULO SEIS
O LEGADO DOS TEMPLÁRIOS

A maioria dos historiadores vê os violentos eventos do início do século XIV como a cortina final para os Templários e portanto eles não procuram quaisquer sinais de sua existência continuada. Mas a tradição oculta sempre tem falado dos descendentes espirituais destas Cavaleiros Templários que continuam a viver hoje em nosso meio, e há sociedades modernas que declaram serem estes descendentes. Sobretudo, uma riqueza de pesquisa recente tem mostrado muito persuasivamente que a Ordem sobreviveu e exerceu uma enorme influência na cultura ocidental. As implicações disso são profundas e de longo alcance. Porque se eles eram, como nós e outros pesquisadores acreditamos, coletores do conhecimento esotérico e alquímico, então qualquer sobrevivência dos Templários aponta para algum tipo de continuidade dos grandes segredos através da tradição oculta que pode ainda existir até hoje. Estes segredos, talvez incluindo conhecimento científico dos velhos alquimistas e práticas mágicas de tradições esotéricas orientais, podem ainda viver, até mesmo em nossa sociedade. Se assim o for, como exemplos primários de um antigo sistema herético de crença e prática, os templários de hoje podem lançar alguma luz em nossa investigação. Mas primeiro temos que nos convencer que, de fato, os Templários não se extinguiram. O senso comum determina que a idéia  de templários altamente organizados apenas se deitarem e se deixarem morrer seja altamente improvável. De início, nem um único cavaleiro na Europa foi simultaneamente cercado naquela fatídica sexta feira 13 de outubro de 1307. Este tipo de cataclisma para a Ordem apenas aconteceu na França, mas até mesmo lá alguns cavaleiros escaparam. Em outros países houve, como foi, uma tabela variável de perseguição e supressão. Na Inglaterra, por exemplo, Eduardo II se recusou a acreditar que os Templários fossem culpados quando foram acusados e até mesmo se engajou em um debate acalorado com o Papa quanto a isso. Ele claramente se recusou a torturar os cavaleiros. Na Alemanha houve uma cena maravilhosamente hilariante. Hugo de Gumbach, Mestre Templário na Alemanha, fez uma entrada dramática no concílio reunido pelo Arcebispo de Metz. Vestido em uma armadura completa e acompanhado de 22 cavaleiros de batalha cuidadosamente escolhidos, ele proclamou que o Papa era mal e devia ser deposto, que a Ordem era inocente e, a propósito, seus homens eram voluntários para irem a julgamento pelo combate contra a companhia reunida. Depois de um silêncio preplexante o inteiro assunto caiu e os cavaleiros viveram para avaliar sua inocencia em outro dia. Em Aragão e Castilha os bispos realizaram julgamentos dos Templários apenas para os declararem inocentes, Contudo, não importa quão leniente ou liberais os juízes desejassem ser em relação aos Templários, nenhum deles podia ignorar a ordem do Papa para dissolver a Ordem em 1312. Mas até mesmo na França apenas relativamente poucos foram executados e muitos foram liberados depois de sua retratação; e em outros países eles simplesmente se reformaram sob um outro nome, ou se juntaram a outras ordens existentes tais como a dos Cavaleiros Teutônicos. Então historicamente há uma escassez de evidência de que os Cavaleiros Templários tenham sido eficazmente mortos. De fato eles teriam ido para o subterrâneo e se reagrupado e reformado. De fato, a maneira de sua dissolução  virtualmente garantiu isso. Lembre-se que escalão e fileira eram muito diferentes do círculo interno, e a elite dos cavaleiros não apenas dirigia a organização mas era também o repositório do conhecimento secreto. É muito provável que os cavaleiros de ambos os níveis fossem e fundassem seus próprios movimentos subterrâneos efetivamente iniciando duas organizações separadas, cada uma afirmando ter o verdadeiro pedigree templário. Depois do desmantelamento dos Templários, a maioria de suas terras foi dada aos seus rivais, os Cavaleiros Hospitalários. Na Escócia e na Inglaterra, contudo, isso não aconteceu, e há evidência que as antigas propriedades templárias em Londres ainda sejam possuídas por famílias descendentes de templários tão tarde quanto 1650. Contudo, não foi a continuidade de propriedade de terras e construções que nos interessasse, mas a perpetuação do conhecimento esotérico dos Templários.

Embora não haja evidência conclusiva de que os Templários fosem as Mentes Mestras por trás da rede subterrânea alquímica, sabemos que o ‘círculo interno’ estava interessado na alquimia, como Alet-les-Bains das comandarias dos Templários. E, como temos visto, os alquimistas, como os Templários, veneravam João Batista. Recentemente vários comentadores tem apresentado evidência persuasiva que a Maçonaria Livre teve suas origens no Templarismo. Em ‘The Temple and the Lodge’ de Michael Baigent e Richard Leigh e em ‘Born in Blood’ do historiador-pesquisador escritor americano John J. Robinson têm chegado a esta conclusão, até mesmo embora a abordagem do assunto seja de pontos de vista completamente diferentes. Os primeiros traçam a continuidade dos Templários pela Escócia, enquanto o último depende mais de remontar o moderno ritual maçonico a suas origens  – e mais uma vez, isto termina nos Templários. Então estes dois maiores livros se complementam, fornecendo uma imagem mais ou menos completa da ligação entre as duas grandes organizações ocultas. O único maior ponto de desacordo entre Baigent/Leigh e Robinson é que os primeiros vêem a Livre Maçonaria como se desenvolvendo dos isolados Templários na Escócia, então indo para a Inglaterra em 1603 com a ascensão do rei escocês James VI ao trono inglês e dando o influxo  da aristocracia escocesa. Robinson, por outro lado, acredita que os Templários se desenvolveram em Maçons Livres na Inglaterra. Ele argumenta persuasivamente que os Templários estavam por trás da revolta dos camponeses de 1381, que especificamente atacou a propriedade da Igreja e dos Cavaleiros Hospitalários – os dois principais inimigos dos Templários – embora fosse a grandes extensões para evitar danificar as antigas construções Templárias. Para muito externos, a Livre Maçonaria é simplesmente um clube de velhos garotos estranhos, uma rede interna que fornece contactos lucrativos de negócios e influência a seus membros. Seu lado ritual é percebido como sendo absurdo, com os irmãos enrolando uma perna da calça e murmurando arcaicos juramentos sem sentido. As coisas podem ter mudado, mas em seus dias iniciais a Maçonaria Livre era uma escola de mistério com iniciações solenes que vinham de ocultas e antigas tradições, e que eram especificamente destinadas a trazer iluminação transcedental, além de ligar o iniciado mais estreitamente a seus irmãos. Originalmente esta era uma organização oculta, explicitamente interessada na transmissão do sagrado conhecimento. Muito do que agora podemos chamar de ciência veio da fraternidade – como se pode ver da formação da Real Sociedade na Inglaterra em 1662, que era e é interessada em reunir e promulgar o conhecimento científico. Foi o estabelecimeto oficial do original ‘Colégio Invisível’ dos Maçons Livres que tinha sido formado em 1645. [e exatamente como nos dias de Leonardo, o conhecimento oculto e secreto, estava longe de ser anti-ético – era visto como um e o mesmo]. Embora sem dúvida muitos Maçons Livres modernos fazem suas iniciações solenemente e com algum senso de espiritualidade, a imagem completa é uma de uma organização que tem esquecido seu significado original. De fato, a corrente principal da Livre Maçonaria de hoje, é a da Grande Loja, que apenas foi formada recentemente, no dia de São João Batista [24 de junho] em 1717. Antes desse tempo a Livre Maçonaria tem sido uma verdadeira sociedade secreta mas a emergência da Grande Loja marcou uma era quando elajá havia se tornado um glorificado clube de jantar, e que tem sido semi-público porque não mais tem segredos para manter para ela própria. Então exatamente quão velha é a Livre Maçonaria? A mais antiga referência reconhecida está em 1641, mas se há um elo com os Templários ela deve remontar muito anteriormente. John J. Robinson cita evidência de lojas maçonicas existentes em 1380 e um tratado alquimico datando de 1450 explicitamente usa o termo “maçom livre’. Os próprios maçons livres afirmam que eles emergiram das guildas medievais inglesas de pedreiros que haviam desenvolvido gestos secretos e códigos de recohecimento porque possuiam um conhecimento potencialmente perigoso da sagrada geometria. Mas como tem mostrado a pesquisa intensa e meticulosa de John J. Robinson, contra todas as expectativas, estas guildas eram evidentes por sua ausência na medieval Bretanha. Um outro mito livre maçom é a declaração deles que os pedreiros herdaram seu conhecimento secreto dos construtores do fabuloso Templo de Salomão. Se assim o foi, contudo, porque eles ignoraram um outro grupo com ligações mais óbvias com o Templo? Eles parecem estar evitando o elo mais óbvio de todos: o grupo cujo nome era Ordem dos Pobre Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão; em outras palavras, os Templários.

Ainda que antes da formação da Grande Loja, os maçons livres realmente promulgassem o mesmo tipo de informação sobre a geometria sagrada, alquimia e hermeticismo como o fizeram os Templários. Por exemplo, os iniciais maçons livres estavam preocupados com a alquimia: um tratado alquimico de meados de século XV alude aos maçons livres como ‘trabalhadores da alquimia’ e um dos primeiros iniciados maçonicos foi registrado como sendo Elias Ashmole (iniciado em 1646), fundador do Museu Ashmoleano em Oxford, que era um alquimista, hermeticista e rosacruciano. (Ashmole foi também a primeira pessoa a escrever aprovando os Templários desde a supressão deles). Uma jóia na coroa da Livre Maçonaria é a curiosa e compelente construção conhecida como Capela Rosslyn, a umas poucas milhas de Edinburg. Do exterior ela parece tão dilapidada como se estivesse quase em perigo de desmoronar completamente, mas o interior é abertamente robusto – como, de fato, teria que ser, porque a Capela Rosslyn é reconhecida como o foco dos maçons livres de hoje e muitas organizações templárias. Constrúida entre 1450 e 1480 por Sir William St Clair, Lorde de Rosslyn, ela originalmente pretendia ser simplesmente uma capela de damas de uma construção muito maior que era suposta ser baseada no projeto do Templo de Salomão, mas neste caso ela foi deixada só através dos séculos. Os St Clairs (mais tarde seu nome se tornou Sinclair) eram para ser os protetores hereditários da Livre Maçonaria na Escócia a partir do século XV em diante; certamente não é coincidência que antes desse tempo eles servissem na mesma função para os Templários. Desde o seu início a Ordem dos Templários esteve ligada aos Sinclairs e Rosslyn: o Grão Mestre fundador Hugues de Payens era casado com Catherine St Clair. Originalmente de descendência viking, os St Clairs/Sinclairs são uma das mais intrigantes e notáveis famílias na história, e eram proeminentes na Escócia e na França do século XI. (Interessantemente seu nome de família veio do mártir escocês Saint Clair que foi decapitado). Hugues e Catherine visitaram as propriedades de Saint Clair perto de Rosslyn e estabeleceram lá a primeira comanderia templária na Escócia, que se tornou sua sede. [Como temos visto, Pierre Plantard adoptou o nome ‘de St Clair’, portanto deliberadamente se ligando ao ramo francês desta antiga família. Varios comentadores tem imaginado se ele é intitulado para usar esta denominação, porque existe ao menos uma boa razão para que ele assim o faça]. Os cavaleiros certamente fizeram da Escócia um de seus principais paraísos depois de sua supressão, talvez porque era muito a terra de Robert o Bruce, que ele próprio havia sido excomungado, de forma que o Papa naquele momento não tinha infuência na Escócia. E Baigent e Leigh argumentam persuasivamente que a perdida frota templária chegou aos litorais escoceses. Um dos críticos eventos históricos das Ilhas Britânicas foi indubitavelmente a Batalha de Bannockburn, que aconteceu em 24 de junho [a festa de São João Batista]  em 1314 quando as forças de Robert o Bruce decididamente superaram os ingleses. Contudo, a evidência sugere que eles tenham tido uma ajuda formidável na forma de um contingente de cavaleiros templários que salvaram o dia na 11a. hora. Certamente o que é hoje os Cavaleiros Templários Escoceses [que afirmam descenderem dos fugitivos cavaleiros] acredita-se, na medida em que eles comemoram a Batalha de Bannockburn na Capela Rosslyn em seu aniversário como sendo a ocasião quando ‘o Véu foi levantado dos Cavaleiros Templários’. Um dos cavaleiros que combateram ao lado de Robert o Bruce foi um outro Sir William St Clair, que morreu em 1330 e foi enterrado em uma característica tumba templária na Capela Rosslyn. A própria Capela Rosslyn contém algumas aparentes anomalias em sua decoração. Cada polegada quadrada do interior da capela é coberta por símbolos gravados e a construção como um todo é projetada de acordo com os altos ideais da sagrada geometria. Muito dela é inegavelmente maçonico. Ela ostenta o ‘Pilar do Aprendiz’, um paralelo explícito ao mito maçonico de Hiram Abiff, e o aprendiz apresentado nele é conhecido como ‘o filho da viúva’, um termo de alto significado maçonico [que também é importante em nossa investigação]. A verga de porta perto deste pilar tem a incrição: “o vinho é forte; o rei é mais forte; as mulheres são ainda mais fortes mas a Verdade conquista todos’.

Mas conquanto muito do simbolismo de Rosslyn seja claramente maçonico, ao menos muito é definitivamente Templário: o plano do chão da capela é baseado em uma cruz, e há gravações que incluem a famosa imagem de dois homens em um só cavalo do selo deles. E um antigo bosque vizinho foi plantado na forma da cruz templária.  Tudo isso é mais curioso, por que segundo os textos históricos padrão, a Livre Maçonaria data de não antes dos anos de 1500 e os Templários não eram mais uma força a ser reconhecida depois de 1312. Então o conjunto de imagens da capela, que data de por volta de 1460, deve ser tarde demais para os Templários e cedo demais para os Maçons Livres. Há, contudo, uma grande dose de simbolismo encontrado na Capela Rosslyn que não é classicamente Templário ou Maçonico. Há uma plétora de conjuntos de imagens pagãs e até mesmo islâmicas. E do lado de fora da capela está gravado uma representação de Hermes – uma clara alusão ao hermeticismo -, conquanto o interior seja adornado com mais de uma centena de apresentações do Homem Verde, a deidade céltica pagã do deus da vegetação. Tim Wallace-Murphy, em sua história oficial da Capela Rosslyn, associa o Homem Verde com o deus babilonio que morre e e se eleva Tammuz. Todos tais deuses tem atributos similares e são frequentemente apresentados como tendo as faces verdes – embora o deus que mais frequentemente seja representado desta forma seja Osiris, consorte de Isis. Quando visitamos Niven Sinclair, um membro desta ilustre família, nos encontramos virtualmente bombardeados com a evidência de que os Sinclairs não tem sido apenas Templários, mas também pagãos. Niven, que é um apaixonado pesquisador da história de Rosslyn e dos Sinclairs, ofereceu alguns insights muito reveladores do que tinha acontecido ao perdido conhecimento Templário. Ele disse que ele foi codificado no tecido da Capela Rossslyn para ser trasmitido a futuras gerações. Como ele disse, ‘O Conde  William St Clair construiu a capela a um tempo quando os livros podiam ser queimados ou banidos. Ele queria deixar uma mensagem para a posteridade’. Na medida em que Niven aqueceu este tema ele nos impressionou pela absoluta ingenuidade de seu ancestral Sir William em criar este livro de pedra. Como ele disse, ‘se você vai a catedral de São Paulo você pode admira-la em  uma única visita. Mas se vai a Capela Rosslyn não pode. Deve contar o número de vezes que tenho estado lá em centenas de vezes, e a cada tempo encontro algo novo. Esta é a beleza do lugar’. Rosslyn está longe de ser uma típica capela cristã. De fato, Niven foi tão longe para dizer: ‘Foi dito que o Conde William construiu a Capela Rosslyn para maior glória de Deus. Se assim o é, é muito notável quão poucos símbolos cristãos existam dentro dela’. Na Idade Média os Sinclairs ativamente promoveram as celebrações pagãs e forneceram um paraíso para os ciganos [de quem tem sido dito estarem ente os mais ativos preservadores da veneração da deusa na Europa]. E, de forma impressionante, muitas autoridades acreditam que lá foi usado para ter uma Madona Negra na cripta da Capela Rosslyn. Tivemos que vir a entender, com algo de um choque, que os Templários não eram por meio algum os devotados cavaleiros cristãos da imaginação popular. A imagem que eles tinham criado para eles próprios como uma cobertura tinha sido extremamente bem sucedida, mas eles tinham obviamente pretendido deixar pistas de suas reais preocupações ‘para aqueles que tem olhos para ver’. A decoração da Capela Rosslyn é apenas um exemplo desta mensagem críptica mas reveladora. O amor e preservação dos templários pelo conhecimento significava que na capela Rosslyn também encontrássemos o ‘Rosslyn-Hay Manuscript’, que é o mais inicial trabalho conhecido em prosa escocesa. É uma tradução dos escritos de René d’ Anjou sobre cavalaria e governo, e em sua capa são encontradas as palavras inscritas: ‘JHESUS [sic]—MARIA—JOHANNES’ (Jesus, Maria, João). Como diz Andrew Sinclair em seu ‘The Sword and the Grail’ (1992): A adição do nome de João aos de Jesus e Maria é não usual, mas ele foi venerado pelos gnósticos e os templários. Uma outra notável característica da capa é o Agnus Dei, o Cordeiro de Deus. Na Capela Rosslyn o selo templário do Cordeiro de Deus também está gravado. O Conde William e René d’Anjou eram próximos, ambos sendo membros da Ordem da Flecha Dourada, um grupo cujo intento jurado era restaurar os velhos ideais templários de cavalaria e fraternidade. É claro que os Templários sobreviveram na Escócia e continuaram a operar abertamente, não apenas em Rosslyn mas em outros vários locais. Contudo, em 1329 sua vida encantada outra vez esteve sob ameaça quando a excomunhão de Robert o Bruce foi retirada e a sombra da autoridade do Papa voltou a assombra-los. Em um ponto houve a distinta possibilidade que uma cruzada seria lançada contra a Escócia e embora isso não tenha se materializado, os Templários escoceses pensaram ser prudente irem para o subterrâneo como muitos outros irmãos europeus; e foi isto, é afirmado, que deu nascimento ao início da Livre Maçonaria.

Significativamente, certos ramos da Livre Maçonaria tem sempre afirmado serem descendentes dos Templários e terem suas origens na Escócia, mas poucos historiadores – até mesmo dentro da própria Livre Maçonaria -, os tem considerado seriamente. Estes Maçons Temparistas podem ter herdado os genuinos segredos templários, ao menos em parte. O conhecimento deles, que incluia a sabedoria hermética e alquimica, além daquele da geometria sagrada, ainda é considerado valioso, talvez mais porque isso se dirija a assuntos muitos diferentes daqueles do mundo moderno ao todo. Foi um escocês, Andrew Michael Ramsay, que enviou o que veio a ser conhecido como Oração de Ramsay em 1737 aos Maçons Livres em Paris. Um Cavaleiro da Ordem de São Lázaro e tutor de Bonnie Prince Charlie – O ‘Cavaleiro’ Ramsay estabeleceu um ponto ao ressaltar a fraternidade que eles eram descendentes dos Cavaleiros Cruzados, o que era uma referência pequeninamente velada aos Templários. Foi de interesse dele usar esta terminologia oblíqua porque os Templários ainda eram um anátema na sociedade francesa. A Oração também declarou, controvertidamente, que os Maçons se originaram de escolas de mistério das deusas Diana, Minerva e Isis. A oração tem atraído grande escárnio com o passar dos anos, não apenas pela sua última declaração sobre as origens na veneração da deusa, mas porque o Cavaleiro Ramsay afirmou que a Ordem não era descendente dos pedreiros medievais. As autoridades sobre o assunto tomaram esta declaração, dizendo que, como isto era obviamente uma inverdade, isto levava todo o asunto da Oração a questionamento. Mas, como temos visto, a pesquisa recente tem mostrado que não há guildas de pedreiros medievais’ na Bretanha, então talvez deva ser dado ao bom cavaleiro ao menos o benefício da dúvida sobre isso, e a suas outras declarações. A Oração de 1737 foi a primeira pista pública que a Livre Maçonaria era descendente dos Templários – pode haver alguma ligação com o fato que exatamente um ano depois o Papa deunciou a inteira irmandade dos Maçons Livres? Surpreendentemente, até mesmo nesta última data, a Inquisição prendeu e torturou Maçons Livres como resultado direto desta bula papal. Depois das pesadas pistas de Ramsay sobre a ligação templária, veio uma declaração mais explícita e autoritária. Em um dos episódios mais controvertidos da história da Maçonaria Livre, Karl Gotthelf, o Barão von Hund und AltenGrotkau, afirmou que tinha sido iniciado em uma Ordem Maçonica do Templo em Paris em 1743, e que foi dada a ele a ‘verdadeira’ história da Maçonaria Livre e ele foi autorizado a estabelecer lojas baseado nesta linha de autoridade, que ele chamou de ‘Estrita Observância’ – embora, significativamente, esta era conhecida na Alemanha como Fraternidade de João Batista. A verdadeira história que ele tinha sido dado incluir a informação que quando os Templários foram suprimidos alguns dos cavaleiros haviam fugido para a Escócia e lá se estabeleceram. O Barão von Hund possuia uma lista do que ele afirmava serem os nomes dos Grão Mestres que sucederam a Jacques de Molay no movimento subterrâneo templário depois da supresssão. As lojas de von Hund foram surpreendentemente bem sucedidas quase que imediatamente, mas infelizmente ele não fez amigos entre os historiadores, que o tem denunciado como um nítido charlatão e descartado a versão dele  da ‘verdadeira história’ como uma completa falta de lógica. Eles são igualmente desdenhosos de sua lista de nomes dos alegados Grão Mestres.

A razão principal para este flagrante descarte foi que as declarações dele eram baseadas nas palavras de contactos anônimos – que ele chamava de ‘Superiores Desconhecidos’  e portanto parecia que ele apenas tivesse criado isso. De fato, dicas anônimas são ocorrências frequentes dentro de grupos ocultos, como podemos pessoalmente testemunhar, e recentemente alguns nomes muito críveis tem sido atribuidos aos Superiores Desconhecidos e assim parece como se ele pudesse ter dito a verdade sobre seus contactos afinal. Significativamente, os historiadores nunca tem sido capazes de produzirem uma lista defintiva dos Grão Mestres dos Templários históricos – devido a natureza incompleta dos arquivos disponíveis. Contudo, a lista de von Hund é identica a uma que aparece nos Dossiês Secretos do Priorado de Sião. A pesquisa de Baigent, Leigh e Lincoln os convenceu que a lista do Priorado é a mais acurada disponível; embora, devido a pobreza dos registros, nunca possamos estar certos, e certamente permaneça  para o exame academico e pode muito bem estar correta. Mas conquanto a lista do Priorado possa – para ser cínico -, ter sido fabricada nos anos de 1950, é improvável que von Hund pudesse similarmente a ter inventado em 1750, quando não haviam registros disponíveis e nenhuma pesquisa histórica dos Templários. Ao menos, a ligação revela uma tradição conjunta entre a Estrita Observância Templária e o Priorado. Conquanto muitas palavras tenham sido escritas sobre as afirmações e organizações de von Hund, há uma curiosa falta de especulação sobre qual possa ter sido sua motivação subjacente. De fato, sua Estrita Observância era basicamente uma rede alquímica e ele próprio foi primeiramente e sobretudo um alquimista.  Estava von Hund transportando a tradição templária? Seja qual for a verdade por trás da preocupação e organização de von Hund, a Livre Maçonaria Templarista foi logo bem estabelecida e era para se tornar uma maior forma de Livre Maçonaria de ambos os lados do Atlântico [a idéia tinha sido proposta que os Templários efetivamente se ocultavam dentro dos altos graus da Maçonaria Livre]. A Livre Maçonaria Templarista também influenciou um outro desenvolvimento que era para se tornar importante em nossa própria linha de pesquisa – a Livre Maçonaria de Rito Escocês, especialmente a forma conhecida como Rito Escocês Retificado, que é particularmente forte na França. Os Maçons Livres franceses tem uma história curiosa sobre ‘Maître Jacques’, uma figura mítica que era o patrono  das guildas medievais de pedreiros. Ele era, segundo a história, um dos mestres pedreiros que trabalhou no Templo de Salomão. Depois da morte de Hiram Abiff ele deixou a Palestina e, juntamente com 13 viajantes, viajou para Marselha. Os seguidores de seu grande inimigo, o mestre pedreiro Padre Soubise, determinaram mata-lo, então ele se escondeu em uma caverna em Sainte-Baume – a mesma que mais tarde foi ocupada por Maria Madalena. Tudo em vão: ele foi traído e morto. Os maçons ainda observam uma romaria ao sítio a cada 22 de julho.

Um outro forte candidadto ao papel de herdeiro do cohecimento esotérico dos Templários é o movimento conhecido como Rosacrucianismo. Uma vez ridicularizado pelos historiadores como uma invenção do início do século XVII, o reconhecimento está ganhando terreno que tenha raízes reais nas tradições da Renscença. O Rosacrucianismo como um ideal, ou atitude, se não em nome, é reconhecido como uma força motora por trás da Renascença, um ideal tipificado por Leonardo. Como escreveu Dame Frances Yates: Pode isto não ter estado dentro da visão geral de um mago que uma personalidade como Leonardo fosse capaz de coordenar seus estudos mecânicos e matemáticos com seu trabalho como artista? Certamente Leonardo viveu em um tempo quando grandes movimentos intelectuais e místicos agiam como um imã para aqueles famintos de conhecimento e poder. Por causa da hostilidade da Igreja, estes movimentos tinham que permanecerem subterrâneos, mas três ramos principais floresceram em segredo e eram alquimia, hermeticismo e gnosticismo. O hermeticismo tinha fornecido um tal ímpeto importante pala a iluminação da Renascença/Rosacrucianismo e o Gnosticismo deu aumento aos Cátaros, são dois desenvolvimentos das mesmas idéias cosmológicas. O mundo da matéria é o mais baixo na hierarquia dos ‘mundos’ em seus termos de ‘esferas’, na terminologia de hoje ‘planos’, ou ‘dimensões’ – o mais alto do qual é Deus. O homem é uma vez um ser divino que tem se tornado ‘aprisionado’ em seu corpo material, mas ainda retém uma centelha divina. [uma linha hermética muito citada era ‘Você sabe que somos deuses?’]. É possível, de fato, que seja ‘dever do homem’ tentar reunir-se com o Divino. Os Gnósticos expressavam isso em termos religiosos [vendo a reunião com o divino como salvação] enquanto os hermeticistas pensavam nisso em termos mágicos, mas a idéia básica é a mesma.

É impossível desenhar uma linha definida entre o Gnosticismo e o Hermeticismo, exatamente como é impossível desenhar uma linha entre a religião e o mágico. Sobretudo, o Gnosticismo e o Hermeticismo podem ser remontados ao mesmo tempo e lugar – o fermento de idéias que aconteceu no Egito, mais especialmente em Alexandria, nos séculos I  e II. Este enorme pote de fusão de idéias religiosas e filosóficas saiu das crenças de muitas culturas – grega, persa, judaica, antigo egipcio, até mesmo de religiões do Oriente para criar idéias que servem de base para nossa cultura inteira. [o estreito relacionamento entre o Gnosticismo e o Hermeticismo é ilustrado pelo fato de que os ‘Evangelhos Gnósticos’ encontrados em Nag Hammadi incluam tratados contendo diálogos de Hermes Trimegistus]. A cosmologia de Pisthis Sophia – o Evangelho Gnóstico no qual Maria Madalena tem um papel chave – não difere em qualquer essencial daquele dos magos da Renascença tais como Marsilio Ficino, Cornelius Agrippa ou Robert Fludd. As mesmas idéias, a mesma cultura, tempo e lugar dão elevação a alquimia. Embora isso também saisse de conceitos muito anteriores, a alquimia era, no sentido em que hoje é entendida, um produto do Egito nos séculos inicais da era Cristã. As raízes da alquimia, e seus paralelos com o Hermeticismo e o Gnosticismo são explorados no livro de  Jack Lindsay ‘The Origins of Alchemy in Graeco-Roman Egypt’ (1970). Não é difícil entender o apelo do Gnosticismo, embora esta não fosse uma opção fácil, a ênfase sendo na responsabilidade pessoal das próprias ações;  mas, ao mesmo tempo, a ameaça à Igreja de Roma é obvia. Como supostamente escreveu Hermes Trismegistus: ‘Oh! Que milagre é o Homem’ uma exclamação que encapsula a idéia que a humanidade contenhna a centelha divina. Nem gnósticos e nem hermeticistas se humilhavam diante de seu Deus. Diferentemente dos católicos, eles não pensam neles próprios como criaturas inferiores e más destinadas ao purgatório, se não ao próprio inferno. Ao reconhecer a centelha divina deles, isto automaticamente os dotava do que hoje chamamos de ‘auto-estima’ e ‘auto-confiança’. O ingrediente mágico no processo de cumprir o próprio potencial. Esta era a chave para a Renascença como um todo,  e o destemor que isso induzia pode ser visto na súbita abertura de mundo por meio da circumnavegação e exploração. Pior ainda, no que diga respeito a Igreja, esta noção de potencial individual para a divindade implicava que as mulheres eram tão boas quanto os homens, ao menos espiritualmente. As mulheres gnósticas sempre tinham tido uma voz, e até mesmo oficiavam em cerimonias religiosas; esta era uma as maiores ameaças que o Gnosticismo oferecia à Igreja Católica. Sobretudo, a idéia do status essencialmente divino da humanidade não estava de acordo com a idéia cristã do ‘pecado original’ – a idéia de que homens e mulheres nascem pecadores por causa da Queda de Adão e Eva [especialmente esta última]. Porque todos os filhos são o resultado do ‘vergonhoso’ ato sexual, a idéia inextrincavelmente ligada a mulheres e crianças  em um tipo de conspiração eterna contra o homem puro e um Deus vingativo. Gnósticos e hermeticistas, como um todo, não tinham algo como ‘pecado original’. Cada indivíduo era encorajado a explorar os mundos interno e externo por ele próprio, experienciando a gnose, o conhecimento do Divino. Esta ênfase na salvação pessoal era totalmente anti-ética para a insistência da Igreja de que apenas sacerdotes eram os condutos pelos quais Deus podia se comunicar com a humanidade. A idéia gnóstica de uma linha direta direta com Deus, como esta era, ameaçava a própria existência da Igreja. Sem sacerdotalmente conduzir eu rebanho, que chance teria a Igreja de manter o controle? Como com a alquimia, era prudente manter o gnosticismo e o hermeticismo oculto aos olhos da Igreja. A combinação da ciência proibida e a filosofia anatematizada significava que os praticantes destas crenças estavam além de pálidos, e abate-los como uma rede subterrânea era inevitável. Muitas de tais pessoas [e os alquimistas da Renscença incluiam mulheres] tinham mantido crenças não usuais sobre tais assuntos como arquitetura e matemática, além de manterem idéias teológicas excepcionalmente não ortodoxas. Estas pessoas eram perigosas, e indubitavelmente tal era o poder do secreto que tem o hábito de concentrar a heterodoxia. Uma maior manifestação desta heresia foi o movimento rosacruciano. O termo rosacrucianismo data apenas do início do século XVII, mas certamente ele foi gravado para descrever um movimento que então já estava bem estabelecido.

Seu primeiro maior florescimento, como aqueles tantos outros movimentos importantes, foi durante a Renascença – um fato que dificilmente seja um exagero dizer que o Rosacrucianismo era a Renascença. A segunda metade do século XV viu uma explosão de interesse no hermeticismo e nas ciências ocultas. Muito pouco da atual informação envolvida era nova, embora com certeza havia muitas influência contemporanea e personalidades, e esta era viu uma imprecedente fome de explorar as implicações mais amplas  do hermeticismo. Isso foi subitamente visto como algo para debate intelectual além dos enclaves secretos que tinham, até então, sido seus guardiões. Se tivesse sido deixado aos seus entusiastas da Renascença, o hermeticismo não mais estaria oculto. Este resurgimento do fascínio com todas as coisas herméticas neste tempo era centrado na côrte de Medici em Florença [onde era uma potente influência sobre Leonardo da Vinci entre muitos outros grandes pensadores]. Sob o patrocínio dos Medicis, notavelmente Cosimo o Velho (1389-1464) e seu neto Lorenzo o Magnífico (1449-1492) – a primeira grande síntese de muitas idéias ocultas separadas foi tomada. Não apenas Cosimo enviou emissários para procurarem legendários tomos tais como Corpus Hermeticum , alegadamente escrito pelo próprio Hermes Trismegistus, mas ele também patrocinou a sua tradução. A côrte de Medici era o salão para famosos – e talvez notórios – pensadores ocultos tais como Marsilio Ficino (1433-1499), tradutor do Corpus Hermeticum , e Pico della Mirandola (1463-1494). A maior contribuição desse último foi introduzir a teoria cabalistica e a prática neste pote de fusão de idéias ousadas. Mirandola, talvez dado um sentido de certa forma falso de segurança por seu patrono aristocrático, foi falante demais sobre suas idéias ocultas e logo encontrou seus livros colocados no Index Papal, enquanto ele próprio estava sob ameaça do Papa Inocente III. Por um tempo pareceu que Mirandola iria todo o caminho para se opor ao Vaticano, mas algo estranho aconteceu. O novo Papa, Alexandre VI, um membro da família Borgia, misteriosamente retirou todas as acusações contra ele, realmente escrevendo a ele uma carta pessoal de apoio. Mas porque? Talvez uma pista resida no fato de que este Papa decorou seu apartamento particular no Vaticano com murais apresentando antigos temas egípcios, incluindo a deusa Isis. Os historiadores modernos tendem a descartar o poder e a influência do oculto. Se eles o discutem é para ressaltar, por comparação, o triunfo da Idade da Iluminação quando tal ‘falta de lógica supersticiosa’ foi rejeitada por qualquer um com um senso de razão. Mas o ocultismo viveu, e de fato tornou-se a maior influência da Renascença.  Um fascínio com o oculto não era meramente um sintoma de nova abertura a idéias, era realmente a causa.  Dame Frances Yates representou por um gráfico a história do verdadeiro papel do oculto na elevação do Renascimento em uma série de livros. Como ela ressalta, a nova filosofia oculta se espalhou da Itália para Europa, culminando na campanha européia do grande pregador hermético, Giordano Bruno (1548-1600).

Em países como a Inglaterra e a Alemanha, ele pregou uma volta ao que essencialmente era a antiga religião egípcia, e foi carateristicamente expressivo sobre o que ele via como o mal da principal Cristandade. O Hermeticismo, como temos visto, era acreditado ter sido fundado pelo Próprio grande Hermes via o fragmento da Tábua de Esmeraldas na qual estavam escritos muitos segredos profundos. Embora poucos hermeticistas realmente acreditassem  neste mito, eles acreditavam na importãncia continuada do panteão egípcio. Mas conquanto a maioria dos hermeticistas da Renascença acreditasse que seus segredos tenham vindo do Egito Faraonico do tempo de Moisés, eles vieram de um tempo muito mais perto da era de Jesus. As raízes de suas idéias podem ser traçadas dos primeiros três séculos: além do que temos que reconhecer a influência de muitas culturas. Contudo, a erudição recente tem reconhecido que, embora as gerações anteriores tendam a ressaltar a influência da filosofia grega, as idéias ultimamente remontando a religião dos antigos egípcios tem mais influência no desenvolvimento das idéias herméticas do que previamente se pensava. Os Hermeticistas reconheceram que, embora a antiga Grécia tivesse muito a oferecer ao homem pensador, foi o Egito, acima de tudo, que tinha as chaves do conhecimento que eles buscavam. Eles também entenderam que este conhecimento não estava simplesmente lá para ser tomado: o sistema egípcio tinha sido codificado em uma escola de mistério, e os segredos necessários a serem conquistados pelos estudantes dedicados por meio de árduos estágios de progressivas iniciações.

Giordano Bruno chegou na Inglaterra em 1583 e rapidamente fez conhecimento com tais luminares como Sir Philip Sydney, autor de – entre outros trabalhos -, Arcadia. Sydney, que era um estudante do grande ocultista britânico Dr John Dee (1527-1606), foi claramente uma maior figura neste mundo sombrio porque Giordano Bruno dedicou a ele dois trabalhos enquanto esteve na Inglaterra. É também possível que uma outra figura dos círculos entrelaçados da sociedade Elizabetana estivesse presente quando Bruno e Sidney se encontraram – um William Shakespeare. (É importante que o original Globe Theatre de Londres fosse construído sob os princípios herméticos da geometria sagrada, e talvez também a última peça de Shakespeare, The Tempest, é dita ter sido sobre o Dr Dee, e incorporar muitos conceitos rosacrucianos]. Em Bruno temos uma figura de similar estatura a de Lutero ou Calvino, mas seu nome raramente é mencionado na história que é ensinada nas escolas. Como eles, e de fato como muitos nomes da Contra Reforma, ele foi inconpreendido e não perdoado do modo do tempo. Mas diferente deles, Bruno não estava pregando qualquer versão da aceita cristandade, e por esta razão apenas seus dias foram contados. Acrescente a isto sua própria natureza bombástica e é muito fácil prever seu destino. Bruno foi queimado na fogueira em 1600 em Roma, depois de ser traído e denunciado à Inquisição por um seguidor desencantado. Bruno estabeleceu sua própria sociedade secreta, a  Giordanisti, na Alemanha. Pouco é conhecido sobre isto mas ela se tornou uma as maiores influências do Rosacrucianismo na Europa. Mas crédito igual deve ser dado ao supramencionado Dr John Dee, um verdadeiro mago gaulês. Um homem de muitas partes, não apenas era o astrólogo e conselheiro de Elizabeth I, mas era também um mestre espião e um alquimista e um feiticeiro. [e algo que geralmente não é sabido é que o apelido de Dee como espião era 007]. Destas raízes cresceu o Rosacrucianismo, um dos movimentos mais misteriosos na história. Sua existência primeiro veio a ser conhecida quando dois tratados anônimos, Fama Fraternitatis , ou Uma Descoberta da Fraternidade da Mais Nobre Ordem da Rosacruz  e o Confessio Fraternitatis , ou  a Confissão da Louvável Fraternidade da Mais Honorável Ordem da Rusacruz circularam pela Alemanha em 1614 e 1615. Estas publicações anunciaram a existência de uma fraternidade secreta de adeptos mágicos – os Rosacrucianos, que retiram seu nome de seu mítico fundador, Cristão Rosacruz. Este herói supostamente viajou pelo Egito e Terra Santa coletando conhecimento secreto ou oculto que ele transmitiu a uma geração de adeptos. Mas se sua vida foi não usual, sua morte e enterro foram até mesmo mais bizarros. É dito que Rosacruz teria 106 anos quando morreu em 1484, e foi enterrado em um local secreto que era mantido aceso por um ‘sol interno’. Também foi dito que seu corpo era incorruptível e não se decompôs [um fenômeno que parece atender ao estado post-mortem de um número surpreendente de pessoas, mas principalmente santos católicos].  Estes Manifestos Rosacrucianos, como logo as publicações se tornaram conhecidas, eles próprios não transmitem os segredos, mas ao anunciar a existência da fraternidade eles também sugerem que alguém que deseje saber mais entrasse em contacto com eles. Presumidamente esta era o tipo de iniciativa de teste porque nenhum endereço para correspondência foi dado. Esta abordagem foi o suficiente para dar aos Manifestos o desdém de todos os principais historiadores, que os descartaram como um tipo de estranha farsa. Mas como Frances Yates tem mostrado, os escritores dos Manifestos revelaram um conhecimento profundo e genuino da sabedoria hermética e de alquimia. Significativamente, eles viam a alquimia como disciplina espiritual e não de todo dizendo respeito a criação de ouro, que eles denominavam ‘não divino e amaldiçoado’.  Seja qual for a verdade sobre as origens dos Rosacrucianos, eles influenciaram muitos dos grandes e renomados pensadores mundiais, tais como Robert Fludd (1574-1637) e Sir Isaac Newton. Até mesmo, inesperadamente, o famoso racionalista Francis Bacon foi essencialmente um rosacruciano. Ainda que isto faça sentido, porque o movimento rosacruciano era a síntese de todos os conceitos herméticos e ocultos: a única coisa verdadeiramente nova era que isso agora tinha um nome. E  Frances Yates não teve qualquer remorso em descrever Leonardo – entre tantas pessoas – como um rosacruciano inicial. Como temos visto, o nome de Leonardo aparece na lista dos Grão Mestres do Priorado de Sião, mas ele não teria se chamado um rosacruciano porque o termo ainda não havia sido criado em seus dias.

Contudo, outros naquela lista não tiveram tal problema – tal como Johann Valentin Andraea (1586-1654), o teatrólogo alemão e poeta que havia sido um pastor luterano. Os Dossiês Secretos afirmam que ele foi o elmo do Priorado de 1637 a 1654, mas é mais amplamente aceito que ele próprio tenha escrito os Manifestos Rosacruzes ou ao menos que estivesse por trás deles. Adrea definitivamente escreveu o que foi essencialmente o Terceiro Manifesto, o Casamento Quimico do Cristão Rosacruz, em 1616, muitos anos antes dele ser dito ter se tornado o chefe do Priorado. Talvez fosse o seu papel como principal rosacruciano que lhe tenha assegurado o posto. Certamente parece que o tema do rosacrucianismo foi o fio comum que ligou todos os alegados quatro Grão Mestres cujo período de ofício se estendeu ao século XVII. Em um sentido, portanto, isto acrescenta credibilidade a lista, porque não foi senão na década de 1970 que Frances Yates tinha estabelecido a existência e a influência do legado rosacruciano. A sucessão rosacruciana entre os Grão Mestres do Priorado começou, ao menos, com Robert Fludd, o alquimista inglês cujo periodo de ofício foi 1595-1637. Fludd declarou que tentou achar os rosacrucianos depois de ler os manifestos deles mas fracassou.  Não obstante ele escreveu extensamente sobre o assunto e incorporou idéias dos Manifestos em seus próprios trabalhos extremanente influentes tais como Utriusque cosmihistoria (História de Dois Mundos) (1617). (Interessantemente o comentador oculto Lewis Spence notou que  Robert Fludd, escrevendo nos anos de 1630, usa ‘linguagem que ‘cheira’ fortemente a Livre Maçonaria’ e que ele organizou ‘sua sociedade’ em graus).  Depois de Fludd veio o próprio Andrea, que foi Grão Mestre até sua morte em 1654, e ele por sua vez foi sucedido por Robert Boyle, o químico de Oxford. Até onde pode ser avaliado, Boyle nunca mencionou a palavra ‘rosacricuciano’ em seus escritos, mas eles mostram mais do que uma superficial familiaridade com os conteúdos do Manifesto. E quando ele fundou o que veio a ser a Real Sociedade sob o nome de Colégio Invisível, isto foi por si só uma ironica referência a descrição comum rosacruciana deles próprios como uma sociedade ‘invisível’. Então veio Isaac Newton, dito ter sido Grão Mestre do Priorado de 1691 a 1727. A muito conhecido ter praticado a alquimia, ele também possuia uma cópia da tradução inglesa dos Manifestos, embora haja evidência que ele reconheceu a história Rosacruz como o mito que era para ser. [Os comentadores esotéricos, ao menos, tem sempre entendido que isso nunca pretendeu ser tomado como verdade litaral]. É apenas recentemente que a completa extensão do envolvimento de Newton com o oculto foi reconhecida; mais de 10% de seus livros eram tratados alquímicos. Mais sigificativo talvez, ele também desenhou uma planta reconstituída do Templo de Salomão.

O rosacrucianismo também tinha uma forte ligação com o florescimento da Livre Maçonaria. Os dos mais iniciais conhecidos maçons livres – Elias Ashmole e o alquimista Sir Robert Moray – eram ligados ao movimento rosacruciano. Ashmole em particular era um conhecido rosacruciano, enquanto Moray, segundo Frances Yates, ‘provavelmente tenha feito mais do que qualquer outro indivíduo para encorajar a fundação da Real Sociedade. Há também várias referências na inicial literatura maçonica que explicitamente ligaram ‘os irmãos da Rosacruz’ com os Maços Livres, embora eles parecessem indicar que elas permanecessem sociedades relacionadas, mas distintas. A interligação entre o rosacrucianismo, a livre maçonaria, o hermeticismo e a alquimia – previamente dolorosamente reunidos por historiadores tais como Frances Yates, tem sido dramaticamente confirmada em anos recentes pela descoberta de uma coleção de documentos que ilustram a extensão em que tais movimentos e assuntos estavam integrados. Em 1984 Joy Hancox, um professor de música de Manchester, como um resultado de pesquisa da história da casa onde viveu, encontrou uma coleção de papéis, principalmente diagramas e projetos geométricos que haviam sido reunidos por John Byrom (1691-1763) e tinham sido guardados por seus descendentes, que não estavam cientes de sua importância. Estes papéis, dos quais há mais de 500, estão principalmente preocupados com a geometria sagrada e a arquitetura, e os símbolos herméticos, alquimicos, cabalisticos e maçonicos.

A importãncia da ‘Coleção Byrom’ é a luz que ela lança sobre o relacionamento entre estes assuntos, e sobre os indivíduos, o creme do estabelecimento intelectual e científico do dia – que estavam preocupados com eles. Byrom, uma figura principal no movimento Jacobita que se destinava a restaurar os Stuarts no trono inglês, era membro da Real Sociedade e um maçom livre. Ele fazia parte do ‘Cabala Club’, também conhecido como Sun Club, que se reunia em uma construção no pátio da Igreja de São Paulo que também foi o lar de uma das quatro lojas fundadoras da Grande Loja da Livre Maçonaria Inglesa. Sua revista revela que ele esteve em contacto com os principais intelectuais de seu tempo. O trabalho incorporado nesta coleção é desenhado de todas as sociedades e indivíduos que temos discutido acima, inclusive os rosacrucianos,  John Dee [com quem Byrom se relacionava pelo casamento], Robert Fludd, Robert Boyle e até mesmo Cavaleiros Templários. Isto inclui diagramas detalhando a sagrada geometria em numerosas construções de muitos períodos, e portanto mostrando a continuidade do conhecimento dos principios subjacentes a estas construções. Por exemplo, um diagrama mostra que o projeto da capela do Kings College de meados de século XV em Cambridge – uma das maiores estruturas góticas católicas construída neste país, era baseada na cabalística Árvore da Vida [uma conclusão que já havia sido alcançada por Nigel Pennick, uma autoridde em simbolismo esotérico]. O projeto da capela foi aparentemente derivado da catedral do século XIV em Albi, no Languedoc, previamente um dos centros cátaros. A coleção também inclui um diagrama da Temple Church em Londres, bem como outras construções templárias, novamente demonstrando que todas estas construções eram parte de uma continua tradição e que os membros das fraternidades rosacrucianas/maçonicas do século XVIII estavam cientes disso. A coleção Byrom também contém material referente ao Templo de Salomão e a Arca da Aliança. Se, como parece ser o caso, os maçons eram descendentes dos Templários, pode ser que os rosacrucianos também fossem da mesma linhagem? O próprio nome ‘rosacruz’ carrega uma potente sugestão destes cavaleiros com seu emblema de uma cruz com uma rosa. No Casamento Químico de Cristão Rosacruz a cruz vermelha no fundo branco é um tema recorrente, e seu trabalho em geral carrega fortes conotações com as histórias do Gral – e portanto os Templários. E a presença de material templário nos papéis predominantemente rosacrucianos de Byrom sugere que esta fraternidade e os maçons partilhem de uma origem comum. Contudo, conquanto os maçons fossem, e ainda são, uma organização definida com membros conhecidos e lugares onde se encontram, os rosacrucianos tem sido vistos como consideravelmente mais elusivos, ao ponto onde a palavra ‘rosacruciano’ é tomada para se referir a um ideal muito mais do que a uma descrição de afiliação – de fato, os próprios Manifestos se referem aos rosacrucianos como uma ‘sociedade invisível’. Mas a primeira sociedade rosacruciana ‘concreta e visível’ foi a Ordem da Dourada e Rosea Cruz, fundada na Alemanha em 1710 por Sigmund Richter, cujo propósito primário era a pesquisa alquimica. Contudo, sessenta anos depois esta sociedade foi transformada em uma Loja Maçonica Templária de Estrita Observância, embora ainda mantivesse sua natureza alquímica. Nesta forma ela tem tido muitos membros influentes, incluindo Franz Anton Mesmer (1734-1815), o descobridor do ‘magnetismo animal’ [embora não, como é frequentemente afirmado, o pioneiro do hipnotismo]. O próprio fato de que uma sociedade rosacruciana possa se tornar tão rapidamente uma Loja Templária da Estrita Observância revela sua herança comum.

Depois de 1750 a história se torna desesperadamente enlameada. Onde uma vez há claras distinções ente maçons, rosacrucianos e organizações que afirmavam origens templárias, repentinamente todos estes grupos se tornam intimamente interligados para virtualmente parecerem o mesmo. Por exemplo, em algums formas de Livre Maçonaria, os iniciados tomam títulos tais como ‘Cavaleiro Templário’ e ‘Rosacruz’, e é impossível determinar se isso é assim por causa de haver uma genuina linha de descendência ou simplesmente porque os titulos tem um grandioso anel neles. Tem sido estimado que mais de 800 graus e rituais foram acrescentados a Livre Maçonaria entre 1700 e 1800. Tentativas de traçar uma linha direta de sucessão templária na Lvre Maçonaria e no Rosacrucianismo logo chegam a lástima por causa da enorme proliferação  de ritos e sistemas maçonicos. Isto é particularmente confuso porque em muitos casos é impossível estabelecer que sistems foram inovações do século XVIII e quais eram genuinamente mais antigos. Contudo, é possível encontrar um fio comum ente certos sistemas maçonicos que tem sido desautorizados ou rejeitados pela principal livre maçonaria. Há variações de livre maçonaria oculta que podem ser rastreadas a Estrita Observância do Barão von Hund e cujo desenvovimento ocorreu principalmente na França. A chave para isso é um sistema maçonico conhecido como Rito Escocês Retificado, que é especificamente dedicado aos estudos ocultos e coloca mais ressalte em suas origens Templárias. é também esta forma de Livre Maçonaria que tem elos mais estreitos com as sociedades rosacrucianas. O uso da palavra ‘templário’ tinha se tornado um problema para esta escola e maçonaria. Há um atrito entre seus membros e a corrente principal de maçons que oficialmente rejeita a sugestão de origens templárias – sendo especialmente irritada pela declaração de Hund de que ‘cada maçom é um templário’. Mais aborrecedor era a suspeita que eles atraiam das autoridades já que havia inúmeros rumores que os templários teinham um plano secreto de se vingar da monarquia francesa e do papado pela supressão de sua Ordem e a execução de Jacques de Molay. Por causa disso, uma convenção de Templaristas  Maçons foi realizada em Lyons ewm 1778, na qual o Rito Escocês Retificado foi criado,  com uma Ordem interior chamada Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa. Isto era, contudo, simplesmente um outro nome para Templário.

Uma influência importante da convenção de Lyons e subsequente esoterismo francês, foi o filósofo oculto  Louis Claude de Saint-Martin (1743-1804). Embora ele pareça ter se dedicado ao celibato, seus centros de filosofia  sobre uma veneração do Feminino  na forma de Sophia, que ele via como ‘a forma feminina do Grande Arquiteto’. O Martinismo foi a mais influente filosofia oculta não somente sobre estas formas de maçonaria oculta mas também nas sociedades roscrucianas da França do século XIX, que discutiremos completamente no próximo capítulo. Uns poucos anos depois da reunião em Lyons, em 1782, uma outra grande conferência maçonica, desta vez com representantes de todos os grupos maçonicos pela Europa, foi realizada em  Wilhelmsbad em Hessen sob a presidência do Duque de Brunswick. Seu próposito era curar as profundas divisões dentro da maçonaria ao estabelecer de uma vez por todas a questão do relacionamento entre a maçonaria livre e os cavaleiros templários. A consequência foi uma humilhação para o Barão von Hund que veio para defender o caso dos templários, e foi efetivamente o fim da Estrita Observância Templária. Contudo, os Templaristas venceram uma Batalha: a convenção concordou em aceitar o Rito Escocês Retificado, que era exatamente a Estrita Observância sob um outro nome.  Também importante na Livre Maçonaria Oculta são os sistemas conhecidos como ‘Ritos Egípcios’, que eram para assumir importância em nossa investigação mais tarde. Contudo, todos eles derivavam da amada Estrita Observância de von Hund  e estão para sempre ligados estreitamente ao Rito Escocês Retificado. Contrário a imagem usual da Livre Maçonaria, eles colocam uma ênfase especial no Feminino [ algumas formas incluem lojas ativamente femininas] Todos os maçons reverenciam  o misterioso ‘filho da viúva’. Nos Ritos Egípcios, a viúva é Isis. O Priorado de Sião com sua própria ênfase reconhecida em Isis, afima que isso começou no círculo interno da Ordem Templária, e naturalmente se desenvolveu com o passar dos anos e adquiriu outras associações esotéricas, algumas das quais são elas próprias significativas. Uma maior influência parece ter sido Jacques-Étienne Marconis de Nègre (1795-1865), que fundou um dos Ritos Egípcios da oculta maçonaria livre em 1838, conhecido como Rito de Memphis. Este também, é afirmado descender da tradição templarista de von Hund. Marconis de Négre sublinhou um elaborado ‘mito de fundação’ para sua organização, fazendo a usual grandiosa afirmação que o rito remonta a antiguidade, a um grupo chamado A Sociedade dos Irmãos Rosacrucianos do Oriente. Este por sua vez havia sido fundado por um sacerdote de uma antiga religião egípcia chamada Ormus, que foi convertida ao cristianismo por São Marcos, e cujos discípulos incluiam membros dos Essênios. O mito de Ormus sugere quatro influências: rosacruciana, egípcia, esoterismo judaico tal como a cabala [os essênios eram acreditado, certa ou erroneamente, terem sido cabalistas] e cristão, talvez de um tipo herético. O que realmente nos interessou sobre este mito foi que, como o saberão os leitores de ‘The Holy Blood and the Holy Grail’, o Priorado de Sião tomou o nome de Ormus como seu sub-título. E iriamos mais tarde aprender que a história de Ormus primeiramente apareceu em conexão com a Ordem da Dourada e Rosea Cruz quando ela se tornou uma Loja Templária da Estrita Observância em 1770. Mas, como devemos ver, a história por trás disso tem implicações de muito maior alcance no que diga respeito a esta investigação.

Não surpreendentemente, talvez, há sociedades que afirmam serem os oficiais sucessores dos Templários. A maioria delas podem ser facilmente descartada, embora a Antiga e Militar Ordem do Templo de Jerusalém faz um caso persuasivo a ser seriamente considerado. Hoje ela é baseada em Portugal, onde afirma se concentrar em trabalho caritativo e pesquisa histórica,  embora haja um grupo dissidente que opera sob o nome evocativo de Sião na Suíça. Mas suas origens, em sua forma ressurrecta, foram na França. Ela foi fundada em 1804 por um doutor com o sonoro nome de Bernard Raymond Fareé-Palaprat, que ele recebeu sua autoridade da Carta de Direitos de Transmissão de Larmenius, geralmente conhecida como Carta de Larmenius. Se verdadeiro, isto iria um logo caminho na direção de estabelecer que Fabré-Palaprat fosse de fato da verdadeira linha templária, porque esta carta afirmava ter sido escrita em 1324 por Johannes Marcus Larmenius, que tinha sido indicado como Grão Mestre pelo próprio Jacques de Molay. O pergaminho alegadamente tem as assinaturas de todos subsequentes Grão Mestres da Ordem, o que é importante porque, depois da execução de Jacques de Molay,  supostamente não deveria existir algum. Previsivelmente, os historiadores tem descartado a Carta como uma falsificação. Até mesmo os escitores mais de mente aberta como Baigent e Leigh concordam que isso fosse uma farsa. Mas geralmente os críticos realmente não a viram, basendo suas conjecturas em uma tradução do século XIX do original em Latim. [o documento foi escrito em Latim que tem sido traduzido em um código baseado na geometria da cruz templária]. Uma das razões para que o documento seja descartado como fraude é que o latim seja bom demais para aquele tempo – o latim medieval sendo notoriamente casual – mas de fato o tradutor tinha corrigido a gramática. Os críticos também descartaram a lista de declarações dos Grão Mestres por causa da forma das palavras de cada um é exatamente a mesma, algo que seria altamente improvável durante o périodo compreendido entre 1324-1804. Mas novamente isto é simplesmente porque o tradutor os padronizou: ‘no original eles são todos diferentes’. Então as duas principais razões para rejeitar a Carta de Larmenius de fato, não se sustentam. Uma outra razão pela qual a Carta tem sido criticada é que ela contém uma fulminação contra os ‘desertores templários escoceses’ que avalia Larmenius, devem ser ‘amaldoçoados por um anátema’ [juntamente com os Cavaleiros Hospitalários]. Assumindo que estes cismáticos eram os maçons da Estrita Obervância do Barão von Hund, os historiadores tomam isso como sendo prova que a Carta era uma fraude – porque eles acreditavam que o Barão inventou a ‘transmissão escocesa’ por volta de 1750. Mas se ele estava dizendo a verdade sobre as origens reais dos maçons livres, emerge uma imagem completamente diferente. De fato a Antiga e Militar Ordem do Templo afirma que a carta tinha estado em existência ao menos cem anos antes de Fabré-Palaprat a tornar pública, quando Philippe, Duque de Orléans – mais tarde o regente da França-, a usou como sua autoridade para reunir um assembléia em Versailles de membros do Templo. Se isto é verdade, então este evento foi ele próprio evidência de um continuada presença templária na Europa. [Foi este mesmo Duque de Orleans que iniciou o Cavaleiro Ramsay na Ordem de São Lázaro]. Além da Carta de Larmenius, Fabré-Palaprat possuia um outro documento importante – que também sido descartado de antemão pela maioria dos comentadores. Este era o Levitikon – uma versão do Evangelho de João com claras implicações Gnósticas – que ele afirmava haver encontrado em uma livraria de livros usados. Mais uma vez, isso parece natural demais, mas se o documento é autêntico, ele lança alguma luz sobre as razões reais de guardar grande parte do conhecimento secreto. Porque o Levitikon, uma versão do Evangelho de São João que alguns datam tão longe quanto do século XI, conta uma história muito diferente daquela encontrada no livro do Novo Testamento de mesmo nome e mais familiar.

Fabré-Palaprat usou o Levitikon como base para a fundação de sua Igreja Joanita Neo-Templária em Paris em 1828, na qual seus seguidores eram iniciados no curso devido, e depois de sua morte dez anos mais tarde, Sir William Sydney Smith, o herói das guerras Napoleonicas e maçom livre de alto escalão, o tomou dele. O Levitikon, que tinha sido traduzido do latim para o grego, e consiste em duas partes. A primeira contém as doutrinas religiosas que são para serem dadas ao iniciado, inclusive rituais concernentes aos nove graus da Ordem Templária. Ele descreve a ‘Igreja de João Templária’ e explica o fato deles próprios se chamarem Joanitas ou ‘cristãos originais’. A segunda parte é como o Evangelho de João padrão, exceto por algumas importantes omissões. Estão faltando os capítulos 20 e 21, os últimos dois do Evangelho. E também elimina todas as pistas do miraculoso das histórias de transformar a água em vinho, os pães e os peixes, e a ressurreição de Lázaro. E certas referências a São Pedro são excluídas, incluindo a história de Jesus ter dito “Sobre esta rocha construirei minha igreja”. Mas se isto é mais intrigante, o Levitikon também contém material surpreendente, até mesmo chocante: Jesus é apresentado como tendo sido um iniciado nos mistérios de Osiris, o maior deus egípcio de seus dias.

Osiris era o consorte de sua irmã, a bela deusa Isis que governava o amor, a cura e a magia – entre muitos outros atributos. [Embora desgostoso por um tal relacionamento incestuoso no que nos possa significar em nossos dias, isto era parte da tradição faraonica e pareceria perfeitamente normal para qualquer venerador no antigo Egito]. O irmão deles Set queria Isis para ele próprio, e tramou matar Osiris. Este último foi surpreendido pelos partidários de Set que desmembraram seu corpo e espalharam seus restos. Lamentando horrivelmente, Isis vagou pelo mundo procurando por eles, sendo auxiliada em sua busca pela deusa Nepthys, esposa de Set, que desaprovava o crime dele. As duas deusas encontraram todas as partes do copo de Osis exceto seu falo [pênis]. Reunindo-as Isis usou um falo artificial com o qual ela magicamente concebeu Horus, seu filho. Em algumas versões da história ela então teve um caso com Set, embora os motivos dela não pareçam claros, parece haver um elemento de vingança envolvido neste relacionamento. Horus, agora um jovem homem, ficou furioso por esta união, que ele percebia como traindo a memória de seu pai Osiris, e então ele teve um duelo com Set que resultou na morte deste último e o deixou apenas com um olho. Ele foi curado e o Olho de Horus passou a ser o favorito talismã mágico do Egito.

O Levitikon, além de fazer a declaração extraordinária que Jesus era um iniciado de Osiris, também afirmou que ele transmitiu o conhecimento esoterico a seu discípulo, João o Amado. Ele também afirma que Paulo e os outros apóstolos podem ter fundado a Igreja Cristã, mas eles assim o fizeram sem qualquer conhecimento do verdadeiro ensinamento de Jesus. Ele não faziam parte de seu círculo interno. Segundo Fabré-Palaprat, foram os ensinamentos secretos, como dados a João O Amado, que tinham sido preservados e eventualmente influenciado os Cavaleiros Templários. O Levitikon registra uma tradição que alegadamente tem passado por gerações e uma seita, ou igreja, de cristãos Joanitas no Oriente Médio. Eles afirmam terem sido os herdeiros do conhecimento secreto e da verdadeira história de Jesus, a quem eles se referem como  ‘Yeshu o Ungido’. De fato, se tal seita existia, a versão dela da história de Jesus é tão não ortodoxa que pode-se imaginar porque eles se chamaram de cristãos afinal. Para eles, Jesus não apenas era um iniciado de Osiris, mas era meramente um homem, não o Filho de Deus. Sobretudo, ele era o filho ilegítimo de Maria, e não há a questão do nascimento virgem. Eles atribuiram todas tais afirmações a uma engenhosa e ultrajante história cobertura que os escritores dos Evangelhos haviam inventado para obscurecer a ilegitimidade de Jesus, e que de fato sua mãe não tinha idéia da identidade de seu pai! A seita Joanita reconheceu que o título “Cristo’ não era único de Jesus; o original grego Christos significa meramente ‘ungido’, um termo que pode ter sido aplicado a muitos, inclusive a reis e oficiais romanos. Consequentemente, os líderes Joanitas eles próprios sempre tomam o título de Cristo [Significativamente, o Evangelho de Felipe do Nag Hammadi aplica o termo ‘cristo’ a todos os iniciados gnósticos]. O grupo foi dito ser uma seita gnóstica que preservou vários conhecimentos esotéricos, inclusive aqueles da Cabala. E eles também conceberam um plano para se tornarem uma organização secreta que [nas palavras do escritor do século XIX  Éliphas Lévi] ‘teria o propósito de ser o único repositório dos grandes segredos religiosos e sociais, que devem fazer Reis e Pontífices, sem expor isto a corrupção do poder; isto é, uma organização de mistério que não estaria sujeita aos caprichos e incertezas das mudanças políticas e sociais com o passar dos anos. O instrumento deles era para serem os Templários  e  Hugues de Payens e os outros cavaleiros fundadores eram, de fato, iniciados Joanitas. Contudo, os próprios templários se tornaram corruptos por seu amor a riqueza e ao poder, e foram eventualmente suprimidos. O rei francês e o Papa não podiam deixar que a real natureza da ameaça dos templários se tornasse conhecida, então eles criaram as acusações de idolatria, heresia e imoralidade. Mas antes de sua execução, Jacques de Molay, novamente nas palavras de Levi, ‘organizou e instituiu a Maçonaria Oculta’. Se verdadeira, esta avaliação por sí só altera significativamente a versão aceita da história. Ela fornece a ligação direta e autoritária entre um tipo de Livre Maçonaria e os velhos Templários – e portanto pode muito bem se seguir que estes maçons em particular tenham algo a nos ensinar sobre o conhecimento templário.

Como temos visto, Éliphas Lévi devota uma seção de sua ‘History of Magic’ a tradição Joanita como descrita no Levitikon. Primeiro lemos isto na tradução inglesa de  A.E. Waite, mas então encontramos uma outra tradução desta seção em particular em um trabalho de Albert Pike, o erudito sábio maçonico e Grão Mestre do Antigo Rito Escocês na América, Moral e Dogma do Antigo Rito Escocês da Livre Maçonaria  (1871). Esta versão tem várias diferenças – mas qual delas era autentica? Examinamos com o original francês do trabalho de Levi e descobrimos que Pike tinha feito certas adições ou correções suas próprias, presumidamente baseado em seu próprio entendimento desta tradição. Por exemplo, ele considera a última parte daquela sentença histórica citada acima como ‘Oculta, Hermética ou Maçonica Escocesa’. Ele também corrige as palavras de Levi a respeito de uma ligação entre os Templários Joanitas e os Rosacrucianos. Levi escreve [na fiel tradução de  A.E. Waite]: ‘Os sucessores dos velhos Rosacrucianos, modificando pouco a pouco os métodos austeros e hierárquicos de seus precursores na iniciação, tinham se tornado uma seita mística e tinham abraçado zelosamente as doutrinas mágicas templárias, como um resultado do que eles se viam como os únicos depositários [sic] dos segredos intimados pelo Evangelho segundo São João.’ Pike, de forma impressionante, emenda a parte vitalizada disto para se ler: ‘e tinha se unido com muitos dos templários, o dogma dos dois se intermesclaram’. As mudanças de Pike são importantes porque, apesar de que Levi fosse um observador e comentador do mundo oculto e maçonico, e em alguma extensão um externo, Pike era muito mais um interno. Ele viu apropriado corrigir a versão de Levi, de forma que ao invés de falar dos rosacrucianos adotarem as ‘doutrinas templárias’ Pike tinha realmente as unido com os sobreviventes grupos templários. Mas a emenda mais importante de Pike é algo inteiramente novo. Depois da sentença sobre a instigação de Jacques de Molay para o ‘Oculto, Hermético ou  Maçonico Escocês’ Pike acrescenta que esta ordem: adotou São João Evangelista como um de seus patronos, associado-se a ele, para não levantar suspeitas de Roma. São João Batista. Isto é curioso, para dizer o mínimo. Vendo ambos João Evangelista e João Batista serem reconhecidos como santos católicos, porque deve a veneração de um  ser necessária para a cobertura da reverência dedicada ao outro? Ainda que Pike, o mais erudito dos sábios maçonicos, não seja provável ter inserido a informação sem qualquer boa razão na reprodução das passagens do livro de uma outra pessoa. Claramente, precisamos nos aprofundar posteriormente neste tema Joanita dentro da tradição maçonica. Como temos visto no último capítulo, A.E. Waite tinha se referido a tradição Joanita que tinha influenciado as histórias do Gral, o que de inicio pareceu completamente mistificante. Agora, contudo, isto estava começando a fazer sentido: claramente a ‘tradição Joanita’ está de algum modo ligada ou com João Evangelista ou com João Batista. Este fio subjacente, de fato, não é novo nesta investigação.

A ‘tradição Joanita’ com seu claro link com um São João é também central ao Priorado de Sião – e para eles, como temos discernido, é João Batista que é proeminente. Como vimos no capítulo Dois, o Priorado declara que Godfroi de Bouillon se encontrou com representantes de uma misteriosa ‘Igreja de João’ – em outras palavras, os Irmãos de Ormus – e como um resultado desse encontro decidiram formar um ‘governo secreto’. Os Cavaleiros Templários e o Priorado de Sião foram devidamente criados como parte deste plano mestre. Não pode ser super enfatizado que, ao menos segundo esta história, tanto o Priorado quanto os Templários foram criados para se conformarem aos ideais desta misteriosa Igreja de João. Fora alguns detalhes menores, esta história é idêntica aquela no Levitikon, e se nada mais, isto ao menos estabelece que o moderno Priorado e os Templários eram parte da mesma tradição. O conceito dos Templários como uma organização secreta com a autoridade de fazer e de depor reis paraleliza aquela dos Cavaleiros Templários do Gral de Wolfram von Eschenbach em Parzival – certamente há evidência que os Templários reclamaram este direito. O problema é que a maioria destas afirmações exóticas por um longo pedigreee histórico apenas remontam a organizações neo-templárias do século XIX. Mas elas podem sustentar água se elas possam ser corroboradas por evidência independente ligando os movimentos deles com organizações que existiam definitivamente séculos antes, tal como a ligação maçonica-rosacruciana. Uma outra dificuldade é que duas afirmações diferentes estão sendo feitas: uma é a de que certas formas de Livre Maçonaria são diretamente descendentes dos Templários. A outra é que os próprios Templários eram uma continuação de uma tradição mais antiga e herética que remonta ao tempo de Jesus. Infelizmente, testar a primeira não significa automaticamente que a segunda seja verdadeira.

Mas a ênfase na versão idiossincrásica do Evangelho de João é provocante, embora pareça haver alguma confusão entre João Evangelista e João Batista.  A declaração de Albert Pike que os maçons adotaram Batista como uma cobertura para sua veneração secreta de João Evangelista é, como temos visto, sem sentido. Porque eles deveriam querer ocultar sua veneração por um santo quando ambos eram perfeitamente aceitáveis para a Igreja? Tudo que Pike tem alcançado ao fazer isso é chamar atenção para os dois santos João e envolve-los em uma aura de mistério e intriga. Talvez fosse esta a intenção dele. Em outros lugares A.E. Waite cita escritos maçonicos sobre a Maçonaria Joanita que afirma ter uma ligação com a cristandade Joanita centrada em Batista e que o vê como ‘o único profeta’. Como temos visto, João Batista foi o santo patrono de ambos: templários e maçons. De fato, a Grande Loja da Inglaterra foi fundada em 24 de junho, dia de São João Batista. E o chão de todos os templos maçonicos tem duas linhas paralelas: uma representa o bastão de São João Evangelista [ João, o Discípulo Amado] enquanto que a outra linha representa o bastão de Batista. Claramente ambos são de especial importãncia para a fraternidade, embora seja o mais velho que tome a precedência. Sobretudo o juramento maçonico é aos ‘sagrados santos João’. Mas os maçons hoje, em sua admissão não tem idéia de porque os dois João são tão venerados. Pode ser que ambos carateres bíblicos tenham se tornado confusos com o passar dos anos, e que o termo Joanita, quanto tomado para significar os seguidores do amado, possa realmente se referir a aqueles de Batista. Mas seja o João mais velho ou o mais novo, ou ambos, que seja reverenciado pelos maçons, há um nome que é evidente por sua virtual ausência nas lojas: Jesus, ele próprio, não figura grandemente. Alegadamente isto seja porque os maçons não sejam uma organização primariamente cristã; é suficiente ser um ateu para se unir a suas fileiras. Mas porque neste caso eles devam tanta fidelidade aos santos João? A idéia de que o Evangelho de João esconda segredos arcanos, ou que haja uma outra versão dele, recorre em toda esta investigação. Os cátaros são ditos terem tido uma alternativa herética, e Sir Isaac Newton era obcecado por isso. [Como escreve Graham Hancock: ‘a despeito de suas convições religiosas devotamente mantidas, ele parecia as vezes ter visto Cristo como um homem especialmente dotado – muito mais do que o Filho de Deus’]. Então os Maçons do Rito Escocês e os Templários da Transmissão de Larmenius podem bem terem preservado os originais segredos templários, e ambos remontarem os Templários à seita Joanita.

Embora não haja nada abertamente Joanita nos Ritos Egípcios da Livre Maçonaria, estes sistemas todos derivam da Estrita Obsrevância Templária do Barão de von Hund. E o Priorado de Sião se liga com todos os três destes sistemas. Como temos visto, Pierre Plantard de Saint-Clair tem descrito o propósito da Ordem do Templo como sendo ‘ os sustentadores da espada da Igreja de João e os sustentadores do estandarte da primeira dinastia, os braços e armas que obedeciam ao espírito de Sião’. A  consequência deste grande plano era para ser o ‘renascimento espiritual’ que ‘viraria a cristandade de cabeça para baixo’. Claramente, isso não aconteceu, ainda que, embora nossas investigações mostrem que a revelação possa levar a uma tal revolução que já está esperando nas asas para fazer um aparecimento dramático em um estágio mundial, talvez na forma do Priorado ou de uma aliada escola de mistério tal como os Joanitas. Mas em qualquer caso, temos chegado a coisa mais notável: tinhamos começado com a aparente obsessão de Leonardo por São João Batista e então seguimos a ligeira pista que o Priorado de Sião estava de alguma forma igualmente envolvido com este santo. Neste estágio, isso não somava muita coisa, mas na medida em que seguiamos as pistas dos Templários aos Maçons e então a grupos ocultos, uma ligação muito mais persuasiva tomou forma diante de nossos olhos. A heresia Joanita está lá sob as várias armadilhas do subterrâneo oculto – e é a esta tradição que o Priorado, por sua própria admissão, pertence. Embora muitas perguntas maiores ainda permaneçam a serem respondidas, uma imagem coerente estava começando a emergir, uma que de algum modo ligava João Batista com uma intrincada tradição oculta. Ainda que isso fosse apenas parte do que estava emergindo como uma heresia de duas pontas, a outra sendo a secreta veneração a deusa, o princípio Feminino. De fato a última meada é difícil de reconciliar com as formas externas de organizações tais como a dos Maçons, que parecem ser excepcionalmente masculino orientadas. Mas claramente os segredos por trás destes dois fios – o feminino e os temas Joanitas – são dignos de terem, porque eles tem sido defendidos, guardados e protegidos contra todas as probabilidades, e parecem ter provocado uma particular hostilidade da Igreja de Roma. Não é surpreendente, para o segundo fio dos antigos segredos esotéricos – a veneração do princípio feminino, ter tomado a forma de transcedental magia sexual, com todas as suas implicações de inerente poder da femea.

CAPÍTULO SETE
O SEXO: O ÚLTIMO SACRAMENTO

Os velhos textos alquímicos estão cheios de confuso e elaborado conjunto de imagens – assim deliberadamente, porque eles pretendiam desencorajar os não iniciados de descobrirem seus segredos. Como temos visto, contudo, a alquimia estava preocupada em seu mais profundo nível com a transformação pessoal, espiritual e sexual e seus segredos relativos a técnicas para alcançar este ‘Grande Trabalho’. De fato, ao reconhecer as profundas preocupações não materiais e sexuais da alquimia, o psicólogo C.G. Jung viu isto como o precursor da psicanálise, Como temos visto, o ‘Grande Trabalho’ era uma rara experiência transformadora da vida e ninguém sabe com certeza exatamente qual a forma que isto tomava. Contudo, Nicholas Flamel (alegado Grão Mestre do Priorado de Sião), que alcançou este premio brilhante em 17 de janeiro de 1382 em Paris, ressaltou que ele assim o fez em companhia de sua esposa, Perenelle. Parece que eles eram um casal especialmente devotado: ela parece ter sido uma alquimista como tantas mulheres eram, em segredo. Mas Flamel enfatizou a presença dela naquele dia fatídico como uma pista sobre a verdadeira natureza do Grande Trabalho? Há uma sugestão de que isto tenha tomado a forma de algum rito sexual de algum tipo? Não há dúvida da existência de ao menos um componente sexual na prática da alquimia, como revela o clássico texto alquímico ‘The Crowne of Nature’, citado na Alquimia de Johannes Fabricius: ‘Oh dama de pele branca, amantemente unida ao seu marido ruborizado em sua extremidades, envolvidos um nos braços do outro na benção da união conjugal. Una e dissolva na medida em que eles venham a meta da perfeição: Eles são dois feito um, como se fossem um só corpo.’ Significativamente, há duas disciplinas orientais que enfatizam a transcendência religiosa e espiritual da sexualidade: o Tanta hindu e o Taoismo chinês. Ambos são antigos e grandemente respeitados em suas culturas; ressaltam o potencial de certas práticas sexuais para alcançar a consciência mística, a regeneração física e a longevidade, e a unidade com Deus. Muito disso é amplamente conhecido hoje, mas o que não é reconhecido além dos grupos de iniciados é que há, surpreendentemente, um ramo alquímico do Tantra e do Taoismo. Como devemos ver, isto se encaixa com a verdadeira natureza d alquimia ocidental. Por exemplo, no Tantrismo, a terminologia ‘química’ é compreendida representar práticas sexuais. Como diz o escritor oculto Benjamin Walker em ‘Man, Myth & Magic’ : Embora ostensivamente preocupada com a transformação de metais base em ouro, e com os vasos, implementos e aparatos de comércio e movimentos rituais do alquimista em sua sala de trabalho, esta alquimia realmente tomar lugar dentro do próprio corpo.’ A ironia é que os elementos sexuais da alquimia ocidental tem sido geralmente tomados como uma metáfora para processos químicos! Como observa  Brian Innes em seu artigo ‘The Unexplained on the Tantric and Taoist sexual alchemy’: A estreita similaridade do conjunto de imagens – e as substâncias usadas – na alquimia em todas estas culturas é surpreendente. Uma maior diferença é igualmente surpreendente: a alquimica européia medieval não parece ter tido qualquer base explícita sexual. Houve, contudo, uma vasta diferença entre as imagens públicas e níveis de aceitabilidade entre o Oriente e o Ocidente. Na China e na Índia ela não é uma ciência proibida, e as atitudes quanto ao sexo não são tão neuróticas e reprimidas quanto elas foram na Europa; portanto ela pode ser mais aberta e honesta sobre seu trabalho.

Recentemente ‘a sexualidade sagrada’ tem sido ‘descoberta’ pelo Ocidente. Esta é essencialmente a idéia de que a sexualidade é o mais alto sacramento, conferindo não apenas felicidade mas também a unidade com o Divino e o Universo. O sexo é como uma ponte entre o céu e a terra, trazendo a libertação de uma enorme energia criativa, além de revitalizar os amantes de um modo único – até mesmo abaixo de seu nível celular. Conhecer a sexualidade sagrada significa que os velhos textos alquímicos podem, no mínimo, serem completamente compreendidos no Ocidente, embora [como usual] sejam os pesquisadores franceses os mais voluntários em explorar este aspecto deles. Dos poucos escritores anglo-saxões que não tem se afastado tímidos do assunto, A. T. Mann e Jane Lyle dizem em seu livro de 1995 ‘Sacred Sexuality’ : ‘É difícil duvidar que os ensinamentos alquímicos escondessem segredos mágicos sexuais que estavam estreitamente aliados ao conhecimento tantrico. Por causa de sua complexidade e diversidade, a alquimia certamente ocultou outros mistérios em alegoria poética que somente a mente do iniciado seria capaz de penetrar.’ Um dos muitos escritores franceses sobre o assunto, André Nataf, diz: ‘o segredo que a maioria dos alquimistas buscava era um erótico – a alquimia era simplesmente a conquista de amor, uma liga do erótico e espiritual.’ O Tantrismo e o Taoismo tem, com certeza, a muito sido reconhecidos como condutos da tradição oriental da sexualidade sagrada, mas não tem havido uma tradição tão nítida e facilmente traçavel no Ocidente – a menos que ela fosse simplesmente conhecida como alquimia. O conjunto de imagens sexuais dos textos alquimicos  aparecem claramente demais para esta idade pós-freudiana:  a Lua diz a seu esposo, o Sol: “Oh Sol nada fazes sozinho se não estou presente com a minha força, como um galo é impotente sem uma galinha’. Os experimentos químicos tomam a forma de ‘casamentos’ ou ‘copulações’, exatamente como o tratado de Johann Valentin Andraea foi chamado O Casamento Quimico. De fato, isso pode simplesmente ser que tal conjunto de imagens seja o que disse ser: uma ‘copulação’ sendo exatamente isso, e não há segredo oculto no simbolismo alquímico. Contudo, as palavras foram cuidadosamente escolhidas para reunir um significado tanto sexual quanto químico.

Essencialmente os textos alquímicos contêm lições de magia sexual e química ao mesmo tempo. Talvez curiosamente, dado o óbvio tom sexual de grande parte do trabalho, a idéia histórica padrão da alquimia era a de que ela fosse meramente química, e que todo o simbolismo fosse meramente fantasioso. A razão para isto foi que até que os mistérios orientais fossem mais amplamente conhecidos, não havia uma estrutura na qual estabelecer a inteira idéia da alquimia sexual. Agora, contudo, não temos tal problema, e este conceito rapidamente está ganhando reconhecimento. Barbara G. Walker toma o significado subjacente da alquimia: Algum deste segredo é distribuido pela preponderância do simbolismo sexual na literatura alquímica. ‘A copulação de Atena e Hermes’ pode significar misturar enxofre e mercúrio em um destilador; ou pode ser o o trabalho ‘sexual’ do alquimista e sua amada-amante. As ilutrações nos livros alquímicos sugeriram o misticismo sexual mais frequentemento do que não. Mercúrio ou Hermes era o herói alquímico que fertilizava o Vaso Sagrado, uma esfera como um útero ou ovo, do quem era para nascer o filius philosophorum. Este vaso pode ter sido real, um frasco de laboratório ou destilador, mais frequentemente pareceu ser um símbolo místico. O Diadema Real de sua prole é dito aparecer em  menstro meretricis , ‘no sangue menstrual de uma prostituta’ que pode ter sido a Grande Prostituta, um epíteto antigo da Deusa. (Walker, contudo, perde o ponto, quando ela vai a sugerir que na busca do vas hermeticum – o Vaso de Hermes – eles o identificaram com o vas spirituale , o vaso espiritual ou útero, da Virgem Maria. Porque outra Maria é apresentada rotineiramente como carregando um vaso ou jarra? Mais uma vez encontramos a Virgem Maria como uma cobertura para o culto secreto de Madalena).

Hoje frequentemente falamos de ‘química sexual’ mas para o alquimista isto tinha um significado mais profundo do que a idéia da atração imediata. Na revista francesa esotérica L’Originel, Denis Labouré, a autoridade oculta, discute a noção de alquimia interna como oposta a metálica e é paralela ao Tantrismo, mas insiste que isto é parte de uma ‘tradicional hrança ocidental’. Ele diz; Se a alquima interna é bem conhecida no Taoismo e no Tantrismo, os contrangimentos históricos [isto é, a Igreja] tem obrigado os autores ocidentais  a fazer uso da maior prudência. Não obstante, certos textos fazem clara alusão a esta alquimia. Ele então continua para citar um tratado de Cesare della Riviera, datado de 1605, e acrescenta: Na Europa, os traços destes antigos rituais [sexuais] passam pelas escolas Gnósticas, as correntes alquímicas e cabalisticas da Idade Média e da Renascença, onde numerosos textos alquímicos podem ser lidos em dois níveis – até que os encontramos novamente nas organizações ocultas formadas e organizadas, principalmente na Alemanha, no século XVII. De fato, o uso de simbolismo metalúrgico remonta a própria iniciação da alquimia nos primeiros três séculos de Alexandria. As metáforas metalúrgicas para o sexo são encontradas nos encantamentos mágicos egípcios: os alquimistas simplesmente adotaram o conjunto de imagens. Este é o mesmo exemplo  de um encantamento egípcio de amor atribuido a Hermes Trismegistus, datando de ao menos o século I, que se centra na forja simbólica da espada: ‘Traga isto [a espada] para mim, temperada com o sangue de Osiris, e a coloque na mão de Isis – tudo que forja neste fogão de fogo – respire isso também ao coração e ao fígado, nos lombos e barriga de [nome de mulher]. Leve-a a casa de [nome de homem] e deixe que ela dê a mão dele o que está na mão dela, para a boca dele o que esta em sua boca, e ao bastão dele o que está em seu útero.’ A alquimia como praticada pela rede subterrânea medieval originalmente tomou forma no Egito nos séculos iniciais da era cristã.

Isis desempenhva um importante papel na alquimia daquele tempo. Em um tratado, intitulado ‘Isis the Prophetess to her son Horus’, Isis conta como ela obteve os segredos da alquimia de um ‘anjo e profeta’ por meio de suas manobras femininas. Ela o encorajou a construir sua luxúria por ela até que ele não mais pudesse se conter, mas recusou-se a se entregar a ele até que ele lhe desse seus segredos – uma clara referência a natureza sexual da iniciação alquímica. [Isto recorda a história do Papa Silvestre II e Meridiana discutida no Capítulo Quatro, onde ele recebeu seu conhecimento alquímico através de fazer sexo com esta arquetípica figura feminina]. Um outro tratado inicial, atribuido a uma mulher alquimista chamada Cleopatra, uma iniciada da escola fundada pela legendária Maria A Judia, contém conjuntos de imagens explicitas sexuais: “Veja a realização da arte ao se reunirem a noiva e o noivo e neles se tornarem um’. Isto é surpreendemente similar a um contemporaneo texto gnóstico onde se lê: “Quando o homem atinge o supremo momento e a semente é lançada, naquele momento a mulher recebe a força do homem e o homem recebe a força da mulher.’ É por causa disso que o mistério da união corporal é praticado em segredo de forma que a conjunção da natureza não deva ser degradada ao ser vista por uma multitude que desprezaria o trabalho. Os textos alquímicos iniciais são saturados de simbolismo que aponta para técnicas secretas de sexualidade sagrada que eram provavelmente derivadas de um equivalente egípcio do Tentrismo e do Taoismo. A existência de uma tal tradição é revelada no conhecido como “Papiro Erótico de Turim’ [onde agora está guardado] que a muito tem sido visto como pornografia egípcia. Contudo, mais uma vez novamente esta reação é um exemplo primário do mal entendimento academico ocidental: o que é considerado pornográfico era de fato um ritual religioso. Alguns dos mais antigos ritos sagrados egípcios eram sexuais. Por exemplo, uma observância diária religiosa da parte do faraó e de sua consorte que provavelmente o envolveu sendo masturbado por ela. Esta era a reencenação simbólica da criação do deus Ptah do universo, que ele realizou por meios similares. O conjunto de imagens religiosas noa palácios e templos inequivocamente representavam este ato, ainda que ele seja considerado tão ultrajante pelos arqueologistas e historiadores que só recentemente sua importãncia tem sido reconhecida – e até mesmo assim, o assunto é ainda discutido em tons hesitantes e apologéticos. Claramente o ocidente tem um longo caminho a percorrer antes que pegue a total aceitação dos egípcios quanto ao sexo como um sacramento.  Esta relutancia em aceitar a importância do sexo para os antigos não é um fenomeno. Para os eruditos dos séculos I e II o assunto não era um problema, mas como nota Jack Lindsay, pelo século VII, o simbolismo sexual nos trabalhos alquímicos esta sendo tratado de ‘um modo oculto elusivo’. Então desde mesmo os seus inícios, a alquimia ocidental tinha uma forte lado sexual. Como realmente acreditaremos que pela Idade Média esta tradição profunda e influente tenha totalmente morrido?

Algumas das seitas iniciais gnósticas – como a dos Carpocratianos de Alexandria – praticavam ritos sexuais. Não surpreendentemente eles foram condenados como humilhados e desprezíveis pelos Pais da Igreja, e na ausencia de registros menos hostis não temos meio de saber exatamente que forma eles tomavam. Por toda história da Cristandade, seitas ‘heréticas’ encorporando uma atitude mais libertária ao sexo se dissiminaram, mas invariavelmente foram condenadas e suprimidas. Por exemplo, os Irmão e Irmã do Espírito Livre, também conhecidos como Adamitas, eram ditos praticarem um ‘segredo sexual’ já nos séculos XIII e XIV. A filosofia dos Adamitas foi uma marcante influencia no tratado Schwester Katrei – que, como temos visto, inclui evidência de familiaridade com a apresentação de Maria Madalena nos Evangelhos Gnósticos – e a autora parece ter sido membro desta seita. Um outro grupo envolvido com o misticismo erótico – embora não conhecido como uma seita religiosa – eram os trovadores, estes famosos cantores do culto do amor no sudoeste da França, cujos equivalentes alemães eram os menestréis [minnesingers] – Minne sendo uma mulher idealizada ou deusa. O amor do cavaleiro por sua dama reflete uma devoção ao, e reverência por, o Principio Feminino. E o conteúdo dos poemas – uma mistura de ‘espiritualidade e carnalidade’ pode ser vista em uma série de pequeninas alusões veladas a sexualidade sagrada.

Até mesmo a academica Barbara Newman, ao resumir esta tradição, não pode escapar de usar uma linguagem aromática da sexualidade sagrada quando ela a descreve como: ‘um jogo erótico com uma surpreendente variedade de movimentos: pode-se ser a noiva de um deus ou o amante de uma deusa, ou se unir supremamente com o amado e se tornar um só divino.’ Muito da tradição do amor fidalgo envolve o entendimento de técnicas específicas, por exemplo, aquela de maithuna, a subtração deliberada do orgasmo para induzir sensações de benção e consciência mística. Como o poeta e autor britânico Peter Redgrove diz: É possivel traçar a inteira tradição do maithuna [a sexualidade visionária tântrica] na literatura do Romance. Os trovadores tomaram a rosa como seu símbolo, talvez porque seu nome [em francês como em inglês] seja um anagrama de Eros, o deus do amor erótico. Há também uma possibilidade que sua omnipresente ‘lady’ [dama] – ela que deve ser obedecida, se apenas de uma casta distância, era para significar um entendimento a nível esoterico como algo mais, como o nome alemão de minnesinger sugere. Esta dama arquetípica não pode ter sido a Virgem Maria, porque embora a rosa fosse amplamente pensada como símbolo dela na Idade Média, o culto dela não precisava se ocultar em códigos. Além disso, a flor mais descritiva das qualidades dela não é uma rosa erótica, mas o mais evocativo Lírio da Páscoa: belo mas austero, sem pistas de carnalidade.

Então quem mais podiam as músicas dos trovadores celebrar? Quem mais era uma deusa muito amada dos grupos heréticos daquele tempo? Quem mais senão Maria Madalena? As grandes janelas em rosas das catedrais góticas sempre se viram para o oeste – tradicionalmente a direção sagrada das deidades femininas e nunca estão longe de um templo de Madona Negra [Minha Senhora]. E, como temos visto, estas estátuas enigmáticas eram deusas pagãs com outras vestes, uma incorporação da velha celebração da sexualidade feminina. Fora a rosa sagrada, as catedrais goticas também continham outro conjunto de imagens pagãs – por exemplo, o simbolismo da teia de aranha/labirinto de Chartres e de outras catedrais é uma referência direta a Grande Deusa em sua manifestação como tecelã e senhora do destino do homem, mas muitas outra igrejas também contém uma hoste de imagens femininas. Algumas delas são tão gráficas que, uma vez elas sejam entendidas, os cristãos não podem se sentir os mesmos sobre suas igrejas novamente. Por exemplo, os grandes portais góticos, pelos quais gerações de cristãos tem passado tão inocentemente, são realmente representações da parte mais íntima da deusa. Dirigindo o venerador no interior escuro e como um útero da Mãe Igreja, eles eram entalhados com sulcos centralizados e mais do que frequentemente do que sempre carregam um tipo de botão como um clitoris no topo do arco. Uma vez lá dentro, aquele que vai a igreja [o frequentador] para na Pia da água benta, que frequentemente é representada como uma grande concha, simbólo da natividade da deusa, como Boticelli, alegado Grão Mestre do Priorado de Sião depois de Leonardo da Vinci, tão surpreentemente apressentou isso em seu ‘Nascimento de Venus’. [e a concha do cauri [um tipo de molusco] uma vez emblema  dos romeiros cristãos, é  reconhecida como sendo um símbolo clássico para a vulva].

Todos estes símbolos eram empregados deliberadamente pelos aderentes do Princípio Feminino e até mesmo embora eles se comuniquem em um nível subliminar, eles ainda tem um efeito desestabilizador no subconsciente. Reunidos à música ascendente, a luz de velas e a essencia de incenso, ninguém imagina o frequentador da igreja seja uma vez inspirado em tal fervor! Para os iniciados em mistérios, o Feminino era um conceito que era carnal, místico e religioso ao mesmo tempo. Sua energia e poder vinham de sua sexualidade e sua sabedoria – algumas vezes conhecida como a ‘sabedoria da prostituta’, que veio do conhecimento da rosa, Eros. Como se dissesse ‘conhecimento é poder’, e os segredos desta natureza conferisseem um poder como nenhum outro, então eles ofereciam uma ameaça única à Igreja de Roma, e de fato a todos os matizes de opinião cristã. O sexo era, e em muitos casos ainda é, considerado apenas aceitável entre aqueles cujas uniões eram provavelmente resultar em procriação. Por esta razão, não há um conceito cristão de sexo por alegria apenas, sem falar da idéia, no Tantrismo ou na alquimia, que possa trazer iluminação espiritual. [e conquanto a Igreja católica notoriamente proiba a contracepção, outros grupos cristãos vão ainda mais longe: por exemplo, os Mormons proibem o sexo depois da menopausa]. O que todas estas regras inibitórias realmente se referem, contudo, é o controle sobre a mulher. Elas devem aprender a ver o sexo com apreensão, seja por causa disso ser sem alegria, dever marital e nada mais, ou porque isto leve inevitavelmente a dor do parto. Isto era central para o modo no qual as mulheres eram vistas pela Igreja e pelos homens em geral através dos séculos; se as mulheres tivesem que ter o medo do nascimento da criança removido delas, o caos indubitavelmente viria.

Um dos maiores motivos por trás das atrocidades da caça as bruxas era o ódio e o medo das parteiras, cujo conhecimento em aliviar a dor do nascimento era considerado uma ameaça a civilização decente: Kramer and Sprenger, autores do infame Malleus Maleficarum  – o livro de mão dos caçadores de feiticeiras europeus – particularmente escolheram as parteiras como merecedoras do pior tratamento possível disponível. O terror da sexualidade da mulher terminou com centenas de milhares de mortos, a maioria deles mulheres, durante o curso de três séculos dos julgamentos das feiticeiras.  Desde os dias misóginos dos Pais iniciais da Igreja, quando era até mesmo duvidado que as mulheres tivessem almas, tudo foi feito para faze-las sentirem-se profundamente inferiores em todos os níveis. Não apenas lhes era dito que elas eram naturalmente pecadoras, mas que elas também eram as maiores – e algumas vezes únicas – causa dos pecados do homem também. Ao sentir a luxúria de honesta a boa, os homens eram ensinados que eles estavam apenas reagindo aos truques diabólicos da mulher, que os enfeitiçava com atos que de outro modo eles não teriam considerado. Uma expressão extrema desta atitude pode ser encontrada na idéia medieval da Igreja que a mulher que era estuprada era responsável não apenas por provocar os atos contra ela, mas também  pela perda da alma do estuprador, pelo que ele teria que fazer reparação no Dia do Julgamento. Como escreve  R.E.L. Masters: Quase a inteira culpa para o hediondo pesadelo que foi a mania de feitiçaria e a maior parte da culpa de envenenar a vida sexual do ocidente, repousa certamente na Igreja Católico Romana. A Inquisição, que havia sido criada especialmente para lidar com os cátaros, assumiu facilmente seu novo papel como caçadora de bruxas, torturadora e assassina, embora também os protestantes fossem se unir a isso com gosto. Significativamente, o primeiro destes julgamentos aconteceu em Toulouse, a sede da Inquisição anti-cátara. Foi isto meramente a respeito de algum tipo de catarismo residual que levvou a este julgamento crucial ou foi um sintoma do medo que as mulheres languedocianas inspiravam nos Inquisidores obcecados por sexo? Subjacente ao ódio e medo das mulheres estava o conhecimento que elas tenham uma capacidade única de apreciar o sexo.

Os homens medievais podem não ter tido o benefício da educação anatomica de hoje, mas a investigação pessoal não pode ter falhado em revelar a existência daquele curioso órgão ameaçador, o clitoris. Aquela pequenina protuberância, tão sabiamente – se subliminarmente – celebrada como um botão de rosa no topo do arco gótico, é o único órgão humano cuja função única é a de dar prazer. As implicações disso são, e sempre tem sido, enormes, e estão no coração de toda supressão patriarcal por um lado, e todos os ritos sexuais tantricos e místicos pelo outro. O clitoris, que até mesmo agora dificilmente é considerado um assunto apropriado para discussão, revela o que a mulher era para singnificar ser sexualmente extasiada, talvez diferente do homem, cujo próprio equipamento sexual se duplica no propósito urinário e de procriação. Ainda que a tradição misógina do patriarcado judaico-cristão tenha sido tão bem sucedida que não foi senão no século XX que a noção da mulher desfrutar da própria sexualidade tenha se tornado aceitável no ocidente, e até mesmo agora este não é o caso no que diga respeito a Igreja. Conquanto seja verdade que a desigualdade sexual e o pudor não sejam o desenvolvimento exclusivo das três grandes religiões patriarcais [cristianismo, judaismo e islamismo], tem-se apenas que olhar os costumes de queima das esposas da Índia, não obstante a idéia de sexo seja inerentemente suja e vergonhosa na tradição ocidental. E seja onde for que esta atitude prevaleça sempre haverá um tipo de desejo reprimido e culpa que inevitavelmente dará aumento aos crimes contra a mulher, talvez até mesmo manias de bruxas. O background puritano do ocidente e seu ódio e medo do sexo tem trazido um terrível legado ao fim do milênio sob a forma do espancamento de esposas, pedofilia e estupro. Para sempre o sexo não merece confiança, o dar a luz e os filhos também são vistos como intrinsecamente sujos, e os mais jovens cairão presa da violência exatamente como as mães deles.

O Yahweh de certo modo contraditório e irascível do Velho Testamento criou Eva – e claramente viveu a lamentar isso. Quase tão logo ela ‘nasceu’ ela revelou a capacidade de pensar por ela própria que estava bem além daquela de Adão. Eva e a ‘serpente’ fizeram uma equipe poderosa: isto dificilmente seja surpreendente porque serpentes eram antigos símbolos de Sophia, representando a sabedoria, não a perversidade. Mas Deus estava agradado que a mulher que ele criou mostrasse iniciativa e autonomia ao comer da árvore do Conhecimento, querendo aprender? Depois de revelar uma curiosa falta de previsão sobre as capacidades de Eva, especialmente para um onipotente e onisciente criador de universos, Deus a condena a uma vida de sofrimento, iniciando-se, deve-se notar, com a maldição de costurar [ porque ela e o indefeso Adão tiveram que fazer roupas de folhas de figueira para cobrir sua nudez]. Adão e Eva foram então apresentados a idéia da vergoha de seus corpos, e com certeza de sua sexualidade. Bizarramente, é dado a alguém entender que foi o próprio Deus que ficou horrorizado com a visão da carne nua que ele próprio criou. Este mito da mente simples tem fornecido uma retrospectiva em justificação para a degradação das mulheres, e desencorajou o alívio das agonias ginecologicas e do parto. Foi negado a mulher a voz por milhares de anos  e tem sido menosprezado, degradado e até mesmo demonizado o ato sexual, que deve ser alegre e mágico. Ele ter substituido por vergonha e culpa ao amor e ao extase, e tem inculcado um medo neurótico de um deus masculino que era aparentemente tão cheio de auto-ódio que ele desprezava até mesmo sua melhor criação – a humanidade. Porqe esta história venenosa tem se tornado o conceito do pecado original, que condena até mesmo recém nascidos inocentes ao purgatório; e tem, até recentemente, envolvido o assombroso milagre do nascimento em um pálio de embaraço e superstição, e tem removido o poder único da femea – que é, com certeza, o porque ele foi criado em primeiro lugar.

Embora ainda haja uma quantidade surpreendente de medo e de ignorância sobre o sexo em nossa cultura, os assuntos estão muito melhores agora do que estavam até mesmo a dez anos atrás. Vários maiores livros tem quebrado o novo solo – ou também o velho solo renovado. Entre eles estão ‘The Art of Sexual Ecstasy’ de Margo Anand (1990) e ‘Sacred Sexuality’ de A.T. Mann e Jane Lyle (1995), ambos os quais celebram o sexo como um meio de iluminação espiritual e transformação. Como temos visto, outras culturas não sofrem do mesmo problema [a menos que contaminadas pelo pensamento ocidental]. E em certas culturas o sexo era elevado até mesmo além de uma arte; era considerado ser um sacramento – algo que capacita os participantes de se tornarem um com o Divino. Esta é a razão de ser do Tantrismo, o sistema místico da união ccom os deuses por meio de técnicas sexuais tais como askarezza ou obter a benção sem orgasmo. O Tantrismo é a ‘arte marcial’ da prática sexual, envolvendo um longo treinamento atonitamente disciplinado de homens e mulheres, que são considerados iguais. A arte do Tantrismo, contudo, não é exclusiva do exotico mundo do Oriente. Hoje pode-se encontrar escolas de Tantra se espalhando em Londres, Paris e New York, embora o extremo rigor da arte esteja fora de alcance de muitos; pode, por exemplo, levar meses apenas para aprender  a respirar da maneira certa. Ainda que o uso do sexo como um sacramento não seja novo para o Ocidente. Temos visto como eram sexuais as raízes da alquimia, e como o culto dos trovadores à rosa pode ser entendido como uma veneração de Eros. Temos notado como os construtores de grandes catedrais, tais como Chartres, investiram tão pesadamente no simbolo da rosa vermelha, e criaram templos para a Madona Negra com suas potentes associações pagãs. Também podemos ver o Gral como uma taça sendo um símbolo feminino, e – em um movimento excepcionalmente claro – na história de Tristão e Isolda, o grande heroi do Gral, Tristão, muda seu nome para Tantris. De fato, o novelista Lindsay Clarke descreve a poesia de amor dos trovadores como ‘escritos tantricos do ocidente’. Nas história do Gral a deterioração da terra é devida a perda da potência sexual do rei, frequentemente simbolizada por ele ‘sendo ferido na coxa’. No Parzival de Wolfram isto é mais explícito: a ferida é nos genitais. Isto tem sido tomado como uma resposta a repressão da Igreja da sexualidade natural. A resultante estagnação espiritual pode apenas ser levantada pela busca do Gral, que, como temos visto, é sempre especificamente ligado as mulheres.

Em uma pintura italiana do século XV dos cavaleiros do Gral adorando Venus não há espaço para a dúvida quanto a natureza da busca. O que é ressaltado nas histórias do Gral e na tradição do amor fidalgo dos trovadores é a elevação espiritual de, e respeito pelas, mulheres. É, sugerimos, significativo que ambos os fios desta tradição tenham ao menos uma de suas raízes no sudoeste da França. A maioria dos pesquisadores moderno acredita que o Tantrismo veio para a Europa por meio dos contactos com a seita mística islâmica dos Sufis, que incorporou idéias da sagrada sexualidade em suas crenças e práticas. É, de fato, inegavel que há estreitos paralelos entre as formas de linguagem usadas para expressar estas idéias entre os trovadores e os Sufis. Mas o Sufismo Tantrico se enraizou na Provença e no Languedoc porque já havia uma tradição similar nesta área? Nós já temos visto como o Languedoc tinha uma tradição de manter a igualdade das mulheres. E quando a mania da feitiçaria primeiramente lançou sua sombra negra em Toulouse, o que ela realmente esperava erradicar?

Mais uma vez nos encontramos diante da incorporação daquele culto de amor – Maria Madalena. Uma outra mulher que teve em apreciação do potencial místico do sexo era a até recentemente pouco conhecida St Hildegard de Bingen (1098-1179). Como escrevem Mann e Lyle : Uma grande visionária, Hilfegard escreveu sobre a figura feminina, uma inconfundível figura da deusa, que veio a ela durante uma profunda contemplação: “Então e pareceu ver uma menina de ultrapassante beleza radiante, com tal brilho ofuscante se irradiando de sua face que eu não a pude ver completamente. Ela usava uma veste mais branca do que a neve, mais brilhante do que as estrelas, os sapatos dela eram de ouro puro. Em sua mão direita ela levava o sol e a lua, e os acariciava amorosamente. Em seu seio ela tinha uma tablete de mármore no que apareciam nas sombras da safira a imagem de um homem.  E toda criação chamava a esta menina de senhora soberana. A menina começou a falar à imagem em seu seio: “Eu estava com você no início, no amanhecer de tudo que é santo, eu o mantive no útero antes do início do dia. E ouvi uma voz dizendo a mim – “A menina que você contempla é amor, ela tem sua morada na eternidade’.

Hildegard, como todos os amantes fidalgos medievais, acreditava que o homem e a mulher pudessem alcançar a divindade pelo amor um do outro tanto que “a inteira terra deve como um único jardim de amor”. E este amor era para ser inteiro, uma completa expressão de união envolvendo o corpo e a alma, porque, como ela escreveu: é o próprio poder da eternidade que tem criado a união física e decretado que dois seres humanos devam se tornar fisicamente um’.  Hildegard era uma mulher notável: imensamente culta, especialmente em assuntos médicos. Seu grau de educação não pode ser explicado – ela própria o atribuiu a suas visões. Talvez este fosse uma referência velada a alguma escola de mistério ou similar repositório de conhecimento. Significativamente, muitos de seus escritos mostram familiaridade com a filosofia hermética. Esta aclamada abadessa também escreveu descrições detalhadas e acuradas do orgasmo feminino, das contrações uterinas e tudo. Parece que o conhecimento dela era mais do que teórico, o que é, como afirmado, não usual para uma santa. Sejam quais forem os segredos da informação interna dela, ela foi uma grande influência sobre São Bernardo de Clairvaux, patrono  e inspiração dos Templários. Estes monges guerreiros podem parecer ser uma maior objeção a idéia da continuada tradição subterrânea de um herético culto de amor. Ostensivamente celibatário [embora haja rumores persistentes de homossexualidade disseminada entre os templários] não parece improvável que eles fossem, ao menos, práticos expoentes de uma filosofia que celebrava a sexualidade feminina. Mas há claras pistas de um tal link nos trabalhos de um de seus mais devotados apoiadores – o grande poeta florentino,  Dante Alighieri (1265-1321). Seus escritos a muito tem sido reconhecidos como contendo temas herméticos e gnósticos – por exemplo, um século atrás Éliphas Lévi descreveu o Inferno de Dante como sendo Joanita e gnóstico.

O poeta foi diretamente inspirado pelos trovadores do Sul da França e era membro de uma sociedade de poetas que se chamava ‘fidele d’amore’ – os fiéis seguidores do amor – Alto visto como um círculo estético, recentes eruditos tem começado a descobrir motivações mais secretas e esotéricas atrás deles. O respeitado academico William Anderson, em seu estudo ‘Dante the Maker’ , decreve os ‘fidele d’amore’ como uma ‘estrita fraternidade devotada a alcançar a harmonia entre o lado sexual e emocional de sua natureza e suas aspirações místics e intelectuais’. Ele se baseia nas pesquisa de eruditos franceses e italianos que tem concluido que ‘as damas que todos estes poetas veneravam não eram mulheres de carne e osso mas, ao invés, eram todas máscaras de um ideal feminino, Sapiência ou Sabedoria Sagrada’ e  que as damas de todos estes poetas era uma alegoria da Divina Sabedoria que eles também buscavam’. Anderson – juntamente com seu companheiro erudito Henry Corbin – vê o caminho espiritual de Dante como buscando iluminação por meio do misticismo sexual, como o fizeram os trovadores. Henry Corbin diz: Os fidele d’amore , companheiros de Dante, professam uma religião secreta – a união que reune o possível intelecto de uma alma humana com a Inteligência Ativa –  o Anjo do Conhecimento, ou Sabedoria-Sophia; é visualizado e vivenciado como uma união de amor. Mais notável, contudo é a ligação que Dante e seus companheiros fornecem com os Cavaleiros Templários. Ele foi um dos mais entusiastas apoiadores deles, até mesmo depois de sua supressão, quando era inadmissível ser ligado a eles. Em sua Divina Comédia ele chama Felipe o Belo de ‘o novo Pilatos’ por suas ações contra os cavaleiros. O próprio Dante é pensado ter sido um membro de uma terciária Ordem Templária chamada La Fede Santa. As ligações são sugestivas demais para serem descartadas – talvez Dante não fosse a exceção, mas a regra, dos templários que estavam envolvidos em um culto de amor.

Anderson diz: Diante disso, os Templários, como uma ordem celibatária  militar – pareceriam o canal mais improvável para temas devotados a louvas as belas senhoras. Por outro lado, os Templários eram empapados da cultura do Oriente e alguns podem muito bem terem entrado em contato com as escolas Sufis. Ele continua para resumir as conclusões de Henry Corbin: A ligação entre a Sapientia [Sabedoria] e o conjunto de imagens do Templo de Salomão reunidos com suas associações com o Grande Círculo de Romaria leva a suposição de uma ligação entre os fidele d’amore e os Cavaleiros Templários, até mesmo na extensão de ve-los como uma fraternidade leiga da ordem. Junto com a revolucionária evidência que tem sido descoberta por pesquisadores tais como Niven Sinclair, Charles Bywaters e Nicole Dawe, isto sugere fortemente que ao menos a ordem interna dos cavaleiros fosse de fato parte de uma secreta tradição que venerava o Princípio Feminino. Similarmente, este disputado ramo dos Templários – o Priorado de Sião – tem sempre tido membros mulheres, e a lista de seus Grão Mestres inclui quatro mulheres, o que é particularmente estranho por causa que seus nomes aparecem no período medieval, quando alguém teria esperado que o sexismo fosse o mais prevalente. Como Grão Mestres estas mulheres teriam mantido um real poder – e sem papel sem dúvida exigia padrões particularmente altos de integridade e habilidade de lidar com muitos níveis de interesses conflitantes e egos. Conquanto pareça estranho que as mulheres teham sido capazes de manter o elmo de uma tal alegadamente poderosa organização a um um tempo quando a alfabetização feminina não era comum, parece menos peculiar no contexto de uma tradição secreta de veneradores da deusa.

Servindo de base a muitas das mais recentes escolas de mistério estavam os rosacrucianos, cujo interesse no misticismo sexual está presente em seu próprio nome: a cruz fálica unida a feminina rosa. Este símbolo de união sexual é reminiscente da antiga cruz em volta do Egito [ÁNKH]_ a parte ereta sendo o falo e a volta arredondada sendo a vulva. Os Rosacrucianos com sua mistura de sabedoria alquímica e gnóstica, completamente entendiam os principios subjacentes, como explicou o alquimista rosacruciano do século XVII Thomas Vaughan: ‘a própria vida nada é do que a união de princípios masculinos e femininos, e aquele que conhece perfeitamente este segredo sabe como deve fazer uso de uma esposa’. [Lembre-se da enorme rosa aos pés da cruz no mural de Cocteau em Londres – claramente isto é uma alusão rosacruciana. E significativamente, a imagem da rosa-cruz é encontrada na tumba templária de Sir William St Clair]. Até mesmo se há, como temos visto, evidência para os templários, os alquimistas e o Priorado serem devotos de um culto de amor, parece haver pouca possibilidade que a resolutamente linhagem masculina de filósofos herméticos tenham qualquer ligação com uma organização feminina ou talvez feminista. Ainda aqui também sua imagem superficial é enganadora. O próprio Leonardo é amplamente considerado ter sido um  misógino homossexual, e é verdade que ele evidenciou pouco amor em relação as mulheres, até onde sabemos. A mãe dele, a misteriosa Catarina, parece te-lo abandonado ao seu destino ainda na infância, embora ela possa ter ido viver seus dias com ele muitos anos depois – certamente Leonardo tinha uma governanta a quem se referia ironicamente como ‘la Caterina’, e cujo funeral foi pago por ele. Ele pode ter sido um homossexual, mas isto nunca tem ficado no caminho da adoração dos homens ao Princípio Feminino.- frequentemente é bem o inverso.  Os ícones gays são claramente mulheres fortes e coloridas que tem tido vidas traumáticas – exatamente como Maria Madalena e a própria Isis. Além disso, Leonardo é conhecido ter sido muito íntimo de Isabella d’Este, uma mulher educada e inteligente. Embora fosse levar a especulação longe demais sugerir que ela fosse um membro do Priorado ou de alguma outra escola subterrânea feminista, isto pode implicar ao menos que Leonardo aprovava a cultura feminina.

O hermeticista florentino Pico della Mirandola devotou muitas palavras ao tema do poder feminino.  Seu livro La Strega (A Bruxa) relata a história de um culto italiano baseado em orgias sexuais e presidido por uma deusa. Mais notavelmente, ele igualou esta deusa a ‘Mãe de Deus’. Até mesmo o notavelmente msculino Giordano Bruno esteve pesadamente envolvido com o feminino. Durante sua estada na Inglaterra em 1583-85 ele publicou vários maiores trabalhos que ressaltavam a filosofia hermética que pode ser encontrada em qualquer livro didático de história. Contudo, o que é rotineiramente ignorado é o fato de que ele também tinha publicado um volume de poesia apaixonada chamada ‘De gli eroici furori’ (Sobre o Frenesi Heróico) que era dedicado a seu amigo e patrono Sir Philip Sydney. Este não era um hino a uma passageira paixão cega, ou até mesmo uma mera olhada na até aqui desconhecida vida secreta de um galanteador. Embora seja reconhecido que houvesse um nível mais profundo em sua poesia, a maioria das autoridades acredita que isto seja meramente a expressão alegórica da experiência hermética. De fato, o amor expressado nestes trabalhos não era alegórico, mas literal. O furor do título é, para citar Frances Yates: ‘Uma experiência que faz a alma – divina e heróica – e pode ser similar ao transe do furor do amor apaixonado’. Em outras palavras, o que estamos olhando mais uma vez novamente é um conhecimwnto dos poderes transmutacionais do sexo. Nestes poemas Bruno estava se referindo a um estado alterado de consciência no qual o hermeticista entende sua divindade potencial. Isto é expressado como o êxtase da união completa com sua outra metade. Como diz Dame Frances: ‘Penso que o que a experiência religiosa do ‘Eroici furori’ realmente visa é a gnose hermética; esta é a mística poesia de amor de um homem Mago, que foi criado divino, com poderes divinos, e está em processo de novamente se tornar divino, com poderes divinos’. Ainda que se olhando a tradição que Bruno estava seguindo, é claro que tais sentimentos não eram meramente metafóricos.  Esta ênfase na iluminação através do sexo era parte e parcela da filosofia e prática herméticas. O conceito da sexualidade sagrada concorda totalmente com as palavras de  Hermes Trismegistus em ‘Corpus Hermeticum’ : ‘Se você odeia seu corpo, meu filho, você não pode se amar’. Hermeticistas tais como Marsilio Ficino identificaram quatro tipos de estados alterados nos quais a alma se torna reunida ao Divino, cada um dos quais era associado a uma figura mitológica: a inspiração poética sob as Musas, o entusiasmo religioso sob Dionisio, o transe profético sob Apolo e todas as formas de intenso amor sob Venus. Esta última é o climax de todos os sentidos porque isto é quando a alma realmente alcança a reunião com o divino.

Significamente os historiadores sempre tem tomado os três primeiros destes estados alterado literalmente, mas tem escolhido ler o último, o rito de Venus, como uma mera alegoria ou algum tipo de amor impessoal ou espiritual.  Mas se este fosse o caso os hermeticistas dificilmente o teriam categorizado sob Venus! O aparente pudor dos historiadores sobre este ponto é devido a ignorância disseminada da tradição subterrânea. Isto é ainda um outro exemplo de conceitos que uma vez foram pensados serem obscuros e se tornaram claros como o cristal uma vez a idéia da sexualidade sagrada seja levada em consideração. O grande mago hermético Henry Cornelius Agrippa (1486-1535), faz o assunto bem explícito. Ele escreveu em seu clássico trabalho ‘De occulta philosophia’ : ‘Quanto ao quarto furor, vindo de Venus, ele volta e transmuta o espírito do homem em um deus pelo ardor do amor, e o torna inteiramente como Deus, como a verdadeira imagem de Deus’. Note o uso do termo alquímico ‘transmutar’ que gralmente é tomado se referir a preocupação futil e tola em tentar transformar o chumbo em ouro. Aqui, contudo, é bem um outro tipo de bem precioso que é buscado. Agrippa tamvém ressaltou que a união sexual é ‘cheia de doação mágica’. O lugar de Agrippa nesta tradição herética não deve ser subestimado. Seu tratado ‘De nobilitate et praecellentia foeminei sexus’ (Sobre a Nobreza e Superioridade do Sexo Feminino) que foi publicado em 1529 mas baseado em sua dissertação de vinte anos antes, é muito mais do que até mesmo um apelo notavelmente moderno aos direitos das mulheres. Este trabalho surpreendente de Agrippa tem sido grandemente negligenciado até muito recentemente, por uma razão tristemente previsível. Porque ele advogava a igualdade sexual – até o mesmo argumento quanto a ordenação de mulheres – tem sido tomado como uma sátira! É um amargo reflexo de nossa cultura que um tal trabalho apaixonado a favor das mulheres pudesse ser descartado como uma piada. Mas parece claro que Agrippa não estava brincando. Ele não estava meramente argumentando o caso para o que chamariamos de direitos da mulher – para o status político da mulher ser redefinido – mas ele estava tentando reunir o princípio por trás de uma tal campanha. Como a Professora Barbara Newman da Universidade Northwest, Pennsylvania, diz em seu estudo deste tratado: ‘até mesmo um leitor simpático pode estar incerto se Agrippa estava pedindo por uma oportunidade igual cega ao sexo na Igreja ou uma forma de veneração da mulher.’ Newman e outros eruditos tem traçado a inspiração de Agrippa a várias raízes, incluindo a cabala, alquimia, hermeticismo, neo-platonismo e a radição dos trovadores.

E mais uma vez, a busca por Sophia é citada como sendo a maior influência. Seria um engano pensar que Agrippa estivesse mreamente argumentando pelo respeito e igualdade das mulheres. Ele foi muito mais longe. Seu ponto era que as mulheres devessem ser literalmente veneradas: Ninguém que não seja completamente cego pode deixar de ver  que Deus reuniu toda beleza de que o mundo inteiro é capaz em uma mulher, de forma que toda criação pode ser ofuscada por ela, e ama-la e venera-la sob vários nomes. [e é importante que Agrippa, como os alquimistas, acreditasse que o sangue menstrual tivesse uma aplicação particularmente prática e mística. Eles acreditavam que ele contivesse o elixir único ou quimico e que ao ingeri-lo de uma certa maneira, usando técnicas antigas, ele garantiria o rejuvenecimento físico e a sabedoria. De fato, nada pode estar mais longe da atitude da Igreja]. Agrippa não era meramente um teórico, e também não era covarde. Não apenas ele se casou três vezes, mas ele também teve sucesso em fazer o impossível: ele defendeu uma mulher acusada de feitiçaria e venceu. De fato Vaughan, Bruno e Agrippa eram todos homens, e é tentador suspeitar que eles desfrutassem desta benção sexual simplesmente em próprio benefício deles, até mesmo se fosse profundamente espiritual. Contudo, conquanto seja verdade dizer que qualquer mulher que ousassse escrever sobre tais assuntos teria sido presa por feitiçaria, é também o caso que o rito e Venus foi apenas considerado ter ‘funcionado’ se ambos parceiros atingissem as mesmas metas.

A idéia era uma de opostos e iguais trabalhando na direção da mesma meta e recebendo a mesma iluminação como parceiros, exatamente como na idéia chinesa do todo sendo composto de Yin e Yang. Giordano Bruno não foi o único a manter suas crenças para ele mesmo. Em seus últimos trabalhos publicados ele empregou um conjunto de imagens ainda mais sexual, mas até mesmo assim menosprezado pelos historiadores. Se isto é mencionado nos trabalhos padrão é explicado como sendo alegórico. Não somente isso, mas até mesmo outras referências explícitas e associadas em seu trabalho são também rotineiramente mal compreendidas. Quando Bruno escreveu sobre uma ‘deusa’ como uma dama anônima para quem foi escrita sua poesia de amor, isto tem sido compreendido como sendo um epíteto apaixonado. E mais tarde, quando ele deu sua fala de despedida a Alemanha, ele disse claramente que a deusa Minerva era Sophia [Sabedoria] e isto também foi tomado como outra alegoria. Mas suas palavras reais era inconfundíveis de um venerador da deusa:  ‘Ela que tenho amado e buscado em minha juventude, e desejado para minha esposa e ter se tornado um amante de sua forma e outra que ele possa ser enviada para habitar comigo e trabalhar comigo que eu possa saber no que faltei.’

Mais compelente, contudo, é o fato que em sua dedicação do Eroici furori ele especificamente liga isso aos Canticos de Salomão. Mais uma vez, nos encontramos diante do culto da Madona Negra, e por associação, aquele de Maria Madalena. [Com certeza, que outros grandes escritores herméticos/rosacrucianos da época, como o que era conhecido de  William Shakespeare, dedicou seus sonetos a misteriosa Dama Escura, a identidade da qual tem fornecido a gerações de críticos um infindável combustivel para o debate. Conquanto bem possa ter sido o caso de tratar-se de uma mulher real, ou até mesmo um homem – é também provável que ele represente uma Madona Negra, a deusa escura. De fato, os herméticos simbolizavam um particular estado alterado – um tipo de transe especializado – como uma dama de escura compleixão. Os robustos ataques de Bruno às crenças e preconceitos cristãos o levaram a uma morte terrível, e agiram como um aviso para outras almas que pudessem ser bravas. O holocausto atroz dos julgamentos das bruxas, como temos visto, também reforçaram a necessidade de circunspecção entre os ‘heréticos’ [e deve ser lembrado que embora as fogueiras a muito tivessem acabado, a última acusação e julgamento de uma mulher sob o Ato de Bruxaria no Reino Unido aconteceu em 1944]. Mas o fazer amor transcedental, como um segredo específico do subterrâneo oculto, não era confinado a indivíduos e nem morreu com eles. Há alguma dificuldade em traçar uma tradição direta da sexualidade sagrada na Europa por causa do antagonismo da Igreja  a ele e a consequente necessidade de segredo entre os guardiões deste conhecimento. Contudo, nos séculos XVII e XVIII, a Alemanha parece ter se tornado o lar destas tradições embora pouca pesquisa tenha sido feita sobre isso até recentemente. Segundo modernos pesquisadores franceses, tais como Denis Labouré, a prática da ‘alquimia interna’ se tornou concentrada na Alemanha em várias sociedades ocultas. Outra pesquisa recente, incluindo a do Dr Stephen E. Flowers, tem confirmado que o ocultismo alemão deste período era essencialmente sexual em sua natureza.

Um problema para os investigadores desta área é que a evidência para os cultos de sexo tende a vir da Igreja, ou ao menos daqueles que viam o Satanismo em tudo que se ligava ao sexo. Quando tais movimentos se encontram perseguidos, seus registros são então destruídos ou censurados e tudo que é deixado é uma versão de eventos como contados por seus inimigos. Isto aconteceu aos cátaros e aos templários, e de fato alcançou seu zênite aterrorizante nos julgamentos das bruxas. Vemos este processo em vigor onde quer que seja que as idéias sobre a sexualidade sagrada sejam expressadas, como aconteceu novamente na França no século XIX. Desta vez, vários movimentos interligados emergiram, embora eles florescessem dentro da Igreja Católica e se centrassem em pessoas que se consideravam bons católicos, incluiram conceitos da sexualidade sagrada e da elevação do Feminino [geralmente na forma externa da Virgem Maria] e eram associados a uma sombria sociedade ‘Joanita’ desta vez especificamente relacionada a São João Batista. Este é uma série enormemente complexa de eventos para desenrolar, grandemente por causa, fora as idéias religiosas não ortodoxas e conceitos de sexualidade que levaram o movimento a ser rotulado de imoral, eles também eram ligados a causas políticas que atraiam a hostilidade das autoridades. Portanto quase todas as narrativas que temos deles vem de seus inimigos. Os motivos políticos dests grupos estão fora do escopo da atual investigação, embora fossem muito importantes para as pessoas envolvidas naquele tempo.

É suficiente dizer que eles sustentavam as afirmações de um Charles Guillaume Naündorff (1785-1845), que se gabava de ser Luis XVII [que era pensado ter sido morto na infância com seu pai, Luis XVI, durante a Revolução Francesa]. Um desses grupos era a Igreja de Carmelo, também conhecida como Obra da Misericórdia [ Oeuvre de la Misericorde], que foi criada no início dos anos de 1840 por um Eugène Vintras (1807-1875). Um pregador carismático e compelente, Vintras atraiu a nata da alta sociedade para seu movimento, que não obstante logo se tornou o foco da acusação de diabolismo. Certamente seus rituais tinham algo de conteúdo  sexual nos quais, [nas palavras de Ean Begg] ‘o maior sacramento era o ato sexual’. Para tornar as coisas piores no que digam respeito às autoridades, Vintras e Naündroff endossavam um ao outro. Então, inevitavelmente Vintras se encontrou no que era claramente um julgamento de exibição. Acusado de fraude, embora até mesmo as alegadas vítimas negassem que qualquer crime tenha acontecido, ele foi condenado a cinco anos de prisão em 1842. Em sua libertação ele foi para Londres e foi desta vez que um dos membros anteriores de sua Igreja, um sacerdote chamado Gozzoli, escreveu um panfleto acusando-o de orgias sexuais de todos os tipos. Conquanto isto pareça ter sido um produto de uma imaginação super acalorada, parte disso foi baseada em fato. Então em 1848 a seita foi declarada herética pelo Papa e todos os seus membros foram excomungados. Como resultado ela se tornou independente e proclamou que sacerdotes tanto machos quanto femeas – como os cátaros, embora  se o culto de Vintras seguia os altos princípios deles não esteja claro. Por trás de Vintras e Naündorff estava uma sombria seita chamada ‘Os Salvadores de Luis XVII’ ou Joanitas. Este grupo pode ser rastreado aos anos de 1770,  e parece ter tido alguma parte na rebelião civil que precedeu a Revolução. Diferente dos Joanitas Maçonicos discutidos anteriormente, não tinha dúvida que o São João que era venerado, era o Batista. Depois da Revolução os Joanitas se tornaram preocupados com a restauração da monarquia. Eles foram grandemente responsáveis pela promoção de Naündroff como pretendente ao trono, e também por trás de movimentos proféticos tais como aquele de Vintras.

Um outro guru de estilo próprio daquela época foi Thomas Martin, que tinha subido meteoricamente de camponês a conselheiro do rei, foi apoiado pelos Joanitas, e eles parecem sobretudo ter de algum modo ‘programado’ certas visões da Virgem, como a de La Salette aos pés da montanha dos Alpes ocidentais em 1846. Exatamente o que estava acontecendo é difícil de dizer precisamente, mas é possível identificar os principais fios correndo por certos aparentes eventos associados. Primeiro, houve uma tentativa de regenerar o Catolicismo de dentro. Isto envolveu substituir o principal dogma, baseado na autoridade de Pedro, por um cristianismo místico e esotérico  na crença de que uma era estava nascendo na qual o Espírito Santo estaria em ascendência. Uma caraterística disso era a elevação do Feminino, na forma externa da Virgem Maria, mas isto logo tomou um caráter mais abertamente sexual e começou a parecer ativamente hostil a Igreja. A visão de  La Salette – que foi condenada pela Igreja, era central a este plano. E de algum modo o papel de João Batista nestes desenvolvimentos era crucial. O movimento estava também aliado a uma tentativa de ter Naündorff reconhecido como legítimo rei da França, provavelmente porque, se isso acontecesse, ele teria sido favorável qa esta nova forma de religião [já tendo endossado Vintras]. Significativamente Melanie Calvet, a menina que teve a visão em La Salette, ela própria havia recebido o favor de Naündorff. E é interessante que a Igreja reagisse embarcando-a para um convento em Darlington, no nordeste da Inglaterra, onde ela não mais pudesse causar dano. As forças combinadas da Igreja e do Estado evitaram que o grande plano do movimento fosse realizado, e seja o que for o que realmente aconteceu, agora está enterrado sob uma avalanche de escândalo e intriga. Mas sem dúvida é importante que a reação da Igreja a esta ameaça fosse fazer da Imaculada Conceição de Maria um artigo de fé em 1854. [esta doutrina era para ser convenientemente endossada pela própria Virgem, quando ela apareceu a menina camponesa Bernadette Soubirous em Lourdes alguns quatro anos depois, embora a última de início simplesmente descreveu sua ‘visão’ como ‘aquela coisa’].

Profetas tais como Martin e Vintras parecem ter sido manipulados pelos Joanitas, muito mais do que realmente serem eles próprios parte da seita. A ligação de Vintras com eles era o seu mentor, uma certa Madame Bouche, que vivia na Praça de São Suspílcio em Paris, e usava o nome esplendidamente evocativo de Irmã Salomé [a Igreja do Carmelo de Vintras ainda estava operando em Paris nos anos de 1940, e foi murmurado haver um grupo em Londres nos anos de 1960]. Um outro movimento uniu-se a Igreja de Carmelo mas realmente havia sido fundado anteriormente, em 1838. Eles eram os Irmãos da Doutrina Cristã que tinham sido criados pelos três irmãos Baillard, todos sacerdotes. Eles criaram duas casas religiosas – novamente se vendo como católicos – nas montanhas:  St Odile na Alsácia e Sion-Vaudémont em Lorraine. Ambos eram sítios importantes em suas regiões, e é um mistério como os irmãos Baillard conseguiram adquiri-los. Sion-Vaudémont era um importante sítio pagão na antiguidade, consagrado a deusa Rosamerta, e, como pode ser imaginado por seu nome, tinha uma longa associação ao Priorado de Sião. De fato, uma historicamente reconhecida Ordem de Notre Dame de Sião foi estabelecida lá no século XIV por Ferri de Vaudémont, cuja carta de direitos a ligava a abadia de Monte Sião em Jerusalém, de quem o Priorado afirma originalmente ter tomado seu nome. O filho de Ferri casou-se com Iolande de Bar, a Grã Mestra do Priorado entre 1480 e 1483, que também era filha de René d’ Anjou, o Grão Mestre anterior.  Iolande promoveu  Sion-Vaudémont como um importante centro de romaria, se focalizando em sua Madona Negra. A própria estátua foi destruída durante a Revolução, e substituida por umaq Virgem medieval não negra, tirada da Igreja de Vaudémont, que é dedicada a João Batista. Então parece ser importante que uma das novas igrejas dos irmãos Baillard se localizasse lá. Eles tinham idéias similares aquelas de Vintras, incluindo a ênfase na era vindoura do Espírito Santo e na sexualidade sagrada, de forma que não é surpreendente que elas tenham vindo da mesma fonte. O movimento deles atraiu um grande apoio inclusive da Casa de Hapsburg. Mas ele também foi suprimido em 1852.

Depois da morte de Vintras em 1875 o movimento foi tomado pelo abade Joseph Boullan (1824-1893)- uma figura até mesmo mais controvertida. Previamente ele havia seduzido uma jovem freira no Convento em La Salette, Adèle Chevalier, e os dois criaram a Sociedade para Reparação das Almas em 1859. Esta era definitivamente baseada em ritos sexuais  e sua filosofia completa  era que a humanidade encontraria a redenção através do sexo se ele fosse usado como um sacramento. Conquanto isso possa ser puro e alquímico em natureza, infelizmente Boullan estendeu os benefícios deste rito ao reino animal. Boullan e Adèle Chevalier são relatados terem sacrificado suas crianças durante uma Missa Negra em 1860. Conquanto embora isso seja apresentado como fato na literatura moderna, é impossível rastrea-lo a uma fonte confiável. Se Bouillan fosse sabido haver cometido um tal crime ele parece ter escapado a condenação. É verdade que ele foi suspenso de seu ofício como sacerdote naquele ano mas ele retornou depois de uns poucos meses. Em 1861 ele e Adele foram presos por fraude [talvez o meio usual das autoridades lidarem com aqueles que elas não gostassem mas não pudessem pegar de outro modo]. Em sua condenação Boullan foi novamente suspenso de seus deveres sacerdotais mas mais uma vez a decisão foi revertida. Depois de sua libertação da Prisão ele voluntariamente apresentou-se em Roma ao Santo Ofício [então o nome oficial da Inquisição] e não foi considerado culpado, voltando a Paris. Enquanto em Roma Boullan escreveu suas doutrinas em uma caderno de notas [conhecido como ‘the cahier rose’ , abertamente por causa da cor de sua capa], que foi encontrado pelo escritor J.K. Huysmans entre seus papéis depois de sua morte em 1893. Os detalhes precisos do conteúdo são desconhecidos – pensa-se que fosse um ‘documento chocante’ e agora está trancado na Biblioteca do Vaticano. Todos os pedidos para verem este caderno tem sido recusados. Claramente há mais na história de Boullan do que o olho vê. Superficialmente esta parece ser uma outra história de um clube de pervertidos. Contudo parece que em alguma extensão a Igreja protegeu Boullan. Por exemplo, ela emitiu uma instrução que ele não devia ser perseguido e há pistas que ele possuia algum tipo de segredo que o protegia. A história de Boullan se encaixa no padrão clássico de agente provocador, que infiltra uma organização com a meta deliberada- em benefício de um grupo diferente – de desacredita-la.

Isto explicaria as claras discrepâncias em sua vida e as atitudes oficiais em relação a ele. Depois de sua volta de Roma, Boullan se uniu a Igreja do Carmelo de Vintras e se tornou seu líder. Isto causou um cisma: aqueles membos do culto que o aceitaram o acompanharam a Lyons onde ele estabeleceu sua sede. Cenas selvagens de licenciosidade sexual se seguiram – que, mais uma vez, podem parecer notavelmente em contraste com a declaração de Boullan que ele era a reeencarnação de João Batista. Esta idéia pode er sido a inspiração por trás do nome escolhido por J.K. Huysmans (um devoto do culto da Madona Negra] que usou Boullan como modelo para o ‘Dr Johannès’ (um dos pseudônimos de Boullan) em sua novela sobre o Satanismo em Paris, Là-Bas (Lá Embaixo) (1891). Contudo pode ser um engano pular para a conclusão óbvia – Dr Johannès foi retratado como um sacerdote que praticava a mágica para conter o Satanismo e que foi mal compreendido pela Igreja, que, com certeza, denunciou todo o mágico como Mal.  Huysmans  tornou-se amigo de Boullan e ficou com ele em Lyons enquanto pesquisava sua novela, mas embora ele não fosse muito versado sobre mágica, ao menos teoricamente, ele sempre permaneceu um verdadeiro filho da Igreja. Là-Bas é lembrada nestes dias principalmente por sua lúrida descrição de uma Missa Negra, que parece ser a narrativa de uma testemunha ocular. Contudo, os reais vilões da peça são os rosacrucianos por causa da notória batalha mágica entre Boullan e os membros de certas ordens rosacrucianas que floresciam na França naqueles dias. Pode ser incongruente que os rosacrucianos, entre tantas pessoas que eram tão opostas a Boullan e tudo que ele parecia representar. De fato o conflito pode ter sido meramente um daqueles de embate de personalidades que caracteristicamente afligem tais movimentos – mas talvez certos rosacrucianos estivessem alarmados pela abertura de Boullan quanto aos seus segredos. A França havia se tornado o lar de um número de lojas ocultas. Várias Ordens Rosacrucianas representavam um desenvolvimento da mistura de movimentos templaristas-maçonicos-rosacrucianos encontrados no sudoeste da França. Embora estas não fosem estritamente ordens maçonicas, eles eram certamente aliadas aos ocultos sistemas maçonicos tal como o Rito Escocês Retificado e os Ritos Egípcios. Os grupos maçonicos e rosacrucianos abraçavam a filosofia Martinista – os ensinamentos ocultos de Louis Claude de Saint-Martin. De fato, a importãncia do Martinismo não deve ser subestimada. O rito Escocês Retificado de hoje recruta exclusivamente entre os Martinistas.

A primeira destas organizações rosacrucianas parece ter sido um ramo de uma loja maçonica de certa forma irregular conhecida como La Sagesse (Sabedoria ou Sophia ) em Toulouse. Por volta de 1850 um de seus membros, o Visconde de Lapasse (1792-1867), um doutor muito respeitado e alquimista, fundou a Ordem da RosaCruz do Templo e do Gral. Um chefe subsequente desta ordem foi Joséphin Péladan (1859-1918), que era também de Toulouse e se tornou o que foi apelidado padrinho das sociedades francesas rosacrucianas daquele tempo. Péladan era um grande especialista, tendo sido inspirdo pelo escritor francês Éliphas Lévi (nome real Alphonse Louis Constant, 1810-75). Péladan desenvolveu um sistema mágico que tem sido descrito como ‘erotic Catholicism-cum-magic’ e organizou o popular Salão da Rosacruz. (Interesantemente, foi em um cartaz de anúncio de um destes encontros que Dante é retratado como Hugues de Payens, o primeiro grão mestre dos templários, e Leonardo é apresentado como o guardião do Gral. Ele acreditava que a Igreja Católica fosse um repositório de conhecimento que havia sido esquecido e ele estava particularmente interessado no Evangelho de João. Ele também estavas a frente da erudição moderna no que ele percebia os ‘fidele d’amore’ como uma sociedade esotérica,  que ele pessoalmente ligava aos rosacrucianos do século XVII.  Péladan encontrou um outro ocultista, Stanislas de Guaïta (1861-1898), e em 1888 os dois formaram a Ordem Cabalística da Rosacruz. Foi Guaita que infiltrou a Igreja de Carmelo de Boullan e juntamente com Oswald Wirth, um membro desencantado daquele culto, escreveu o Livro do Templo de Satã, que expôs o movimento como sendo diabólico. Isto levou a uma batalha mágica na qual Guaita e Boullan acusavam um ao outro de usar meios mágicos para matar um ao outro. Desapontadoramente, Boullan parece ter morrido de causas naturais , mas igualmente inevitável a rixa levou a dois duelos verdadeiros, um entre Guaita e um dos discípulos de Boullan, Jules Bois, e o outro entre este último e um rosacruciano,  Gérard Encausse (melhor conhecido como Papus). Ambos eventos terminaram em empates. Este episódio é um favorito dos escritores do oculto, ms nunca é satisfatoriamente explicado. Porque deveriam Guaita e os rosacrucianos parisieneses realizarem uma vingança contra Boullan? [lembre-se: neste contexto apenas temos a palavra de Guaita e de Wirth sobre a devassidão alegadamente cometida por Boullan e seus seguidores). Diante disso, não há uma ligação real, ou base para disputa, entre as lojas ocultas e ordem de Boullan que era essencialmente religiosa. Contudo, se aprofundarmo-nos um pouco mais revela-se a razão: de Guaita e um tribunal de rosacrucianos tinham inicialmente condenado Boullan por ‘profanar’ e revelar segredos cabalísticos , isto é, revelar segredos considerados serem província dos rosacrucianos. [e a condenação deles foi em 23 de maio de 1887, antes que Guaita infiltrase o grupo de Boullan]. Esta foi a razão real porque eles sentiram que Boullan tinha que ser detido. Outros comentadores parecem não haver percebido as implicações disto: se os ritos de Boulan fossem considerados serem algo que pertencia aos rosacrucianos, eles, também, devem ter praticado ritos sexuais. O erro de Boulan, aos olhos deles, residia em torna-los públicos.

A Paris do século XIX  era lar de muito ocultismo e filosofia culta, refletindo, talvez, a busca de fim de século por um significado mais profundo para a vida. Isto atraiu todos os tipos de pensadores e artistas, tais como Oscar Wilde, Debussy e W.B. Yeats. (Como sempre, a verdadeira União Européia estava em uma fraternidade oculta). Os salões estavam cheios de faces que estavam ávidas de captar fórmulas mágicas tanto quanto estavam ávidas de fofocas, entre elas Marcel Proust, Maurice Maeterlinck e a cantora de ópera Emma Calvé (1858-1942). Uma famosa beleza, ela eventualmente realizou suas próprias ‘soirées’. para todo mundo que tivesse algo interessante a partilhar – preferivelmente algum grande segredo oculto. Estes círculos também incluiam semelhantes a Joséphin Péladan, Papus e Jules Bois (que foi um dos muitos amantes de Emma Calvé). Muitos dos primeiros movimentadores deste círculo eram de Languedoc, inclusive a própria Emma Calvé. [ela não era estranha ao misticismo: foi um parente dela,  Melanie Calvet, que tinha tido a famosa visão em La Salette. E interessantemente,  Adèle Chevalier, a freira que havia sido seduzida por Boullan e se tornou sua parceira, era uma das amigas de Melanie.) Foi Emma Calvé que era para desempenhar um importante papel na história emaranhada do Abade Sauniere, sacerdote paroquial da vila de  Rennes-le-Château, que discutiremos mais tarde. Sugestivamente, em 1894 ela comprou o castelo de Cabrières (Aveyron), perto de seu local de nascimento,  Millau, que era dito no século XVII ter sido o lugar de esconderijo do muito procurado Livro de Abraão o Judeu, que tinha sido usado por Flamel para alcançar o Grande Trabalho. Em sua autrobiografia Calve registra que o castelo ‘foi o refúgio de um certo grupo de cavaleiros templários’, mas tantalizantemente, nada mais elabora.  Certos outros importantes grupos ocultos tinham começado no Languedoc e se tornaram ligados a sociedades rosacrucianas. Estas eram influenciadas pela Livre Maçonaria da Estrita Observância do Barão von Hund, embora a principal influência veio por meio de uma figura muito mais malignizada, o Conde Cagliostro (1743-1795)73. Amplamente denunciado como um charlatão, este natural homem de exibição era um buscador genuino do conhecimento oculto. Nascido Giuseppe Balsamo, ele tomou o título de Conde Alessandro Cagliostro de sua madrinha. Ele foi aprsentado ao oculto quando tinha 23 anos durante uma visita a Malta, onde ele se encontrou com o Grão Mestre dos Cavaleiros de Malta – um alquimista e rosacruciano. O próprio Cagliostro captou o oculto e se tornou um alquimista e Maçom Livre e foi pesadamente influenciado pela Estrita Observância Templária de von Hund. Sua apresentação a Livre Maçonaria veio em Gerrard Street no Soho londrino, onde ele foi iniciado em uma loja da Estrita Observãncia Templária em abril de 1777. Ele viajou amplamente pela Europa,  mas passou a maior parte de seu tempo na Alemanha, especificamente buscando o conhecimento perdido dos Templários. Ee também ganhou uma fama de curador.  Depois de receber a permissão do Papa para visitar Roma, em 1789, em sua chegada ele foi prontamente encaminhado para a Inquisição  sob a acusação de heresia  e conspiração política – sob as ordens do Papa, e condenado a prisão perpetua. Ele morreu nas masmorras  da fortaleza de São Leo em 1795.

Cagliostro tinha estabelecido o sistema de Livre Maçonaria Egípcia [a loja mãe foi criada em Lyons em 1782] que consistia em lojas femininas e mssculinas, as femininas sendo chefiadas por sua esposa Serafina. Levi descreveu isso como uma tentativa para ‘ressucitar a misteriosa veneração de Isis’. Os frutos das pesquisas de Cagliostro  das sociedades ocultas da Europa eram um corpo de conhecimento conhecido como Arcana Arcanorum (Secredo dos Segredos), ou A. A. Ele tomou este termo do rosacrucianismo original do século XVII as seu corpo consistiu de discrições de práticas mágicas que ressaltava especialmente a ‘alquimia interna’, parente do Tantrismo, ainda que Cagliiostro tivesse as aprendido na Alemanha entre os grupos rosacrucianos. Foi sob a autoridade de Cagliostro  que o Rito de  Misraïm (Hebreu para ‘egípcios] foi criado em Veneza em 1788. Por volta de 1810 os três irmãos Bédarride touxeram o sistema para a França, onde ele foi incorporado no Rito Escocês Retificado da Livre Maçonaria. O Rito de Misraim foi o descendente direto do Rito de Memphis, que tinha, como já vimos, sido fundado por Jacques-E´tienne Marconis de Nègre e com o qual o Priorado de Sião tem se associado. [Os dois sistemas unificados como Rito de Misraim-Memphis em 1899 sob o Grão Mestrado de Papus, que permaneceu no comando até sua morte em 1918). O Rito de Memphis foi também estreitamente associado a uma sociedade secreta chamada os Filadelfos que havia sido fundada pelo Marquês  de Chefdebien em 1780 – um outro ramo da Estrita Observância Temmplária de von Hund, embora ela fosse especificamente criada para adquirir conhecimento oculto.  Marconis de Nègre ressaltou os laços estreitos com os Filadelfos e nomeou um grau e seu movimento de Os Filadelfos. O rito, nem de Memphis e nem de Misraim, era por si só particularmente influente. Mas reunidos, Misraim-Memphis, eles eram um poder a ser reconhecido, e sua influência espalhou-se como uma onda pelos subterrrâneos ocultos da Europa. Entre seus membros estavam estrelas escuras como o ocultista britânico Aleister Crowley e luminares místicos como Rudolf Steiner. E havia também Karl Kellner, que era eventualmente, com Theodore Reuss, para fundar a Ordem dos Templários do Oriente, melhor conhecida simplesmente como OTO. Esta organização era – e é -, explicitamente sobre magia do sexo. E embora ela seja amplamente pensada  representar a ocidentalização do Tantrismo, ela era também muito mais o desenvolvimento de segredos ensinados nos próprios Misraim-Memphis que derivaram do conhecimento adquirido por Cagliostro de grupos alquímicos rosacruzes da Alemanha e das lojas da Estrita Observância Templária. Crowley deixou Memphis-Misraïm para se unir a OTO e se tornou seu Grão Mestre, e uma outra figura influente que atravessou o antigo na OTO foi  Rudolf Steiner. Ele é mais famoso por seu ramo puro de misticismo – Antroposofia – e deliberadamente inferiorizou sua associação com a OTO com tanto sucesso que muitos de seus mais ardentes seguidores modernos não sabem disso. Quando ele morreu, contudo, foi enterrado com a regalia OTO. Significativamente, Theodore Reuss escreveu que a magia sexual de OTO era ‘a chave que abre todos os segredos maçonicos e herméticos’. Ele também disse claramente que a magia sexual era o segredo dos Cavaleiros Templários. Um outro ‘broto’ do movimento Memphis-Misraim  tomou forma na Inglaterra no final do século XIX. Esta era a hermética Ordem do Amanhecer Dourado, cujos membros incluiam Bram Stoker o grente de teatro mais famoso por ser o autor de Dracula; Aleister Crowley o poeta irlandês, patriota e místico;   W. B. Yeats, e a sociável Constance Wilde, esposa do condenado Osca. Fundada em 1888 por Macgregor Mathers e W. Wynn Westcott, sua linha direta de descendência remonta a Dourada e Rosea Cruz, a ordem de estrita observância templária da Alemanha discutida no último capítulo, como muitos de seus atuais nomews de graus e de rituais. O Amanhecer Dourado também usa os Ritos retirados de  Memphis/Misraïm. No fim, contudo, a ordem teve ser direito de nascimento do Barão vomn Hund, e influências francesas e alemãs que vieram dele e seus ritos templaristas.

O Amanhecer Dourado é a mais conhecida no mundo de lingua inglesa e entre os outros grupos europeus mais exóticos. Tem uma reputação de grande integridade e parece a primeira vista ser uma sociedade de esotéricos que gostam de se vestir ritualmente e murmurar encantamentos, mas que são basicamente mais do que ocultistas de depois do jantar com altos ideais.  Contudo, entre os eruditos ocultos franceses a Amanhecer Dourado tem uma reputação muito mais sinistra; quando elça abriu seu ramo em Paris em 1891 ela aceitou muitos dos personagens duvidosos discutidos acima, incluindo o aparentemente onipresente Jules Bois. De fato, até mesmo a Amanhecer Dourado inglesa tinha um aspecto mais profundo e menos conhecido. Ela efetivamente era duas ordens separadas; por um lado, ela tinhsa uma face pública conhecida e respeitável e por outro havia uma ordem interna chamada Ordem do Rubi e Cruz de Ouro, no qual a iniciação apenas se dava por meio de convite. A ordem externa parece ter agido como uma base de recrutamento para o círculo interno e secreto cujas práticas incluiam ritos sexuais. Certamente a Amanhecer Dourado guardava bem os seus segredos internos. Por anos até mesmo estes escritores, como Katan Shu’a, que eles próprios eram parte do mundo oculto, podiam apenas especular  sobre os ritos sexuais da ordem. Contudo, parece que eles existiasm, embora a evidência seja fragmentada. De fato, parece que os elementos sexuais estavam presentes desde a própria fundação da Ordem. A Amanhecer Dourado  cresceu de uma outra sociedade, a Societas Rosicruciana em Anglia, que tinha entre seus fundadores um Hargrave Jennings (1817-1890), cujos escritos eram tão explícitos quanto o podia ser aqueles de um cavalheiro vitoriano sobre o assunto da magia sexual. Em sseu trabalho maciço ‘The Rosicrucians: Their Rites and Mysteries’ (1870), Jennings, nas palavras do autor Peter Tompkins, ‘apontou tão fortemente quanto pode que estes ritos e mistérios eram de uma natureza fundamentalmente sexual’. Por exemplo, ao discutir o simbolismo sexual dos triângulos interligados que compõem o Selo de Salomão [ou Estrela de David],  Jennings aacrescenta explicitamente: ‘a pirâmide indicando o feminino corresponde ao poder tumefante ou elevador, não submisso, mas responsivamente sugestivo, sincronizado no clitores anatômico – o excentrico objeto diminuto, significiicando tudo na anatomia rosacruciana. Em 18 de julho de 1921 Moina Mathers – uma das fundadoras da Amanhcer Dourado – e irmã do filósofo Henri Bergson, escreveu a Paul Foster Case, que era tutor do novo ramo da Ordem em New Tork, ao ouvir que ele estava ensinando rituais sexuais: lamento que algo sobre a questão sexual deva ter entrado no Templo neste estágio, porque apenas começamos a tocar diretamente em assuntos sexuais em rituais muito altos. Então quando a escritora oculto e membro da Amanhecer Dourado Dion Fortune (nome real Violet Firth) escreveu artigos sobre sexo, Moina queria expulsa-la por trair os segredos da Ordem. Mas eventualmente ele não tinha conhecimento que Dion Fortune não podia te-los conhecido porque ela ainda não havia alcançado os graus necessários. Comentadores tais como Mary K. Greer agora aceitam que há evidência que apoia a idéia que a Amanhecer Dourado de fato praticava a magia sexual, que era claramente considerada ser potente e preciosa demais para ser disseminada entre os novos recrutas e graus mais baixos. Postas sobre os segredos internos da Amanhecer Dourado também eram para serem encontrados nas palavras descrevendo uma visão conjunta que Florence Farr e Elaine Simpson, duas adeptas desse sistema, tiveram na década de 1890. A anterior, uma famosa atriz de Londres, era também renomada por seus casos com um número de homens, inclusive George Bernard Shaw e o irmão ocultista W.B. Yeats. Florence ae sua colega de magia Elaine reallizaram juntas uma viagem astral, um tipo de aventura gêmea nos Planos Internos ou uma alucinação partilhada. Este fenômeno é uma parte bastante comumdo treinamento mágico, e é geralmente parte do trabalho cabalístico, um tipo de projeção mental ou associação de imagens que é criada na clássica estrutura da Árvore da Vida. Florence e Elaine estabeleceram visitar a ‘esfera de Venus’ em seus olhos mentais conjuntos. A culminação da viagem astral delas tomou a forma de um encontro comum arquétipo surpreendentemente feminino, que disse sorrindo: “Sou a poderosa nãe Isis; a mais poderosa de todo mundo, que não luta mas sempre é vitoriosa. Sou a Bela Adormecida que os homens tem buscado por todo tempo. Os caminhos que levam ao meu castelo são cercados de perigo e ilusão. Tais como falham em me encontrar, dormem; ou podem se apressar atrás da Fada Morgana que afasta da influência ilusória.  Sou elevada para o alto e levo os homens comigo. Sou o desejo do mundo, mas poucos são os que me encontram. Quando o meu segredo é dito, é o segredo do Santo Gral – Tenho dado meu coração ao mundo, o que é minha força.  O amor é a mão do Homem-Deus, dando a quintessência da vida dela para salvar a humanidade da destruição, e mostrar adiante o caminho da vida eterna. O Amor é a mãe do Cristo-Espírito e este Cristo é o mais alto amor. Cristo é o coração do Amor, o coração da Grande Deusa Mãe Isis, a Isis da Natureza. Ele é a expressão do poder dela. Ela é o Santo Gral. E ele é o sangue da vida do Espírito, que é encontrado na taça.

Acompanhando estas palavras estavam vívidas imagens de uma taça contendo um fluido colorido como rubi e uma cruz com três barras. A primeira vista isto pode parecer muito mais um tipo de confusão New Age, com Jesus e a deusa egípcia Isis sendo misturados com a noção do Santo Gral simplesmente porque isto soa arcano e místico. Mas o falecido especialista oculto Francis X. King escreveu, há dois pontos importantes nisso: ‘O primeiro é a identificação da Abençoada Virgem, Mãe de Deus-Homem, com Venus, deusa do Amor, isto é, do amor sexual, Eros. O segundo é a identificação do Gral com Venus, o arquétipo do órgão feminino da geração. Os leitores modernos podem cinicamente interpretar esta visão destas damas como um tipo de cumprimento de desejo, uma fantasia sexual conjunta, especialmente quando se considera a reputação colorida de Florence Farr que é a contraparte britânica de Emma Calvé. Ainda que a visão foi suposta ter revelado um segredo que é mantido com a filosofia mágica da Amanhecer Dourado, e certamente Francis X. King expressou confusão quanto de onde as mulhers poderiam ter retirado a imagem, considerando que a sociedade, supostamente, não era ligada a qualquer tipo de rito sexual. Esta visão, contudo, indica que era, embora, novamente, os ritos relativos pareciam ser apenas  para iniciados dos mais altos graus, o círculo interno. É importante que a visão ligue Isis com o Gral e com o sexo, o que não teria sido estranho aos alquimistas, gnósticos ou trovadores. O Gral – visto aqui comoa tradicional taça -, é um símbolo feminino que é facilmente compreendido pelo nosso mundo pós freudiano, mas aindqa é revelador para aqueles que vieram antes. Mas aqui o fluido vermelho, o sangue que ele contém, é carregado por Isis. Interessantemente, o tema da Bela Adormecida, que é mencionado na visão das mulheres, também figura grandemente na Serpente Vermelha, o tecto chave do Priorado de Sião. A busca pela Bela Adormecida é um motivo repetido e está interligado com aquela busca da rainha de um reino perdido. Como temos visto, esta documento também revela uma preocupação com Maria Madalena e Isis, carateristicamente combinando-as na mesma figura. A busca por uma rainha é uma imagem alquímica, então não devemos ficar surpresos em enconrtar estas incorporações da sexualidade – a Madalena e Isis – como seu objeto. Curiosamente, até mesmo hoje, o papel da sexualidade nos movimentos ocultos e heréticos mal é reconhecido ou conhecido, sua importancia dificilmente pode ser subestimada. O sesxo nunca tem sido um assunto colateral ou meramente um assunto de fraqueza pessoal, mas tem estdo no coração das mais poderosas organizações subterrâneas. A tradição que mais nos interessa e que reside subjacente a investigação é realmente dependente da noção da sexualidade sagrada. Como temos cisto, esta tradição parece ser composta de dois fios principais – aquele de reverência a Maria Madalena e aquele de reverência a João Batista. Neste estágo de nossa pesquisa enfrentamos a possibilidade que a Madalena fosse simplesmente uma figura simbólica que represent4e a idéia do sexo sagrado, e que a imagem dela não se relacionou a qualquer presonagem histórico. Em qualquer caso, a ligação entre Maria Madalena e o sexo não é difícil de entender e parece perfeitamente natural.

Isto não é assim, com certeza, quando se considera o fio de João Batista e a idéia da sexualidade sagrada. A narrativa bíblica, e a tradição cristã, tem criado uma imagem compelente e duradoura de um homem que era ascético ao extremo – um tipo de figura de John Knox – de moral inatacada e celibato incontestável. Como na terra ele poderia, entre todas as pessoas, ter sido importante para qualquerculto bseado em prátics sexuais? Superficialmente pareceria como se não houvesse, e nunca pudesse haver, qualquer ligação – e ainda que de tempos em tempos novamente nossa investigação revelasse que gerações de ocultistas ao menos acreditasem que isso existia. E como tem
os visto o caso da Amanhecer Dourado, as primeiras impressões dos sempre ocultos grupos podem ser muito enganadoras. A verdadeira razão de ser deles pode ter implicações surpreendentes.  Florence Farr e os colegas dela da Amanhecer Dourado pertenciam a um amplo círculo  de ocultistas internacionais, que incluiam Péladan e Emma Calvé. As sociedades com as quais eles estavam associados eram extremamente influentes, e era esta rede de sociedades que fornecia a estrutura para um dos mais famosos mistérios da França; um que intimamente se relaciona ao Priorado de Sião. O foco de todos os Dossiês Secretos e material aliado se emanando dos documentos do Priorado é inequivocamente o mistério de Rennes-le-Chateau. Por exemplo, A Serpente Vermelha repetidamente alude a lugares em e ao redor da vila. Dificilmente poderiamos evitar em voltar nossa atenção a  Rennes-le-Château, e mais uma vez nos encontramos no Languedoc, o coração da heresia.

CAPÍTULO OITO
‘ESTE É UM LUGAR TERRÍVEL’

Rennes-le-Château é um clichê oculto, quase, por agora, do mesmo tipo do próprio Gral, e exatamente tão evasivo. Ainda que este seja um local real, e é aqui que estamos, e também nos encontramos na medida em que se desdobra a nossa própria busca. Este lugar pode ser comparado a Glastonbury na Bretanha, porque ambos lugares parecem manter fechados em seus corações mistérios profundos, enquanto ambos tem adquirido os mais ridículos mitos e suposições. Rennes-le-Château fica no departamento do Languedoc conhnecido como Aude, perto do centro de Limoux, que dá seu nome ao famoso ‘blanquette’, ou vinho espumante à área conhecida ns séculos VIII e IX como Razes. Do pequeno centro de Couiza, grandes avisos apontam para uma estrada menor, anunciando o ‘domínio do Abade Sauniere’. Seguindo estes sinais os motoristas se acham em um curioso zig-zag estrada acima para a vila no topo da montanha de Rennes-le-Château. Para nós, bem como para muitos atualmente, é uma viagem excitante. Graças principalmente ao livro ‘The Holy Blood and the Holy Grail’, mas também a história transmitida boca a boca, este simples dirigir para cima de uma montanha francesa assume ele próprio um sentimento de iniciação. Ainda que o lugar onde geralmente os visitantes parem seja muito prosaico. A estrada leva inevitavelmente a um solitário estacionamento, através de uma grande e estreita ‘rua’ que não tem um correio ou até mesmo uma loja geral – mas que ostenta uma livraria esotérica, um bar/restaurante, o arruinado castelo que dá seu nome à vila, e aléias levando a notória pequena igreja e ao presbitério. Este local tem uma história sinistra e uma reputação ainda mais turva, embora de certo modo vaga. Em resumo, a história é que François Bérenger Saunière (1852-1917), um sacerdote comum, nascido e criado na vila de Montazels, a apenas três quilometros de Rennes-le-Château, fez uma descoberta de algum tipo durante obras de reforma de sua dilapidadaigreja do século X, exatamente a cem anos atrás. Como resultado desta descoberta, ou por causa de seu valor intrínsico, ou porque isso o tenha levado a algo que podia ser transformado em vantagem financeira, ele se tornou imensamente rico. A especulação tem variado com o passar dos anos sobre a verdadeira natureza da descoberta de Sauniere: mais prosaicamente tem sido sugerido que ele encontrou um monte de tesouro, enquanto outros acreditam que isso fosse algo consideravalmente mais estupendo, tal como a Arca da Aliança, o Tesouro do Templo de Jerusalém, o Santo Gral ou até mesmo a tumba de Cristo, uma idéia que recentemente tem encontrado maior expressão em ‘The Tomb of God’ de Richard Andrews e Paul Schellenberger (1996). (para nossa discussão sobre a teoria deles veja apendice II).

Tivemos que ir a Rennes-le-Château porque, segundo os Dossiês Secretos e ‘The Holy Blood and the Holy Grail’, isto era de importância particular para o Priorado de Sião, embora as precisas razões para isto permaneçam obscuras. O Priorado afirma que o que Sauniere descobriu foram pergaminhos contendo informação genealógica que prova a sobrevivência da dinastia Merovingia, e estabelece que certos indivíduos tem o direito de reclamar o trono da França, tais como Pierre Plantard de Saint-Clair. Contudo, ninguém fora do Priorado tem realmente posto o olho nestes pergaminhos, e a inteira idéia da linhagem Merovíngia é duvidosa, para dizer o mínimo, e há pouca razão para dar muito crença a esta afirmação. Há ainda um outro maior furo, uma clara inconsistência, na história do Priorado. Se eles realmente tivessem existido por muitos séculos apenas para protegerem a linhagem Merovíngia, é curioso que eles dessem boas vindas a informação contando quem eram estes descendentes. Certamente eles sabiam quem eram aqueles que eles juravam defender, caso contrário eles dificilmente teriam tido este tipo de zelo fanático que com o passar dos séculos eles tem mantido em sua própria organização por tanto tempo! Confiar – aparentemente – no que é essencialmente uma retrospectiva razão de ser é suspeito, para dizer o mínimo. Não obstante estavamos intrigados pela importância investida na vila pelo Priorado. Há duas possíveis razões para isso: uma é que de fato a vila seja importante, mas não pelas razões declaradas nos Dossiês – enquanto que a outra é que a história de Sauniere não tenha qualquer ligação real com o Priorado e que este sequestrou o mistério para seus próprios fins. Tinhamos que descobrir qual destas alternativas era a mais próxima da verdade.

Chegando ao estacionamento da vila, temos uma vista fantástica do Vale Aude até os picos cobertos de neve dos Pirineus. É fácil ver o porque, no passado, este abrigo aparentemente inconsequente fosse considerado de tal importância estratégica, porque certamente a visão de qualquer inimigo que se aproximasse seria muito dificil de ser igualada. Isto foi o porque Rennes-le-Château foi uma vez uma maior fortaleza visigoda; alguns vão tão longe a identifica-la como a cidade perdida de Redhae, que era igual a Carcassonne e Narbonne – embora seja difícil ver uma tal metrópole agitada neste agrupamento de casas peculiarmente deserto de hoje. Ainda que o lugar exerça uma influência magnética: embora realmente apenas menos de cem pessoas vivam hoje em Rennes-le-Château, ela tem mais de 25.000 visitantes por ano. A torre de água, que se eleva fora do próprio estacionamento, ostenta os signos do zodíaco – um motivo que é repetido também acima das portas de algumas das pequenas casas, mas, desapontadoramente, isto se mostra ser um costume comum na área. Mas todos os olhos são atraídos para a construção muito esquisita que parece brotar da própria borda do penhasco da vila, pendurando-se sobre a suprema queda. Esta era a biblioteca particular e estudo de Sauniere, conhecida como Tour Magdala (Torre Magdala). Ela é parte do domínio dele, recentemente aberta ao público. Como uma pequenina torra medieval, a torre de um lado dá para a longa proteção, levando agora para uma dilapidada casa de vidro. Nas salas sob a proteção há agora um museu, que é dedicado a vida de Sauniere e ao mistério que o cerca. Um jardim separa a torre de uma casa muito maior que ele tinha construído com sua riqueza inexplicável, a Vila Bethania, algumas salas da qual estão abertas ao público. Exatamente do outro lado, roda um caminho de pedras, fica uma pequena gruta feita pelo próprio sacerdote de pedras carregadas especialmente, e presumidamente com grande esforço, de um vale vizinho. Então chegamos a igreja e ao cemitério da vila.

A igreja é dedicada a Santa Maria Madalena. Dado a fama da igreja, é surpreendente descobrir ser ela tão pequena, mas qualquer desapontamento é mais do que superado pelo famoso caráter bizarro das decorações feitas pelo Abade Sauniere. Isto, no mínimo, o Abade queria surpreender. Acima do pórtico, com seus quase comicos pássaros de gesso branco de segundo nível e quadrados ladrilhos amarelos, estão gravadas as palavras: Terribilis est locus iste (‘Este é um terrível lugar’),  uma citação do Livro do Geneses (28:17) que é completada, em Latim, no arco do pórtico: “Esta é a casa de Deus e o Portão do Paraíso”. Uma estátua de Maria Madalena preside acima da porta, enquanto o tímbale é decorado com um triângulo equilátero, e rosas gravadas com uma cruz. Mas muito mais surpreendente é a visão de um demonio de gesso, odiosamente contorcido, aparentemente guardando a entrada imediatamente dentro do pórtico. Chifrudo e com as feições distorcidas, ele se curva de um modo claramente significativo, enquanto sustenta a pia da água benta em seus ombros. Isto é superado por quatro anjos, cada um fazendo um dos gestos envolvendo o sinal da cruz, enquanto as palavras ‘Par ce signe tu le vaincras’ (‘Por este sinal você deve conquista-lo) estão inscritas sob eles. Contra a parede distante está um quadro mostrando o batismo de Jesus, que é apresentado em uma posição que é exatamente a imagem em espelho do demonio. Jesus e o demonio estão fitando uma parte específica do chão que é posto como um tabuleiro de xadrez. No quadro, João Batista se inclina sobre Jesus, pingando água sobre ele com uma concha, assim repetindo o motivo da pia de água em forma de concha que também é sustentada sobre o demonio. Claramente algum paralelo está sendo traçado entre os dois conjuntos de imagens, entre o demonio e o batismo de Jesus. (Em abril de 1996, em um dos muitos atos de vandalismo ao qual a igreja é inclinada, o demonio teve sua cabeça arrancada, e roubada, por um atacante desonhecido). Ficando de pé no chão em preto e branco e olhando ao redor desta pequenina igreja paroquial de Santa Maria Madalena, parece ser uma típica igreja católica a primeira vista e lugar. Super decorada com chamativos santos de gesso – tal como Santo Antonio o Eremita e São Roque, ela contém a cota usual de mobilia de igreja. Ainda que elas mereçam um exame mais cuidadoso, porque a maioria delas ostenta ao menos um toque idiossincrásico. Por exemplo, as Estações da Cruz, que geralmente são percorridas em um sentido anti-horário, aqui incluem um menino em uma roupa de xadrez escoces e uma pequena criança negra. E a cobertura sobre o púlpito toma a forma do Templo de Salomão. O baixo relevo na frente do altar era, por assim dizer, o orgulho e alegria de Sauniere: ele próprio colocou toques de acabamento a isso. Isto mostra uma Madalena vestida em ouro ajoelhada em prece, um livro aberto diante dela e um cranio em seus joelhos. Seus dedos estão curiosamente entrecruzados da maneira geralmente descrita como ‘latté’. Um cruz aparentemente composta de uma ávore viva, fina, comprida e estreita, com uma folha meio para cima, se eleva em frente a ela, e do outro lado da gruta rochosa onde ela se ajoelha pode-se se ver a forma distinta de construções silhuetadas contra o horizonte. Curiosamente, embora o cranio e o livro aberto sejam ambos aceitos como parte da iconografia de Madalena, o usual jarro de óleo de nardo está faltando aqui. Ela também aparece na janela vitral acima do altar, onde aparentemente ela está emergindo de sob a mesa para ungir os pés de Jesus com sua preciosa unção. Ao todo há quatro imagens de Madalena na igreja, que, até mesmo dado o seu status de santa patrona, pode parecer excessivo para uma construção tão pequena. A devoção de Sauniere a ela é reforçada por denominar sua biblioteca como Torre Magdala e sua casa como Vila Bethania. Bethania é o lar bíblico da família que incluia Lázaro, Marta e Maria.

Há uma sala secreta oculta por trás de um armário na sacristia, mas até mesmo o último raramente é visto pelo público. Sua única janela, que não pode ser vista claramente de fora, parece apresentar em um vitral a usual cena da Crucificação. Mas, como tudo mais neste ‘terrível lugar’, não é bem o que parece. O olho é atraído para um distante panorama, que pode ser visto sob os braços do homem na cruz: claramente o real foco da pintura. Lá, mais uma vez e novamente está o Templo de Salomão. Até mesmo a entrada do cemitério não é usual: o arco é decorado com um cranio de metal e ossos cruzados, um emblema dos Cavaleiros Templários, embora um toque não usual seja o riso forçado que mostra vinte e dois dentes. As tumbas, floridamente cobertas com elaborados tributos florais e fotografias daqueles que partiram como em tanto outros cemitérios franceses, inclusive estes das famílias dos Bonhommes. Em qualquer outro lugar mais, isto dificilmente causasse comentário, mas aqui está um lembrete linguístico dos cátaros – os  Bonhommes – que parece significativamente pungente. A tumba de Sauniere, com o baixo relevo de seu perfil, ligeiramente danificada pelo vandalismo em tempos recentes – fica contra uma parede separando o cemitério de seu antigo domínio. Marie Dénarnaud, sua fiel governanta [se não consideravelmente mais] está enterrada ao seu lado. Não é nosso propósito entrar em detalhes do que é por agora uma história perfeitamente banal. Mas ao suspeitar que o mistério de Rennes-le-Chateau mantenha algumas pistas da tradição subterrânea não estavamos nem enganados e nem desapontados. Como temos visto, temos encontrado evidência de uma complexa série de conexões que remontam a tradição gnóstica  na área, um lugar que sempre tem sido notório por seus hereges, sejam eles cátaros, Templários ou as chamadas ‘bruxas’. Desde o trauma da Cruzada Albigense o povo local  nunca tem confiado totalmente no Vaticano, e assim tem fornecido lar perfeito para idéias não ortodoxas além daquelas dos interesses de minorias políticas.  No Languedoc, com suas longas e amargas memórias, a heresia e a política tem sempre ido lado a lado como talvez elas ainda o façam.

Em Saunière encontramos um sacerdote extrovertido e rebelde. Ele dificilmente foi um típico clérigo de vila, sendo familiarizado com o Grego bem como com o Latim e um regular assinante de um jornal contemporaneo alemão. Se ele descobrobriu ou ão algum tesouro ou segredo, é improvável que o inteiro ‘negócio de Rennes-le-Chasteau’ seja uma completa fabricação. Há, contudo, várias razões para pensar que a história como geralmente écontada seja grandemente mal compreendida. É notoriamente difícil reconstruir a exata sequência de eventos, na medida em que isso grandemente repousa em memórias dos vilarinhos muito mais do que em evidência documental. Sauiere asumiu seu lugar como pároco da vila em junho de 1885. Dentro de poucos meses ele estava com problemas por pregar um sermão ferozmente anti-republicano de seu púlpito [durante as eleições daquele ano] e foi temporariamente privado de sua posição. Reassumindo no verão de 1886, ele recebeu uma doação de 300 francos  da Condessa de Chambord, viúva de um pretendente ao trono francês, Henri de Bourbon, que declarava o título de Henrique V em reconhecimento por seus serviços a causa monarquista. Aparentemente ele usou o dinheiro para renovar a antiga igreja, e na maioria das narrativas foi quando foi removido o pilada visigodo que sustentava o altar que ele encontrou os falados pergaminhos codificados. Mas isso parece improvável porque seu comportamento excentrico e projetos ambiciosos não começaram até 1891. Foi por volta daquele tempo que o sineiro, Antoine Captier, encontrou algo de importância. Alguns dizem que era um cilindro de madeira, enquanto outros dizem que era um frasco de vidro: seja o que fosse, é acreditado conter pergaminhos ou documento enrolados que ele entregou a Sauniere. E esta parece ser a descoberta que desencadeou as ações peculiares do sacerdote. A versão usual é que Sauniere apresentou os pergaminhos ao Bispo de Carcassone, Feélix-Arsène Billard, e que isto precipitou uma viagem a Paris. É geralmente dito que Sauniere foi aconselhado a levar os pergaminhos para seerm decodificados por um especialista, um Émile Hoffet, que então era um jovem estudando para o sacerdócio mas que já tinha um profundo conhecimento de ocultismo e do mundo das sociedades secretas. [Ele mais tarde ensinou na Igreja de Notre-Dame de Lumières em Goult, um local da Madona Negra qu4e é especialente importante para o Priorado de Sião]. O tio de Hoffet era o diretor do seminário de São Suspílcio em Paris. A igreja de São Suspílcio é distinguida pelo fato de que o meridiano de Paris, que passa perto de  Rennes-le-Château, é marcado por uma linha de cobre através do chão dela. Construída sobre as fundações de um templo dedicado a Isis em 1645, ela foi fundada por Jean-Jacques Olier, que a tinha projetado segundo o Significado Dourado da geometria sagrada. Ele recebeu seu nome de um bispo de Bourges ao tempo de um rei Merovíngio, Dagoberto II e seu dia de festa é 17 de janeiro – uma data que se repete nos mistérios de Rennes-le-Chateau e do Priorado. A maior parte da novela satanica de J. K. Huysmans ‘Là Bas’ é passada em São Suspílcio, e o seminário anexo a ela era notório pela não ortodoxia [para dizer o mínimo] no final do século XIX. Ela também serviu como sede para a misteriosa sociedade secreta do século XVI, a Companhia do Santo Sacramento, que, tem sido proposto, era uma fachada do Priorado de Sião. Durante a estada de Sauniere em Paris – que foi ou no verão de 1891 ou primavera de 1892 – Hoffet o apresentou a florescente sociedade oculta que esta centrada em Emma Calvé, e que incluiam persoinagens tais como Joséphin Péladan, Stanislas de Guaïta, Jules Bois e Papus (Gérard Encausse). Há um persistente rumor que Sauniere e Emma tornaram-se amantes. É dito que Sauniere visitou a Igreja de São Suspílcio e estudou certas pinturas lá, e, segundo a história usual, comprou reproduções de específicas pinturas no Louvre [o que será discutido mais tarde]. Em sua volta a Rennes-le-Château, ele começou a decoração de sua igreja e a construção de seu domínio. A visita a Paris é uma parte crucial do mistério de Sauniere, e tem sido assunto de intenso exame por pesquisadores desde então. Não há evidência direta do que realmente aconteceu. Uma fotografia de Sauniere que tem o nome de um estúfdio de Paris, a muito tomada como prova desta viagem, foi recentemente demonstrado ser de seu irmão mais novo Alfred [também um sacerdote]. Tem sido afirmado que Sauniere aparece no livro de Missas em São Suspílcio, mas isso nunca tem sido confirmado. O escritor Gérard de Sède, que possui alguns dos papéis de Hoffet, afirma que eles contêm uma nota de um encontro com Sauniere em Paris [não datada, infelizmente] mas até onde sabemos não há corroboração independente disso. Como muito desta históia, ela repousa nas memórias e testemunho dos vilarinhos e outros.

Por exemplo, Claire Captier, nascida Corbu, a filha do homem que comprou o domínio de Sauniere de Marie Dénarnaud em 1946 – a última viveu com Corbu até sua morte em 1953 – é enfática em afirmar que a vigem qa Paris aconteceu. Seja o que for que Sauniere tenha encontrado, parece te-lo feito extremamente rico e muito rapidamente. Quando ele inicialmente assumiu seu posto ele tinha um estipêndio mensal de 75 francos. Ainda que entre 1896 e sua morte em 1917 ele gastasse uma vasta soma – talvez não os 23 milhões de francos que alguns dizem – mas certamente tanto quanto 160.000 francos por mês. Ele tinha contas bancárias em Paris, Perpignan, Toulouse e Budapest e investia pesadamente em ações e cotas e fianças – não o padrão costumeiro para um sacerdote. Tem sido dito que ele teria feito seu dinheiro vendendo missas [acusado de dizer missas que ram acreditadas deixarem os pagadores livres de um número de anos no purgatório] mas embora ele certamente o fizesse, como geralmente visto pelo historiador francês  René Descadeillas – o principal negador do caso de Sauniere -, isto não teria produzido somas suficientes que o habilitassem para eregir tais construções e ao mesmo tempo viver tão grandiosamente. Portanto havia algo mais. De qualquer modo, pode-se perguntar porque tantas pessoas haveriam de querer as misas celebradas por Sauniere – um insignificante pároco rural de uma remota paróquia. Ele e Marie atraiam a crítica peloi seu estilo de vida gastador; ele sempre estava vestida na última moda de Paris [ é dito que esta era a razão real para seu apelido de  ‘la Madonne’, a Madonna] e eles recebiam em uma escala completamente desproporcional a sua suposta renda ou status social.  Sobretudo era extremamwnte difícil para os ricos e famosos fazerem a viagem para Rennes-le-Château para estar com eles. [Por alguma estranha razão, contudo, Sauniere apenas recebia na Vila Bethania, preferindo viver no prebistério anexo a igreja]. Seus visitantes incluiam um príncipe Hapsburg, que tinha o evocativo nome de Johann Salvator von Habsburg, um ministro do governo e Emma Calvé. Mas não foi apenas a escala gastadora da hospitalidade deles que convidava a hostilidade: Sauniere e Marie começaram a escavar a noite no cemitério. Embora por completo o que eles descobriram seja um assunto para especulação, é certo que eles apagaram as inscrições  da pedra tumular e da placa que cobriam a tumba de um nome evocativo: Marie de Nègre d’ Ables, uma nobre mulher da área que morreu em 17 de janeiro de 1781, presumidamente para ocultar a informação que ela continha. Pouco eles entenderam que seu esforço era em vão: uma cópia da inscrição já existia graças aos membros visitante de uma sociedade de antiquários locais. Como veremos, contudo, a avidez de Sauniere para destruir  a inscrição é de grande importância para nossa investigação. Por volta do tempo da alegada viagem a Paris, Sauniere também encontrou a Pedra do Cavaleiro de face para baixo perto do altar, uma placa gravada datando dos tempos visigodos, que apresenta um caalaeiro em um cavalo com uma criança. Ele parece ter rncontrado algo de grande importâncis sob esta pedra- talvez um outro grupo de documentos ou artefatos, ou a entrada de uma cripta. Ninguém sabe com certeza como Sauniere teve o chão substituido, mas seu diário registra a enigmatíca entrada de 21 de setembro de 1891: “Carta de Granès. Descoberta de uma tumba. Chovia”. As escavações noturnas de Sauniere causaram um escândalo local ma foi sua venda de missas que eventualmente provocou a ira das autoridades da Igreja  na extensão em que ele foi destituído de seu ofício de sacerdote. Ele foi até mesmo designado para uma outra paróquia, mas firmemente se recusou a obedecer, e claramente viveu em Rennes-le-Château com Marie. Quando a Igreja enviou um outro sacerdote a vila, Sauniere celebrou a misssa em Vila Bethania não oficialmente para os vilarinhos que permaecerem leais a ele. De todos os mistérios que cercam Sauniere talvez o mais persistente seja o que se seguiu a sua morte. Ele ficou doente em 17 de janeiro de 1917; viveu mais cinco dias e seu corpo foi sentado ereto em uma cadeira ao ar aberto, nas defesas do terraço de seu domínio, enquanto os vilarinhos – e outros que ja haviam feito uma viagemmuito mais longa –  passavam por ele, tocando os pompons vermelhos de sua batina. Sua última confissão foi ouvida por um sacerdote da vizinha   Espéraza, e seja o que foi que tenha sido dito teve um tal efeito profundo sobre ele, como diz René Descadeillas: ‘que daquele dia em diante o velho sacerdote nunca mais foi o mesmo homem; ele claramente recebeu um choque”. Depois de sua morte, a fiel  Marie Dénarnaud viveu em Villa Bethania. Saunière que, como um sacerdote, nada podia possuir, tinha comprado toda terra no nome dela. Ela se tornou crescentemente reclusa e ganhou uma reputação de irascibilidade, ersistindo a muitas tentativas de comprar os domínios crescentemente dilapidados dela. Mas finalmente, em 1946, no dia da festa de Maria Madalena, ele o vendeu a Noë Corbu, um homem de negócios, sob o entendimento que ele podia viver o resto de sua vida lá.

A filha de Corbu, Claire Captier se recorda de viver lá enquanto criança. Segundo ela, Marie visitava o túmulo de Sauniere todos os dias, e no meio de toda noite. Marie disse a jovem Claire sobre algum fenômeno extraordinário que aparecia em algumas destas visitas. Ela diria: ‘Esta noite eu fui seguida por ‘will-o’-the-wisps’ do cemitério. Perguntada se ela tinha ficado com medo, ela respondia: “Estou acostumada com isso. Ando vagarosamente e eles me seguem ; quando eu paro, eles também param, e quando fecho a porta do cemitério eles desaparecem”. Claire Captier também se recorda que Marie disse: ‘Com o que o Senhor Cura tem deixado, pode-se alimentar toda Rennes por cem anos e ainda sobrará”. E quando perguntada porque, se tanto dinheiro foi deixado para ela, ela ainda vivesse pobre, ela respondeu:’ Não posso tocar nisso”. E em 1949, quando ela sabia que o negociante Corbu estava em dificuldades, ela disse: “Não se preocupe muito, meu bom Noe, um dia eu lhe contarei um  segredo que fará de você um homem muito, muito rico”. Infelizmente, nos meses que levaram a sua morte por um derrame em janeiro de 1953, ela se tornou senil, e o segredo morreu com ela. Sobre o que era a história de Sauniere? Certamente parece que ele estava sendo pago por algum agência externa para permanecer na vila [até mesmo quando rico o sacerdote escolheu permanecer], embora os pagamentos tenham sido erráticos. Sua riqueza não consistia de uma grande soma de dinheiro, como alguns tem sugerido, porque seu fluxo de caixa era variável. Ele frequentemente recorreu a empréstimos não apenas para recuperar seu estilo de vida gastador mais uma vez em questão de meses. Ao tempo de sua morte ele estava empenhado em ambiciosos projetos novos que teriam custado ao menos oito milhões de francos – para construir uma estrada decente até a vila para o carro a motor que pretendia comprar, levar água a todas as casas e criar uma piscina externa batismal, erigir uma torre de setenta metros doa qual ele planejava chamar seus paroquianos para rezar. Fortes candidatos ao papel de pagadores são os monarquistas, em tal caso há um diferente mistério. Que possível serviço Sauniere poderia ter fornecido a eles que justificasse tais pagamentos em tão grande escala? Pode sua obsessão por Maria Madalena de algum modo sugerir uma razão subjacente para suas enormes recompensas? Certamente havia mais nesta riqueza do que um complô político. E suas poucas memórias sobreviventes, nas palavras de Gérard de Sède, revelam: umacuriosa devoção a Bona Dea,  o eterno princípio feninin, o qual, na boca de Bérenger [Saunière], parece transcender as crenças e fés. Mais uma vez encontramos segredos rodeando o Princípio Feminino como incorporado em Maria Madalena – e uma distinta conexão com o Priorado de Sião, que afirma venerar Madonas Negras e Isis. E, como devemos ver, a área ao redor de Rennes-le-Château contém muito mais pistas para a continuação desta forma de veneração a deusa.

E quanto aos famosos pergaminhos alegadamente encontrados por Sauniere [segundo fontes do Priorado de Sião]? Eles são ditos consistirem em duas genealogias relativas a sobrevivência da dinastia Merovingia e dois consistentes em extratos dos Evangelhos nos quais certas letras, que são marcadas, mantém mensagens codificadas. Os próprios pergaminhos nunca tem sido vistos a luz do dia, mas alegadas cópias dos textos codificados tem sido amplamente publicadas, seu primeiro aparecimento sendo em 1967 em ‘L’Or de Rennes’ de Gérard de Sède e sua esposa Sophie. (De fato, ele não seja tanto creditado, Pierre Plantard de SaintClair tem afirmado que ele foi o co-autor deste livro] Estes textos tem sido assunto de milhares de palavras e muita especulação em andamento. Do Novo Testamento a narrativa de Jesus e seus discípulos em um capo de milho no Sabbah, as letras marcadas, quando simplesmente as lemos ordenadamente, diz: PARA DAGOBERTO II REI E PARA SIÃO É ESTE TESOURO E É SUA MORTE/ELE ESTÁ MORTO. O outro texto descreve abertamente a unção de Jesus por Maria de Bethania e a versão decodificada é: OS PASTORES SEM TENTAÇÃO QUE POUSSIN E TENIERS [pintores] MANTÉM A CHAVE DA PAZ 681 PELA CRUZ E ESTE CAVALO DE DEUS COMPLETO [OU MATO] ESTE DEMONIO GUARDIÃO AO MEIO DIA [OU AO SUL] MAÇÃS AZUIS. A decifração deste código é muito mais complexa do que a do primeiro texto. Ao ler as letras marcadas neste texto lemos ‘REX MUNDI’ [Latim para ‘Rei do Mundo’ um termo gnóstico para o deus desta terra, que era usado pelos cátaros], mas 140 letras estranhas tem sido acrescentadas também, tornando a decodificação um processo imensamente tortuoso para obter a mensagem da Tentação dos pastores. [interessantemente, o sistema usado tinha sido divisado pelo alquimista francês Blaise de Vignère, que era secretário de Lorenzo de Medici.) A mensagem final é um anagrama perfeito da inscrição da pedra tumular de Marie de Nègre (que é discutida no capítulo seguinte). Embora haja pouca dúvida que a mensagem decodificada seja acurada, tem havido muitas tentativas engenhosas e frequentemente altamente imaginativas para tentar explicar ou fazer sentido disso. [a mais recente, de Andrews e Schellenberger, é discutida no Apendice II). O problema com estes pergaminhos é que Philippe de Chérisey, um associado de Pierre Plantard de Saint-Clair (e provavelmente seu sucessor como Grão Mestre do Priorado de Sião em 1984), mais tarde admitiu que os fabricou em 1956. [quando confrontado pelo autores de ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ em 1979, Plantard de Saint-Clair afirmou que Chérisey simplesmente os havia copiado, mas isto não é inteiramente convincente).

Seja como forque se veja os pergaminhos, tem que ser admitido que eles foram enormemente bem sucedidos como instrumentos de clássica perda de tempo, e são de longe não confiáveis demais para fonecer orientações gerais para uma investigação da história de Sauniere. Mas se Sauniere não encontrou os pergaminhos, ele encontrou um tesouro de algum tipo, como firmemente o acreditam muitas pessoas. Certamente ele encontrou um pequeno grupo de velhas moedas e jóias em sua igreja, mas como a área como um todo é rica em achados arqueológicos, tal descoberta dificilmente teria excitado o interesse que tem cercado a história de Sauniere. Muitas pessoas acreditam que ele tenha encontrado uma real caverna de Aladim cheia de suntuosos tesouros, tanto que ele e seus amigos não conseguiram esgota-los, e que algo dele ainda esteja lá para um buscador empreendedor encontrar. Tão romantica quanto possa ser esta noção, ela não faz sentido. Primeiramente, este cenário é improvável de explicar seus recorrentes problemas de fluxo de dinheiro; secundariamente, ele criou os chamados mapas de tesouro – o simbolismo da igreja – o que não é uma coisa muito inteligente a se fazer se se pretende manter o dinheiro para si. Por último, se a igreja é essencialmente um grande mapa do tesouro então o simbolismo usado é  bizarro e esotérico ao extremo. Se ele quisesse manter o dinheiro para ele próprio ele dificilmente teria projetado um mapa do tesouro para consumo público [não importa quão arcano] e se ele quisese que apenas detas pessoas o encontrassem  então porque não simplesmente dizer a elas? E sua descoberta do tesouro dificilmente explicaria porque pessoas ricas e influentes quisessem visita-lo  em sua remota paróquia no topo da montanha. Dado toda a evidência, parece que Saunire estava sendo pago por alguém para alguma coisa – algum serviço qu4e envolvia permanecer em  Rennes-le-Château, onde ele insistiu de viver até mesmo quando ordenado a se mudar. Suas atividades revelam que ele efinitavamente estava procurando algo: suas escavações noturnas no pátio da igreja. seus longos tours na vizinhança imdiata e até mesmo as viagens mais longas a lugares mais distantes que duravam vários dias a cada vez.

Mas era tão importante que ele fosse pensado estar ainda em Rennes-le-Château que durante suas ausências Marie Dénarnaud regularmente enviasse cartas preparadas em resposta a correspondência recebida, implicando em que ele estava simplesmente ocupado demais para responder pessoalmente daquela vez. [algumas destas respostas armazenadas foram encontradas em seu papéis depois de sua morte]. Uma nova adição à história de Saunire emergiu em 1995, quando o esoterista André Douzet produziu uma maquete, ou modelo em gesso, representando o panorama em relevo que Sauniere alegadamente havia encomendado exatamente antes de sua morte. Ela mostra montanhas e vales e o que parecerem ser estradas ou rios correndo por elas. Há uma única construção quadrada em um dos lados da montanha. Ostensivalemente, ele apresenta a área ao redor de Jerusalém, como sítios bíblicos tais como o Jardim de Getsemani e o Golgota são indicados. Contudo, o panorama da maquete de modo algum combina com aquele de Jerusalém: talvez ele realmente mostre a área ao redor de Rennes-le-Château. Será que Sauniere teria divisado tornar sua terra natal em uma nova Jerusalém?

É possível passar uma vida inteira estudando as possibilidades do mistério de Rennes-le-Château: de fato, talvez esta seja sua verdadeira função – ser glorificada falsamente. Por enquanto ela é indubitavelmente importante, desviando a atenção do envolvimento igualmente sugestivo de outros na área adjacente. Outros párocos nas paróquias vizinhas estavam implicados no caso, inclusive o superior de Sauniere, Félix-Arsène Billard, Bispo de Carcassone. Ele alegadamente enviou Sauniere a Paris e ignorou seu aparente comportamento excentrico e ecandaloso. [foi depois da morte de Billlard em 1902 e a indicação de seu sucessor que Sauniere foi acusado]. E o próprio Billard estava envolvido em duvidosos negócios financeiros. O mais conhecido entre estre grupo de sacerdotes ao redor de Sauniere  o Abade Henri Boudet (1837-1915), que tinha sido sacerdote em Rennes-les-Bains desde 1872. Um homem erudito, sábio, reservado, temperamentalmente o oposto de Sauniere, ele também estava engajado em estranhas atividades. Em 1886 ele publicou um livro bizarro, ‘Le vraie langue celtique et le cromleck de Rennes-les-Bains’ (A Verdadeira Linguagem Cética e Cromlech de Rennes-les-Bains ), que desde então tem deixado perplexos os pesquisadores. Ostensivamente o livro lida com dois assuntos: uma perversa teoria que muitas linguas antigas – Celtica, hebraica e asim por diante – eram derivadas do anglo-saxão, incluindo exemplos frequentemente hilários de como nomes de lugares nas vizinhanças de Rennes-les-Bains vieram de raízes inglesas; e uma descrição dos vários monumentos megalíticos na área.  Boudet era um respeitado historiador e antiquário lcal, e as teorias que ele propunha eram tão improváveis que muitos devem ter concluido que elas escondessem um segredo mais profundo, mensagens secretas – uma contraparte literária da decoração da igreja de Sauniere. Alguns tem até mesmo sugerido que ambos se complementem e quando reunidos eles codifiquem as direções para o ‘tesouro’. Se assim, ninguém tem chegado a uma decifração satisfatória, e o livro de Boudet é tão intrigante hoje quando ele foi quando publicado pela primeira vez. Suas outras atividades, contudo, correm paralelas aquelas de Sauniere, na medida em que é sabido ter ele alterado as inscrições em pedras de túmulos  em seu cenitério de igreja e movido marcadores de terra na área.  Alguns tem visto Boudet como a mente mestra real por trás do trabalho de construção de Sauniere, e temos visto sugestões, tais como a de Pierre Plantard de Saint-Clair – embora longe de serem substanciadas, que Boudet fosse o ‘mestre pagador’ de Sauniere. Mas Boudet também é importante para um outro maior participante neste complexo mistério: o próprio Plantard de Saint-Clair escreveu o prefácio de uma edição de 1978 do livro de Boudet e ele possuia terras perto de Rennes-les-Bains. Pode-se tamém ver no cemiterio da velha igreja de Boudet um marcador indicando a trama que Plantard de Saint-Clair tem reservado para ele próprio. Um outro clérigo contemporaneo de Sauniere era o Abade  Antoine Gélis, que era o sacerdote paroquial da vila de Coustassa, que jaz através do vale do Rio Sals a partir de Rennes-le-Château. Em 1o. de novembro de 1897 o ancião abade foi encontrado selvagemente assassinado, tendo morrido de repetidos golpes na cabeça, aparentemente causados por um assaltante que ele havia deixado entrar no presbitério e com quem ele estava conversando. Gelis era amigo de Sauniere e este último registra um encontro com ele e vários outros em seu diáro de 29 de setembro de 1891, estatamente ioto dias depois da entrada referente a ‘descoberta de uma tumba’. No periódo antes de seus assasssinato Gelis aparetemente estava vivendo com  medo, mantendo sua porta trancada e vendo apenas sua sobrinha, que lhe levava as refeições. E ele recentemente tinha recebido uma grande quantidade de dinheiro – alguns 14.000 francos – que ninguém podia dizer sua proveniência. Ele havvia escondido este dinheiro em sua casa e igreja e papéis foram encontrados que revelavam os lugares ocultos. Ainda que virtualmente todo dinheiro estivesse lá depois de seu assassinato. O assasino – que nunca foi pego – tinha revirado a casa mas tinha deixado aproximadamente 800 francos espalhados. Ainda mais estranho, ele tinha ritualmente colocado o corpo deitado, cruzando os braços sobre o peito, e deixando um pedaço de papel onde estavam escritas as palavras ‘viva angelina’ escritas nele. Nenhum motivo foi até mesmo vislumbrado para este crime. Há um par de elementos particularmente estranhos interligados ao assassinato de Gelis. Sua pedra tumular, no cemitério da igreja em Coustassa, tem sido posicionado – sozinho de todas as tumbas – para que fique diante de Rennes-le-Château, que está claramente visível no lado oposto da montanha. A tumba também ostenta uma insignia rosacruz. E embora este assassinato brutal de um velho e frágil sacerdote chocasse a população local, a diocesa parece ter querido o assunto esquecido o mais rápido possível. Quando Gérard de Sède tentou investigar isto na década de 1960, ele não encontrou registro do assassinato nos arquivos diocesanos em Carcassonne. Não foi senão em 1975 que dois advogados reconstituiram a história da polícia local e dos registros da côrte. Tem sido até mesmo sugerido que Sauniere foi o responsável pela morte de Gelis, mas isto é pura especulação. Parece, contudo, que algo sinistro estava acontecendo que envolvia os sacerdotes locais além dos confins de Rennes-le-Château.

Indubitavelmente a vila de Rennes-le-Château é importante por si só, mas talvez ênfase demais teha sido colocada nela, porque toda a região ao redor tamém é cheia de mistério. A maioria dos pesquisadores reconheceo fato de que há outros sítios, igualmente compelentes  nas redondezas, mas tende a ve-los meramente como um pano de fundo para a história de Sauniere. Contudo, se ele fez uma descoberta, há muitos lugares onde ele pode te-la feito. Fora suas várias longas ausências da vila, algumas vezes por dias e outras por semanas, ele também era cohecido por fazer longas caminhadas na vizinhança. [e era um entusiasta caçador e pescador e suas esxcursões bem podem ter sido uma cobertura para alguma outra atividade]. Os Dossiês Secretos claramente afirmam que Sauniere tinha estado trabalhando para o Priorado de Sião, mas há qualquer evidência para sua influência na área adjacente? Temos visto que Pierre Plantard de Saint-Clair possui terras perto de Rennes-les-Bains e tem comprado um lote no cemitério lá, mas as aparentes preocupações da organização realmente se refletiram na área? Dado a extraordinária cultura cruzada das sociedades secretas no Languedoc seria surpreendente se elas na tivessem. De fato, um estudo da área perto de Rennes-le-Château mantém muitas pistas não apenas do Priorado, mas também de uma tradição subterrânea mais ampla – uma que suspeitamos ainda poder existir. Estávamos para encontrar o que pode ser chamado a Grande Heresia Européia – a extrema veneração, até mesmo aberta adoração, de Maria Madalena e de João Batista – é bem representada aqui. Há uma notável proliferação de igrejas dedicadas a Batista nesta região. Eles frequentemente são encontradas em grupos – por exemplo, há três igrejas de João na pequena área de Belvèze-du-Razès. (Interessantemente, uma grande parte desta área é chamada – La Magdalene .) É também interessante que a atual igreja de Madalena em Rennes-le-Château foi uma vez a mera capela do castelo, enquanto outra igreja agraciava a vila – que era dedicada a João Batista. Ela foi destruída no século XIV quando Rennes-le-Château foi capturada pelas tropas de um nobre espanhol, aparentemente sendo demolida pedra por pedra na crença de algum tesouro estivesse oculto lá dentro. Um inexplicável mudar a face aconteceu na vizinha Arques,quando a Igreja original de São João Batista foi rededicada a Santana. Isto é particularmente estrano porque ela ainda abriga uma relíquia de Batista. Arques e Couiza – onde há outra igreja de João – foi possuída pela família Joyeuse até 1646, quando Henriette-Catherine de Joyeuse vendeu toda sua terra no Languedoc a monarquia francesa.

Interessantemente, ela era viúva de Charles, Duque de Guise, que tinha sido tutelado por Robert Fludd – que tiha sido especialmente trazido da Inglaterra para este trabalho. Em Couiza ou em Arque houve uma vez um sítio da Madona Negra, conhecida como Notre-Dame de la Paix, que foi levada para Paris em 1576 pela família Jouyeuse, onde ainda pode ser vista na Igreja das Irmãs do Sagrado Coração [no 12 distrito]. Estranhamente, Sauniere se correspondia com a superiora desta ordem, para quem ele claramente era alguém especial. Uma carta para ele da Irmã Augustine Marie, Secretária da Ordem, datada de 5 de fevereiro de 1903, ppede a ele para dizer missas especificamente em honra de sua Madona Negra, oferece para vender a ele uma estátua do Menino Jesus de Praga [que hoje ainda pode ser ista em Vila Bethania] e, de algum modo misteriosamente, o agradece ‘pela devoção que você mostra ao nosso querido rei’. Isto pode se referir a algum pretendente do trono francês ou a Jesus, embora, como devemos ver, havia um outro Rei que era honrado pelos grupos heterodoxos. Ainda que haja uma sugestão de um significado diferente, talvez codificado, nas palavras da Irmã Augustine Marie e a curiosa implicação que há algo especial sobre a paróquia [e os paroquianos] de Rennes-le-Château. A família Joyeuse também construiu a Igreja de João Batista em Arques, que foi construída das ruínas do antigo castelo que tinha sido destruído pelos homens de Simon de Montfort. De fato, a atual torre do sino e a parede principal eram realmente parte do castelo original. Como temos visto, a igreja que era dedicada a João Batista agora é dedicada a Santana – embora até mesmo o prefeito de Arques não possa nos dizer porque a mudança foi feita. Seu predecessor na década de 1930 e 40 era Déodat Roché, um grande estudante da história esotérica da área que estava por trás de uma das mais ardentes tentativas de reestabelecer uma igreja cátara na área. Um dos tios de Roché era médico de Sauniere, e um outro era o seu tabelião.

A meio dia entre Rennes-le-Château e Limoux está o centro termal spa de Alet-les-Bains. Antigamente o sítio do bispado local [antes de ser mudado para Carcassone]. Alet era, na Idade Média, um renomado centro alquímico. A família de Nostradamus veio desta cidade e é possível que o famoso vidente ele próprio tenha vivido lá por um tempo. A cidade tem ligações templárias remontando aos dias mais iniciais da Ordem – vários atos importantes garantindo a eles terra foram assinados lá nos anos de 1130 – e símbolos templários podem ser vistos gravados nas madeiras de algumas pitorescas casas medievais ainda hoje; de fato, o brasão de armas da cidade apresenta ums Cruz Templária. A imponente igreja, de Santo André, tem uma curiosa ligação com aquela Ordem. O escritor e pesquisador Franck Marie tem demonstrado que como a Capela Rosslyn seu projeto é baseado na geometria da cruz templária – ainda que a igreja foi construída no fim do século XIV, depois da supressão da Ordem. A construção também é notável pelas janelas que tem o sinal da estrela de seis pontas [a estrela de David]. Fora de suas óbvias associações judaicas [que são, para dizer o mínimo, extremamente não usual em uma igreja medieval cristã], o símolo também tem tradicionais conotações mágicas, simbolozado a união dos princípios masculino e feminino. A rua principal de Alet-les-Bains é a Avenida Nicolas Pavillon, que recebeu seu nome de seu bispo mais famoso [cuja incumbência durou de 1637 a 1677]. Ele é uma figura importante que esteve envolvido nos eventos ligados ao Priorado de Sião. Pavillon, junto com dois outros clérigos,  o famoso São Vicente de Paulo e Jean-Jacques Olier (o construtor de São Suspílcio], eram a força motora por trás da Companhia do Santo Sacramento, que também era conhecida entre seus membros como ‘A Trama do Devoto’. Ostensivamente uma organização caritativa, ela agora é reconhecidsa pelos historiadores como tendo sido uma sociedade secreta politico-religiosa que manipulou líderes proeminentes daquele tempo e até mesmo infuenciou o monarca. Tão bem fez isso que a Companhia escondeu seus verdadeiros motivos, que os historiadores ainda não podem concordar quais fossem eles – as vezes parece ser ferozmente principal católica, mas em outras completamente herética.  Tem sido argumento que de fato ela era uma fachada para o Priorado de Sião. Como temos visto, sua sede era no seminário de São Suspílcio em Paris.

Um destes conspiradores, o misterioso São Vicente de Paulo (c.1580-1660) – que afirmou, bizarramente, ter sido educado em alquimia, é honrado em um outro sítio que figura como um dos mais enigmáticos no Languedoc. É a basílica de Notre-Dame de Marceille, que fica ao norte de Limoux, exatamente fora da cidade. Uma estátua de São Vicente fica em seu solo, para marcar o fato que ele fundou a Ordem dos Padres Lazaristas, que, desde 1876, tem estado a cargo da basílica. [Significativamente, o Padre Lazarista de Notre Dame de Marceille estava proeminente entre aqueles convidados às cerimonias de Sauniere para abrir várias partes de seu domínio]. Este sítio tem as provocantes conexões com as heresias que estamos investigando. De início, a despeito da diferença na pronúncia, este ‘Marceille’ (a derivação da qual é desconhecida] evoca Madalena através da conexão com ‘Marseilles’. A basílica foi construída em um sítio de um antigo santuário pagão, centrado em um riacho que é reputado ter propriedades curativas, particularmente para os olhos. A igreja recebe seu nome de uma Madona Negra do século XI que ainda está em apresentação lá dentro, e com a qual muitos milagres tem sido associados. Talvez com este background, não deva ser surpresa descobrir que o sítio antigamente pertencesse aos Templários. Por séculos ele foi um centro para romarias. Com o passar dos anos, por alguma razão, sempre tem havido lutas entre vários grupos religiosos pelo controle deste sítio. Ele originalmente pertenceu a abadia vizinha dos Beneditinos de São Hilário, que durante a Cruzada Albigense atraiu um comentário hostil por causa de sua política de neutralidade em relação aos cátaros. [A inteira população de Limoux foi excomungada em um momento por dar abrigo a eles]. No século XIII a luta era entre o Arcebispo de Narbonne, a Ordem Beneditina e os Dominicanos. Mais tarde o rei teve que intervir em uma disputa sobre a propriedade do sítio entre o Arcebispo, o Senhor de Limoux e Guillaume de Voisins, Senhor de Rennes-le-Château. Em 14 de março de 1344 (o centésimo aniversário da misteriosa cerimônia cátara em Montsegur na noite anterior a eles se lançarem às fogueiras), o Papa Clemente VI deu a igreja ao Colégio de Narbonne em Paris, em cuja posse ela permaneceu até meados dso século XVII, quando passou para o Bispo de Alet-les-Bains. (Interessantemente, a fonte principal de renda para o Colégio de Narbonne era a renda da igreja de Maria Madalena em Azille, no Aude]. Durante a Revolução a igreja e as terras foram vendidas, mas a Madona Negra foi escondida por um Prior da Ordem dos Penitentes Azuis, um curioso grupo que tem conexões com os Maçons Livres do Rito Escocês Retificado e a família Chefdebien – que, como devemos ver, são participantes importantes neste drama. A igreja foi restaurada como um lugar de veneração em 1795. Ainda que uma outra disputa ocorresse durante o tempo de Sauniere e envolvesse seu superior, Monsenhor Billard, Bispo de Carcassone.

O sítio era então possuído por vários proprietários, mas por meio de uma série de movimentos perspicazes, e nem sempre éticos, ele empregou os serviços de um banqueiro como ‘homem de fachada’para comprar todas as partes. Interessantemente a venda ocorreu em 17 de janeiro de 1893 [embora Billard de algum modo tivesse a posse da Madona Negra que foi mantida em Limoux por um tempo] Dentro de quatro meses, contudo, o novo proprietário tivesse vendido a terra de volta ao bispado e Billlard tive o controle total que queria. Em 1912 o Papa Pio X decretou que a igreja devia ser elevada ao status de uma basílica, uma rara honra e uma que era completamente inexplicável para um sítio tão humilde. O status de basílica geralmente apenas é garantido a igrejas de importancia especial – como no caso de St Maximin na Provença, que abriga [como é alegado] as relíquias de Maria Madalena. A área ao redor de Notre-Dame de Marceille também é notável por ter sido, até muito recentemente, um lugar de particular interesse para os ciganos, que costumavam ter um acampamento no campo entre a igreja e o Rio Aude, que corre a umas poucas centenas de metros a oeste.  Notre-Dame de Marceille é especialmente mencionada no enigmático livro do Abade Boudet e foi isso que trouxe o falecido pesquisador holandês Jos Berthaulet, ao sítio. Ele fez uma interessante descoberta: nas antigas terras da igreja, agora em mãos particulares, nos bancos do Aude há uma caverna subterrânea. Ela consiste em duas grandes camaras que datam ou do final do período romano ou do começo do visigodo [século III ou IV]. Por volta de seis metros de altura, a primeira destas camaras tem uma abertura no teto abaulado, mas apenas a entrada é estreita, um tunel de um metro de altura, aparentemente a mais recente construção e que foi oculta por dentro de uma pequena casa agora arruinada [que parece ter sido construída expressamente para este propósito]. A função desta caverna é desconhecida. Há especulações que ela agia como uma camara funerária visigoda, embora agora esteja vazia, ou como um lugar de iniciação em alguma escola de mistério. Seja qual for sua função, há alguma evidência que ele esteve em uso até a primeira parte do século XII, embora sua existência fosse tão secreta que, como viriamos a descobrir em traumáticas circunstâncias, até mesmo os sacerdotes da própria basílica não a conhecessem.

Talvez fosse esta camara subterrânea que Billard estivesse tão interessado em por as mãos. Durante uma viagem de pesquisa a França no verão de 1995,  Clive Prince visitou a área com seu irmão Keith. Tinhamos tido informação sobre esta caverna, incluindo as direções de como encontra-la – que se provaram insubstituíveis já que a entrada estava coberta por uma formidável vegetação – do pesquisador belga Filip Coppens. Jos Bertaulet tinha parcialmente encoberto a abertura a luz do dia da primeira camara com placas de pedra para evitar acidentes. Havia, como viriamos a descobrir de um modo duro, uma queda completa de seis metros abaixo. Keith, tendo descido à primeira camara usando uma corda de subida [qualquer escada de madeira a muito tendo apodrecido] tropeçou no entulho que encobria o solo e caiu pesadamente. Deitado no escuro entre os destroços de eras, de início pareceu que Keith tivese quebrado a perna, e embora mais tarde fosse descoberto que ele apenas tinha torcido um ligamento, ele era incapaz de ficar de pé, sem falar em subir a caverna. Clive não tinha outra opção que chamar os serviços de emergência [que chegaram em tais números que parecia que o acidente de Keith era a coisa mais excitante a acontecer por um longo tempo em Limoux]. Depois de quatro horas, uma equipe de resgate de cavernas finalmente o resgatou pela abertura de cima, e o levou ao hospital de Carcassone. [Uma coisa que emerge deste episódio é que quando Clive foi pedir ajuda na basílica o pessoal de lá nem mesmo sabia que a caverna existia]. Tristemente, por causa deste acidente a investigação posterior da caverna tornou-se impossível. Talvez a mais séria consequência foi a ameaça das autoridades de lacra-la para evitar posteriores acidentes.

Foi um alívio descobrir que isto de fato não havia acontecido embora as entradas tenham sido cobertas com o passar dos tempos e retornássemos com Charles Bywaters na primavera de 1996. Nesta ocsaião, embora não tenha sido feita uma tentativa de explorar as camaras principais, investigamos o tunel que leva a elas, e fizemos uma descoberta muito importante. O tunel parece levar a uma parede vazia mas, seguindo uma sugestão feita por Filip Coppens, eaxaminamos esta parede e encontramos o que uma vez tenha sido um portal. Ele tinha sido delibradamente selado – aparentemente relativamente recente – e barras de ferro que foram colocadas na pedra que podem ter servido como cabos. A julgar pela manifesta ignorância das autoridades locais da existência da caverna, não podem ter sido elas que selaram a entrada. Então quem fez isso – e de qualquer modo – porque selou apenas uma das camaras deste modo? Pela condição ds barras de ferro estimamos que a entrada tenha sido selada aproximadamente a cem anos atrás, quando Billard tinha o único controle da propriedade. Ele escondeu algo por trás desta entrada fechada? Talvez ele tenha feito issso, mas suas ações revalaram um virtual desespero para possuir aquele lugar em particular, que sugere que ele não estava escondendo, mas procurando algo. E seja o que for que isso fosse, deve ainda haver algumas pistas quanto a sua natureza neste lugar secreto e úmido, porque ele se preocupou muito em lacrar isso.

Pouco antes de sua morte por câncer em 1995, Jos Bertaulet afirmou haver decodificado o estranho trabalho de Boudet ‘La vraie langue celtique’ e concluiu que ele trata de um relicário contendo a cabeça de ‘um rei sagrado’ que estava escondida naquela caverna subterrânea. Ele posteriormente declarou que Boudet ligou esta camara com as histórias do Santo Gral. Como temos isto, o tema de sagrados reis decapitados corre por estas histórias [ e Saunire era agradecido por sua devoção ao nosso ‘querido rei’ pelas Irmãs do Sagrado Coração em Paris]. E, significativamente, Notre-Dame de Marceille uma vez foi de propriedade dos Templários. A pesquisa posterior depende de passar pela porta lacrada, e parece improvável – ao tempo em que escrevemos, que esta permissão seja dada. Mas tantos temas são centrais a esta investigação que parecem se reunir neste lugar: as Madonas Negras, os Templários, a Madalena e as histórias do Gral. E a história de uma cabeça cortada, em uma área tão repleta de igrejas dedicadas a ele, certamente evoca João Batista. Claramente, a região em geral, e o sítio de Notre-Dame de Marceille em particular, ainda guardam algum profundo segredo. É dífícil ver  exatamente como Sauniere se encaixa nesta imagem, mas igualmente parece que ele era parte disso. É muito provável que ele encontrou algo de grande importância, mas é impossível dizer o que possa ter sido com certeza. Contudo, nossa investigação tem alcançado muitas pistas significativas do tipo de companhia que ele mantinha e dos contactos que ele buscou deliberadamente. De fato, a evidência que dolorosamente reunimos relativa as verdadeiras afiliações de Sauniere mudam para sempre e radicalmente a imagem padrão de um humilde sacerdote do interior que tropeçou em um tesouro de amor. Seja o que for que ele tenha encontrado, sua importãncia se estende muito além dos confins da curiosa vila de Rennes-le-Château.

CAPÍTULO IX
UM TESOURO CURIOSO

Os céticos alegam não haver mistério em Rennes-le-Château. Para eles, Saunière fez seu dinheiro simplesmente vendendo missas – ou talvez por alguns outros negócios sombrios e a história do tesouro foi cinicamente fabricada como uma atração turistica. Quanto a ênfase na vila e em seu mito nos Dossiês Secretos, isto, eles dizem, foi simplesmente o  próprio Priorado criando um ar de mistério. Além disso, a história como a conhecemos pode ser rastreada apenas a 1956 quando  Noël Corbu gravou uma narrativa que era para entreter convidados em Villa Bethania, que ele transformou em um hotel-restaurante. Contudo, a investigação mostra que há um mistério: de fato, a vila foi claramente um foco para pesquisadores esotéricos antes daquele tempo. Por exemplo, em 1950 alguém foi lá especificamente para procurar o famoso tesouro cátaro, que acreditava ter sido levado para lá de Montsegur. Talvez isto também explique a presença de outro modo curiosa de oficiais alemães em Villa Betania, onde eles foram alojados, durante a Segunda Guerra Mundial. Como tantas pessoas agora estão cientes, os nazistas tinham uma obsessão por artefatos ocultos e religiosos e passaram muitos meses de guerra realmente escavando em Montsegur. É murmurado que eles estavam procurando pelo Santo Gral: certamente Otto Rahn, o arqueologista nazista, tinha concentrado seus esforços naquela área nos anos de 1930. Noël Corbu é um maior participante na história de Rennes-le-Château. Seu papel vai bem além daquele de um hoteleiro local e contador de histórias – como pode ser visto de sua parte na publicação dos notórios pergaminhos codificados. Como temos visto, eles primeiramente aparecerem em um livro de Gérard de Sède publicado em 1967, mas mais tarde um colega de Pierre Plantard de Saint-Clair e membro do Priorado de Sião, Philippe de Chérisey, confessou te-los composto. Em seu livro mais recente sobre o caso de Rennes-le-Château em 1988, Gérard de Sède afirma que ele publicou os textos de boa fé, que haviam sido dados a ele por alguém ligado a Rennes-le-Château que afirmou que eles eram cópias que Sauniere havia dado ao prefeito da vila antes de levar os originais a Paris. Mas de Sede tem o cuidado de não dar o nome deste ‘alguém’. Contudo, sua identidade é dada no trabalho de Jean Robin: ele era Noël Corbu. Isto é importante porque se de fato Chérisey forjou os pergaminhos, então Corbu só podia te-los obtido por meio de contacto com o Priorado de Sião. Quanto mais as circunstâncias nas quais Corbu veio aos domínios de Sauniere são investigadas, mas intrigantes elas se tornam. A história usual é que aconteceu na vila por acaso na Segunda Guerra Mundial, dele se tornar amigo da anciã Marie Dénarnaud, e decidido que a vila seria um bom lar. Mas a história real parece que ele tinha estado interessado na história de Sauniere por algum tempo, e nos anos de 1940 tinha feito seu caminho para fazer amizade com Marie e descobrir mais. De fato, ele fez várias tentativas para Marie vender, mas ela recusou. Parece que, por meio da mediação de um sacerdote chamado Abade Gau, ele tinha persuadido Corbu a agir em seu benefício, presumidamente com o acordo de que quando Marie tivesse vendido a propriedade a ele, ele a transferiria. Algo parece ter dado errado: talvez Corbu renegasse o acordo com a Igreja.

Mas tarde ele diretamente se candidatou a um subsídio do Vaticano, que obviamente foi considerado ser de importância não usual porque o Vaticano despachou o embaixador papal em pessoa para Carcassone para fazer investigações da diocese. E este embaixador não foi outro que o próprio Cardeal Roncalli – que mais tarde viria a ser o Papa João XXIII [que, segundo ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ pode ele próprio ter feito parte do Priorado]. A diocese aparentemente deu um relato negativo e recomendou que o subsídio fosse recusado. Mas estranhamente, o Vaticano o deu a Corbu, de qualquer modo. Claramente, a ligação de Corbu faz uma diferença no entendimento da história de Rennes-le-Château: o mistério não termina com a morte de Sauniere. E como Corbu viveu com Marie Dénarnaud por aproximadamente sete anos, parece que ele estava em uma boa posição de descobrir o segredo. Seja o que for que este fosse, ele não inventou isso. [Interessantemente, tem sido declarado que Corbu, com Pierre Plantard de Saint-Clair, foi o primeiro movimentador da emergência do Priorado ao olho público nos anos de 1950, mas estes rumores nunca tem sido consubstanciados]. No último capitulo vimos que Sauniere era apenas um indivíduo envolvido em um mistério muito mais amplo da área, em eventos que envolviam grandes somas de dinheiro e que levavam até mesmo a cometerem assassinatos. Indubitavelmente o mistério também envolveu os grupos em Paris com os quais Sauniere esteve em contacto. Mas é interessante que muitas das figuras principais nos círculos que rodeavam Emma Calve eram – como a própria Emma – de origem Languedociana. Tem sido lembrado que não era de fato, necessário que Sauniere tivesse ido a Paris para se encontrar com a maioria destas figuras, já que elas frequentemente visitavam Toulouse, o ‘berço de seu círculo interno’. Mais vez a trilha leva de volta a pessoas e grupos cujos nomes e afiliações já são familiares a nossa investigação. Estas conexões eram excepcionalmente importantes: não somente elas lançam uma luz muito necessária sobre o próprio Sauniere, mas elas também mostram que a história de Rennes-le-Château realmente pertence a esta investigação.

Traçando o sacerdote de volta a uma elaborada ‘árvore familiar’ de grupos ocultos que discutimos anteriormente iria nos fornecer inesperados insights e revelações sobre a verdadeira natureza do mais amplo mistério languedociano, que a nosso conhecimento nunca foi publicado antes em inglês. Estranhamente, dado todo tempo e problema que tem sido investido em desenrolar o mistério, algumas das respostas estão literalmente diante da face do investigador. Pista da própria afiliação particulasar de Sauniere podem ser encontradas dentro da própria igreja de Rennes-le-Chateau. Conquanto os céticos tenham sugerido que a inteira decoração extravagante e peculiar pode ser atribuida ao mau gosto de Sauniere ou a uma aberração mental, outra pesquisa tem indicado que há mais, muito mais do que menos, mistério neste ‘terrível’ lugar. Suspeitamos que a igreja e seu ambiente imediato tenha sido projetado e posto de acordo com um plano arcano e muito específico.  Seus maiores temas parecem ter sido a inversão, a imagem em espelho e o equilíbrio dos opostos: por exemplo, a contraparte da Torre Magdala é a casa de vidro no outro fim das defesas. Conquanto a torre seja construída de pedra sólida e tenha vinte e dois degraus que levam ao topo da torre, a última é de material insubstancial e seus 22 dregraus descem a uma sala abaixo. E o layout do jardim de Sauniere e o Calvário fora da igreja claramente conformam a um preconcebido padrão geométrico, presumidamente significativo. Estas nossas observações foram confirmadas por Alain Féral, um artista bem conhecido que vive na vila – e que é protegido de Jean Cocteau. Féral, que tem vivido em Rennes desde a década de 1980, tem feito as mais detalhadas medidas das plantas para a igreja e construções adjacentes e tem concluido que elas revelam temas recorrentes. [Isto pode, fato, não ter sido o próprio Saauniere responsável por isso, pode ter sido Henri Boudet, ou o arquiteto que ele trouxe para o trabalho, ou até mesmo superiores de seja qual for o grupo com o que Sauniere possa ter estado envolvido]. Reforçando nossa idéia do tema de imagem em espelho, Feral ressalta que o pilar visigodo [que anteriormente sustentava o altar] ostenta uma cruz gravada, que Sauniere colocou de cabeça para baixo fora da igreja. Ele também cita a importância do número 22; fora os degraus da torre e da casa de vidro, o número aparece em outro lugar do domínio. Dois lances de degraus levam do jardim ao terraço, cada um com onze degraus. As duas incrições na igreja que tem atraído a maior atenção ‘Terribilis est locus iste’ sobre o pórtico e ‘Par ce signe tu le vaincras’ acima da pia da água benta – ambas são compostas de 22 letras. Não há qualquer boa razão para os 11 e os 22: estes números são ambos números mestres no oculto. Eles são particularmente importantes nos estudos cabalistíscos. Então há o padrão curiosamente heterodoxo criado por quatro objetos; dois dentro e dois fora da igreja. O confissionário que está diretamente em frente do altar; o próprio altar; a estátua de Notre-Dame de Lourdes (com sua inscrição de ‘Penitence! Penitence!’) que está fora da igreja sobre o pilar visigodo invertido e o ‘Calvário’ no pequeno jardim que Sauniere construiu para ele próprio.

Estes quatro objetos não apenas formam um quadrado perfeito, mas também carregam uma mensagem simbólica. A caixa de confissão e a inscrição ‘penitência’ ambos se referem ao arrependimento e eles enfrentam, respectivamente, o altar e o Calvario ambos simbólicos de salvação. Assim cada par parece simbolizar uma jornada espiritual, caminho ou iniciação – do arrependimento ao perdão e então a salvação. Isto é tão cuidadosamente planejado que deve ter tido alguma mensagem. Sauniere está tentando dizer que o perdão e a salvação podem também serem alcançados fora da Igreja? E há algo mais sendo indicado aqui, algo ligado as figuras que representam arrependimento e penitência – João Batista e Maria Madalena? A frase ‘Penitence! Penitence!’ era que foi alegadamente dita pela Virgem Maria durante a aparição em La Salette. De dois jovens visionários, uma foi a pastora chamada Melanie Calvet, que era parente de Emma Calvé. (Emma trocou a forma de escrever seu nome quando ela se tornou uma cantora de ópera] . Pelo tempo quando a visão de La Salette ameaçou a rival de Lourdes, a Igreja Católica decidiu que ela era uma fraude. A visão de La Salette, contudo, foi promovida pelo movimento    Johannita/Naündorff/Vintras (veja Capótulo Sete). Saunière também escreveu aprovadoramente sobre a visão de La Salette.

Como temos visto, as decorações celebradas na própria igreja parecem improvavelmente serem avisos de algum grande tesouro. Se Sauniere tinha achado algo que o tornou rico, ele dificilmente decoraria sua igreja com direções codificadas para o lugar onde este tesouro costumava estar. É mais provável que as decorações estejam tentando ocultar algo, ou ao menos fazer uma declaração que seria óbvia apenas para um outro iniciado. A melhor analogia – e nas circunstâncias provavelmente a mais apta – é com uma sala de uma loja maçonica. Para um não iniciado os vários símbolos empregados em um tal templo – os compassos, triãngulos e outras regalias – simplesmente não podem ser decodificados para dar uma imagem coerente do que realmente se trata os maçons. Tem que se conhecer a filosofia subjacente, a história e os segredos que eles simbolizam para entender o que eles estão fazendo lá. Muitos tem discernido os símbolos de várias sociedades secretas e ocultas – os rosacrucianos, os Cavaleiros Templários, e os Maçons Livres – na decoração da igreja. As rosas e a cruz no tímbale claramente se referem aos rosacrucianos. Uma das mais frequentemente citadas anomalias nas Estações da Cruz é aquela da Oitava Estação na qual Jesus [facilmente levando sua cruz] se encontra com uma mulher que parece estar usando um véu de viúva, e que tem seus braços ao redor de um pequeno menino que está vestido algo que se parece com o tratan escocês. Isto é tomado como sendo uma referência aos Maçons Livres, que se chamam ‘Os Filhos da Viúva’. [E talvez há um significado no fato de que a oitava casa na astrologia governa os mistérios do sexo, morte e renascimento e o oculto]. O chão em tabuleiro de xadrez preto e branco da igreja e o teto azul com suas estrelas de ouro acima do altar recordam as decorações padrão de uma loja maçonica. Em nossa opinião, um dos elementos mais importantes de toda a igreja é o primeiro que o visitante vê ao entrar nela. O recentemente vandalizado demonio na porta sempre tem sido chamado ‘Asmodeus’, ele que tradicionalmente guarda o tesouro enterrado, embora nada exista que ligue esta estátua explicitamente com o demonio daquele nome. Mas discutimos isso com Robert Howells, que, como gerente de uma das mais famosas livrarias ocultistas em Londres, tem um conhecimento extraordinariamente extenso do simbolismo esotérico, e cujas próprias pesquisas do misterio de Rennes-le-Chateau são eruditas, sãs e de longo alcance. Ele ressaltou que há uma antiga história judaica sobre a construção do Templo de Salomão na qual o rei evitou que vários demonios interferissem no trabalho de um número de modos diferentes – um deles, Asmodeus, estava ligado a faze-lo carregar água, o único elemento quer pode ser usado para controla-lo. Siginificativamente, tais histórias tem sido incorporadas na lenda maçonica, e certamente não é coincidência  encontrar este quadro na igreja de Sauniere onde Asmodeus está sendo controlado carregando água sob as palavras “Por este sinal você o conquistará”.

E as decorações da pia de água benta – anjos, salamandras, a pia e o demonio – representam os clássicos quatro elementos: ar, fogo, água e terra que são esssenciais  para qualquer trabalho oculto. Se a conexão com Asmodeus está correta então é mito curioso, porque o quadro do demonio e aquele do batismo de Jesus são, como temos visto, clamente pretendidos para serem considerados juntos. Como o demonio está sendo domado pela água, a mesma coisa está acontecendo quando João pinga a água sobre Jesus? Então a peculiar inversão da ordem usual das duas letras gregas alfa e omega, a primeira e a última, que são associadas a Jesus. Pode-se esperar que o alfa fosse mostrado sob João, o alegado precursor, e o omega sob Jesus, a culminação. Mas aqui o inverso é verdadeiro. A prevalência das imagens sugerindo o Templo de Salomão dentro e fora da igreja pode se referir ou aos Maçons ou aos Cavaleiros Templários. O fato das letras anômalas na frase mal citada ‘Par ce signe tu le vaincras’ por este sinal tu o vencerás], que é encontrada entre os quarto anjos e o demonio são as letras 13a. e 14a. [ o ‘le’ é inteiramente superfluo e muda o significado da sentença] – ‘ por este sinal tu o vencerás’ – é pensado por alguns evocar o ano de 1314, quando Jacques de Molay, chefe dos Templários, foi queimado na fogueira. Todo este simbolismo tem sido dolorosamente pesquisado por dúzias de competentes investigadores durante anos e os resultados tem sido tão diversos quanto são tão diversas as interpretações. Ainda que as respostas sejam muito simples  e talvez desapontadoramente óbvias. De fato, o simbolismo na igreja de Rennes-le-Château nunca tem sido um mistério para aqueles versados na história maçonica. É simplesmente a indicação da particular afiliação de Sauniere, que era maçonica. Isto é confirmado pela escolha dele do escultor para as Estações da Cruz e outras estátuas – um Giscard, que vivia em Toulouse e cuja casa e estúdio bizarramente decorados ainda podem ser vistos na Avenida de la Colonne naquela cidade.

Giscard era um conhecido maçom livre, embora admitidamente ele se especializasse em decorações de igrejas e outros exemplos de seu trabalho possam ser encontrados pelo Languedoc. Interessantemente, na igreja de João Batista em Couiza, que fica aos pé da montanha abaixo de Rennes, pode-se encontrar identicas Estações da Cruz que tem sido fornecidas por Giscard – mas estas versões monocromáticas e anomalias tão perceptíveis na igreja de Sauniere estão ausentes. É quase como se as duas igrejas, que estão apenas afastadas por uns poucos quilomentros, pretendessem ser comparadas para iluminar as estranhezas daquela de Sauniere. Jean Robin, em seu livro sobre Rennes-le-Château, afirma que as afiliações maçonicas de Sauniere são confirmadas por registros nos arquivos da diocese. Como temos visto, contudo, a Livre Maçonaria consiste em um número de tradições separadas. A qual Sauniere pertenceu? Aqui novamente, reconhecidamente os pesquisadores franceses estão de acordo: sua afiliação era ao Rito Retificado Escocês, o ramo da Livre Maçonaria ‘oculta’ que especificamente afirma descender dos cavaleiros Templários. Antoine Captier, neto do sineiro de Saunière, que age como uma foco para a pesquisa sobre Rennes-le-Château e o caso Saunière, nos disse: “Sabemos que ele pertenceu a uma loja maçonica. Ele foi enviado a um lugar onde estava algo [importante]. Ele encontrou certas coisas. Mais uma vez novamente ele não estava só. Ele não trabalhava sozinho.’ Mais tarde em nossa conversa ele foi mais preciso: “As ligações de Sauniere eram com o Rito Escocês Retificado’. Ele acrescentou, contudo: “Isto não é um segredo’. Esta também foi a conclusão alcançada por Gérard de Sède, que tem pesquisado o caso por trinta anos. De fato, de Sède acredita que parte do simbolismo na Nona Estação da Cruz evoque diretamente o grau de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa – um eufemismo para Templário. Há uma outra indicação da possível afiliação de Sauniere. Sua escolha das estátuas dos santos na igreja, fora Madalena, tem sido entusiasticamente debatida pelos pesquisadores: eles são St Germaine, São Roque, dois Santo Antonios, o de Pádua e o Eremita – e acima do púlpito, São Lucas. Alain Féral tem ressaltado que, se eles fossem unidos com a forma de um M no chão da igreja, suas iniciais soletram Gral. Com os símbolos da rosa cruz no tíbale e a prevalência de imagens do Templo de Salomão, isto aponta para a direção da Ordem da RosaCruz do Templo e do Gral – uma ordem fundada em Toulouse por volta de 1850 e mais tarde liderada por nenhum outro que Joséphin Péladan, o padrinho dos grupos eróticos ocultos de hoje.

No inicío de nossa investigação tinhamos pensado que a tendência para muitos outros pesquisadores de acreditar que todas as estradas levem a Rennes-le-Château fosse um engano. Mas em um sentido eles estão certos, embora a maioria pelas razões erradas. Certamente é surpreendente descobrir a intrincada rede de grupos ocultos e maçonicos que discutimos anteriormente e traça-los de volta a Sauniere e sua vila. Isto não é coincidência: era parte de um plano elaborado e meticuloso que foi bem estabelecido antes que ele nascesse e que continua até hoje. Temos visto que Sauniere mostrava grande interesse na tumba de Marie de Nègre d’Ables, Dame d’Hautpoul de Blanchefort, que tinha sido erigida por Antoine Bigou, sacerdote paroquial de Rennes-le-Château, em 1791. Ele foi a última da linhagerm direta que tinha mantido o título para Rennes-le-Château, embora outros ramos da família continuassem. Marie de Nègre d’Ables tinha se cassado com o último Marquês de Blanchefort em 1732, o nome vindo de um castelo na vizinhança [embora ele pareça ser meramente um tipo de torre] de Blanchefort, cujas ruínas ainda podem ser vistas. A própria família de Marie, contudo, tinha algumas conexões muito interessantes. Nós já temos discutido o influente Rito de Memphis, que mais tarde se uniu com aquele de Misraim. Isto foi fundado em 1830 por Jacques-Étienne Marconisde Nègre, que de fato era da mesma família da Marie da história de Rennes-le-Château. E foi um dos Hautpouls – Jean-Marie-Alexandré – que foi instrumental na criação do grau do Rito Escocês Retificado de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa, o eufemismo para templário, em 1778. Membros da mesma família eram proeminentes na Loja Maçonica La Sagesse da qual nasceu a Ordem da Rosacruz do Templo e do Gral. O sobrinho e herdeiro de Marie de Nègre, Armand d’Hautpoul, era certamente ligado a indivíduos conectados ao Priorado, inclusive Charles Nodier, que foi Grão Mestre de 1801 a 1844. Armand d’Hautpoul também foi tutor do Conde de Chambord, cuja viúva foi tão generosa com Sauniere.

O Rito de Memphis de Marconis de Nègre estava estreitamente ligado a uma sociedade conhecida como Os Filadelfos, que foi criada pelo Marquês de Chefdebien – um Maçom do Rito Escocês Retificado – em  Narbonne em 1780. Esta é uma outra das sociedades maçonicas templaristas influenciadas pelas idéias do Barão von Hund: Chefdebien tinha estado presente na famosa convenção de Wilhelmsbad de 1782, que tentou estabelecer de uma vez por todas a questão das origens templárias dos maçons, e tinha falado ao lado de von Hund. Os Filadelfos, sobretudo, como o Rito de Memphis, estava primariamente interessado na obtenção do conhecimento oculto – ambos tinham graus solenetemente dedicados a esta tarefa. Os Filadelfos, sobretudo, visavam tentar desemaranhar a complicada história da Livre Maçonaria, com sua proliferação de hierearquias competentes, graus e rituais, em uma tentativa de descobrir seus propósito e segredos originais. Eles se tornaram um repositório para a informação sobre a Maçonaria e sociedades similares, que ou foi dada a eles de boa fé, ou veio como resultado de infiltração. Então é significativo que o irmão de Sauniere, Alfred [também um sacerdote] fosse o tutor para a família  Chefdebien – e que tenha sido despedido por roubar parte de seus arquivos. Alfred Saunière é indubitavelmente uma figura chave nos estranhos eventos que seu imão mais velho e mais famoso esteve envolvido, e merece pesquisa posterior. Contudo, é difícil encontrar muito sobre ele, embora seja conhecido que ele foi amante de uma ocultista, a Marquesa  du Bourg de Bozas, um dos visitantes que tem sido convidados na Villa Bethania. Alfred morreu como alcoolatra em 1905, depois de ser excomungado. Depois da morte de Alfred Sauniere, em uma carta para seu bispo, se referiu a um sentimento local que ele ‘deve ser esperado expiar pelos erros de meu irmão, o Abade, que morreu cedo demais”. Uma vez tenhamos aprendido as conexões de Sauniere com a Maçonaria Livre do Rito Escocês Retificado, uma imagem muito mais ampla começa a ficar clara. E, longe de de ser uma obsessão pessoal, a especial reverência de Sauniere por Madalena verdadeiramente emergiu como sendo parte da Grande Heresia Européia. A chave para sua afiliação está nas pessoas que ele conhecia.

De fato, é possível ir mais adiante e ligar Sauniere a Pierre Plantard de Saint-Clair apenas por um homem: Georges Monti. Também conhecido pelo pseudônimo de Conde Israel Monti e Marcus Vella, ele é uma das figuras mais brutais e poderosas nas sociedades secretas do século XX – embora por meio algum seja o mais conhecido. No caminho honrado pelo tempo de tal mago – ele preferiu exercer sua influência das sombras muito mais do que buscar publicidade da maneira de seu associado Aleister Crowley. Por todo sua vida ele subiu os escalões de muitas sociedades ocultas, mágicas e maçonicas, frequentemente para inflitra-las em benefício de outros. Ele também era um agente duplo para agências de inteligência francesas e alemãs; como no caso de John Dee e possivelmente depois de Leonardo, os dois mundos de espionagem e do oculto frequentemente vão lado a lado. Ele levou uma tal vida complexa que é impossível medir onde fica sua verdadeira lealdade. Com toda probabilidade ela se dirige a ele próprio e ao seu amor pela intriga e poder pessoal. Sejam quais forem os verdadeiros motivos de Monti, ele foi surpreendentemente bem sucedido em sua vida secreta, frequentemente mantendo altos escalões em sociedades que eram mutuamente hostis e uma não sabendo sobre as outras ou que cada uma acreditasse que ele estivesse infiltrando os outros grupos em seu próprio benefício. Por exemplo, embora alguns destes grupos fossem, como o próprio Monti, marcantemente anti-semitas, ele também teve sucesso em manter um alto escalão em  B’nai B’rith, uma sociedade judaica quase maçonica fundada nos EUA – até mesmo se convertendo ao judaismo para assim o fazer. Monti nasceu em Toulouse em 1880, abandonado por seus pais italianos e criado pelos Jesuítas. Desde uma tenra idade ele esteve interessado no sombrio mundo das sociedades secretas. Ele viajou muito pela Europa, passando tempo no Egito e na Algéria. Entre as muitas sociedades a que ele se uniu estava a ‘Holy Vehm’, uma organização alemã que se especializava em assassinatos políticos. Ele também é dito ter as chaves da Livre Maçonaria Italiana. Entre seus muitos conhecidos estava Aleister Crowley – de fato, ele havia sido descrito como o representante de Crowley na França e foi um membro da OTO quando o excêntrico inglês era Grão Mestre. Não surpreendentemente, a vida duvidosa de Monti eventualmente o pegou e ele foi envenenado em Paris em outubro de 1936. Ele entra nesta investigação porque seu papel mais inicial no oculto mundo parisiense era como secretário de  Joséphin Péladan, e portanto um íntimo do círculo de Emma Calvé. Como temos visto, Sauniere era conhecido ter ligações com Peladan e seu grupo, e ter conhecido Emma Calve e então ele deve er conhecido Monti. Além disso, este último era um languedociano, e frequentemente viveu em Toulouse ou em outras partes do Midi. Em 1934 Monti fundou a Ordem dos Alfa-Galates da qual Pierre Plantard de Saint-Clair se tornou Grão Mestre em 1942, com a tenra idade – embora significativa – de 22 anos. E até mesmo embora Plantard tivesse apenas 16 anos quando Monti morreu ele o conheceu: a ex esposa de Plantard de Saint-Clair, Anne Léa Hisler, em um artigo de 1960 escreveu inequivocamente que ‘ele conhecia bem o Conde George Monti’. Monti pode até mesmo ter sido seu professor e mentor oculto. Então parece haver uma clara ligação entre Saunière e Plantard de Saint-Clair na forma de Georges Monti, talvez representando a continuidade de uma certa tradição subterrânea.

Então o que se pode fazer da história de Saunière? Cortar todas as ofuscações, mitos e camadas de trabalho de suposição não é uma tarefa pequena, mas parece que o sacerdote tinha estado procurando por algo, e que ele não estava trabalhando sozinho. A evidência aponta para um secreto mestre pagador, muito possivelmente ligado a influentes sociedades ocultas em Paris e no Languedoc. Não apenas esta é a explicação mais lógica mas é também uma que o próprio Sauniere deu. Quando o sucessor de Billard como Bispo de Carcassone exigiu que Sauniere prestasse contas pelo seu modo extravagante de vida o sacerdote vigorosamente respondeu: ‘Não estou obrigado a divulgar os nomes dos meus doadores, expo-los sem permissão chamaria o risco de discórdia para certas famílias e casas – cujos membros doam sem o conhecimento de seus maridos, filhos ou herdeiros, mas somente sob o segredo do confissionário’. Mais tarde, contudo, ele daria ao bispo o nome de seus doadores – mas somente sob o segrdo da confissão. A expressão de uma carta apoiadora escrita para Sauniere or um amigo íntimo em 1910 emprega uma linguagem mais sugestiva: “Você tem tido o dinheiro. Não é para que alguém penetre o segredo que você guarda. Se a alguém é dado dinheiro sob um segredo natural, você é obrigado a guarda-lo, e nada pode lhe libertar deste segredo”. Em resposta as perguntas das autoridades sobre sua extravagância, Sauniere respondeu: “Meu irmão sendo um pregador mantém inúmeros contactos. Ele serviu como intermediário para estas generosas almas.’ Mas embora Rennes-le-Château possa ter sido o início da misteriosa busca de Sauniere – que, parece, foi realizada em benefício destes outros evasivos, parece que o objeto da busca pode ter estado em outro lugar. Recentemente muitos pesquisadores tem encontrado pistas intrigantes sobre os reais interesses de Sauniere e motivações espalhadas pelos seus domínios. Durante uma de nossas viagens a área em 1995 levamos conosco Lucien Morgan, um apresentador de televisão e autoridade Tantrica que ficou perplexo ao descobrir que a Torre Magdqala e as defesas foram construídas segundo os antigos princípios de certo tipo de rito sexual. Ele acredita que Sauniere e seu círculo secreto  praticassem ocultos rituais sexuais que eram destinados a facilitar a clarividência, coloca-los em contacto com os deuses – alcançar de fato o Grande Trabalho dos alquimistas e assegurar poder material e influência.

Outros tem reconhecido indicações de magia sexual: os autores britânicos Lionel e Patricia Fanthorpe citam o especialista oculto Bremna Agostini, que diz que Sauniere estava realizando um ritual mágico sexual conhecido como “Convocação de Venus” no qual participaram Marie Dénarnaud e Emma Calvé. Até onde diga respeito a esta investigação, o ponto realmente significativo em toda construção de Sauniere em Rennes-le-Chateau foi sua ênfase em Madalena. Na verdade, a igreja da vila era dedicada a ela muito antes que ele nascesse, mas até isso não foi mera coincidência porque tinha sido a capela da local família regente, aquela de Marie de Nègre. E dado sua intíma associação com o Rito Escocês Retificado, a dedicação pareceria ser importante. Sauniere também deu o nome dela a sua biblioteca, e chamou sua casa porum nome que, segundo uma interpretação dos eventos do Novo Testamento, ela tinha vivido com seu irmão Lázaro e sua irmã Maria. E além de tudo as decorações da igreja isto estava no baixo relevo em frente do altar, apresentando Madalena, que ele escolheu ele próprio pintar. Descobrimos que ele também tinha feito uma pequena estátua de bronze de Madalena que ele colocou fora na gruta da igreja. Ela tinha apenas um metro de altura e pesava por volta de 85 quilos, e era a imagem em espelho do baixo relevo. A estátua a muito tempo desapareceu, mas André Galaup, um jornalista aposentado de Limoux, tem fotografias dela.

A inscrição ‘Terribilis est locus iste’ está proeminente sobre a porta da igreja. Como nos ressaltou Keith Prince, a frase vem do Genesis 29:17 e conta como Jacó sonhou com uma escada na qual os anjos subiam e desciam. Ao despertar, ele murmurou estas palavras. Ele continua para chamar este lugar de Betel, significando Casa de Deus. Mas no Velho Testamento Betel se torna um centro de poder rival de Jerusalém – dando ao conceito de Betel uma conotação de centro religioso alternativo ou rival do oficial. Na França, contudo, a implicação é mais óbvia: um dicionário francês realmente define ‘bethel’ como ‘templo de uma seita dissidente’. Pode ser que isso fosse o que Sauniere estivesse tentando comunicar? Interessantemente, os Dossiês Secretos afirmam que Sauniere, em seus últimos anos, planejou criar uma ‘nova religião’ e montar uma cruzada pela área. O trabalho final de construção planejado para o domínio dele – a alta torre e a piscina batismal externa – eram parte desta ambição. Decidimos nos concentrar no que Sauniere havia encontrado em sua chegada a Rennes-le-Chateau, e o que pode te-lo inspirado em sua busca. Deixando de lado a isca falsa dos pergaminhos, estávamos intrigados pela aparente contradição no comportamento de Sauniere. Muitas pessoas pensam que ele estava tentando deixar pistas na decoração de sua igreja, ainda que também seja sabido que ele cuidadosamente destruiu certas coisas que ele descobriu lá – especificamente as inscrições nas duas pedras que marcavam a sepultura de  Marie de Nègre. Ele também as moveu da tumba, o que sugere que ele também queria obscurecer sua exata localização.

Como temos visto, estas pedras, a pedra capital e a placa hgoriontal, foram colocadas na sepultura de Marie de Nègre pelo Abade Antoine Bigou aproximadamente cem anos antes da chegada de Sauniere. Mas já havia uma estranheza envolvida; Bigou eregiu as pedras em 1791 – dez anos depois da morte da mulher supostamente no túmulo – ao mesmo tempo em que ele teve a Pedra do Cavaleiro colocada de face para baixo dentro da igreja. [O levantar desta pedra parece ter sido um passo importante na busca de Sauniere]. Ainda há um outro indicador que de algum modo Sauniere estivese seguindo as pegadas de Bigou: antes de se tornar o sacerdote paroquial de Rennes-le-Chateau Bigou tinha servido  na pequena vila da montanha de Le Clat, aproximadamente a 20 milhas de distância. Sauniere, também, tinha sido sacerdote em Le Clat imediatamente antes de vir para Rennes-le-Château. Poderia ser que Sauniere estivesse procurando algo relacionado a Bigou e, portanto, com as famílias d’Hautpoul ou de Nègre? O trabalho de Bigou na sepultura pode ter sido desencadeado pelos eventos na França que ocorreram entre a morte de Marie e 1791 – o começo do terror da Revolução Francesa. Os revolucionários eram hostis a Igreja Católica e muitas relíquias, ícones e decorações foram destruídos ou saqueados no período. Interessantemente, pouco depois de seu trabalho em Rennes-le-Château, Bigou, que era oposto a a República, fugiu pela fronteira da Espanha, onde morreu em 1793. Há uma outra estranheza no enterro de Marie de Nègre. Os senhores de Rennes, a família d’Hautpoul, eram costumeiramente colocados na cripta da família que é dita ficar sob a igreja. Então porque o enterro de Marie não seguiu este costume? Sabemos que a cripta existiu, como é referido no registro da paróquia que cobre os anos de 1694 a 1726 e que estão a mostra no museu. Segundo este registro a entrada para a cripta agora está perdida, embora é certo que Sauniere a tenha descoberto; talvez os documentos que ele descobriu tenham dito a ele onde procurar. A narrativa da história de Sauniere registrada pels irmãos Antoine e Marcel Captier è baseada nas memórias das famílias deles e conta que o sacerdote havia descoberto a entrada para a cripta sob a Pedra do Cavaleiro, e ele realmente tinha entrado na critpta. Mas ele então escondeu a entrada novamente sob o chão da igreja, presumidamente não querendo que seu paradeiro fosse conhecido. Antoine Bigou deve ter tido a mesma preocupação, porque foi ele que colocou a Pedra do Cavaleiro de cabeça para baixo em 1791, cobrindo a entrada.  Porque deveriam ambos os sacerdotes, com um intervalo de cem anos, terem estado tão preocupados que ninguém mais devesse entrar na cripta dos senhores de Rennes-le-Château? Há uma resposta simples. Se Sauniere foi a cripta e encontrou a tumba de Marie de Nègre onde ela deve ter sido colocada em primeiro lugar, ele deve imediatamente ter entendido que algo muito estranho estava acontecendo: a mulher tinha duas tumbas. Mas a segunda, aquela no cemitério, foi colocada lá por Bigou dez anos depois da morte dela. Obviamente Marie não foi enterrada no cemitério mas neste caso, quem foi? Uma hipótese razoável é que Bigou, presumidamente devido as rebeliões da Revolução de 1789 que o ameaçavam pessoalmente, tinha escondido algo no cemitério de Rennes-le-Château antes de fugir para Espanha. Mas o que poderia ter sido isso – um outro corpo, um objeto ou documentos de algum tipo? Talvez fosse difícil demais para Bigou levar com ele para a Espanha, ou talvez isso fosse algo que realmente pertencesse a Rennes-le-Château. Podemos nunca saber, mas parece que Sauniere fez, porque ele abriu a sepultura para procurar por isso. E ele tinha sido perspicaz que a mensagem das duas tumbas deviam ser perdidas – ao menos aquela da pedra horizontal, na qual ele obliterou a inscrição. Podia a mensagem conter alguma pista do que realmente a tumba contivesse? A inscição que estava na pedra capital da tumba de Marie de Nègre contém grandes e muitos enganos, que não podem meramente ser o resultado de um trabalho superficial. As palavras são mal soletradas, faltam letras, os espaços são omitidos ou acrescentados onde eles não são necessários. Das vinte e cinco palavras da inscição, não menos do que onze contém erros. Alguns parecem ser bem inócuos, mas um em particular era tão ruim que deve ter causado uma grande ofensa à família. As palavras finais devem ser lidas como o convencional ‘REQUIESCAT IN PACE ‘ [descanse em paz] mas eles parecem como REQUIES CATIN PACE . A palavra francesa ‘catin’ é uma gíria para ‘prostituta’. Isto é reforçado por um erro no nome de família do marido dela: d’Hautpoul aparece como DHAUPOUL . Isto pode não alterar significativamente o significado, mas bem sucedidamente atrai a atenção para a palavra. E ‘poule’ [galinha] é uma outra gíria para uma prostituta; de fato, ‘hautpoul’ pode significar ‘alta prostituta’.

Do mesmo modo o nome na pedra da tumba ressoa temas importantes nesta pesquisa. É até mesmo tentador pensar que Marie de Nègre existiu apenas como um nome, o código para algo bem perplexante. Para Blanchefort, embora certamente o nome de uma marca de terra local, significa ou ‘torre branca’ ou ‘branco forte’ – um termo alquímico. E  ‘Marie de Nègre’ evoca as Madonas Negras e sua associação com Maria Madalena, o que é reforçado pela referência ‘hautpoul’ a ‘alta prostituição’ , a sabedoria da prostituta. Mais uma vez, encontramos aparentes conexões que são evocativas da sexualidade sagrada e talvez – no contexto dos rumores do ‘tesouro’ – dos aspectos sexuais do Grande Trabalho alquímico. E ainda talvez mais significativo, há um outro mal soletramento na tumba: D’ABLES figura como D’ARLES . Se é isto, como suspeitamos, uma referência a cidade de Arles na Provença, pode evocar o fato que este foi um velho centro para o culto de Isis. Em qualquer caso, Arles é muito perto de Saintes-Maries-de-la-Mer. O projeto da segunda pedra da sepultura de Marie, a pedra horizontal, é mais contencioso, como são as muitas discrepâncias nas várias narrativas publicadas dele. Na maioria as versões a pedra tem duas inscrições principais: a frase, em latim, mas curiosamente, inscrita em carateres gregos, ‘Et in Arcadia ego’, e as quatro palavras em latim ‘Reddis Regis Cellis Arcis’ através da pedra. O significado desta última não está claro, e tem sido assunto de muitas diferentes interpretações, mas parece se referir a tumba real ou cripta, talvez ligada a Rhedae e/ou a vila de Arques. (A palavra Arcis tem muitos possíveis significados, de palavras ligadas ao inglês ‘arc’ ou palavras significando ‘dentro’ ou ‘ enclausurado’ ou pode simplesmente ser uma alusão a Arques, seja ao seu nome antigo de Archis ou a um forma fonética do nome moderno] O moto ‘ET ARCADIA EGO’ é também encontrado na tumba da pintura “Os Pstores da Arcadia” de Nicolas Poussin (1593-1665), que tão notavelmente se assemelhou a uma que sempre tem permanecido, de uma forma ou outra, pela estrada de Rennes-le-Château e Couiza para Arques. (A versão mais recente foi dinamitada em 1988 porque o fazendeiro em cuja terra ela ficava não estava mais disposto a tolerar centenas de turistas passando. Infelizmente, esta medida drástica foi em vão: agora os turistas chegam para tirar fotografias de onde a tumba costumava estar). É dito que Sauniere tenha trazido de volta de sua viagem a Paris cópias de certas pinturas; uma das quais era a dos Pastores da Arcadia de Poussins. Esta pintura, datando de por volta de 1640, mostra um grupo de três pastores examinando um tumba, obsrvados por uma mulher que é geralmente tomada representar ‘ amemento mori’ , uma meditação sobre a mortalidade; até mesmo na terra paradisíaca da Arcadia a morte está presente. O moto tem um estreita conexão com a história do Priorado de Sião, e apresenta o brasão de armas de Pierre Plantard de Saint-Clair. É também, como temos visto, dito ter sido incorporado na decoração da pedra horizontal da tumba de Marie de Nègre. O tema da pintura não foi inventado por Poussin, o mais inicial exemplo conhecido sendo de um Giovanni Francesco Guercino, aproximadamente vinte anos antes. Contudo, o homem que encomendou a versão de Poussin, o Cardeal Rospigliosi, também é pensado ter sugerido o tema a Guercino. Um aparecimento mais anterior conhecido da frase “ET ARCADIA EGO’ em arte é uma gravação alemã do século XVI, intitulada ‘O Rei do Novo Sião’ destronado depois de ter inaugurado a Idade Dourada. Enquanto discute-se Poussin é interessante notar uma carta que o Abade Louis Fouquet escreveu de Roma para o seu irmão Nicolas, Superintendente das Finanças de Luis  XIV, em abril de 1646: “[Poussin] e eu temos planejado certas coisas que falarei a você em detalhes tão logo, e que darei a você, através de M. Poussin, vantagens que reis terão grandes problemas em extrair dele, e que, depois dele, talvez ninguém em séculos até mesmo recuperará; e o que é mais, isto pode ser sem grande despesa ainda que se mostre um lucro, e estas coisas são tão difíceis de encontrar que nada nesta terra agora poderia ter uma melhor ou igual fortuna.” Significativamente, foi Charles Fouquet, irmão de Louis e Nicolas, quem, como Bispo de Narbonne, mais tarde tomou o único controle de Notre-Dame de Marceille por um período de quatorze anos. A razão pela qual a pintura de Poussin é de interesse para os pesquisadores de Rennes é que o panorama como visto na pintura parece ser muito similar aquele da área ao redor do sítio da tumba de Arques e a própria Rennes-le-Château pode ser vista a distância.

Contudo, o panorama, se similar, não é idêntico, e isto tem sido tomado por alguns como prova que a semelhança seja concidental. Mas em nossa opinião a apresentação de Poussin do interior é muito próxima do original para permitir a possibilidade de que ele estivesse tentando reproduzir a área ao redor de Rennes. O plano se espessa, contudo: a tumba de Arques é sabida datar apenas dos anos iniciais do século vinte. Ela foi construída em 1903 por um proprietário de fábrica local, Jean Galibert, e subsequentemente vendida a um americano chamado Lawrence. Há, embora, rumores que esta tumba meramemente substituiu uma versão anterior que havia se localizado no mesmo lugar, e que por sua vez havia substituido uma ainda mais anterior. Nosso amigo John Stephenson, que viveu nesta área por tantos anos, confirmou que os locais dizem ‘que sempre houve uma tumba naquele lugar’. Então é possível que Poussin realmente tenha simplesmente pintado o que tinha visto lá. John Stephenson também nos disse que a ligação com a pintura de Poussin tenha sido conhecida na área por um longo tempo, o que certamente argumenta contra a idéia dos céticos que isto fosse uma invenção dos anos de 1950 e 1960. O lugar sempre tem sido visto como importante. Também tem sido afirmado que o moto da Arcadia apenas foi adotado por Plantard de Saint-Clair e o Priorado de Sião no século XX, como foi seu alegado elo com a pintura de Poussin e a tumba de Marie de Nègre. Mas a frase tinha estado ligada a área bem antes do tempo do Sauniere. Em 1832, um Auguste de Labouïse-Rochefort escreveu um livro intitulado ‘Viagem a Rennes-les-Bains’ que incluiam referências a um tesouro oculto ligado a Rennes-le-Château e Blanchefort. Labouïse-Rochefort escreveu um outro livro, ‘Les Amants, à Éléonore’ (Os Amante, para Eleonore) que incluiu a frase em sua página título. A tumba é conhecida localmente como a ‘Tumba de Arques’, que embora mais acurada do que a frase ‘a tumba de Poussin’ ainda não é precisamente verdadeira, porque a vila de Arques está a três quilometros a leste ao longo da estrada principal. Embora a tumba seja muito mais próxima da vila de Serres, a palavra Arques é perto demais daquela de Arcadia para não ser explorada.

Segundo Deloux e Brétigny, em seu ‘Rennes-le-Château: capitale secrète de I’histoire de France’, a placa na pedra do túmulo de Marie de Nègre foi realmente trazida para a tumba dela pelo Abade Bigou de uma versão anterior da tumba de Arques. Se verdadeiro, isto levanta uma possibilidade intrigante. Poussin pode simplesmente ter pintado algo que ele realmente tinha visto – uma tumba com as palavras ‘Et in Arcadia ego’ nela? John Stephenson nos contou uma surpreendente história local relacionada a tumba de Arques: que ela era o lugar de repouso de Maria Madalena ou agia como um marcador ou apontador de algum modo para isso – a inscrição na placa de Marie de Nègre realmente tinha uma flecha apontando para baixo no centro. Mas, tantalizantemente, a placa de pedra tinha sido movida, de forma que nós não mais sabemos para que direção a seta original apontava. A evidência sugere que Sauniere acreditava que o corpo de Maria Madalena estava em algum lugar a ser encontrado; ou ela estava na real vizinhança de  Rennes-le-Château, ou a vila fornecia algum tipo de pista de seu paradeiro. O que estava escondido na segunda tumba de Marie de Nègre? A inscrição codificada que aparentemente se referiu a uma ‘alta prostituta’ realmente significava Madalena? [Talvez o termo possa ler lido como Alta Sacerdotisa assim ligando o conceito da sagrada sexualidade com antigas, muito mais do que modernas, práticas ocultas]. Saunière certamente pareceu estar procurando por algo especial e potente, algo precioso que estava ligado a sua amada Maria Madalena, e o que pode ser mais precioso do que os verdadeiros ossos dela? Com certeza isto pode simplesmente ter sido uma obsessão pessoal de sua parte e ele pode ter imaginado que as relíquias eram para serem encontradas. Por outro lado, como temos visto, Sauiere estava trabalhando para, e provavelmente financiado por, uma organização sombria muito maior. Eles estavam similarmente iludidos? Talvez não. A evidência sugere que o sacerdote estava agindo com a informação interna sobre um objeto real. Na medida em que nossa investigação continuava, nos tornamos crescentemente convencidos desta hipótese de Madalena, mas logo descobrimos que, ao menos entre os pesquisadores britânicos sobre este assunto, estamos sós. Então foi encorajador encontrar pesquisadores franceses que estavam trabalhando ns mesmas linhas. Para eles, como para nós, não era inconcebível que Sauniere e seus misteriosos apoiadores estivessem procurando a própria Maria Madalena.

Durante uma de nossas viagens a área na primavera de 1995, Nicole Dawe gentilmente arranjou um jantar para que nós nos encontrassemos com Antoine e Claire Captier, juntamente com Charles Bywaters. Antoine, neto do sineiro que encontrou um cilindro de madeira contendo os documentos que ele deu a Sauniere, tem vivido com o mistério por toda a sua vida, como tem Claire, que é a filha de Noël Corbu. Antoine foi franco: ele não tinha interesse em atiçar mais mistério. “Não lhes direi o que não sei”, sendo este o modo dele de abrir a discussão. Ele disse não acreditar que pudesse responder algo novo, mas ficou surpreso quando eu lhe perguntei sobre a possível ligação de Sauniere com o culto de Maria Madalena porque isso tem sido um ângulo que tem sido ignorado até recentemente, mas nosso interesse nisso estranhamente paralelizava aquele de certos pesquisadores franceses. Antoine nos disse que ele pensou ser provável que Sauniere tenha pesquisado a história de Madalena tendo, por exemplo, visitado Aix-en-Provence e área adjacente. Isto estava emergindo em um jornal chamado ‘Cep d’Or de Pyla’, que é produzido por André Douzet, o homem que encontrou a maquete discutida no capítulo anterior, que vive em Narbonne. Douzet e seu círculo de pesquisadores entusiastas e reconhecidos na história esotérica da França.  Antoine disse que a publicação seguinte do jornal ‘será interessante para vocês porque vocês encontrarão algo mais profundo a respeito de Madalena”. Novamente graças a Nicole, mais tarde nos encontramos com André Douzet, que nos disse que ele e alguns outros, notavelmente Antoine Bruzeau, tinham realizado uma pesquisa especificamente sobre o interesse de Sauniere em Madalena mas pareceu como se a chave para este mistério esteja a alguma distância de Rennes-le-Château. André não tinha, inicialmente, sido dirigido ao mistério de Sauniere, mas chegou a ele por um rota tortuosa: certos sítios de interesse para ele em sua cidade lar de Lyons o dirigiram para lá. A ligação remonta a Gérard de Roussillon – que, no século IX, tinha fundado a Abadia em Vézelay em Burgundy onde, este ultimo foi declarado, ele tinha tomado o corpo de Maria Madalena. Recordamos [veja capítulo três] que esta declaração foi mais tarde desfeita por St Maximin na Provença, quando os monges de Vézelay não puderam produzir as relíquias. Também lembramos que este evento fez com que Charles II d’Anjou realizase uma fervorosa busca por eles, convencidos de que eles estavam ainda em algum lugar na Provença. Gérard de Roussillon era o Conde de Barcelona, Narbonne e Provença – uma vasta área. Sua família também possuia propriedades na região Le Pilat – agora o Parque Nacional Le Pilat – ao sul de Lyons. Eles eram apaixonados devotos de Madalena e a área era o centro para o culto dela. [ Uma capela de Santa Madalena na região Le Pilat mantinha o que foi dito serem as relíquias de Lázaro]. No século XII o conde regente, Guillaume de Roussillon, morreu nas Cruzadas e sua viúva enlutada Beatrix se recolheu as montanhas de Le Pilat, onde ela fundou um monastério Cartusiano,  Sainte-Croix-en-Jarez, no qual ela viveu o resto de sua vida. Mas no entanto o monastério pareceu ter uma estranha associação com Maria Madalena. Antoine Bruzeau argumenta que a família tinha possuido as verdadeiras relíquias de Maria Madalena e que Beatrix as levou para Sainte-Croix. (Ou talvez ela simplesmente as tenha confiado a abadia com o segredo de sua localização]. Ele também sugere que o sítio real para a chegada de Madalena na França não foi Camargue, mas a costa de Roussillon, em um lugar ainda chamado Mas de la Madeleine. Segundo a teoria dele, ela tinha vivido sua vida não na Provença mas no Languedoc – ao redor da área de Rennes-le-Château. Por alguma razão a família Roussillon sentiu ser seu dever não apenas guardar as relíquias mas mante-las secretas. Isto é extramemente estranho em um tempo onde as relíquias eram tão lucrativas e também sugere que eles tinham motivos outros do que a simples veneração de uma santa do Novo Testamento. Talvez fosse algo ligado ao verdadeiro papel de Madalena. No século XIV um curioso mural foi acrescentado a abadia de Sainte-Croix, mostrando Jesus sendo crucificado em uma madeira viva. Isto mais tarde recebeu gesso em cima mas foi redescoberto em 1896 – pouco antes de Sauniere pessoalmente pintar o baixo relevo de seu altar, mostrando Madalena contemplando uma cruz feita de uma madeira ainda crescendo.

Mais tarde, no século XVII, um dos frades de Sainte-Croix, Dom Polycarpe de la Riviére, um renomado erudito, realizou renovações no monastério e pode ter desenterrado algo. Ele estava particularmente interessado em Madalena – ele escreveu um livro sobre ela que é, infelizmente, agora perdido, além de um sobre a área ao redor de Aix-en-Provence, St Maximin e Sainte Baume, que o Vaticano suprimiu. De la Riviére também estava ligado a Nicolas Poussin, e a pesquisa de Bruzeau sugere que ambos faziam parte de uma sociedade secreta conhecida como Société Angélique. Nas montanhas de Le Pilat uma antiga estrada sobe o Monte Pilat para uma capela dedicada a Maria Madalena. A estrada começa na vila de Malleval, cuja igreja contém estátuas de Santo Antonio de Pádua e Sainte Germaine que são idênticas aquelas de Rennes-le-Château. A trilha passa por uma capela dedicada a Santo Antonio o Eremita – um outro santo venerado na igreja de Sauniere [e cujo dia de festa é 17 de janeiro]. E na capela de Maria Madalena está um quadro do santo em sua grota que é extremamente similar aquele em Rennes-le-Château. Bruzeau ressalta que no fundo da peça de altar de Sauniere há um arco e uma coluna: no celtico primeiro ‘ispyla’ , em latim o segundo  ispila – foneticamente apontando para a área de Le Pilat. E o icone mostrado sobre o horizonte parece ser aquele da área ao redor de Mont Pilat. Isto sempre nos tem intrigado e que, em seu baixo relevo, Sauniere deve ter deixado de fora a mais caractetística peça da iconografia de Maria Madalena, seu jarro de sagrado bálsamo, ou Saint Baume. Pode isto ser o meio de dizer que as verdadeiras relíquias dela não estavam em St-Maximin-la-Sainte-Baumein Provence afinal? Certamente, a julgar pelas faturas de aluguel de um coche ou cavalo na área de Lyons em 1898 e 1899, parece que Sauniere vasculhou a região de Le Pilat procurando pelo que havia sido deixado de sua amada Madalena. A questão dominante é porque alguém deveria ir a tal dificuldade para encontrar o que seria, essencialmente,  apenas uma caixa de ossos. Porque embora os católicos sempre tenham apreciado os cadáveres santos, deve ser lembrado que muitos desses que aparentemente buscaram os restos de Madalena ou eram ocultistas ou católicos rebeldes. De um modo ou outro, eles não parecem terem sido pessoas sentimentais e a era das relíquias como um grande negócio a muito havia acabado; Então porque eles devotaram tanto tempo e dificuldades a esta busca? Talvez não fosse simplesmente um esqueleto que eles estivessem procurando, o caixão ou tumba pode ter feito alguém acreditar que guardasse algum segredo, ou algo tendo a ver com o próprio corpo ou algo que estava com ele. Henry Lincoln, presumivelmente com a lingua em cheque, sugeriu a imprensa francesa que este ‘algo’ pudesse ser a certidão de casamento de Jesus e Maria Madalena. Mais seriamente, o segredo tem que ser algo similar a isso – algo evidente e inequívoco que, uma vez tornado público, causaria um enorme furor. Dado o interesse de grupos específicos que temos estado investigando, deve ser algo herético, a natureza do qual provocaria uma profunda desestabilização da Igreja estabelecida. Mas o que possivelmente oferecia esta ameaça? Porque deveria algo que, presumidamente, tenha aproximadamente 2000 anos, ter qualquer influência importante sobre a sociedade moderna?

CAPÍTULO X
ADIVINHANDO A CORRENTE SUBTERRÂNEA

A este ponto em nossas investigações novamente nos encontramos confrontando a aparente importância de Maria Madalena para uma rede subterrânea, herética. Isto é onde haviamos começado, com o simbolismo perspicaz e subliminar de Leonardo da ‘Dama M’ em seu Última Ceia. Ainda que anos tenham se passado desde que primeiramente nos encontramos dirigidos ao sombrio mundo da heresia européia, tinhamos coberto uma quantidade enorme de solo, em todos os sentidos da palavra. Era tempo de checar o inventário: o que tinhamos descoberto? A ‘Dama M’ que asumimos ser Madalena era claramente de enorme importância para Leonardo, que, é afirmado, foi Grão Mestre do Priorado do Sião. Certamente, nossos próprios encontros com membros do Priorado de hoje tem reforçado nossa suspeita que ela seja altamente importante para eles. E o mesmo se aplica a João Batista – uma figura que dominou o trabalho de Leonardo e que o Priorado parece venerar com especial devoção. Nossas muitas viagens ao Sul da França revelaram que havia alguma base séria para as histórias de Maria Madalena ter vivido lá, mas as ligações dela com o culto da Madona Negra aponta uma conexão pagã. Tudo sobre a veneração a Madalena é altamente carregado sexualmente – algo que é particularmente evidente na associação dela com o poema de amor erótico do Velho Testamento, Cânticos de Salomão. Mas há um aparente paradoxo. Por um lado há evidência que Madalena era a esposa de Jesus – ou ao menos, sua amante – mas por outro ela é persistentemente associada a deusas pagãs. Isto parece totamente irracional- porque na terra deveria a esposa do Filho de Deus ser ligada desse modo a figuras tais como Diana a Caçadora e a deusa egípcia do amor e da magia Isis? Esta é uma questão que assombrou nossos pesquisadores.

Pela nossa investigação, indivíduos e grupos, tais como os Templários, São Bernardo de Clairvaux e o Abade Saunière, tem persistentemente sido encontrados a revolver intimamente ao redor do tema central do Feminino. Embora para alguns deles isso possa ter sido uma idéia meramente filosófica, o próprio fato que isso tenha recebido uma face feminima reconhecida aponta para uma devoção mais específica. Ela era, se não Madalena, então Isis, a antiga Rainha do Céu e esposa do deus morto e renascido Osiris. Certamente esta cadeia de associações: Madalena/Madona Negra/Isis tem sempre sido do que se trata o Priorado. Para eles a Madona Negra representa simultaneamente Maria Madalena e Isis. Ainda que isso seja muito estranho, porque a primeira é uma santa cristã e a última uma deusa pagã: certamente não há uma conexão possível? Como temos visto, os Cátaros pareciam manter opiniões inaceitáveis e heterodoxas sobre Madalena: de fato, a inteira cidade de Béziers foi passada pela espada por causa desta heresia. Para eles ela tinha sido concubina de Jesus – uma idéia curiosamente ecoando aquela dos Evangelhos Gnósticos, que a descrevem como uma mulher a quem Jesus frequentemente beijava na boca e a quem ele amava acima de todos os demais. Os Cátaros acreditavam que isso fosse verdade, embora com a maior relutância, porque sua própria versão de gnosticismo via todo sexo e procriação como, na melhor das hipóteses, um mal necessário. Esta idéia do relacionamento de Maria Madalena com Jesus não vinha de seus precursores Bogomils, mas era realmente corrente no Sul da França – em uma cultura que buscava elevar o Feminino de todos os modos, como revela o florescimento da tradição do trovador. E, como temos visto, o Tratado da Irmã Catherine revela que as idéias sobre Maria Madalena encontradas nos Evangelhos Gnósticos tinham de algum modo sido transmitidas ao século XIV. Curiosamente descobrimos que estes em sua maioria homens mais masculinos, os Cavaleiros Templários, ou ao menos a ordem interna deles – estava também pesadamente devotada a elevação do Feminino. A intensidade da veneração deles pelas Madonas Negras não era secundária a alguém, e sua busca cavaleiresca pelo amor transcendental estava por trás das histórias do Santo Gral. Os Templários eram famintos por conhecimento, e sua busca por isso era a principal força motora deles. Eles tomavam o conhecimento onde quer que o encontrassem: dos árabes eles tomaramos princípios da geometria sagrada, e seu aparente contacto íntimo com os Cataros acrescentou um brilho extra gnóstico a suas idéias que já eram heterodoxas. Desde o seu próprio início os interesses desta ordem de cavaleiros era essencialmente oculto: a história não convincente de suas origens como protetores dos romeiros na Terra Santa se algo, chama a atenção para as anomalias que cercam a ordem. A maior concentração de propriedades templárias na Europa era para ser encontrada no Languedoc, esta estranhna região no sudoeste da França que parece ter agido como um imã para muitos grupos heréticos. O Catarismo, em seu auge, tornou-se virtualmente uma religião de Estado naquela área, e foi lá que o movimeto trovador nasceu e floresceu. E a pesquisa recente tem mostrado que os Templários praticavam a alquimia. As construções de várias cidades no Languedoc, tal como Alet-les-Bains, ainda ostentam complexos símbolos alquimicos e também tem fortes conexões templárias.

Depois dos sinistros eventos que cercam a supressão oficial dos Templários, a Ordem foi para o subterrâneo e continuou a exercer sua influência em muitas outras organizações. Como os Templários fizeram isso, e quem herdou o conhecimento deles, nunca tem sido sabido com certeza, até os últimos dez anos. Gradualmente tem emergido que os Templários tem continuado a existir como rosacrucianismo e Maçonaria Livre, e o conhecimento que eles adquiriram passou a estas sociedades. Descobrimos que o cuidadoso exame destes grupos revelou suas preocupações subjacentes e consistentes. Uma delas é a grande – e talvez excessiva – veneração de um ou de ambos São João – João Evangelista [ou o Amado] e João Batista. Isto é intrigante, porque os mesmos grupos que parecem te-los como tão sagrados dificilmente sejam cristãos ortodoxos, e até mesmo vejam Jesus com alguma frieza. Um desses grupos é o Priorado de Sião, mas mais surpreendente neste contexto é o fato que embora o Priorado chame seus sucessivos Grão Mestres de João, Pierre Plantard de Saint-Clair afirme que o título do primeiro desta linha – João I – é ‘simbolicamente reservado para Cristo’. Imagina-se porque Cristo deva ser honrado ao ser chamado João. Talvez a resposta resida na idéia, partilhada por estas sociedades, que Jesus passou seu ensinamentos secretos ao jovem São João, e que esta tradição seja guardada tão ciumentamente pelos Templários, Rosacrucianos e Maçons Livres. E parece que João Evangelista tem se tornado confundido, aparentemente deliberadamente, com o Batista. O próprio conceito de ter havido um Evangelho secreto de João era comum entre os heréticos, dos cátaros do século XII ao Levitikon. É curioso que este fio Joanita corra tão invasiva e consistentemente por todos estes grupos, porque é também um dos menos conhecidos. Talvez isto seja simplesmente porque o envólucro do segredo tenha sido bem sucedido em esconde-lo aos olhos do mundo por tanto tempo. O outro maior tema que é carregado pelos vários tributários da ‘corrente subterrânea’ de heresia é aquele da elevação do Princípio Feminino e especificamente o reconhecimento do sexo como um sacramento. O Grande Trabalho dos Alqimistas, por exemplo, tem claros paralelos com os ritos sexuais Tantricos – embora apenas recentemente estas conotações tenham sido compreendidas. Ironicamente foi apenas quando a nossa cultura tornou-se ciente do Tantrismo que a prática de muitas velhas tradições ocidentais finalmente fizeram sentido. A sabedoria feminina sempre tem sido buscada, tanto no sentido filosófico quanto naquele que é acreditado ser doado magicamente, através do ato sexual. Esta busca pela sabedoria feminina – Sophia – é o fio  que dirige todos os outros grupos que temos investigado; por exemplo, os gnósticos iniciais, os grupos herméticos, os Templários e seus sucessores na Maçonaria Livre do Rito Escocês Retificado. O texto Gnóstico – Pistis Sophia – liga Sophia a Maria Madalena e Sophia também é estreitamente associada a Isis – talvez isto ajude a explicar a aparente mistura da santa e da deusa no Priorado de Sião. Contudo, isso é apenas uma pista: não é uma resposta. A continuada importância de Madalena não está em dúvida. Ainda que seus restos tenham sido procurados – e possivelmente ainda estejam sendo procurados – com um fervor inenarrável. No século XIII Charles II d’Anjou realizou a busca com zelo fanático, embora ele ficasse claramente desapontado e aproximadamete dois séculos mais tarde um descendente dele, o mais famoso René d’Anjou, ainda estivesse procurando por eles. Até mesmo no fim do século XIX o mesmo desejo fervoroso – de encontrar sua amada Madalena – parece ter consumido o Abade Sauniere de Rennes-le-Château. De um modo ou outro, Madalena tem a chave de um grande mistério, um que tem sido ciumenta e brutalmente guardado por séculos. E parte desse segredo intimamente envolve João Batista [e/ou talvez João Evangelista]. Uma vez entendamos que existe um tal segredo, estamos afinizados a tirar as teias de aranha da história tão rapidamente o possível para lançar alguma luz sobre isso. Mas isso não era uma tarefa fácil: os grupos e organizações que tem guardado este conhecimento durante anos tem desenvolvido meios de manter os externos bem longe da verdade. Embora uns poucos nos tenham dado pistas e dicas, ninguém iria entregar o segredo central a nós. Tudo o que sabiamos era que toda evidência aponta para o mistério sendo construido sobre a fundação que essencialmente compreendeu Sophia e João.  Estes temas eram centrais – mas não tinhamos idéia do porque, embora uma pista esteja no fato que seja o que for que seja o segredo, ele certamente não é um que reforce a autoridade da Igreja. De fato, esta grande heresia desconhecida pareceria oferecer uma maior ameaça exatamente não só ao Catolicismo, mas a Cristandade como a conhecemos.

Os grupos que guardaram o segredo claramente acreditavam que estavam de posse de algum conhecimento sobre as origens reais da Cristandade, até mesmo sobre o próprio Jesus. Seja qual for a natureza deste segredo, claramente ele é algo que era relevante – e importante – para os séculos IX e X. Em  Rennes-le-Château, Saunière recebeu não apenas representantes da alta sociedade parisiense tais como Emma Calvé, mas também políticos e membros de famílias imperiais. Em nossos dias, Pierre Plantard de Saint-Clair e o Priorado de Sião tem sido associados a figuras tais como Charles de Gaulle e Alain Poher, um proeminente estadista francês que foi por duas vezes Presidente Provisório. Rumores recentes tem até mesmo ligado o falecido presidente François Mitterand com Pierre Plantard de Saint-Clair. Certamente, Mitterand visitou Rennes-le-Château em 1981, quando ele foi fotografado na Torre Magdala e perto da estátua de Asmodeus na igreja. Pode ser importante que ele tenha nascido em Jarnac, onde foi enterrado em uma cerimonia particular enquando líderes mundiais compareciam aos serviços em Notre-Dame em Paris. Segundo os estatutos da década de 1950 do Priorado de Sião, Jarnac a muito tem sido um de seus centros. O Priorado de Sião é amplamente acreditado ter uma real influência na politica européia e de fato, na política mundial. Mas porque os assuntos que temos estado investigando, não importa quão interessantes sob uma perspectiva histórica e filosófica, se relacionam a isso? Isto é ligado a ‘virar de cabeça para baixo a Cristandade’ prometido pelo união do Priorado de Sião e da Igreja de João que discutimos anteriormente? A única coisa que Maria Madalena e João Batista tinham em comum foi que eles foram santos, e foram aparentemente personagens históricos que podem ser encontrados no Novo Testamento. A única avenida lógica para pesquisa posterior era olhar suas vidas e seus papéis, na esperança que isso possa revelar a razão para seu duradouro apelo as tradições heréticas subterrâneas. Se tivéssemos qualquer esperança de até mesmo compreender a suprema importância deles para os iniciados dos grupos mais solenes e mais reconhecidos esotericamente, então tinhamos que começar a ler a Bíblia cuidadosamente.

PARTE DOIS

A REDE DE VERDADE
CAPÍTULO ONZE
AS INVERDADES DOS EVANGELHOS

Na Páscoa de 1996 a media britânica devotou muita atenção ao que parecia ser uma descoberta surpreendente – aquela dos ossuários, encontrados em Jerusalém, contendo os ossos de um pequeno grupo de pessoas entre os quais estava “Jesus o filho de José’. Os outros eram duas Marias [uma cuja inscrição estava em grego] – neste contexto, possivelmente a Virgem e Madalena – um José, um Mateus e um “Judas filho de Jesus’. Obviamente estes nomes, todos reunidos desta forma, continham alguma excitação para os Cristãos, embora as implicações desta descoberta não fossem necessariamente de seu agrado, afinal. A própria Cristandade foi fundada sobre a idéia de que Jesus levantou dos mortos e ascendeu corporalmente aos céus. Encontrar seus ossos seria devastador. Mas eles realmente eram seus e de sua família? Tem que ser admitido que eles provavelmente não fossem. Pode bem ter sido mera coincidência que os nomes tenham uma ressonância particular para os cristãos, mas eles eram nomes comuns na Palestina do século I. Mas a razão pela qual esta descoberta foi importante era a suprema escala e a intensidade do debate que ela causou. Programas de televisão e circulares de qualidade tomaram a pergunta: se tivesse sido provado que estes ossos em particular fossem deles mesmos, o que isto significaria para a Cristandade? E para nós, um dos aspectos mais reveladores do assunto foi quão atonitos e afrontados muitos cristãos estão quando confrontados com a idéia de que Jesus possa ter sido um homem normal. Foi até mesmo uma surpresa para alguns que este fosse um nome comum. Conquanto seja compreensível que os cristãos desejem manter sua visão de Jesus como Filho de Deus e talvez decidir como uma questão de política ignorar o que os externos possam dizer sobre ele, ainda é estranho que tantos cristãos ainda não conheçam Jesus tanto quanto as narrativas dos Evangelhos tem sido demonstradas serem inacuradas. Nunca existiu tanta informação disponível; livros tem sido escritos durante aproximadamente os últimos cinquenta anos que tem tomado uma enorme variedade de posições sobre Jesus e seu movimento, e tem apresentado muitas teorias diversas [e algumas vezes divertidas]. Entre elas tem havido idéias de que Jesus era um pai de três filhos divorciado, um Maçom Livre, um Budista, um ilusionista, um hipnotizador, o progenitor de uma linhagem de reis franceses, um filósofo cínico, um cogumelo alucinógeno e até mesmo uma mulher! Esta explosão de idéias estranhas e maravilhosas pode ser parcialmente o resultado da moderna voluntariedade a questionar, mas a razão para que tais idéias sejam capazes de se elevar é que a recente erudição tem revelado que a história de Jesus é radicalmente furada e portanto muito fraca. Contudo, embora tais idéias possam florescer porque este vácuo existe, elas dependem dos Evangelhos terem sido, não apenas interpretados, mas virtualmente reescritos. Este vácuo pode apenas ser discernido uma vez que a pesquisa de fundo forneça um contexto para a história.

Descobertas arqueológicas tais como as dos textos de Nag Hammadi e dos Pergaminhos do Mar Morto tem revelado muito mais sobre o tempo e a cultura em que Jesus viveu – e repentinamente parece que muitos aspectos da Cristandade que costumavam serem considerados únicos não eram tal coisa. Até mesmo os mais bem vestidos e familiares conceitos cristãos podem agora serem vistos como tendo um significado completamente diferente no contexto da Palestina do século I. Por exemplo, um slogan que os cristãos evangélicos são particularmente inclinados a exibirem fora de seus igrejas é “Jesus Cristo é o Senhor’. Para eles isto encapsula a idéia que Jesus era literalmente divino – o Senhor, Deus encarnado. Isto foi tirado dos Evangelhos na crença que este fosse um título dado a Jesus por seus seguidores em reconhecimento ao seu status único. Mas como o altamente respeitado erudito bíblico Geza Vermes tem mostrado, este era meramente um termo comum de respeito tal com as crianças costumam usar com seus pais e mães ou uma espoas a seu marido – um equivalente a senhor. Isto nada implica além de um mero costume e certamente nada tem de espiritual ou divino. Mas durante séculos esta frase tem tomado vida própria e é quase que tomada como prova que Jesus é o Senhor de Tudo. Um outro exemplo de como a tradição cristã tem se tornado fato histórico é o dos principais festivais tais como a Páscoa e o Natal. Todo ano milhões de cristãos por todo o mundo celebram o nascimento do bebê Jesus em 25 de dezembro. A história da natividade é uma das mais familiares no mundo: Maria era uma Virgem que concebeu pela intervenção do Espírito Santo: não há espaço para ela e seu marido José na hospedaria e então a criança nasceu em um estábulo [ou em algumas versões em uma caverna] e magos e pastores vieram adorar o recem nascido Salvador. Esta história pode não ser favorecida pelos cristãos mais sofisticados e teólogos, mas é uma das primeiras histórias que é contada às crianças e se torna o Evangelho em uma tenra idade.

Quando o Papa considerou prudente explicar que Jesus realmente não havia nascido em 25 de dezembro, mas que aquela data foi escolhida porque ja era um festival de inverno para os velhos pagãos, o anúncio causou algo de sensação. Os mais ordinários cristãos tomaram isso como uma grande revelação. Que este anúncio tenha vindo tão tarde quanto em 1994 é incrível, ainda que seja apenas a ponta do iceberg. Porque teólogos tem sabido a muito tempo que a inteira história do Natal é um mito. Mas a extensão na qual os cristãos são mantidos ignorantes deliberadmente por aqueles que sabem melhor vai muito, muito além: a data de natal de 25 de dezembro não é apenas o alegado nascimento de Jesus, ele é também a data de nascimento de muitos deuses pagãos tais como Osiris, Attis, Tammuz, Adonis, Dionísio, e muitos outros. Eles também, nasceram em habitações humildes tais como cavernas, e os pastores compareceram ao seu nascimento que foi proclamado por sinais e maravilhas, inclusive o avistamento de uma nova estrela. E entre seus muitos títulos estavam aqueles de “Bom Pastor’ e “Salvador da Humanidade”. Se confrontado com a evidência de Jesus ter sido apenas um na longa linha de tradição de deus morto e ressucitado, o clérigo tende a buscar refúgio no conceito insatisfatório de que os pagãos antigos de algum modo obscuramente percebiam que um dia haveria de vir um real deus salvador, mas tinhan que fazer uma grotesca paródia da cristandade que estava por vir.

Embora estaremos lidando em detalhes com as origens da cristandade mais tarde, é suficiente dizer que a data compartilhada de nascimento de 25 de dezembro não é a única similaridade entre a história de Jesus e aquela dos deuses pagãos. Osiris, por exemplo, o consorte de Isis, morreu nas mãos do perverso Set em uma sexta feira e foi ressuscitado depois de estar no submundo por três dias. E os mistérios de Dionisio eram celebrados pela ingestão do deus por meio da refeição mágica do pão e do vinho que simbolizavam seu corpo e seu sangue. Estes deuses que morrem e ressuscitam tem sido reconhecidos como tais por muitos anos pelos teólogos, historiadores e eruditos bíblicos, ainda que pareça ter havido uma conspiração tácita para manter este conhecimento oculto do ‘rebanho’ da Igreja. Com toda a riqueza do novo material emergindo sobre as origens da cristandade, é apenas fácil demais ser levado pelo entusiasmo e abraçar uma idéia em particular sem a necessária cautela e discernimento. Se o material fonte é mal interpretado, então as conclusões podem estar muito distantes da marca. Por exemplo, um vasto número de palavras tem sido devotado aos Pergaminhos do Mar Morto, que foram descobertos em 1947; alguns deles parecem lançar uma nova luz sobre a cristandade inicial. Certas passagens dos Pergaminhos tem convencido muitas pessoas que Jesus e João Batista eram membros dos Essênios, uma seita baseada em Qumran pelo Mar Morto. Não é exagero dizer que isto agora é acreditado por muitas pessoas ser inegavelmente provado. De fato, não há prova que os próprios Pergaminhos fossem de origem essênia – esta foi simplesmente a presunção imediata quando eles foram encontrados. Há uma outra assunção: que os documentos eram escritos de uma seita, ou dos Essênios ou de muitas outras que são conhecidas terem se retirado para aquela área. Contudo, o principal profesor de história judaica, Norman Golb, que tem estreitamente observado a descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto e o desenvolvimento do estudo deles, tem recentemente desafiado esta presunção. Ele tem demonstrado que o caso deles terem vindo de uma comunidade – ou até mesmo de uma comunidade religiosa que tenha existido em Qumran – não é apoiado nem pela evidência arqueológica ou pela evidência dos próprios pergaminhos. Golb acredita que os pergaminhos são de fato parte da biblioteca do Templo, que havia sido oculta lá durante a revolta judaica de 70. Se Golb estiver certo, e há toda indicação de que ele está, então virtualmente cada livro escrito nos Pergaminhos do Mar Morto é retundante. Essencialmente o que a maioria dos escritores tem feito é tentar reconstruir as crenças de uma seita putativa de uma coleção de documentos que realmente tiveram sua origem entre uma variedade de grupos diferentes. Isto é como deduzir as crenças de alguém ao olhar o que está nas estantes dela: nossa própria biblioteca pessoal, por exemplo, facilmente revela nosso interesse em assuntos religiosos e esotéricos, mas na medida em que os nossos livros cobrem uma variedade de pontos de vista: cético, racional, crédulo – eles claramente não podem representar o que na realidade acreditamos. [Por comparação, os textos de Nag Hammadi nunca tem sido vistos como estudo de uma única seita] mas são importantes para o estudo do judaismo daquele tempo. Embora a conexão Essênia dos Pergaminhos do Mar Morto seja falaciosa, a despeito de seus status como um mito moderno, eles permanecem de profunda importância histórica para o entendimento do judaismo daquele tempo. Mas como eles são improváveis de terem qualquer grande utilidade para qualquer estudo das origens da Cristandade, os Pergaminhos não figuram grandemente nesta investigação. Os perigos de tirar conclusões de longo alcance sobre premissas falhas são exemplificados pelo livro ‘The Hiram Key’ de Knight and Lomas. O argumento deles é que alguns dos Pergaminhos do Mar Morto contêm idéias que são similares aquelas da Livre Maçonaria e como eles afirmam, ‘que os autores dos Pergaminhos do Mar Morto eram Essênios que foram os precursores da Livre Maçonaria. Acrescente a certeza deles que Jesus era um Essênio e a conclusão está clara: Jesus era um Maçom Livre. Contudo, como temos visto, os Pergaminhos não foram escritos pelos Essênios e Jesus não tem sido provado pertencer a esta seita, então todo o argumento desaba. Se nada mais, isto fornece a um pesquisador muito entusiasta uma história para cautela.

Temos alcançado aquele ponto onde entendemos que uma reavaliação radical do status de João Batista e de Maria Madalena estava muito atrazada. Afinal, pareceu que ambas estas figuras históricas tinham alguma afirmação persuasiva a ser considerada muito seriamente – ao menos pelo tenaz movimento subterrâneo na Europa que havia incluido algumas das melhores mentes de todos os tempos. O tema principal do que chamamos de Grande Heresia Européia era a veneração inexplicável – chegando em alguns casos a real adoração – de Maria Madalena e João Batista. Mas isto representava algo mais que algum tipo de teimosa não ortodoxia, uma persistente rebeldia contra a Igreja meramente por assim o querer? Havia algo de substancial por trás desta heresia? Para descobrir se havia qualquer base factual para estas crenças, nos voltamos ao Novo Testamento, e em particular aos Quatro Evangelhos Canonicos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Confessamos um inicial atordoamento por esta ligação herética entre o Batista e Madalena. Não apenas nada havia na versão recebida da cristandade que os ligasse – fora sua aparente devoção a Jesus – mas uma investigação superficial das próprias heresias também falhou em fornecer qualquer possivel solo comum. Suas imagens eram completamente distintas. João Batista vinha como  um asceta que morreu por causa de seus padrões morais não comprometidos, embora, talvez, significativamente ele não tenha morrido como um mártir cristão. [De fato não há sugestão que ele evocou os ensinamentos ou morais de Jesus quando ele assumiu sua posição fatal contra Herodes Antipas]. E por outro lado, a Madalena é acreditada ter sido uma prostituta, embora, segundo a história tradicional, ele se reformou e passou o resto de sua longa vida como penitente.

De algum modo João e Maria não parecem ser aliados naturais; segundo os Evangelhos, certamente, não há sugestão nem mesmo que eles tenham se encontrado. Contudo, há indicação que ao menos eles provavelmente soubessem um do outro. O Batista é reconhecido pelos eruditos como tendo uma fama dissseminada em seu tempo e lugar como pregador justo que veio da imensidão para me chamar ao arrependimento, enquanto que Maria foi uma das seguidoras ou discípulas de Jesus, mantendo um importante papel no grupo dele. E, é acreditado, Jesus e João eram primos, ou ao menos parentes de sangue. Das leituras entre as linhas pode-se imaginar que talvez João soubesse de Maria Madalena como alguém que lavasse os pés dos homens e lhes levasse toalhas limpas e cozinhasse suas refeições. Talvez ele vagamente soubesse de sua reputação passada e considerasse a presença dela ‘impura’ – a menos, com certeza, que ele a tivesse batizado. Contudo, a investigação mais profunda do fundo da história da Bíblia mantém algumas pistas sobre as ligações entre Madalena e o Batista. A primeira maior ligação é o de seus papéis complementarews na carreira de Jesus como pregador. É João que representa seu início e Mdalena representa o seu fim. É João que inicia o ministério de Jesus por meio do rito do batismo. É Maria Madalena que é central nos eventos que cercam sua morte e ressurreição. A maior conexão é que ambos oficiaram uma espécie de unção. O batismo de João com água é claramente análogo a unção com óleo de nardo por Maria de Bethania, que geralmente é assumida ser a mesma Maria Madalena, e é esta última que unge o corpo morto de Jesus com mirra e aloé para o enterro. A maior similaridade entre estes dois personagens curiosamente compelentes, contudo, é que embora eles obviamente cumprissem uma maior função ritual na vida de Jesus, eles apenas tenham sido incluidos na história do Evangelho sob consentimento. Eles vem e vão das páginas da Bíblica com tal brusquidão como para criar um efeito peculiarmente chocante. Por um lado ele fala sobre a execução de João nas mãos dos homens de Herodes, mas por outro não há uma só palavra de Jesus lamentando isso, ou como ele exortou seus segidores a mostrarem reverência a memória de João. A Madalena aparece subitamente na história ao tempo da Crucificação, no que é claramente um papel de alguma intimidade com Jesus, e é a primeira pessoa a testemunhar a Ressureição – ainda porque ela não seja mencionada previamente? Talvez isto seja porque os escritores dos Evangelhos foram obrigados a admitir que João e Maria Madalena cumpriram seus papéiS tão centrais para a história de Jesus que eles não podiam ser totalmente ignorados, mas caso contrário nunca os teriam mencionado. Então o que há de tão ofensivo sobre João Batista e Maria Madalena aos escritores dos Evangelhos e os iniciais Pais da Igreja? É fácil ver esta deliberada marginalização no caso de Maria Madalena. Por um lado ela é claramente importante na história de Jesus, mas pelo outro virtualmente não há informação sobre ela nos Evangelhos. Fora uma menção a ela em Lucas, por exemplo, ela faz sua verdadeira entrada como uma testemunha da Crucificação. Não nos é dito como ela veio a ser uma seguidora, exceto pela implicação da história de ‘expulsar sete demonios’ que ela tinha sido curada por Jesus em algum ponto. Nem nos é dito qual era o papel exato dela, expecialmente no enterro de Jesus.

De início assumimos ingenuamente que qualquer seguidora de Jesus teria recebido este ligeiro tratamento apenas por se tratar de uma mulher e portanto um cidadão de segunda classe no que diga respeito aos judeus do século I. Ainda que se assim o fosse, as coisas devem ter mudado desde os dias de Ruthe e Naomi, cujas vidas são tão bem cronificadas no Velho Testamento. Então há uma curiosa ênfase no sobrenome desta Maria, ou no título, Madalena. Porque, embora discutiremos esta derivação mais tarde,  ainda é possível ver o próprio fato que ele foi usado pelos escritores do Evangelho como uma indicação de que ela era uma mulher de meios independentes. Todas as outras mulheres no Evangelho são definidas por seu status como esposa, mãe ou irmã de algum homem importante. Mas aqui temos simplesmente Maria Madalena. É como se os escritores dos Evangelhos esperasem que seus leitores soubessem quem era ela. Os Evangelhos dizem sobre as mulheres seguidoras de Jesus que ‘elas ministravam a ele sua substância’ – indicando que eles tinham alguma substância a ministrar a ele. Era ela alguma de um grupo de mulheres independentes de alguns meios que essencialmente mantivessem o grupo de Jesus? Certamente muitos eruditos acreditam ser este o caso. Mas seja qual for o status financeiro dela, Maria Madalena, quando mencionada por todo seu nome, está sempre no topo da lista das discipulas mulheres, até mesmo antes de Maria a Mãe, exceto onde haja uma específica razão para colocar a Virgem primeiro.

O Priorado de Sião acredita que Maria Madalena é a mesma que Maria de Bethania, a irmã de Lázaro, e a que ungiu os pés de Jesus. Se este é o caso, então seu brusco tratamento nas mãos dos escritores do Evangelho se torna ainda mais aparente. Eles parecem ter deliberadamente tornado sua identidade e papel até mesmo mais difícil de se determinar. Os Evangelhos Sinóticos vão tão longe até tornar anônima a mulher que unge os pés de Jesus, embora seja altamente provável que os escritores soubessem quem era ela e porque ela era importante. Este processo de marginalização parece também ter se aplicado a João Batista. Os eruditos modernos do Novo Testamento reconhecem que o preciso relacionamento entre Jesus e João Batista seja difícil de definir. Muitos deles apontam a aparente super ênfase a João para o seu papel meramente como precursor de Jesus, sugerindo que ‘ele protesta demais’. Significativamente o Evangelho de Marcos – que foi provavelmente o mais anterior , e no qual foram baseados os Evangelhos de Matheus e Lucas, é menos insistente sobre o papel subordinado de João do que os textos posteriores. Isto tem levado muitos eruditos a concluirem que a subserviência de João a Jesus, que é exaustivamente repetida, fosse realmente um acobertamento para a rivalidade entre os dois homens e seus respectivos grupos de discípulos. Um exame estreito dos próprios Evangelhos revela pistas desta rivalidade. De início, uma leitura imparcial revela que muitos dos primeiros e mais famosos discípulos de Jesus vieram realmente das fileiras dos seguidores de João. Por exemplo, o jovem João O Amado [que, como temos visto, foi central a muitas crenças heréticas] é amplamente reconhecido ter sido um dos acólitos de João Batista e pode até mesmo ter tomado seu nome como um sinal de respeito por ele. Os discípulos de João continuaram depois da decapitação de seu líder como um grupo separado: nos é dito que alguns deles foram recuperar seu corpo e há passagens no Novo Testamento nas quais os seguidores de Jesus discutem com João sobre seus respectivos estilos de vida. Mais revelador, contudo, João é registrado como tendo suas dúvidas sobre Jesus como o Messias – em uma passagem que, não surpreendentemente, é dada poucas aberturas a discussão pública pela Igreja. Quando João é aprisionado na prisão de Herodes ele envia dois de seus discípulos para perguntar a Jesus: “Você é aquele que deve vir ou devo esperar por outro?” Este é um episódio particularmente embaraçoso para os teólogos. Por um lado eles vêem João Batista como sendo indicado por Deus para pavimentar o caminho para o Messias, e indica-lo como tal ao povo, portanto reconhecendo-o demais em alguma medida sob orientação divina – ainda que o ‘precursor’ então questione se ele tem feito a escolha certa!

Há alguns sinais menos óbvios mas ainda assim reveladores da rivalidade que existia entre os dois homens até mesmo nas palavras registradas de Jesus. A primeira é a passagem muito bem conhecida na qual Jesus parece louvar João às multidões, dizendo a elas que “entre aqueles nascidos das mulheres não há alguém maior do que João Batista’. Contudo ele acrescenta a intrigante qualificação que ‘aquele que é o menor no reino do céu é maior do que ele’. O significado exato disso tem sido assunto de muito debate. O eminente erudito do Novo Testamento Geza Vermes comparou este uso da frase ‘o menor no reino do céu’ com outros exemplos e concluiu que isto era uma circumlocução – uma frase formal e impessoal – que fala pelo próprio orador. Em outras palavras, Jesus estava dizendo às multidões “João pode ter sido um grande homem mas eu sou maior’. Contudo, há uma outra interpretação muito mais óbvia, que nunca tem sido discutida pelos eruditos bíblicos. É reconhecido que a frase ‘nascido de mulheres’ pode ser tomada como um insulto porque isto implica em fraqueza – em cujo caso, a inteira passagem toma um tom inteiramente diferente.  Talvez a declaração de Jesus “Entre aqueles que são nascidos de mulheres não há alguém maior do que João Batista’ pode ser tomado como um insulto direto. Esta infamia parece ter sido reforçada pelo comentário seguinte “aquele que é o menor no reino do céu é maior do que ele’. Tem sido sugerido que há também um outro desprezo pouco velado a João – que teria sido óbvio aos judeus do século I – nos comentários de Jesus durante as discussões de seus discípulos com os discípulos de João: ‘nenhum homem coloca vinho novo em peles velhas’. Naquele tempo e lugar o vinho era frequentemente carregado em ‘garrafas’ feitas de pele animal e João usava peles animais. No contexto desta particular discussão é muito provável que este comentário se referisse a João. É claro que esta rivalidade era bem conhecida pelos escritores dos Evangelhos ao menos 50 anos depois da Crucificação [[que é aproximadamente quando os livros foram escritos]. Talvez os quatro Evangelhos fossem realmente escritos com a agenda oculta de minimizar esta infame rivalidade e assegurar que Jesus viesse em posição superior. De fato, os escritores dos Evangelhos ficariam muito mais felizes se ele pudessem deixar de fora João. Então é claro que Batista e Madalena – aquele que batizou Jesus e aquela que primeiro testemunhou o ponto inteiro da cristandade, a Ressureição – estejam unidos pelos fato de que os escritores dos Evangelhos eram, para dizer o mínimo, desconfortáveis quanto a eles.  Mas é possível descobrir porque, e reconstruir seus verdadeiros papéis e reestabelecer sua importância original?

O principal problema é que os livros do Novo Testamento são uma fonte nada confiável de informação. Como todos os textos antigos eles tem, com certeza, sido sujeitos ao incansável pocesso de edição, seleção, tradução e interpretação. Durante séculos partes tem sido acrescentadas aos trabalhos originais que algumas vezes não não importantes mas em certas ocasiões são altamente significativas. Por exemplo, na Primeira Epístola de João, a sentença ‘por lá há três que mantém registro no céu, o Pai, a Palavra e o Espírito Santo’ e destes três um é conhecido ter sido acrescentado mais tarde. Então novamente a história da ‘mulher pega em adultério’ aparece apenas no Evangelho de João e suas versões mais iniciais conhecidas não contém este espisódio. É um assunto de grande debate se isso é ou não autêntico. Um maior exemplo de confusão que é devida aos caprichos da tradução é aquela do comum mal entendimento que Jesus fosse um humilde carpinteiro. A palavra usada no aramaico original é ‘naggar’, que pode significar um trabalhador de madeira ou um erudito ou homem culto. No contexto, o último parece fazer mais sentido, porque não há outra pista em algum outro lugar que Jesus fosse qualquer tipo de artesão – e sua cultura causou um comentário especial daqueles que o ouviram: a palavra naggar apenas é usada quando as pessoas estão especificamente discutindo sua erudição. Ainda que a idéia de que Jesus fosse um carpinteiro agora esteja indelevelmente escrita na história cristã como ‘fato’ exatamente como a idéia de que ele tenha nascido em 25 de dezembro.

As datas nas quais os Evangelhos Canonicos foram escritos tem sido assunto de grande debate e controvérsia. Como escreve A.N. Wilson: Uma das mais curiosas características da erudição do Novo Testamento é o fato de que, embora homens cultos tenham pesquisado a fundo os documentos por séculos, eles nunca tem conseguido estabelecer além de qualquer dúvida questões tão simples como onde os Evangelhos foram escritos, ou quando eles foram escritos, ainda menos, por quem eles foram escritos. Os mais antigos manuscritos sobreviventes são do século IV, mas eles claramente são cópias de textos mais antigos. Então os eruditos tem tido que tentar estabelecer sua proveniência ao analisar a linguagem dos fragmentos sobreviventes do Evangelho. Embora a questão não tenha sido conclusivamente resolvida, o atual consenso é o de que o Evangelho de Marcos seja o mais inicial, e tenha sido escrito em 70. Também é concordado que Mateus e Lucas foram baseados grandemente em Marcos e portanto devem ter sido compostos mais tarde, embora eles incorporem materiais de outras fontes. O Evangelho de João é pensado ter sido o último a ser escrito, em algum ponto entre 90 e 120. O quarto Evangelho de João sempre tem sido um enigma. Mateus, Marcos e Lucas, conhecidos coletivamente como Evangelhos Sinóticos, contam mais ou menos a mesma história, colocando os eventos muito na mesma sequência e apresentando Jesus de um modo similar – emora ainda haja muitas discrepâncias e inconsistências nos episódios individuais. Um bom exemplo disso é o diferente número e nomes das mulheres que compareceram a tumba de Jesus segundo os três autores. O Evangelho de João, contudo, conta a história de Jesus em uma ordem muito diferente e também inclui eventos que os outros não mencionam. Dois exemplos são o casamento em Canaã, no qual Jesus realiza seu primeiro milagre – transformando a água em vinho – e a ressurreição de Lázaro que se torna, em João, um dos eventos centrais. Que outros cronistas devam ter estado inconscientes de episódios tão importantes sempre tem intrigado os historiadores. Contudo, o Evangelho de João também difere na imagem que ele apresenta de Jesus. Conquanto os Evangelhos Sinóticos contem a história de um pregador e fazedor de milagres que grandemente se encaixa na estrutura judaica, o Evangelho de João é muito mais místico e gnóstico em atitude, colocando uma ênfase maior na divindade de Jesus. Ele também busca explicar o significado por trás da história na medida em que ela se desenrola.

Hoje a visão padrão é que Jesus era um líder religioso judaico que foi principalmente rejeitado pelo seu próprio povo. Muitos comentadores modernos nem até mesmo pensam que ele tenha pretendido fundar uma nova religião, e que o Cristianismo quase aconteceu por acidente, porque os ensinamentos de Jesus tomaram o resto do Império Romano. Isto explica, eles dizem, idéias tais como a da deificação de Jesus: ele tinha que se tornar conhecido como Filho de Deus – literalmente Deus encarnado – para apelar ao mundo romanizado, que tinha o costume de pensar que seus governantes e heróis de tornassem deuses. Porque o Evangelho de João lida com tais temas, tem sido assumido que ele tenha sido escrito em um estágio posterior no desenvolvimento da Cristandade, quando a novata religião estava colocando seus pés dentro de um contexto mais amplo do Império Romano. O problema é que o Evangelho de João é o único que realmente afirma ser baseado no testemunho ocular de alguém que tinha estado presente nos maiores eventos da vida de Jesus: ‘o discípulo amado’, que é tradicionalmente tomado ser o jovem João, daí a atribuição do Evangelho. O Evangelho de João certamente contém os detalhes mais circunstanciais tais como nomear os indivíduos que aparecem anonimamente nas outras versões. Assim alguns eruditos tem argumentado que João é o mais inicial Evangelho, embora haja outras interpretações, variando da idéia de que João simplesmente tinha a melhor imaginação até ele ter sido testemunha em primeira mão mas acrescentado sua própria interpretação a isso mais tarde. O Evangelho de João é, por qualquer padrão, muito estranho.  Ele a muito tempo tem perplexado até mesmo o mais erudito dos sábios por causa de suas confusas mensagens: de fato, seu tom é inconfundível; é claramente contradito pelos fatos que ele cuidadosamente estabelece diante do leitor. Por causa da informação detalhada que ele dá, o Evangelho de João é reconhecido como o mais valioso historicamente, ainda que ele também seja visto como o mais distante em tempo da vida de Jesus. Ele mostra o mais preciso conhecimento sobre as práticas religiosas judaicas, ainda que seja o menos judeu, e mais helenista em sua visão geral. É de longe o mais hostil aos judeus – suas diatribes contra eles revela seu ódio – ainda que deixe muito mais claro do que os outros Evangelhos que foram os romanos, não os judeus, que foram os rsponsáveis pela execução de Jesus.

E é também o mais estridente em sua marginalização de João Batista, devotando muitas palavras a sua aparente inferioridade e completamente ignorando o subsequente destino de João – ainda que, diferente dos Evangelhos Sinóticos, ele nos conte que Jesus recrutou seus primeiros discípulos do grupo de João e que os seguidores de ambos os líderes continuaram a ser rivais, portanto revelando que João era importante por seu próprio direito. Esta evidente confusão, contudo, é facilmente explicada por muitas fontes que eram usadas para compilar o Evangelho de João – inclusive sua narrativa de testemunha ocular da missão de Jesus. E como veremos, algumas destas fontes são particularmente reveladoras.

Muitos cristãos modernos acreditam que o Novo Testamento foi de algum modo inspirado divinamente. Contudo, os fatos argumentam contra isso: foi apenas em 325 que o Concílio de Nicéia se reuniu para debater quais dos muitos livros seriam incluidos no que so tornaria o Novo Testamento. Não há dúvida de que os homens presentes no Concílio realizaram a tarefa segundo seus próprios preconceitos e agendas, dos quais eles ainda estão colhendo uma triste colheita. Eventualmente o Concílio estabeleceu que apenas quatro Evangelhos seriam incluídos no Novo Testamento e rejeitaram para sempre outros cinquenta livros com mais ou menos igual declaração de serem autênticos. De repente as opniões expressadas, seja implícita ou explicitamente, no material rejeitado tornou-se sinônimo de heresia. [De fato, a palavra origial ‘heresia’ apenas significava ‘escolha’]. Em um sentido, o mesmo processo de seleção como aquele empregado no Concílio de Níceia no século IV continua hoje. O público grandemente, se não como um todo, não tem permissão para fazer sua própria opinião sobre os textos sobreviventes. Por exemplo, o Evangelho de Tomás, a existência do qual tem sido conhecida por um longo tempo, foi apenas descoberto por completo quando os textos de Nag Hammadi foram descobertos em 1945. Mas qualquer regozijo por sua descoberta deve certamente ser temperado pelo reconhecimento da razão para sua aceitação pelos teólogos: ele concorda com os existentes quatro evangelhos e isto foi o porque ele foi permitido passar pelo canon não oficial [embora a própria Igreja Católica o tenha pronunciado herético]. Outros textos, datando grosseiramente do mesmo tempo, foram descartados porque as opiniões religiosas expressas neles não concordam com aquelas do Novo Testamento. Este geralmente são textos de fundo gnóstico.

Os cristãos tem a noção da ‘verdade do evangelho’ significando fatos literais, inequívocos, não ambíguos e divinamente inspirados. Muito poucos sábios modernos, contudo, aceitam que o Novo Testamento seja a palavra de Deus, já que eles sabem que as palavras do Novo Testamento são mais ou menos válidas do que qualquer outra narrativa dada por pessoas cinquanta anos ou mais depois dos eventos que elas descrevem. É alguma coincidência que os evangelhos só fossem escritos depois que o primeiro missionário, Paulo, tivesse evangelhizado muitos dos países do Mediterrâneo oriental? Certamente em suas cartas Paulo não dá pistas que ele soubesse algo da vida e deveres de Jesus além do que ele fora morto e se elevou dos mortos. Então foram os Evangelhos criados para reforçar sua versão da Cristandade ou se opor a isso? Os autores dificilmente podem ter sido inconscientes do ministério de Paulo. As narrativas dos Evangelhos foram escritas, como temos visto, ao menos quatro décadas depois da Crucificação, e coisas haviam mudado desde então – não menos por causa da “vinda de um reino de Deus’, como prometido por Jesus, que realmente não havia se materializado. Este próprio lapso de tempo, com certeza, apresenta um enorme problema para avaliar a autencidade dos Evangelhos porque não há meio de saber que passagens foram baseadas nos reais eventos históricos, sobre rumores e extrapolações de rumores – ou em completa fabricação. Muitas das palavras que agora pensamos terem vindo dos próprios lábios de Jesus podem não ter sido registradas verbatim, ou podem não ter sido ditas por alguém, sempre. Algumas delas podem ter sido mal lembradas até mesmo por seus seguidores [embora seja possível que pessoas com uma tradição oral, como os judeus, as mantivessem consideravelmente mais puras por muito mais tempo do que o fariamos hoje], e as palavras de alguém mais podem ter sido atribuídas a Jesus. Ironicamente, contudo, um dos poucos meios de testar se o dito é genuíno é o ‘princípio da diferença’: isto é, ver se isso contradiz a mensagem completa dos Evangelhos. Afinal, se isto vai contra o espírito da maioria do texto, o autor é improvável de ter feito isso.

Pela maioria dos últimos 2000 anos, os Evangelhos foram assumidos terem sido divinamente inspirados e conterem a verdade não adulterada sobre Jesus, seus ensinamentos e mensagem para a humanidade. Ele era, assim foi entendido, o Filho de Deus, enviado para salvar o Homem de seus pecados por um supremo ato de sacrifício e estabelecer uma nova igreja para superar a religião do Velho Testamento – e, por implicação, todas as outras do mundo pagão grego e romano. Tem apenas sido nos últimos 200 anos que a Bíblia tem sido submetida ao mesmo exame crítico de outros documentos históricos, e que uma tentativa tem sido feita de encaixar a vida e os ensinamentos de Jesus no contexto de seu tempo. Pode ser esperado que um tal processo tivesse esclarecido muito sobre o caráter e a motivação de Jesus. De fato, o oposto tem sido o caso. Embora esta abordagem tenha revelado que muitas das assunções estejam erradas, por exemplo, Jesus não foi executado por iniciativa de líderes religiosos judaicos mas por causa das acusações de intriga política pelos Romanos, isto falhou totalmente em responder algumas das questões mais fundamentais sobre ele. Podemos dizer o que Jesus não era, mas ainda é difícil dizer o que ele era. O resultado disso é que hoje a erudição do Novo Testamento está em crise. Ela é incapaz de concordar em questões tão fundamentais como: O próprio Jesus afirmou ser o Messias? Ele declarou ser o Filho de Deus? Ele afirmou ser Rei dos Judeus? E é completamente incapaz de explicar a importância de muitas coisas que ele fez. Ela não pode nem mesmo fornecer uma explicação convincente para sua Crucificação, porque nada existe que Jesus disse ou fez – como relatado nos Evangelhos – que tivesse ofendido ou os líderes religiosos judeus ou os senhores romanos a ponto que eles quisessem seu sangue. Muitas de suas ações simbólicas,  tais como virar as mesas dos negociantes de dinheiro no templo, ou até mesmo o evento crucial da inauguração da eucaristia na última ceia, não podem ser relacionados a algo no judaismo. Ainda mais surpreendente, contudo, é o fato de que a erudição do Novo Testamento tenha uma grande dificuldade em explicar porque uma religião tenha sido fundada sob o nome de Jesus em primeiro lugar. Se Jesus era de fato o a muito tempo esperado Messias judeu, então ele falhou em seu papel porque ele foi humilhado, torturado e morto. E ainda que seus seguidores não apenas continuassem a venera-lo mas também levassem sua devoção a ele a se posicionarem como sendo diferentes dos outros judeus.

Um bom exemplo desta confusão academica pode ser visto nos trabalhos de dois dos mais proeminentes eruditos do Novo Testamento em tempos recentes, Hugh Schonfield e Geza Vermes. Os paralelos entre os dois professores são surpreendentes. Ambos eram eruditos judeus que, em uma tenra idade, desenvolveram um interesse nas origens da Cristandade e devotaram a maioria de suas distinguidas vidas de trabalho ao assunto. Ambos entenderam que a maioria dos eruditos cristãos tem falhado em colocar a pesquisa do Jesus histórico em um contexto mais amplo da cultura judaica de seu próprio tempo e lugar. Ambos esperavam encontrar uma resposta por uma cuidadosa comparação das narrativas dos Evangelhos e do Judaismo no tempo de Jesus, e ambos, além de seus muitos trabalhos academicos, publicaram livros populares enormemente bem sucedidos que apresentaram o resultado do trabalho de sua vida – Schonfield com seu ‘The Passover Plot’ (1965) e Vermes com seu ‘Jesus the Jew’ (1973). As conclusões a que eles chegaram, contudo, podem dificilmente terem sido mais diferentes. Vermes apresenta Jesus como um Hasid – um dos herdeiros mais como os shamãs dos profetas do Velho Testamento que eram notados por sua independência do Judaísmo institucional e por seus milagres. Ele argumenta que nada há no Novo Testamento que sugira até mesmo que Jesus tenha afirmado ser o Messias, ainda menos o Filho de Deus, estes títulos sendo retrospectivamente aplicados a ele por seus seguidores. Schonfield, por outro lado, tem Jesus primariamente como uma figura política trabalhando pela independência da Palestina de Roma, que conscientemente moldou sua carreira para se enquadrar naquela do esperado Messias, até mesmo ao ponto de engendrar voluntariamente sua morte pela crucificação. Foi o livro de Schonfield – The Passover Plot – que revelou ainda mais razões para seremos cautelosos em aceitar a ‘verdade do Evangelho’. Seu trabalho demonstrou que existiu por trás de Jesus e de seus seguidores um outro grupo sombrio com sua própria agenda e interesse em manipular sua história. Embora seu argumento seja familiar, é válido de ser sumariamente resumido aqui.

Pelas histórias do Evangelho Jesus repetidamente encontra certas pessoas que nem são seus discípulos mais próximos e nem parte da massa de seus seguidores, e que geralmente estão bem fora disso – tal como Jose de Arimatéia, que emerge abruptamente de algum lugar para monopolizar os arranjos para o enterro de Jesus. Os personagens centrais nesta organização eram o grupo em Bethania, que Schonfield chama de ‘base de operação’ de Jesus. Este grupo parece ter assegurado que Jesus cumprisse o papel do esperado Messias, especialmente na entrada em Jerusalém. O asno no qual ele se sentou, assim cumprindo a profecia de Zacarias (9:9), tinha claramente sido pré arranjado, completo com uma senha para ele ser entregue – embora os discípulos de Jesus de nada soubessem sobre isso. Então a sala para a última ceia está pronta e a espera, embora seja o tempo mais ocupado durante o ano e Jerusalém esteja cheia de gente e superfluindo. Jesus diz a seus discípulos para irem a cidade e procurarem um homem carregando um jarro de água [que teria estado como um polegar ferido já que apenas as mulheres executavam tais tarefas]; novamente, senhas eram para serem trocadas, e ele então os levaria para a sala superior. Isto indica que os discípulos não sabiam de muitas coisas que estavam acontecendo e que Jesus estava trabalhando em algum tipo de programa pré planejado  no qual a família de Bethania era a principal participante. Este é um outro exemplo de como os evangelhos não dão uma imagem completa da história de Jesus. A maioria das pessoas de hoje está ciente que motivos políticos são atribuídos a Jesus. Agora é compreendido que seus discípulos incluiam membros de diferentes facções – algumas delas tão extremas que hoje as chamariamos de terroristas. O segundo nome de Judas, que geralmente é dado como Iscariotes, é agora acreditado pela maioria dos eruditos derivar de ‘sicarii’, o nome de um tal grupo. Simão o Zelote é um outro exemplo de quão perto os homens violentos estavam de Jesus. Os trabalhos de  Schonfield e Vermes são relativamente bem conhecidos e facilmente encontrados.

O trabalho de um outro pesquisador bíblico, contudo, conquanto merecendo uma audiência muito mais ampla, tem de fato recebido uma consideravelmente menor. Uma descoberta altamente significativa foi feita em 1958 pelo Dr. Morton Smith (subsequentemente professor de história antiga na Universidade de Columbia, New York) na biblioteca de Mar Saba, uma comunidade isolada e fechada da Igreja Ortodoxa Oriental aproximadamente a 12 milhas de Jerusalém. Smith tinha primeiramente ido ao monastério durante a Segunda Guerra Mundial, quando, como um estudante, ele estava viajando pela Palestina. Entendendo a potencial importância dos documentos que tinham sido reunidos na biblioteca por séculos, ele voltou lá em 1958. Sua mais significativa descoberta em Mar Saba foi alguns fragmentos de um ‘Evangelho Secreto’ dito ter sido escrito por Marcos. O que ele realmente encontrou foi uma cópia de uma carta do segundo século do Pai da Igreja, Clemente de Alexandria. A cópia datava de, mais inicialmente, da segunda metade do século XVII, e tinha sido escrita nos papéis finais de um livro que datava de 1646 [uma prática comum quando os velhos documentos começavam a se deteriorar]. Contudo, da análise do estilo – que contém muitas das conhecidas idiossincracias de Clemente – os paleógrafos tem estabelecido que o original de fato foi escrito por ele. Há também peculiaridades nos extratos de seu ‘Evangelho Secreto’ citados na carta que torna mais provável que eles sejam genuinos. [Por exemplo, descreve Jesus como ficando zangado. Dos Evangelhos canonicos somente Marcos atribui emoções humanas normais a Jesus – os outros eliminam tais elementos de suas narrativas e é dificilmente algo que os Pais da Igreja tais como Clemente tenham inventado]. A carta de Clemente é uma resposta a alguém chamado Teodoro, que aparentemente havia escrito para ele pedindo conselho sobre como lidar com uma seita herética conhecida como os Carpocratianos [por causa de seu fundador, Carpocrates]. Este era um culto gnóstico cujas práticas incluiam ritos sexuais que eram, previsivelmente, condenados por Clemente e outros Pais da Igreja. As doutrinas da seita aparentemente eram baseadas em um alternativo Evangelho de Marcos. Em sua carta Clemente admitiu que este evangelho existisse e fosse autêntico, embora ele acusasse os carpocratianos de interpretarem mal e falsificarem algo disso – e que isto representava um evangelho escrito por Marcos que continha ensinamentos esotericos de Jesus que não eram pretendidos serem revelados aos cristãos médios. Este “Evangelho Secreto de Marcos’ era muito similar a versão mais conhecida e canonica, exceto que ele continha ao menos duas passagens que tinham sido deliberadamente retiradas dele para mante-las foras das vistas dos não iniciados.

A descoberta é importante por três razões. Primeiro, o insight que ela dá dos anos formadores da Igreja Cristã, e os métodos usados pelos Pais da Igreja para estabelecer o canone do dogma cristão. Mostra que os textos estavam sedo editados e censurados, e que até mesmo trabalhos reconhecidos como de igual valor aos evangelhos canonicos estavam sendo retirados dos veneradores comuns. Sobretudo, revela que até mesmo uma figura tão augusta quanto Clemente estava preparada para mentir para evitar que tal material se tornasse mais amplamente conhecido; embora ele admita a Teodoro que o Evangelho Secreto de Marcos exista, ele o aconselha a negar isso a todo mundo mais. O segundo aspecto significativo é que isto confirma que os evangelhos canonicos e outros livros do Novo Testamento, não dão uma imagem completa dos ensinamentos e motivações de Jesus, e que [como sugerido por alguns relatos de suas palavras nos evangelhos canonicos] há ao menos dois níveis de aprendizado. Um era o exotérico para os seguidores comuns, e o outro era esotérico, para discipulos especiais, ou o verdadeiro círculo interno de iniciados. O terceiro ponto significativo sobre a descoberta do Evangelho Secreto de Marcos – e um de particular relevância para nossa pesquisa – é a natureza as duas passagens que Clemente cita em sua carta. A primeira é uma narrativa da ressurreição de Lázaro, embora nesta versão ele não seja indicado pelo nome, simplesmente sendo descrito como um jovem na Bethania. A narrativa é muito similar aquela no Evangelho de João, exceto que nesta versão há um acompanhamento do milagre real – ele diz que seis dias depois o jovem veio a Jesus “vestindo uma roupa de linho branco sobre seu corpo nu” e permaneceu com ele por uma noite, durante a qual ele aprendeu ‘o mistério do reino de Deus’. Muito mais do que uma ressureição miraculosa, portanto, a ressureição de Lázaro parece ter sido parte de algum rito iniciático no qual o iniciado passa por uma morte simbólica e renasce antes de receber os ensinamentos secretos. Um tal rito é uma parte comum de muitas religiões de mistério que eram grandemente praticadas nos mundos grego e romano – mas isso, como alguns leitores deduzem, também incluiria uma iniciação homossexual? Morton Smith certamente especulou que isso podia ter sido assim, a julgar pela alusão específica a uma única roupa cobrindo o corpo nu do jovem e o fato dele ter passado a noite sozinho com seu professor, Jesus. Em nossa opinião, contudo, isto é moderno demais – uma interpretação irrefletida – porque as escolas de mistério rotineiramente envolvem a nudez e longas horas de reclusão com um iniciador sem qualquer atividade sexual necessariamente ter sido envolvida. O fato de que esta narrativa seja a da ressurreição de Lázaro é também importante. Como temos visto, este é um dos episódios do Evangelho de João que não aparece nos outros evangelhos, e é citado pelos críticos como provando que o Evangelho não é autentico. O próprio fato de que ele uma vez apareceu ao menos em um dos outros evangelhos, mas foi então deliberadamente removido, apoia a autenticidade do Evangelho de João e explica porque tais eventos importantes foram censurados deles, já que eles davam pistas de um ensinamento secreto que havia sido reservado para o círculo interno de Jesus. A outra passagem mais curta citada por Clemente também é interessante, porque ela preenche a notória falha na história já reconhecida pelos eruditos. No evangelho canonico de Marcos (11:46) há uma curiosa declaração: “E eles [Jesus e seus discípulos] vieram a Jericó e na medida em que ele saia de Jericó com seus discípulos e um grande número de pessoas, o cego Bartimeus, o filho de Timeus, sentou-se na beira da estrada implorando”. Como nada é dito entre a chegada e saída de Jesus de Jericó, é óbvio que algo estava faltando. A carta de Clemente confirma que este era o caso ao nos dar a passagem censurada, que é: ‘E a irmã do jovem que Jesus amava e sua mãe e Salomé estavam lá, e Jesus não os recebeu’.  Este verso omitido parece bastante inócuo, e não tem atraido interesse para a passagem de Lázaro  – mas é consideravelmente mais importante do que parece. ‘O jovem que Jesus amava’ é Lázaro como ele é referido por esta frase no Evangelho de João. [e como a frase também é usada para o discípulo em cujo testemunho o evangelho é baseado, João, há ao menos um bom caso para se supor que o ‘Discípulo Amado’ e Lázaro fossem a mesma pessoa].

As irmãs de Lázaro são Marta e Maria de Bethania, e se é aceito que esta Maria é a mesma Maria Madalena, então ela deve ter sido uma das três mulheres que Jesus evitou em Jericó. Por causa de sua brevidde, esta passagem não contém as implicações teológicas da narrativa de Lázaro mais longa citada acima. O que é significativo, contudo, é que, por alguma razão, uma sentença aparentemente tão inócua deva ter sido suprimida tão precocemente. Qual a possível razão para os Pais da Igreja terem tido que negar a seus seguidores o conhecimento que tinha havido algum tipo de situação envolvendo Jesus e a irmã de Lázaro – possivelmente Maria Madalena – sua mãe e uma mulher chamada Salomé? Os eruditos tem reagido a descoberta de Smith deste material ignorando as implicações e declarando que isto seja insubstancial demais para ser apropriadamente analisado. Mas, em nossa opinião, isto levanta algumas perguntas interessantes. Clemente acreditava que Marcos tinha escrito este ‘Evangelho Secreto’ quando vivia na cidade egípcia de Alexandria. Tendo em mente que o ‘mito da fundação’ do Priorado de Sião e do Rito de Memphis liga o sacerdote egípcio Ormus a São Marcos – isto pode ser uma referência velada a esta tradição secreta? A descoberta do Evangelho Secreto de Marcos confirma que os livros do Novo Testamento como nós os conhecemos hoje não são desapaixonados, registros verdadeiros de Jesus e de seu ministerio. Em uma extensão, eles são trabalhos de propaganda. Pode ser impossível esperar até mesmo reconstruir uma imagem acurada dos dias iniciais da cristandade de suas páginas. Mas a situação não é completamente sem esperanças. A propaganda pode ser usada para tirar conclusões razoáveis que fornecem que isso seja reconhecido pelo que verdadeiramente é. Pode ser feito revelar o que estabeleceu esconder se for cuidadosamente analisado – por exemplo, as passagens suspeitas são aquelas onde as ofuscações são óbvias ou onde os nomes são omitidos sem qualquer razão aparente. É, contudo, encorajador saber que muito do material ‘proibido’ que tem sido editado dos textos originais do Novo Testamento ou que apareciam nos inteiros evangelhos que tem sido excluídos do Novo Testamento pelo Concílio de Niceia tem sido guardado secretamente pelos chamados heréticos, cuja heresia em muitos casos era devida simplesmente ao fato do seu conhecimento da verdade sobre estas passagens censuradas. O que pode este material editado possivelmente conter que era tão potencialmente nocivo à Igreja que aqueles que o conheciam fossem tão brutalmente caçados e queimados até a morte? Tomamos as pistas de nossa investigação dos movimentos subterrâneos europeus que estabelecemos para reavaliar a história de Jesus e de seus ensinamentos. Por anos temos lutado com a massa de informação diversa que reunimos de muitas fontes – tudo de textos padrão teológicos até entrevistas com heréticos, de páginas do Novo Testamento e dos textos Apócrifos e Gnósticos aos trabalhos de alquimistas e hermeticistas. Um padrão eventualmente começou a emergir – e ele era tão perplexante, tão diferente da versão dos eventos ensinados nas igrejas, que de início duvidamos de nossa próprias conclusões. Que tal se muitos dos chamados heréticos, com seu conhecimento secreto da original história de Jesus, fossem realmente os verdadeiros cristãos? O que pode uma análise verdadeiramente desapaixonada da história nos contar sobre estes momentosos eventos da Palestina do século I? Era tempo de tirar as vendas do preconceito e ver além do mito.

CAPÍTULO DOZE
A MULHER QUE JESUS BEIJOU

A mulher conhecida como Maria Madalena é claramente de uma importância enorme, embora inicialmente intrigante, para os antigos movimentos subterrâneos heréticos da Europa. As ligações dela com o culto da Madona Negra, com os trovadores medievais e as catedrais góticas, com o mistério que rodeia o Abade Sauniere de Rennes-le-Château – e com o Priorado de Sião – implicam que havia algo sobre ela que sempre foi considerado perigoso pela Igreja. Como temos visto, muitas histórias tem crescido ao redor desta mulher poderosa e enigmática. Mas quem era ela e qual era seu segredo? Há, como temos visto, poucas referências a Maria Madalena nos Evangelhos do Novo Testamento. Ainda que seja claro pelo modo em que ela é mencionada que ela foi a mais importante discípula de Jesus – todas as quais sempre tem sido totalmente ignoradas pela Igreja. Se ela chama atenção a elas é geralmente com o entendimento tácito de que de algum modo a palavra ‘discípulo’ aplique-se apenas a seguidores homens. De fato o papel das discípulas tem sido minimizado na mais culpavel extensão pels comentadores que vem bem depois dos escritores dos Evangelhos. Conquanto os judeus do século I possam ter tido problemas religiosos e sociológicos com o conceito de mulheres importantes simplesmente por causa da cultura deles, os críticos mais recentes não tem esta desculpa. Ainda que o debate sobre mulheres como sacerdotes da igreja anglicana  – para citar apenas um exemplo – mostre que pouco tem mudado em 2000 anos.

Para os frequentadores das igrejas de todos os lugares ‘os discípulos’ são automatica e exclusivamente os personagens masculinos de Pedro, Tiago e assim por diante, e não Maria Madalena, Joana e Salomé – a despeito do fato de que estas mulheres sejam listadas pelos escritores dos evangelhos. Durante os infindáveis argumentos sobre mulheres sacerdotes [até mesmo as mulheres envolvidas estavam principalmente escrupulosas em ser usado o termo pagão sacerdotisa], mal interpretações extraordinárias dos seguidores de Jesus foram citadas como ‘prova’ que as mulheres não podiam fazer parte do clérigo. Por exemplo, é dito que Jesus tenha escolhido seus discípulos apenas entre homens, a despeito do fato de que, como temos visto, as mulheres sejam listadas pelo nome como fazendo parte de seu grupo e a despeito da tradição judaica da época, na qual teria sido posssível para os escritores ignora-las completamente se eles o tivessem desejado. O fato de que eles as nomeassem indicava que elas tinham uma parte inevitável no ministério – algo que seria certamente o caso para as futuras gerações de cristãos. Porque como Giorgio Otranto, um professor italiano da história da Igreja, e outros tem mostrado conclusivamente, por várias centenas de anos as mulheres não eram apenas membros da congregação, elas eram realmente sacerdotes e até mesmo bispos.

Como autoridade sobre as mulheres na Cristandade inicial, Karen Jo Torjesen, escreve em seu livro ‘When Women Were Priests’ (1993): ‘Sob um alto arco em uma basílica romana dedicada a duas mulheres santas, Prudentiana e Praxedis, está um mosaico retratando quatro figuras femininas: as duas santas, Maria e uma quarta mulher cujo cabelo é velado e cuja cabeça é circundada por um halo quadrado – uma técnica artistica indicando que a pessa ainda vivia ao tempo em que o mosaico foi feito. As quatro faces fitam serenamente de um fundo dourado brilhante. As faces de Maria e das duas santas são facilmente reconhecíveis. Mas a identidade da quarta é menos aparente. Uma incrição cuidadosamente escrita identifica a face à esquerda como Theodora Episcopa, o que significa Bispa Theodora.’A forma masculina para bispo em latim é episcopus; a feminina é episcopa. A evidência visual do mosaico e a evidência gramatical da inscrição apontam inconfundivelmente que a Bispa Teodora é uma mulher. Mas o ‘a’ em Teodora tem sido parcialmente afetado por arranhões nos ladrilhos de vidro do mosaico, levando a perturbadora conclusão que foram feitas tentativas para apagar a terminação feminina, talvez até mesmo na antiguidade. Os homens sacerdotes podem se ligar em nós lógicos tentando explicar tais apresentações gráficas de mulheres sacerdotes – alguns até mesmo tentado apagar Teodora como a mãe de um bispo homem – mas os fatos falam por si. As mulheres não eram meramente úteis no primeiro século ao equivalente fazer café e sanduiches; eles oficiavam a eucaristia e lideravam congregações em veneração. Não houve sugestão, naqueles dias iniciais, que uma sacerdote mulher menstruando de alguma forma macularia o simbólico pão e vinho, como em tempos recentes. Foi somente em novembro de 1992 que a Igreja da Inglaterra finalmente votou a espinhosa questão das mulheres sacerdotes, e, por uma mera margem de dois votos, decidiu permitir que elas fossem ordenadas. Embora não seja nossa intenção entrar na controvérsia sobre as mulheres sacerdotes, expressamos nossas simpatias as muitas mulheres que tem tentado contra todas as possibilidades explicar a seus ‘superiores’ masculinos que tudo o que elas estão pedindo é voltar ao caminho do início, não alguma reintrepratação radical do século XX. Ao demandarem que lhes seja permitido serem ordenadas, estas mulheres estão pedindo nada mais do que os direitos que elas teriam séculos atrás. [Surpreendentemente, o status real da mulher na Igreja inicial parece ter sido conhecido no século XVI: o tratado de Agrippa sobre a superioridde das mulheres, discutido no Capítulo VII, inclui as palavras ´não somos ignorantes de muitas sagradas abadessas e freiras entre nós, cuja antiguidade não despreza ao chama-las de sacerdotes’]. Houve, contudo, muito boas razões para as mulheres serem tão proeminentes no culto de Jesus – que, infelizmente, tornou inevitável que certos tipos de homens buscassem rebaixar de posto e denegri-las. Embora lidaremos com este assunto mais tarde, é suficiente dizer agora que não há dúvida que as mulheres desempenhavam um papel sacerdotal na mais inicial Igreja Cristã, um que era igual ao dos homens.

Uma das mais condescendentes assunções dos sacerdotes homens é que os mulheres denominadas nas Epístolas e nos Atos eram meramente provisoras de hospitalidade aos Apóstolos homens na medida em que eles iam pregar e batizar. As mulheres como nomes tais como Luculla e Phillippa são agrdecidas pelo seu patrocínio, e é claro que muitas destas mulheres eram ricas e talvez surpreendentemente independentes para seu tempo e cultura. Embora desafiemos a opinião que esta fosse a única função delas, é claro pelo modo em que Maria Madalena é descrita que ele foi uma das primeiras patronas femininas. Ela e outras mulheres ministravam a eles [Jesus e seus discípulos masculinos] ‘de sua substância’, indicando que elas os apoiavam financeiramente. Em todos os lugares as mulheres são descritas como ‘seguindo-o’ e as palavras originais realmente implicavam em uma participação completa nas atividades e práticas do grupo. Como temos visto, Maria Madalena é a única mulher nos Evangelhos que não é identificada pelo seu relacionamento com um homem – irmã, nãe, filha e esposa. Ele é simplesmente nomeada. Conquanto isto possa refletir ignorância da parte dos cronistas sobre sua identidade, é mais provável que ela fosse tão bem conhecida em seus dias que era inconcebível que qualquer cristão inicial não saberia imediatamente quem era ela. Mas conquanto os relacionamentos dela com os outros estejam abertos aos debate, uma coisa emerge claramente das narrativas dos Evangelhos: Maria Madalena era uma mulher independente. E como ressalta Susan Haskings, isto carrega uma clara implicação que ela era de ‘alguns meios’. Significativamente, muito poucos outros personagens do Evangelho são nomeados como Maria Madalena e de um punhado, dois saltam das páginas e são Jesus Nazareno e João Batista. O que o nome dela significa? ‘Madalena’ parece ser de Magdala e sempre tem sido dito que isto se refira à cidade pesqueira de el Mejdel na Galiléia. Mas não há evidência que isso assim o seja, ou que isso assim era conhecido como Magdala no tempo de Jesus. (De fato, el Mejdel foi chamado Tarichea por Josephus.) Havia. contudo, uma cidade de Magdolum no nordeste do Egito, perto da fronteira com a Judéia – provavelmente a Migdol mencionada por Ezequiel. O significado de Magdala tem estado aberto a várias possíveis interpretações tais como ‘o lugar da pomba’ e  ‘torre-templo’. Pode até mesmo ser que o nome de Magdala fosse uma referência a um lugar e a um título, porque no Velho Testamento há um professia reveladora (Micah 4:8): E vós, oh torre do rebaho, a fortaleza da filha de Sião, para vós isso deve vir, até mesmo o primeiro domínio: o reino deve vir para a filha de Jerusalém.’ Porque, como nota Margaret Starbird em seu estudo de 1993 do culto de Madalena, ‘A Mulher com o Vaso de Alabastro’, as palavras traduzidas como ‘torre do rebanho’ são Magdal-eder, acrescentando: em Hebraico, o epíteto Magdala significa literalmente ‘torre’, ou ‘elevada, grande, magnificente’. Era a ligação de Madalena com ‘torres’ e, mais importantemente, com a restauração de Sião, conhecida em seu próprio período de vida? É também revelador que Magdal-eder signifique ‘torre do rebanho’ com suas implicações de torre de observação ou guardiã de seres menores – até mesmo de ser um “Bom Pastor’.

Maria Madalena já tem causado uma comoção em nosso tempo, quando foi declarado em ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ que ela era a esposa de Jesus. Embora esta sugestão, de fato, não fosse nova, foi a primeira que a maioria das pessoas tinha ouvido, e previsivelmente causou uma agitação. A  culpa associada ao sexo é tão profundamente enraizada em nossa cultura que qualquer sugestão que Jesus tivesse uma parceira sexual – até mesmo no contexto de um casamento monógamo e amoroso – é visto por muitos como de algum modo sacrílego e desagradável. O conceito de um Jesus casado continua a ser visto por inteiro como improvável na melhor das hipóteses e como trabalho do diabo na pior. Ainda que haja muitas razões para acreditar que Jesus tivesse de fato um relacionamento íntimo – e muito provavelmente com Maria Madalena. Muitos comentadores tem ressaltado que o completo silêncio da parte do Novo Testamento quanto ao status marital de Jesus é muito estranho. Os cronistas de seu tempo e lugar rotineiramente descrevem as pessoas em termos do que as torna diferentes dos outros – e para um homem de mais de trinta anos não ser casado, teria sido virtualmente único. Deve ser lembrado que confiamos na imagem de Jesus que foi pintada pelos escritores dos Evangelhos e suas fontes: a perspectiva deles eram essencialmente judaica. Os judeus viam o celibato como impróprio, porque isto sugeria não voluntariedade de ser pai da próxima geração do povo escolhido do Senhor, e era assunto para censura pelos mais velhos da sinagoga. Alguns rabinos do segundo século, segundo Geza Vermes, ‘comparam a deliberada foma de procriação ao assassinato’. As frequentes genealogias gratuitas na Bíblia provam que os judeus eram uma raça orgulhosamente dinástica e, de fato, eles ainda grandemente valorizam os laços de família. O casamento sempre tem sido central ao modo de vida judaico – mais ainda quando a nação está sob ameaça, como ela estava sob o regime romano. Para um pregador carismático e famoso não ter sido um marido e pai não teria sido apenas um tipo de escândalo, teria sido também um milagre que seu grupo durasse muito tempo, certamente após a morte de seu fundador. Segundo o Novo Testamento, Jesus e seus seguidores tinham muitos inimigos. Ainda que não haja acusações sobreviventes deles serem um enclave homossexual – como indubitavelmente teria sido se eles tivessem sido um grupo de homens celibatários; se houvesse mesmo um tal escândalo ele alcançaria Roma e nós o saberiamos hoje. Calúnias deste tipo não são reservadas aos jornais tablóides modernos de nossos dias – Pilatos e sua coorte eram Romanos sofisticados e mundanos – e os judeus reconheciam a existência da homossexualidade, senão apenas para condena-la. Se Jesus e  seus discípulos homens fossem celibatários e pregassem o celibato isso por si só teria causado uma agitação entre as autoridades. Os eruditos geralmente evitam a questão do celibato, confiando na tradição da Igreja de que Jesus não fosse casado. Mas quando o assunto é discutido, as dificuldades em provar seus status marital emergem muito claramente. Por exemplo, como temos visto, Geza Vermes, em sua tentativa de definir o Jesus histórico, chegou a conclusão que ele melhor se enquadrava no tipo de um Hassid, os herdeiros dos profetas do Velho Testamento. Ao fazer isso ele tenta, algumas vezes com sucesso, atribuir as ações e ensinamentos de Jesus em termos de um tal papel, ao compara-las com outras de outros conhecidos Hassidim daquele tempo e lugar. Contudo, quando ele chega a questão do celibato [que ele aceita] ele entra em dificuldades. Ele tem que admitir que a maioria dos indivíduos Hassidim que ele está usando para comparação eram casados e tinham filhos. De fato, ele apenas é capaz de citar uma outra pessoa santa naquela cultura que exalta o celibato – Pinhas ben Yair – que viveu um século completo depois de Jesus e nem mesmo era um Hassid! Surpreendentemente, isto foi o bastante para Vermes concluir que Jesus tinha um estilo de vida similar, mas outros não foram assim tão facilmente persuadidos. De fato, o celibato de Pinhas era tão não usual que ele ganhou notoriedade apenas por isso. Não há sugestões que o estilo de vida ou a mensagem de Jesus enfatizassem ou promovessem o celibato; se assim tivesse sido, o teriamos sabido. É verdade que havia algumas seitas judaicas tais como a dos Essênios que eram celibatárias – embora, mais uma vez, sabemos isso apenas porque era tão não usual que atraia um comentário específico. Alguns tem usado isto para favorecer que Jesus fosse um Essênio. Contudo, a seita não é mencionada no inteiro Novo Testamento e dificilmente possa ter sido o caso de Jesus ter sido um de seus membros mais famosos.

O caso para Jesus ter sido casado tem sido citado por vários comentadores modernos, mas o silêncio dos Evangelhos sobre o assunto pode ter uma outra possível interpretação.
Ele pode ter tido uma parceira sexual que não era sua esposa, ou tenha tido uma forma de casamento que não era reconhecida pelos judeus. [Deve ser lembrado que a tradição
herética ressaltou que Jesus e Maria Madalena eram parceiros sexuais, não que eles fossem marido e mulher; como temos visto, os Evangelhos Gnósticos, os Cátaros e outros da
rede subterrânea ou especificamente se referiam a ela como a concubina de Jesus ou consorte, ou eram cuidadosos em usar tais palavras ambíguas como a ‘união’ deles]. Quanto
a evidência positiva do status marital de Jesus, tem sido argumentado que o casamento em Canaã, o qual Jesus transformou a água em vinho, foi de fato o próprio casamento
dele. Na narrativa, seu status parece ser aquele do noivo. É esperado dele, caso contrário por razões inexplicáveis, fornecer o vinho para a festa de casamento. Novamente,
é interessante que este seja um evento chave, no qual Jesus realiza seu primeiro milagre público, e que apareça apenas no Evangelho de João e não seja mencionado nos outros
três evangelhos canonicos. Pode, contudo, haver uma outra interpretação deste evento, que discutiremos mais tarde. Equilibrando os argumentos estas são as perguntas: Se
Jesus era casado, então porque não há uma menção específica de sua esposa ou família nos Evangelhos? Se ele era casado, quem era a sua esposa? Porque na terra os seus
seguidores deveriam querer deletar qualquer menção a ela? Talvez eles a evitassem porque o relacionamento dela com Jesus os ofendesse e se mostrasse embaraçoso à missão deles. Se eles não fossem casados mas tivessem um relacionamento íntimo espiritual e sexual, então os discípulos homens teriam preferido esquecer isso. Esta é precisamente a situação que é tão vividamente descrita nos Evangelhos Gnósticos, nos quais a identidade da parceira sexual de Jesus é esclarecida. Maria Madalena era a parceira sexual de Jesus e os discípulos homens se resssentiam da infuência dela sobre o líder deles. Esta foi a razão do porque o relacionamento de Jesus com Maria Madalena foi acobertado, que pode parecer óbvio hoje, mas não o seria no contexto do século I. Podemos pensar que o acobertamento fosse por causa que a Igreja Cristã sempre tenha, aparentemente, feito as mulheres subordinadas e vistas para a procriação como um mal necessário. Contudo, a evidência é que esta atitude anti-casamento é o resultado deste acobertamento, não a causa. De fato, a própria Igreja inicial antes de se tornar uma instituição e estabelecer uma hierarquia, não tinha qualquer preconceito contra as mulheres, como já temos visto. Houve um acobertamento deliberado sobre Madalena e o relacionamento dela com Jesus, isto é evidente, mas a misoginia direta não explica isso. Deve haver algum outro fator que inspirou esta campanha anti-Madalena. Presumidamente isso esteja ligado com a personalidade dela ou identidade de algum modo, e/ou natureza de seu relacionamento com Jesus. Em outras palavras, não era o fato de Jesus ser casado que era o problema, mas o fato de que com quem ele era casado. De tempos em tempos novamente no curso de nossa investigação temos encontrado estas pistas que Maria Madalena era de alguma forma considerada desagradável. Agora tinhamos que descobrir o que havia sobre ela que criasse esta aura de perigo, que outros fatores além da misoginia estavam por trás deste velho medo desta poderosa amiga feminina de Jesus.

A identificação de Maria Madalena, Maria de Bethania [a irmã de Lázaro] e a ‘pecadora sem nome’ que unge Jesus no Evangelho de Lucas sempre tem sido calorosamente debatida. A Igreja Católica decidiu em uma idade inicial que estes três personagens eram um só e o mesmo, embora revertesse esta posição tão recentemente quanto 1969. A Igreja Ortodoxa Oriental sempre tem tratado Maria Madalena e Maria de Bethania como personagens separadas. Certamente, discrepâncias e contradições obscurecem o assunto mas tal confusão é importante por si só porque os Evangelhos, como uma pessoa culpada, tendem a se tornar obbviamente evasivos quando tentam ocultar algo. O fato de que tal evasividade cerque todas as descrições de Bethania, a  família que viveu lá – Lázaro, Marta e Maria – os eventos que ocorreram lá, faz o assunto mais, do que menos, sugestivo. Como temos visto, a descoberta de Morton Smith prova que a remoção da história da ressurreição de Lázaro no Evangelho de Marcos foi um ato deliberado de censura. Ainda que sua única versão canonica sobrevivente – no Evangelho de João – é um dos elementos mais centrais da toda a história. Então porque os cristãos iniciais, que doloridamente removeram isso de ao menos um dos outros Evangelhos, ficaram tão desconfortáveis por isso? Seria porque, novamente, a história incluisse Maria? Ou era o lugar, a Bethania, também algo manchado? O Evangelho de Lucas (10:38) descreve um episódio no qual Jesus visita a casa de duas irmãs chamadas Maria e Marta, mas não há menção de um irmão, nem, significativamente, o lugar é realmente nomeado. É apenas chamado de ‘certa vila’ tão impropriamente que de imediato levanta certas suspeitas. Afinal, não é como se o nome do lugar fosse totalmente desconhecido pelos outros cronistas. Lázaro, também, é omitido deliberadmente de Lucas. O que havia sobre aquele lugar e a família que vivia lá? [Talvez a pista seja que João Batista começou seu ministério em um lugar chamado Bethania]. É também o Evangelho de Lucas (7:36-50) que dá a mais obscura narrativa da unção dos pés de Jesus. Sozinho de todos os escritores dos Evangelhos ele coloca o evento em Cafarnaum, no início do ministério de Jesus, e não nomeia a mulher que aparentemente intrometeu-se em sua refeição para ungir sua cabeça e pés com o precioso óleo de nardo e os secou com seus cabelos. O Evangelho de João  (12:1-8), contudo, é explícito sobre o assunto. A unção aconteceu na Bethania na casa de Lázaro, Maria e Marta e é esta Maria que realiza a unção. A narrativa de João  (11:2) da ressurreição de Lázaro também ressalta que a irmã desse último, Maria era a mulher que mais tarde ungiu Jesus. Nem Marcos (14:3-9) e nem Mateus (26:6-13) nomeiam a mulher referida, mas eles concordam que isto aconteceu na Bethania dois dias [em oposto aos seis dias de João] antes da última ceia. Até mesmo assim, segundo eles a unção ocorreu na casa de um Simão o Leproso. Parece que tudo sobre Bethania e sua família causasse uma grande inquietação entre os cronistas sinóticos em uma extensão que eles ‘esfumaçassem’ o assunto, embora tivessem que incluir o evento. Eles estavam perturbados pela história da Bethania – talvez pelas mesmas razões daquelas que a tornaram tão importante para o subterrâneo herético. A Bethania também é importante porque Jesus estabeleceu de lá sua jornada fatal para Jerusalém – para a última ceia e para sua prisão e Crucificação. E embora os discípulos parecessem nada saber sobre a tragédia que se aproximava, há sugestões que a família da Bethania não estivese tão despreparada, e, como temos visto, tenha feito alguns arranjos, tal como fornecer o burrico no qual Jesus entrou na capital. Maria de Bethania e a mulher não nomeada que unge Jesus claramente eram uma e a mesma, mas ela era também Maria Madalena? A maioria dos eruditos modernos acredita que Maria de Bethania e Maria Madalena eram duas mulheres diferentes. Mas a questão permanece: porque os evangelhos quiseram ‘esfumaçar’ este assunto? Alguns eruditos, certamente, tem a opinião que as duas sejam a mesma.  William E. Phipps, por exemplo, acredita que é estranho que Maria de Bethania – que era claramente uma amiga íntima de Jesus – não fosse especificamente nomeada como estando presente a Crucificação, e que Maria Madalena apareça repentinamente na cruz sem qualquer menção de antemão. Phipps também ressalta que é possível para dois epítetos separados – de Bethania ou de Magdala – serem aplicados a mesma pessoa, dependendo do contexto. Isto se torna até mesmo mais provável se os escritores estivessem tentando deliberadamente obscurecer o assunto. Contudo, os eruditos nem mesmo consideram, como um todo, a possibilidade de que a censura dos escritores dos Evangelhos, de deliberadmente representar mal certos aspectos da história que eles tem escolhido contar. [Alguns, notavelmente Hugh Schonfield, admitem que há algo que os escritors dos evangelhos ou voluntariamente retiraram de nós sobre o grupo da Bethania, ou que haja algo que os escritores simplesmente não soubessem ou entendessem). Uma vez seja entendido que esta ‘esfumação’ é reconhecida, então se torna possível que Maria de Bethania e Maria Madalena sejam a mesma pessoa.

Esta investigação começou com um exame da tradição subterrânea, como exemplificado por Leonardo da Vinci e sua alegada fraternidade, o Priorado de Sião. Como temos visto, a primeira vez que os povos de lingua inglesa ouviram falar no Priorado de Sião foi em ‘The Holy Blood and the Holy Grail’ – e o livro inequivocamente argumenta que Maria Madalena e Maria de Bethania são uma só pessoa. Significativamente a edição revisada de 1996, apresenta novo material, incluindo o ‘Documento Montgomery’ que, como temos visto, parece reforçar a base inteira de ‘The Holy Blood and the Holy Grail’. Especificamente, neste contexto, o documento afirma que Jesus foi casado com ‘Miriam de Bethania’ e que ela foi para a França e deu à luz uma filha. Claramente isso é suposto ser Maria Madalena – embora o ponto importante aqui é que os apologists do Priorado acreditam ser este o caso. E deve ser lembrado que em todas as narrativas tradicionais de Maria Madalena ter ido para a França – tal como a História Dourada – é presumido que ela seja a mesma que Maria de Bethania. Mas há alguma evidência que sustente isso? Há uma pista em Lucas, que, depois de descrever a unção de Jesus pela ‘pecadora não nomeada’ imediatamente apresenta a Madalena pela primeira vez (8:1-3). Parece que, ao menos inconscientemente, para Lucas a associação fosse forte demais para ser ignorada. Significativamente, o próprio Jesus liga não apenas o ato da unção mas também a pessoa que ungiu ao seu futuro enterro, como por exemplo, em Marcos (14:8): ‘Ela tinha feito o que podia: ele é vinda de antemão para ugir meu corpo para o enterro’. Isto é uma conexão implícita entre esta mulher da Bethania e Maria Madalena, porque mais tarde ela vai a tumba para ungir o corpo de Jesus para o enterro exatamente dias depois. A unção do Jesus vivo e a pretendida unção de seu corpo morto são atos rituais de grande importância, e se nada mais, eles ligam as duas mulheres. Em qualquer caso, é de suprema importância que a pessoa que unge Jesus – marcando-o para seu verdadeiro destino – seja uma mulher. Conquanto não seja impossível que elas sejam uma e a mesma, é melhor manter a mente aberta sobre o assunto, na medida em que nos aprofundamos na narrativa bíblica dos personagens e papéis de Madalena e Maria de Bethania. Significativamente, a idéia persistente que Maria Madalena era uma prostituta vem da associação tradicional [ou confusão] de seu personagem com Maria de Bethania que é descrita como uma ‘pecadora’. De fato, se Maria de Bethania foi uma prostituta e foi também a mesma pessoa de Maria Madalena então isto iria um longo caminho na direção de explicar a extrema cautela dos escritores dos evangelhos, e a deliberada ofuscação, sobre a última. Precisamos examinar o personagem de Maria de Bethania para ver que luz ele possa lançar sobre este assunto.

Nos Evangelhos Sinóticos a mulher que unge Jesus não é nomeada, embora eles estabeleçam o ponto que ele é uma pecadora, mas no Evangelho de João ela é explicitamente identificada como Maria de Bethania e seus status moral não é mencionado. Isto por si só pode parecer de certo modo suspeito. Em Lucas, a mulher da unção é descrita como ‘uma mulher na cidade, que era uma pecadora’. Embora a palavra grega original para ‘pecadora’ neste contexto – harmartolos – significando alguém que tem transgredido e  se colocando fora da lei, não necessariamente implique em prostituição, a outra ênfase associada estando em ela usar seu cabelo solto, algo que não era feito pelas mulheres respeitáveis, que implique em algum tipo de pecado sexual, ao menos aos olhos dos escritores dos Evangelhos. No contexto da cultura judaica daqueles dias, há algo desagradável sobre Maria de Bethania, mas isto não necessariamente sugere que ela fosse uma prostituta comum fazendo seu caminho pela rua. [O óleo de nardo, que vem de um planta indiana muito rara e cara, era tão proibitivamente caro para estar completamente fora dos recursos de um andarilho comum das ruas. Segundo William E. Phipps o óleo de nardo custava o equivalente ao salário de um ano de um trabalhador agrícola.)  Também parece improvável que mesmo que Maria fosse a ‘madame’ rica de um bordel, que ela vivesse abertamente com seu irmão Lázaro e a irmã Marta, ou que pareça ter tido qualquer tipo de má reputação, já que eles claramente eram grandes amigos de Jesus, que ficava com eles. Então qual era a natureza real do ‘pecado’ dela?

Harmartolos era um termo tirado dos arqueiros, significando perder o alvo: neste contexto simplesmente significa alguém que não adere a lei judaica ou observancias rituais – seja porque ela tenha falhado em manter as práticas prescritas ou porque ele ou ela não é afinal judeu. De a mulher, de fato, não ser judia, então isto no mínimo pode explicar a atitude dos escritores do evangelho em relação a ela. Contudo, é o detalhe dela ter o cabelo solto e a atitude dos discípulos em relação a ela que dá aumento a implicação de sua transgressão ser de algum modo sexual. É este ar de desgosto que, intencionalmente ou de outra forma, tem efetivamente detratado o verdadeiro significado da unção de Jesus. Há uma maior ponto sobre este ato que tem atraído muito pouca atenção, as do qual muito da cristandade realmente depende. É bem conhecido que o termo Cristo vem do grego Christos, que por sua vez é uma tradução do hebraico ‘messias’. Mas a despeito da crença amplamente disseminada do contrário, ele não carrega qualquer implicação de divindade: Cristo simplesmente significa O Ungido. [Usando esta interpretação qualquer funcionário ungido é um Cristo – de Poncio Pilatos à Rainha da Inglaterra). A idéia de um Cristo divino foi uma interpretação posterior dos cristãos; o Messias judeu era esperado ser meramente um grande líder politico e militar, embora escolhido por Deus. Em seu próprio tempo, o termo Messias ou Cristo, quando aplicado a Jesus, simplesmente teria significado ‘O Ungido’. Há, com certeza apenas uma unção de Jesus mencionada nos Evangelhos. Conquanto alguns argumentem que sua unção tenha sido de fato o batismo de João, então aplica-se  o raciocínio que toda a multidão que apinhava o Jordão também teria sido Cristos. O fato desconcertante que permanece é que a pessoa que ‘cristianizou’ [ungiu] Jesus tenha sido uma mulher. Ironicamente, Jesus é relatado como tendo observado em sua unção (Marcos 14:9): ‘Na verdade eu lhes digo, em qualquer lugar que estes Evangelhos devam ser pregados pelo mundo inteiro, isto também que ela fez deve ser falado para um memorial a ela”. É curioso que a Igreja, que tem tradicionalmente acreditado que a mulher que ungiu Jesus foi Santa Maria Madalena, tenha ignorado esta injunção. Considerando como Madalena é patronizada de púlpitos de mundo inteiro, parece que as próprias palavras de Jesus, são, como tudo mais no Novo Testamento, assunto de um incansável processo de seletividade. Neste caso as palavras de Jesus são totalmente ignoradas. Mas até mesmo em raras ocasiões quando é dado a ela seu papel neste epísodio, há um silêncio sobre suas implicações.

duas pessoas são nomeadas no Novo Testamento como tendo oficiado os maiores ritos na vida de Jesus: João, que o batizou no início de seu ministério e Maria de Bethania que o ungiu no final. Ainda que, como temos visto, ambas estas pessoas tenham sido marginalizadas pelos escritores dos Evangelhos – e como se apenas tivessem sido incluidas porque eram importantes demais para serem deixadas de fora. É há uma maior razão para isso: o batismo e a unção implicam em autoridade da parte daqueles que os oficiaram. Porque o batizador e o ungidor tem a autoridade – muito do mesmo modo que o Arcebispo de Canterbury conferiu os ritos do status real da Rainha Elizabeth II em 1953 – eles próprios devem ter tido a autoridade para assim o fazer. Estaremos mais tarde lidando com a autoridade de João, mas considere o fato curioso que a história da unção seja até mesmo incluida. Se a unção de Jesus fosse um gesto frívolo ou sem significado ele nunca teria sido registrado. Ainda que nos seja dito que os discípulos, especialmente Judas, condenaram Maria por usar um unguento raro e caro de óleo de nardo para ungir Jesus alegando que o dinheiro gasto poderia ser usado para levantar dinheiro para os pobres. Jesus respondeu que sempre haveriam pessoas pobres mas que ele nem sempre estaria lá [para ser tão honrado]. Esta admoestação – fora de argumentar contra a noção de que Jesus fosse um proto marxista – não apenas justifica a ação de Maria mas também implica fortemente que somente ele e ela entendiam isso. Os discípulos homens – como usual – parecem perdidos em compreender os pontos mais finos deste ritual altamente significativo, e eram ativamente hostis às ações de Maria, embora o próprio Jesus tivesse o cuidado de sustentar a autoridade dela. Este evento tem uma outra importância: ele marcou o momento quando Judas tornou-se um traidor  – imediatamente depois ele vendeu Jesus aos sacerdotes.

Maria de Bethania ‘cristianizou’ [ungiu] Jesus com o óleo de nardo, um unguento que, muito provavelmente, havia sido guardado para uma ocasião específica, e era uma unção associada aos ritos funerais. O próprio Jesus ressaltou sobre a unção (Marcos 14:8): ‘ela tem vido de antemão ungir meu corpo para o funeral’. Em sua mente, ao menos, este pretendia ser um ritual. Claramente a unção carregava uma profunda importância – mas qual foi o seu preciso propósito? E porque, na sociedade daquele tempo, era feita por uma mulher? Dado o genero e a reputação da ungidora [contudo mal merecida], a cerimônia dificilmente é típica da prática judaica. Talvez haja uma pista sobre a real natureza da unção no ‘Documento Montgomery’. Como temos visto, a narrativa fala do casamento de Miriam de Bethania com Jesus, que é descrita como um ‘sacerdotisa de um culto feminino’ – uma tradição de veneração à deusa. Se isto é verdade, pode explicar porque a unção parecesse tão estranha aos outros discípulos, embora ainda haja o problema aparente porque Jesus devia ser tolerante a isso. E se ela era realmente uma sacerdotisa pagã isto explicaria porque os discípulos homens pensassem que ela fosse de moral e caráter duvidosos. Se Maria de Bethania era realmente uma sacerdotisa pagã, porque ela estava ungindo Jesus? Ainda mais a ressaltar, porque ele permitiria que ela o fizesse? E há qualquer paralelo entre este ritual e aqueles geralmente associados ao paganismo daqueles dias? De fato, há um rito antigo que é surpreendentemente relevante: a unção do rei sagrado. A idéia por trás disso era que o verdadeiro rei ou sacerdote só podia receber seu completo poder divino através da autoridade de uma alta sacerdotisa. Isto tradicionalmente tomava a forma de ‘hieros gamos’, ou casamento sagrado: o rei-sacerdote se unindo a rainha-sacerdotisa. Era pela união sexual com ela que ele realmente se tornava o rei reconhecido. Sem ela ele nada era.

Nada existe na vida moderna do Ocidente que ecoe este conceito ou prática, e é dificil para as pessoas de hoje começarem a entender a inteira noção do ‘hieros gamos’ . Fora do mundo íntimo dos pares individuais, não temos o conceito da sexualidade sagrada.  Ainda que isto não seja meramente sobre sexo ou erotismo, não importa quão elevado isto seja acreditado ser: no casamento sagrado o homem e a mulher realmente se tornam deuses. É a alta sacerdotisa que se torna a própria deusa, e que então doa a máxima benção de regeneração – como na alquimia – ao homem, que incorpora o deus. A união deles é acreditada infundir a ambos e ao mundo ao redor deles um bálsamo regenerador, e realmente ecoa o impulso criador do nascimento do planeta. O ‘hieros gamos’ era a máxima expressão do que é chamado de “prostituição do templo’, onde um homem visita uma sacerdotisa para receber a gnose – vivenciar ele próprio o divino pelo ato de fazer amor. Significativamente, a palavra original para uma tal sacerdotisa é ‘hierodule’ , que significa ‘servente sagrada’; a palavra ‘prostituta’, com toda sua implicação de julgamento moral, era uma tradução vitoriana. Sobretudo, esta ‘servete do templo’ é, diferente da prostituta secular, reconhecida estar no controle de ambas situações e do homem que a visita, e ambos recebem os benefícios em termos de poderio físico, espiritual e mágico. O corpo das sacerdotisas tem se tornado, em um sentido quase inimaginável para os amantes ocidentais de hoje, literal e metaforicamente um portal para os deuses. De fato nada estaria mais distante da atitude até mesmo da Igreja moderna quanto ao ato sexual e a mulher. Porque não apenas a chamada ‘prostituição do templo’ confere a iluminação espiritual – um processo conhecido como ‘ashorasis’ – mas sem o conhecimento carnal do ‘hierodule’ um homem permaneceria espiritualmente não realizado. Dele próprio ele tinha pouca esperança do contacto em extase com Deus ou deuses, mas as mulheres não tinham necessidade de uma tal cerimônia; para estas mulheres pagãs elas estão naturalmente em contacto com o divino. É possível que a unção realizada em Jesus fosse simbólica do ato sexual da penetração. Ainda que embora não seja necessário pensar nestes termos para compreender a solenidade do ritual, há associações inevitáveis com os ritos antigos nos quais as sacerdotisas, que representavam a deusa, estavam fisicamente preparadas para ‘receber’ o homem que tinhna sido escolhido para simbolizar o rei sagrado, ou deus salvador. Todas as escolas de mistério de Osiris, Tammuz, Dionysis, Attis e assim por diante incluiam um rito – encenado por substitutos humanos – no qual o deus era ungido pela deusa antes de sua real ou simbólica morte, o que tornaria a terra fértil mais uma vez. Tradicionalmente era depois de três dias que, graças a intervenção mágica da deusa/sacerdotisa, ele se elevava novamente e a nação podia ter um sinal de alívio até o ano seguinte. [O mistério desempenhado tinha a deusa dizendo: “Eles removeram meu senhor e não sei onde encontra-lo’. Virtualmente algumas palavras como aquelas atribuidas a Maria Madalena no jardim. Bem discutiremos isso em detalhe mais tarde).

Pistas sobre a real importância da unção de Jesus podem ser encontradas no Velho Testamento no livro Canticos de Salomão (1:12), onde a ‘Amada’ diz: “Enquanto o rei senta em sua mesa, meu óleo de nardo envia seu aroma para lá”. Deve ser lembrado que o próprio Jesus faz a associação da unção ao seu funeral, então o mesmo verso assume uma outra importancia: “um ramo de mirra é meu bem amado em mim: ele deve deitar toda a noite entre meus seios’. Esta é uma clara ligação entre a unção de Jesus e os Canticos de Salomão. Muitas autoridades realmente acreditam que os Canticos de Salomão realmente tenham sido a liturgia  para um rito de casamento sagrado apontando suas similaridades a tais liturgias do Egito e outros países do Oriente Médio. Linhas que parecem idênticas e paralelas as escolhidas no Cantico de Salomão são encontradas no poema liturgico do culto da deusa egípcia Isis, a irmã e noiva do mutilado Osiris. A deusa/sacerdotisa se une ao deus/sacerdote no casamento sagrado por complexas razões. Superficialmente é um rito de fertilidade, para assegurar fecundidade pessoal e nacional, para assegurar o futuro do povo e de sua terra. Mas é também pelo êxtase e intimidade do rito sexual que a sacerdotisa/deusa confere sabedoria ao seu parceiro.

A analista Jungiana  Nancy Qualls-Corbett em seu ‘The Sacred Prostitute’ (1988) coloca uma grande ênfase na conexão entre a prostituta sagrada e o Princípio Feminino como simbolizado por Sophia. Como temos visto, Sophia repedidamente ocorreu em nossas investigações, e ela era particularmente venerada pelos Templários, e é fortemente associada a Maria Madalena e Isis. A unção de Jesus foi um rito pagão; a mulher que o realizou – Maria de Bethania era uma sacerdotisa. Dado este novo cenário é mais do que provável que seu papel no circulo interno de Jesus fosse a de iniciadora sexual. Mas vamos nos lembrar que hereges e a Igreja Católica a muito tem acreditado que Maria de Bethania e Maria Madalena fossem a mesma pessoa. Nesta figura de iniciadora sexual finalmente temos perdido muito para a confusão sobre o verdadeiro papel e importância de Madalena na vida de Jesus. Se ela realmente foi uma ‘hierodule’ operando no mundo patriarcal do judaismo ela inevitavelmente seria pensada como fora da moral. Mas tanto quanto estando com Jesus ela era protegida, apenas exatamente, dos efeitos de um justo ultraje, na medida em que haviam suas várias trocas com Simão Pedro [como mostrado os Evangelhos Gósticos].

O Priorado de Sião, como já temos notado, são devotos da deusa – na forma da Madona Negra, como Maria Madalena ou a própria Isis. Eles claramente associam Maria Madalena a Isis: isto é central a sua própria razão de ser, embora de início pareça distintamente intrigante. Contudo, está claro que eles vêem Maria Madalena como uma sacerdotisa pagã, no mínimo, este é um outro paralelo entre ela e Maria de Bethania. O papel de Maria Madalena como sacerdotisa pagã é reconhecido por Baigent, Leigh e Lincoln mas, conquanto levantem o assunto, eles parecem considerar suas implicações como não válidas para posterior atenção. Por exemplo, conquanto eles argumentem que Maria Madalena estava ligada a um culto da deusa, eles concluem que ‘antes de sua afiliação com Jesus a Madalena bem pode ter estado associada a um culto a deusa’. E eles abandonam o assunto. Contudo, a frase crucial aqui é ‘antes de sua afiliação com Jesus’ assumindo que ele a converteu, ecoando a opinião tradicional que ela foi um personagem reformado pelo seu relacionamento com ele. Esta opinião, contudo, é um cenário de certa forma ingenuo, embora o desafio que isso evoque seja uma alternativa profundamente inquietante de cenário. Qualls-Corbett na medida em que cita a conexão entre a Prostituta Sagrada, a Madona Negra e Sophia assim ressalta as conexões que descrevemos na Parte Um. Esta personificação multifacetada do Princípio Feminino lança uma luz no grande segredo erótico e ciumentamente guardado da tradição oculta ocidental. Porque Sophia é a Prostituta que é também a ‘Querida Amada’ do casameto sagrado, e não é senão Maria Madalena, a Madona Negra e Isis. A sexualidade sagrada implícita no Grande Trabalho dos alquimistas é uma continuação direta desta antiga tradição, na qual os ritos sexuais conferem a iluminação espiritual e até mesmo a transformação física. É depois desta suprema experiência com a deusa/sacerdotisa que o deus/sacerdote é tão mudado que não mais é reconhecível e assim renasce em uma nova vida. Significativamente, como  Nancy Qualls-Corbett e outros comentadores recentes tem ressaltado, o retrato de Maria Madalena nos Evangelhos Gnósticos é aquela da iluminada e iluminadora, Maria Lucifer, a trazedora da luz, a doadora da iluminação por meio da sexualidade sagrada. E tiradas nossas conclusões sobre Maria de Bethania, parece que ela e Maria Madalena são a mesma mulher.

Este cenário reforça a idéia de que Maria era a esposa de Jesus, embora isso esssencialmente redefina a palavra. Ela é a parceira dele em um casamento sagrado , que não era necessariamente um par amoroso. Interessantemente, como temos visto, o Cantico de Salomão é uma liturgia de um casamento sagrado e isso sempre tem sido ligado a Maria Madalena. A sexualidade sagrada – anátema para a Igreja de Roma – encontra expressão no conceito do casamento sagrado e ‘sagrada prostituição’, nos antigos sistemas orientais do Taoismo e do Tantrismo e na alquimia. Como diz Marvin H. Pope em seu extenso trabalho sobre o Cantico de Salomão (1977): Os hinos tantricos á deusa oferecem alguns dos mais rovocantes paralelos ao Cantico de Salomão. E como explica Peter Redgrove em seu ‘The Black Goddess’ (1989), enquanto discute as artes sexuais do Taoismo: É interessante comparar isto com as práticas relgiosas do Oriente Médio a imagem delas que temos herdado. Mari-Ishtar, a Grande Prostituta, unge seu consorte Tammuz (com quem Jesus é identificado) e portanto faz dele um Cristo. Isto era em preparação para sua descida ao submundo, da qual ele retornaria a convite dela. Ela, ou a sacerdotisa dela, era chamada a Grande Prostituta porque este era um rito sexual de horasis, do orgasmo de corpo inteiro que levaria o consorte ao visionário reconhecível continuum. Era um rito de travessia, do qual ele retornaria transformado. Do mesmo modo Jesus disse que Madalena o ungiu para o seu funeral. Somente mulheres podem realizar este rito em nome da deusa, e isto é o porque nenhum homem foi a tumba dele, somente Maria Madalena e as mulheres dela. Um símbolo principal de Madalena na arte cristã era o jarro de santo óleo – o sinal externo do batismo interno vivenciado pelo Taoista. Há algo mais de grande importância sobre o jarro de óleo com o qual Maria Madalena ungiu Jesus. Como temos visto, os Evangelhos nos dizem, que ele era óleo de nardo, um unguento que era excepcionalmente caro. A razão para este alto preço é que ele tinha vindo todo caminho da Índia, casa da antiga arte sexual do Tantrismo. E na tradição tantrica diferentes perfumes e óleos são destinados a áreas específicas do corpo: o óleo de nardo era para o cabelo e os pés – No épico de Gilgamesh, os reis sacrificiais são ditos: ‘A prostituta que ungiu você com fragrante óleo agora chora por você” enquanto uma frase similar é usada nos misterios do deus agonizante Tammuz, cujo culto era prevalente em Jerusalém no tempo de Jesus. E significativamente os ‘sete demonios’ que Jesus alegadamente retirou de Maria Madalena podem ser vistos como os sete Maskim, espíritos sumero-acadiano que governavam as sete esferas sagradas e que tinham nascidos da deusa Mari. Na tradição do casamento sagrado, era a noiva do rei sacrificial, a Alta Sacerdotisa, que escolhia o momento de sua morte, que comparecia ao seu funeral e cuja mágica o trazia do submundo para uma nova vida. Na maioria dos casos, com certeza, esta ‘ressurreição’ era puramente simbólica, sendo vista na nova vida do tempo da primavera ou, no caso de Osiris, na atual enchente do vale do Nilo que renovaria a fertilidade da terra. Então podemos ver a unção de Maria Madalena pelo que ela foi – um anúncio de que o momento do sacrifício de Jesus havia chegado e como um ritual de colocar separado o rei sagrado, em virtude da autoridade dela como alta sacerdotisa. Este papel é diametralmente oposto aquele que a Igreja tem tradicionalmente atribuido a ela, e não deve, por agora, ser uma surpresa.

Em nossa opinião, a Igreja Católica nunca quis que seus membros soubessem sobre o verdadeiro relacionamento entre Jesus e Maria, que é o porque os Evangelhos Gnósticos não foram incluidos no Novo Testamento e o porque que a maioria dos cristãos nem mesmo sabem que eles existem. O Concilio de Niceia, quando rejeitou os muitos Evangelhos Gnósticos e votou para incluir somente     Mateus, Marcos, Lucas e João no Novo Testamento, não tinha um mandato divino para este maior ato de censura. Eles agiram pela auto-preservação, porque naquele tempo, no século IV, o poder de Maria Madalena e de seus seguidores já era tão amplamente disseminado para que o patriarcado concordasse com isso. Segundo este material censurado, que foi deliberadamente rejeitado para evitar que a verdadeira imagem fosse conhecida, Jesus deu a Madalena o título de ‘Apóstola dos Apóstolos’ e ‘A Mulher que Tudo Sabe’. Ele disse que ela se elevaria sobre todos os outros discípulos e governaria o vindouro Reino da Luz. Como temos visto, ele também a chamou ‘Maria Lucifer’ – Maria a Portadora da Luz – e foi afirmado que ele trouxe Lázaro de volta da morte simplesmente pelo amor dela, nada havendo que ele não fizesse por ela, nada que ele recusasse a ela. O Evangelho Góstico de Felipe descreve como os outros discípulos não gostavam dela, e como Pedro em particular buscava argumentar sobre o status dela com Jesus – até mesmo, muito mais ingenuamente, em uma ocasião perguntando a ele porque ele a preferia aos outros discípulos e porque sempre ele a estava beijando na boca! No Evangelho Gnóstico de Maria, a Madalena diz que Pedro a odiava e ‘a toda raça das mulheres’ e no Evangelho de Tomás, Pedro diz “Deixe Maria nos deixar. As mulheres não são dignas da vida” – uma antecipação da amarga batalha entre a Igreja de Roma, que foi fundada por Pedro, e o subterrâneo herético que pertencia a Madalena. (É instrutivo lembrar que isto começou como um embate pessoal de dois indivíduos – e um deles era a consorte de Jesus). Significativamente, o Evangelho Gnóstico de Felipe [que especificamente descreve a Madalena como a parceira sexual de Jesus) está repleto de alusões a uniões entre homens e mulheres, entre a noiva e o noivo. A  máxima iluminação é simbolizada pelos frutos da união da noiva e do noivo; aqui Jesus é o noivo e sua noiva é Sophia – e Jesus a engravidando é a vinda da gnose. [E interessantemente, até mesmo nos Evangelhos canonicos Jesus frequentemente fala dele próprio como o ‘noivo’). O Evangelho Gnóstico de Felipe também claramente associa Maria Madalena com Sophia. Este Eangelho Gnóstico lista cinco ritos iniciatórios ou sacramentos: batismo, crisma [unção], eucaristia, redenção e o mais alto de todos, ‘a camara nupcial’. A crisma é superior ao batismo e Cristo é assim chamado por causa da crisma. Ele que é ungido para possuir o todo. Ele possui a resssureição, a luz, a cruz, o Espírito Santo. O Pai deu a ele isto na camara nupcial. Se o rito do sacramento da crisma é superior aquele do batismo então isto implica que a autoridade de Maria era realmente maior do que aquela de João Batista. Até mesmo mais significativamente, contudo, o Evangelho de Felipe deixa claro que todos os gnósticos que seguiam o sistema, não apenas Jesus, torrnavam-se Cristos pela unção. E o mais alto sacramento era o da camara nupcial – que nunca foi explicado e permanece um mistério para os historiadores. Contudo, a luz dessa investigação, pode-se fazer uma perspicaz suposição: certamente as palavras da passagem contém um pista da verdadeira natureza do relacionamento de Jesus e Maria. Como temos visto ela era conhecida nos Evangelos gnósticos como ‘a mulher que sabe tudo” e aqui nos é dito que ele ‘é ungido por quem possui o Todo’. E o Evangelho de Felipe afirma claramente: “Entenda que grande poder o imaculado intercurso possui’. A escritura gnóstica do século III conhecida como Pistis Sophia estabelece o que é afirmado ser o ensinamento de Jesus doze anos depois de sua ressurreição. Neste Madalena é retratada em um papel arquetípico de catequista, questionando-o a extrair sua sabedoria  – exatamente como a oriental Shakti ou deusa ritualmente questionando seu divino consorte. É notavel que em Pistis Sophia Jesus use o mesmo termo para Maria como se usava para estas deusas – “Muito Amada’. Há também as palavras usadas de um parceiro para o outro no casamento sagrado.

A intimidade de Jesus e Maria certamente carrega uma outra profunda implicação. Uma comparação do relacionamento deles e aquele de Jesus com seus discípulos deixa pouca dúvida de quam realmente participava de suas idéias, pensamentos e segredos. O relacionamento com os discípulos masculinos é frequentemente retratado como sendo muito mais turvo. De tempos em tempos eles ‘não sabiam o que ele queria significar’ – dificilmente uma qualidade inspiradora nos homens que um dia, aparentemente, fundariam sua Igreja principal. Na verdade, o Ato dos Apóstolos fala do fogo celestial de Pentecostes que doou alguma sabedoria e poder aos discípulos, mas os Evangelhos Gnósticos falam de um discípulo que não precisou de uma tal intervenção celestial. Segundo esse material censurado, foi Madalena que reuniu estes discípulos abatidos depois da Crucificação e, apenas pela força de suas palavras, os inspirou a assumirem a causa quando eles pareciam prestes a desistir. Admitidamente ela tinha visto Jesus elevado com seus próprios olhos, mas mais uma vez novamente somos deixados com um curioso sentimento da falta de motivação deles, fé e  coragem quando comparado com ela. Pode ser que aqueles doze de fato não fossem o círculo interno dos seguidores de Jesus mas fossem simplesmente os mais leais dos devotos não iniciados? Em retrospecto, a ignorância deles era perplexante. Por exemplo, embora a morte e ressurreição de Jesus fosse a quinta essência da missão dele, estes homens não espervam que ela acontecesse: “Eles não sabiam a escritura, que ele deve se elevar novamente dos mortos”. Foi Maria Madalena e suas mulheres seguidoras que foram a tumba. Talvez as palavras dela ao ‘jardineiro’ – na realidade Jesus elevado – sobre o Senhor dela ter sido levado embora e que ela ‘não sabia onde eles o haviam colocado’ pode ser que ela apenas não soubesse do que estava acontecendo com os homens. Mas há razões compelentes para ver as palavras dela no contexto dela ser familiarizada, talvez como uma sacerdotisa, dos mistério internos. Maria Madlena era com toda probabilidade a consorte de Jesus e sua primeira Apóstola e parece provável que seu papel compreendesse um outro, mais velho e mais pagão de importância ritual. É presumido que nem todos os homens foram a tumba de Jesus porque este não era o tipo de coisa que os homens fizessem naqueles dias. Mas a julgar pelas narrativas gnósticas da perplexa apatia dos discípulos homens depois da Crucificação, o costume não era explicação para a ausência deles. Na tradição dos mistérios, apenas as sacerditisas proclamavam o climax do sacrifício do rei – sua miraculosa ressurreição. Até mesmo se as aparentes similaridades entre a unção de Jesus, morte e ressurreição e as tradições pagãs prevalentes naqueles dias são aceitas, a questão permanece como e porque um pregador judeu poderia possivelmente ter se tornado envolvido em um tal cenário. Porque embora Maria Madalena parece ter sido parte de algum culto envolvendo as prostitutas sagradas, e a influência dela sobre seu consorte era indubitavelmente grande, que razão pode ter tido Jesus para virar as costas a séculos de tradição judaica enraizada? Como podia ele, entre tantas pessoas, ter participado de um rito pagão? Estas próprias questões nos confrontam como uma possibilidade de que outro modo seria inimaginável. Como temos visto, a realidade a respeito de Jesus e sua missão pode ser muito diferente daquela ensinada pela Igreja. Até mesmo suspender a descrença e considerar que a hipótese oferecida acima seja verdadeira é criar um cenário completamente novo. Que tal se Jesus fosse um parceiro no casamento sagrado e portanto um participante voluntário nos ritos sexuais pagãos; que tal se Maria Madalena fosse realmente uma alta sacerdotisa de um culto à deusa e ao menos igual espiritualmente a Jesus, e que tal se Pedro e os outros discípulos homens não fossem, de fato, parte do círculo interno do movimento? Há uma outra pergunta a ser feita: com uma tal nova radical estrutura no lugar – contudo hipoteticamente – que tipo de homem realmente estava no centro? Quem era o real Jesus?

CAPÍTULO TREZE
O FILHO DA DEUSA

Como temos visto, a moderna erudição histórica tem apresentado uma massa de novas descobertas provocantes ao pensamento sobre as origens da Cristandade, ainda que o golfo entre o que os eruditos bíblicos sabem sobre a religião e o que os próprios cristãos sabem, esteja, se algo, se ampliando. Burton L. Mack, Professor de Estudos do Novo Testamento da Escola de Teologia de Claremont, Califónia, recentemente lamentou “a assustadora falta de conhecimento básico sobre a formação do Nvo Testamento entre os cristãos médios”.

Esta análise do Novo Testamento apenas começou no século XIX como a conhecemos e reflete a relutância quase supersticiosa em examinar os textos originais que vieram da longa era de proibição da Igreja da leitura da bíblia pelas massas. Por séculos, apenas sacerdotes liam as Escrituras, e de fato, na maioria dos casos, eles tinham o monopólio da alfabetização. A elevação do Protestantismo parcialmente superou esta exclusividade, e deu a muito mais pessoas o acesso aos textos que elas consideravam sagrados. Contudo, todas as formas extremas do movimento protestante –  do puritanismo que agora é conhecido como fundamentalismo – tem ressaltado a inspiração divina por trás das palavras do Novo Testamento, e apenas sobre esta base proibe qualquer sugestão que elas não possam ser verdade literal. Até hoje milhares de cristãos ignoram a evidência do Novo Testamento ser um mistura de mito, fabricação, versões enfeitadas de narrativas de testemunhas oculares e material retirado de outras tradições. Mas ao evitar esta evidência eles não estão apenas perdendo o ponto, mas também mantendo um sistema de crenças que está crescentemente vulnerável à crítica. Quando os sábios do século XIX começaram a empregar os mesmos critérios que são rotineiramente usados a análise de outros textos históricos, os resultados foram extremamente reveladores. Um dos primeiros desenvolvimentos a emergir foi a avaliação que Jesus nunca realmente existiu, e que os evangelhos eram simplesmente compostos de material mitológico e metafórico. Hoje em dia poucos eruditos concordam com esta opinião, embora, como devemos ver, ainda isto tem sido advogado. O caso para um Jesus histórico é bastante sólido mas ainda é instrutivo olhar o raciocínio daqueles que acreditam que ele não é, e que Jesus foi uma invenção completa dos cristãos iniciais. Os advogados desta opinião dizem que, fora os próprios evangelhos, não há evidência independente de que Jesus tenha existido. [Isto por si só se torna um choque para muitos cristãos que assumem que, por causa de que ele seja central ao mundo deles, ele deve ter sido muito famoso em seus dias; de fato, ele não é mencionado em qualquer texto contemporaneo].

Os outros livros do Novo Testamento – por exemplo, as Epístolas de Paulo – tomam a existência de Jesus por garantida mas não oferecem evidência sólida para isso. Paulo, cujas cartas são os mais velhos escritos cristãos conhecidos, não dá detalhes biográficos sobre Jesus fora aqueles que cercam sua Crucificação – nada fala sobre seus pais, seu nascimento ou fundo de vida. Mas então Paulo, como outros autores do Novo Testamento, está mais preocupado com a teologia, com a manutenção do movimento de Jesus e a explicação de seus ensinamentos, do que com a biografia de seu fundador. Muitos historiadores do século XIX estavam preocupados com a falta de registro contemporaneo sobre Jesus. Como temos visto, nenhum cronista do século I o menciona. E como tem escrito Bamber Gascoigne: ‘Pelos primeiros cinquenta anos do que agora chamamos de era cristã, nem uma palavra sobrevive sobre Cristo e seus seguidores’. O escritor romano Tacitus (em seu Annals , 115) registra o crescimento do cristianismo – que ele chama ‘uma superstição perigosa’, em Jerusalém e em Roma, e se refere de passagem a execução de seu fundador, mas não dá detalhes e se refere a ele simplesmente pelo título de Cristo. Suetonius, em seu Lives of the Caesars (c. 120), se refere a uma rebelião entre os judeus em Roma en 49 por instigação de ‘Chrestus’. Isto é frequentemente citado como evidência para o ramo romano inicial da cristandade, mas necessariamente não é assim. Há muitos auto-proclamados Messias entre os judeus naquele tempo, todos os quais podia ser chamados em grego ‘Cristos’ e Suetonius escreve como se este em particular estivesse ativamente e em pessoa incitando a rebelião judaica em Roma naquele tempo. Um outro notável romano que lidou com os cristãos nos anos iniciais do primeiro século foi Plínio O Jovem, mas além de dizer que o movimento deles foi fundado por ‘Cristo’ ele não dá outras informações sobre eles. O que é particularmente interessante sobre esta narrativa, contudo, é o fato de que Cristo já fosse visto como um deus. Estes eram escritores romanos e como a Palestina era como se fosse as águas paradas de seu império não é surpreendente que eles pudessem negligenciar Jesus e os dias iniciais da Igreja Cristã. (Além disso, rebeldes e criminosos não recebiam prontamente ‘as luzes da ribalta’ como eles o fazem em nossa era de mentes voltadas a celebridades. Até mesmo a rebelião do ex-escravo Spartacus recebeu relativamente pouco espaço na cronica).

Contudo, teriamos imaginado que o ministério e vida de Jesus possa ter sido citado nos trabalhos de Flavius Josephus (38-c100), um judeu que mudou de lado na revolta judaica e escreveu dois livros fazendo a cronica da história do período. Seu Antiquities of the Jews (escrito por volta de 93) de fato, menciona outros personagens da história dos Evangelhos, mais significativamente João Batista e Poncio Pilatos. Há uma referênia a Jesus mas infelizmente ela a muito tempo foi reconhecida ter sido acrescentada ao trabalho de Josephus por um escritor cristão muito posterior, provavelmente no início do quarto século, precisamente para superar o embaraçoso silêncio sobre o assunto. De fato, esta referência Jesus está reverencial demais, na extensão em que os comentadores imaginem porque, se Josephus realmente pensava  nele em tais termos ‘brilhantes’, ele próprio nunca se converteu ao cristianismo!. A questão real, contudo, era se esta inserção meramente fornecia ou não uma referência onde nenhuma era existente ou era um substituto para uma que fosse menos lisongeira sobre Jesus e seu movimento. Não podemos estar certos de um modo ou outro, embora o peso da evidência esteja a favor de ser uma completa invenção; a passagem nem mesmo está no estilo de Josephus e se enquadra desastradamente no fluxo da história. Sobretudo, o escritor cristão Origen, no final do século III, não parece ter estado ciente de qualquer referência a Jesus no trabalho de Josephus. [Embora Eusebius cite a referência quando escrevendo no século seguinte), Contudo a referência de Josephus a pregação de João Batista e sua execução por Herodes Antipas não é questionada. De fato a falta de referências contemporaneas a Jesus fora dos Evangelhos não significa que ele não tenha existido. Pode significar simplesmente que seu impacto em seu tempo e lugar não foi grande o bastante. Afinal, haviam mitos outros que seriam o Messias por volta daquele tempo e que escaparam a nossa atenção.

Há também o problema do porque, se nenhuma pessoa como essa existiu, alguém deve te-la inventado, e porque tantas pessoas devam ter acreditado na história, na extensão em que uma religião em seu nome florescesse tão rapidamente. Como ressalta Geoffrey Ashe, o conceito de personagens ficticios, que tanto faz parte de nossa própria cultura, não era familiar aos autores antigos. Até mesmo se o que eles estivessem escrevendo fosse essencialmente ficção, sempre era baseado em um personagem real, tal como Alexandre o Grande. Apenas por esta razão parece improvável que Jesus fosse uma completa invenção – e se tivesse havido simplesmente qualquer grande demanda cultural ou espiritual por um ‘Deus Agonizante’ já exitiam bastante para escolher entre eles, como devemos ver. Não havia a necessidade de inventar outro. Também é significativo, que os escritores dos Evangelhos coloquem Jesus contra um fundo conhecido de personagens históricos, tais como João Batista e Pilatos. Isto também argumenta a favor de sua realidade, e além disso, nenhum dos críticos iniciais da Cristandade desafiou a existência de seu fundador, o que certamente teriam feito se tivesse havido qualquer dúvida quanto ao assunto. E o próprio modo pelo qual Jesus é retratado indica que ele era um homem real. Nenhum escritor teria ido ao problema de criar um Messias ficticio e ainda apresenta-lo como sendo tão ambiguo, até mesmo elusivo, sobre seu papel, em que ele deixaria tantas alusões e dizeres impenetráveis entre seus alegados ensinamentos. A ambiguidade, a aparente contradição e algumas vezes as mudanças de frase absolutamente intelegíveis marcam as narrativas dos Evangelhos como de certa forma ‘elameadas’ das palavras e deveres do personagem genuíno. A falta de Paulo de qualquer menção aos detalhes biográficos de Jesus tem sido tomada pelos céticos como evidência de que Cristo não existiu. Mas ninguém argumenta que o próprio Paulo seja uma fabricação e ele definitivamente conheceu pessoas que tinham conhecido Jesus. Por exemplo, Paulo não apenas se encontrou com Pedro mas caiu com ele [e este menos do que honroso comportamento é evidência de que eles eram reais, e nenhum escritor naqueles dias teria feito seus heróis tão falhos]. Então parece provável que Jesus existiu – mas de fato isso por si só não significa que tudo no Evangelho seja verdade. Mas há uma outra razão para muitos eruditos do século XIX duvidarem da existência de Jesus. Na medida em que crescia o conhecimento histórico e o Novo Testamento crescentemente era submetido a uma análise crítica, se tornou óbvio que a história de Jesus tinha desconfortáveis paralelos estreitos com aqueles das famosas figuras mitológicas: especialmente os deuses mortos e ressurectos do antigo Oriente Médio, que eram venerados nos cultos de mistério que floresceram ao mesmo tempo da cristandande, e que a muito a anteciparam. Uma as exposições mais eruditas e presuasivas deste argumento é a de  J.M. Robertson em ‘Pagan Christs’, publicada em 1903.

Em sua introdução a um recente resumo, Hector Hawton resumiu a posição na forma da pergunta: ninguém afirma seriamente que Adonis, Attis e Osiris eram personagens históricos – porque, então, é feita uma exceção ao alegado fundador da cristandade? Este paralelos se relacionam ao cristianismo de dois modos. Primeiro, nas narrativas dos eventos da vida de Jesus, tal como sua morte e ressureição e a inauguração da eucaristia na última ceia e secundariamente no significado investido nestes eventos pelos cristãos iniciais. Um breve resumo dos principais pontos relevantes feitos por Robertson e outros principais comentadores ressalta o fato de que muitas das mais sagradas partes da história de Jesus são idênticas aquelas de outras antigas religiões. Robertson diz: Como Cristo, e como Adonis e Attis, Osiris e Dionisio também sofrem e ressuscitam novamente. Se tornar um com eles é a paixão de seus veneradores. Eles são todos iguais no que os misterios deles lhes dão a imortalidade. Do Mitraismo, Cristo toma as chaves simbólicas do céu e assume a função do nascido da virgem Saoshayant, o destruidor do Mal. Nos fundamentais, portanto, o cristianismo é o paganismo redesenhado. O mito cristão cresceu ao absorver detalhes de cultos pagãos – como a imagem do deus criança no culto de Dionisio, ele foi apresentado em roupas de fraldas em uma cesta de mangedoura; Ele nasceu em um estábulo como Horus – o templo-estábulo da deusa Isis, Rainha do Céu. Novamente como Dionisio, ele transformou a água em vinho, como Esculápio ele levantou homens dos mortos e deu visão aos cegos; e como Attis e Adonis ele é lamentado e regozijado pelas mulheres. Sua resssurreição aconteceu, como aquela de Mitra, de uma tumba em uma rocha. Não há uma só concepção associada a Cristo que não seja comum a algum ou todos os cultos de Salvadores da antiguidade. Se é mais perplexante que os pontos levantados por Robertson e outros tenham feito tão pouco impacto naquele tempo, ainda é mais surpreendente que eles sejam grandemente desconhecidos hoje. Uma voz mais recente sobre o assunto é a de Burton L. Mack, escrevendo em 1994: Estudo após estudo tem mostrado que a cristandade inicial não era uma religião única mas tinha sido ‘influenciada’ pelas religiões da passada antiguidade – preocupante foi a descoberta que a cristandade inicial tinha uma distinta semelhança aos cultos helenistas de mistério, particularmente onde eles mais nos interessavam, indicadamente seus mitos de deuses que morrem e ressucitam e em seus rituais de batismo e refeições sagradas. Hugh Schonfield diz em seu livro ‘The Passover Plot’ : Os cristãos hoje continuam a ficar perturbados pelas doutrinas contraditorias da Igreja que se elevam do infeliz comportamento para misturar incompatíveis ideais pagãos e judaicos. Eruditos tais como Robertson acham inconcebível que isso fosse uma coincidência e que tantos elementos dos cultos dos deuses que morrem e ressucitam possam ser encontrados na história de Jesus. Eles concluiram que os Evangelhos tinham tomado os eventos chave das histórias de Osiris, Attis e similares e os reunido em um ‘herói doméstico’ Jesus que nunca existiu. Um recente advogado desta idéia é Ahmed Osman, que, em seu livro ‘House of the Messiah’, avança a teoria que as histórias dos Evangelhos realmente registraram uma peça de mistério remontando a muitos séculos ao tempo do antigo Egito. Como seus predecessores,  Osman constrói seu caso nos desconcertantes paralelos entre o mito de Jesus e as histórias da antiga religião egípcia, e sobre as dúvidas da existência histórica de Jesus. Mas porque alguém sequestraria uma peça de mistério de uma outra tradição e introduziriam pessoas reais nela, tais como João Batista?

Osman pensa que a história dos Ecangelhos foi uma invenção dos seguidores de João Batista. Segundo a tese dele, eles inventaram Jesus para cumprir a profecia do Mestre deles sobre aquele que viria depois dele, e cujo previsto advento era, presumidamente, cospícuo por sua ausência. Contudo, isto é implausível por várias razões: os seguidores de João dicilmente fabricariam uma história na qual seu Mestre fosse tão marginalizado – somente sendo incluido na cena para glrificar alguém mais. E, como devemos ver, não é por meio algum certo que João até mesmo teha feito sua famosa profecia  sobre alguém maior que viria depois dele. Segundo Osman, ninguém teria conhecido a missão de Jesus como Redentor até depois que ele realmente morressse, então ele não teria um grande seguimento durante seu período de vida. Osman claramente pensa que os judeus estava esperando um Messias que morreria por eles. Este simplesmente não é o caso – os judeus nunca espervam que seu rei-herói fosse sacrificado ou envergonhado de algum modo. A inteira idéia da morte redentora é uma interpretação cristã posterior. Poucos outros eruditos duvidam que Jesus tenha existido, embora a maioria deles ainda tenha problemas com os claros exemplos das referências das escolas de mistério nos Evangelhos. Descobrindo que é impossível reconcilia-las com o material mais obviamente judaico, eles tendem a rejeitar as alusões pagãs. Eles afirmam que elas foram acrescentadas na medida em que osc ristãos iniciais entraram em contacto com o Império Romano, particularmente como resultado das viagens de Paulo. A opinião aceita é a de que a Igreja de Jerusalém. liderada pelo irmão de Jesus, Tiago O Justo, representou a forma ‘pura’ original da cristandade. Infelimente, devido a um acidente da história, a Igreja de Tiago foi dizimada durante a Revolta Judaica, então a natureza de suas crenças permanece um assunto para especulação. Sabemos, contudo, que seus seguidores veneravam no Templo de Jerusalém, então é razoável assumir que suas crenças eram baseadas em práticas judaicas. Depois do colapso da Igreja de Jerusalém, a situação estava clara para a tomada de Paulo. Diante disso, isto parece fornecer uma solução elegante para o problema de porque tanto material das escolas de mistério pode ser encontrado nos Evangelhos como os conhecemos hoje. Pode haver uma outra explicação – se o argumento é mudado em sua cabeça. Se a versão da cristandade  de Paulo era a mais próxima dos próprios ensinamentos de Jesus e era a Igreja de Jerusalém que estava errada?  Não é inevitável que irmãos não entendam um ao outro, e certamente havia uma frieza marcante entre Jesus e sua família, e assim não há razões para assumir que a cristandade de Tiago fosse de qualquer modo mais próxima  do que aquelas de Paulo dos ensinamentos de Jesus. A aceita opinião do desenvovimento inicial da cristandade falha emexplicar porque Paulo, que ele próprio era um judeu, deva ter sentido a necessidade de pregar uma forma paganizada da religião novata. Sua famosa conversão na estrada de Damasco provavelmente aconteceu dentro, em sua maioria, cinco anos da Crucificação e como seu papel anterior tinha sido o de perseguidor dos cristãos presemidamente ele tinha uma boa idéia do que ele estava persiguindo-os e porque. Nossas descobertas de Madalena senad uma iniciadora de uma escola de mistério carrega a implicação que o próprio Jesus era também um iniciado – talvez porque ela o tivesse iniciado. Mas como ele pdia estar tão profundamente envolvido com um culto pagão quando todo mundo sabe que ele era judeu? Temos descoberto que nada pode ser tomado como completa verdade nesta história. Pensamos que seja válido desafiar os usuais preconceitos sobre o próptrio fundo religioso de Jesus daqui em diante. Como diz ironicamente Morton Smith em seu ‘Jesus the Magician’ (que estaremos discutindo em detalhes brevemente). Com certeza Jesus era um judeu e asim presumidamente também o eram seus discípulos. A preseunção não é certa. Para iniciar, vale perguntar como ‘sabemos’ estas coisas sobre Jesus. A aceita opinião academica de Jesus discutida acima é baseada em duas assunções que tentam fazer sentido da evidente contradição entre os elentos judaicos e pagãos em sua história. A primeira assunção é que Jesus era judeu – embora exatamente a que seita ele pertencia é um asunto para discussão.

Como temos visto, a segunda assunção é que os aspectos abertamente pagãos do culto de mistério das histórias do Evangelho são o resultado de invenções posteriores. O argumento é que, a medida em que a cristandade começou a se disseminar nas comunidades não judias dentro do mundo romano, afinidades com os escolas de mistério foram percebidas e elaboradas especialmente na medida em que elas podiam explicar a conspícua falha de Jesus em cumprir o papel de Messias judeu. Veio como um choque para nós entender que elas eram realmente apenas assunções, e não fatos sólidamente comprovados. Nenhum deles era realmente baseado em evidência de qualidade normalmente exigidas pelos historiadores. Não há evidência sólida de que os elentos pagãos vieram de Paulo. Eles podem, com certeza, terem vindo de um de seus companheiros missionários – a disseminação da cristandade era, a despeito do sucesso da própria publicidade de Paulo, não inteiramente devido a ele. Quando ele chegou a Roma, por exemplo, ele descobriu que já havia cristãos lá. Parece que até mesmo no cético século XX há uma tal aceitação tácita disseminada da história cristã que até mesmo os academicos normalmente críticos falham em ver seus próprios preconceitos pelo que eles realmente são. Por exemplo, A.N. Wilson, geralmente um comentador analítico, escreveu as seguintes duas sentenças- uma depois da outra – sem aparentemente perceber a contradição entre elas:  ‘é necessário, antes que se inicie [a tentar responder as perguntas sobre o Jesus histórico], esvaziar a mente e nada tomar por garantido. O centro do ensinamento de Jesus foi sua crença em Deus e sua crença no Judaismo.’ Decidimos ver o que acontece se questionamos estas duas assunções. A versão padrão do desenvolvimento inicial da cristandade sempre confia na premissa básica que Jesus era da religião judaica, o que significa que muitos outros aspectos de outra forma intrigantes da história do Evangelho tem sido automaticamente rejeitados. Olhamos mais estreitamente a presunção da origem judaica de Jesus – que com certeza implica em um fundo étnico e religioso, e logo nos encontramos desafiando isso. [ele pode ter sido etnicamente um judeu, mas não ser da religião judaica; para os propósitos deste argumento usaremos o termo ‘judeu’ quando se referindo a Jesus em um sentido mais amplo apenas, a menos que de outra forma afirmado]. Com certeza o nosso desafio desta assunção não foi sem trepidação: estavamos, afinal, tomando o pleno peso de mais de um século de erudição do Novo Testamento. Então ficamos mais ou menos aliviados ao descobrir que as mais recentes tendências nos estudos do Novo Testamento eram baseadas exatamente na mesma questão: Jesus era realmente judeu? O primeiro de tais trabalhos que alcançou uma audiência popular foi o de Burton L. Mack ‘The Lost Gospel’ em 1994, embora vários outros euditos tem estado publicando os resultados de suas pesquisas ao longo de linhas similares em revistas cultas dede os anos de 1980. Mack abordou o problema sob o ponto de vista dos ensinamentos de Jesus muito mais do que de sua história de vida. Ele baseia o argumento dele na fonte perdida dos Evangelhos Gnósticos, conhecida como Q [do alemão Quelle, significando ‘fonte’] ou no quanto muito pode ser reconstruído pea comparação destes Evangelhos. Ele conclui que os ensinamentos de Jesus não vem do Judaismo, mas eram mais estreitamente relacionados a conceitos, e até mesmo estilo, de certas escolas gregas filosóficas, especificamente aquela dos Cínicos. Q é confiavelmente acreditado ter sido uma coleção de dizeres e ensinamentos de Jesus, encaixando-se completamente no genero específico ds escritos contemporaneos conhecidos como ‘literatura de sabedoria’ que era conhecida existir no Hebraico antigo, mas que de forma alguma era única da religião ou cultura judaica. Foi também popular pelo mundo helenistico, Oriente Próximo e Antigo Egito. Uma autoridade, Kloppenborg, tem argumentado que Q mais estreitamente segue o modelo ‘dos livros de mão helenisticos de instrução’. Q difere destes livros de mão em suas inclusões de material profético e aocalíptico, mas Mack acredita que o ‘ensino da sabedoria’ sozinho formou o original Q, e que outro material tenha sido acrescentado mais tarde. Mack e outros eruditos trabalhando ao longo das mesmas linhas baseiam as conclusões deles nos ensinamentos e dizeres de Jesus. Eles ainda rejeitam os eventos como relatados nos Evangelhos por que eles não se encaixam nas tradições dos judeus ou dos Cínicos, e sugerem que o deus morto e ressurrecto e os temas das escolas de mistério foram posteriores invenções dos cristãos iniciais.

Nos fizemos as seguintes perguntas: existe alguma evidência que mostre que Jesus não fosse um judeu? Por outro lado, existe qualquer evidência que mostre conclusivamente que ele era um judeu? Os elementos das escolas de mistério tornam as coisas mais fáceis de explicar ou mais difíceis? Admitidamente, o ministério de Jesus aconteceu em um contexto judeu – a Judéia do século I – e a maioria daqueles que o seguiam era também judia. Seus discípulos imediatos e aqueles que escreveram os Evangelhos parecem ter acreditado que ele era um judeu. Contudo, seus seguidores parecem te-lo considerado algo de um enigma – por exemplo, eles estavam incertos sobre ele ser o Messias – e os escritores dos Evangelhos claramente tinham uma enorme luta em reconciliar os elementos contraditórios da vida dele e do ensinamento. Parece que eles estavam inseguros exatamente em como lidar com isso. A primeira vista pareceria que este é um bom caso para acreditar que Jesus era judeu. Ele frequentemente falava de figuras religiosas do Velho Testameto tais como Abraão e Moisés e frequentemente se envolvia em debates com fariseus sob pontos da lei judaica – se ele não fosse judeu certamente não haveria razão para ele ter feito isso tão obsessivamente. Mas a maioria dos eruditos concorda que estas passagens são as menos prováveis de serem as palavras genuinas de Jesus. Elas foram acrescentadas mais tarde porque os próprios Apóstolos se encontraram argumentando pontos da lei judaica e sentiram a necessidade de criar uma justificativa retrospectiva para o caso deles usando o próprio Jesus. A prova disso é que os antagonistas nas histórias do Novo Testamento são geralmente os fariseus, que realmente não tinham uma função especial ou autoridade – especialmente na Galiléia – nos tempos de Jesus, enquanto que ao tempo em que os Evangelhos estavam sendo compilados eles estavam em ascendência. Como diz Morton Smith: ‘quase todas as referências aos fariseus nos Evangelhos podem ser mostradas derivarem dos anos 70, 80 e 90, os últimos anos nos quais os Evangelhos estavam sendo editados’. O único meio de entender as verdadeiras origens de Jesus é coloca-lo no contexto de seu tempo e lugar. Embora haja um contiuado debate sobre onde ele nasceu e foi criado, como devemos ver, os Evangelhos concordam que ele lançou sua missão a partir da Galiléia. É improvável, embora, que ele fosse um local, porque enquanto os Evangelhos se referem ao distintivo sotaque galileu de seus discípulos, que era considerado humoristicamente rústico pelos da Judeia, significativamente não é dito isso sobre o próprio Jesus. Então o que sabemos da Galiléia dos dias de Jesus? Mack organizadamente resume a atual opinião academica do tempo e lugar: No mundo da imaginação cristã a Galiléia pertencia a Palestina, a religião da Palestina era o Judaismo, então todo mundo na Galiléia deve ter sido judeu. Já que esta imagem está errada – o leitor precisa ter em mente uma imagem mais verdadeira. O que pensamos como Judaismo ao tempo de Jesus – da imagem apresentada pelos Evangelhos – era realmente apenas o Judaismo do Templo da Judéia, cuja veneração se centrava no Templo de Jerusalém. Ele foi primeiro estabelecido pelos judeus depois de seu traumático cativeiro na Babilonia, e estava em um constante estado de fluxo. Mas nem todos os judeus tinham sido exilados, e a versão deles do judaismo se desenvolveu separadamente e era muito diferente daquela dos ex cativos que voltaram. A religião dos não exilados era particularmente praticada na Samaria e na Galiléia para o norte, e na Iduméia ao sul da Judéia. A Galiléia, contudo, dificilmente era um leito quente do judaismo – de algum tipo. Ela tinha, de fato, apenas brevemente sido parte do reino de Israel muitos séculos antes de Jesus, desde quando ela tinha vindo sob a influência de várias culturas diferentes. Não foi por nada que a Galiléia era conhecida como a ‘terra dos gentios’. Ela era até mesmo mais cosmopolitana do que a Samaria, que fica entre a Judéia e a Galiléia. Como diz Mack: ‘Seria errado apresentar a Galiléia como repentinamente convertida a lealdde e cultura judaicas’. A Galiléia, com seu bom clima para agricultura e pesca lucrativa no Lago Galileu era uma área rica e fértil. Ela tinha extensas conexões de comércio com outras culturas do mundo helenistico e permenecu o coração de uma rede de rotas de comércio levando ao resto da Síria, Babilonia e Egito. Era o lar para pessoas de muitas terras e culturas e até homens de tribos beduínas eram visitantes familiares.

Como ressalta Morton Smith, a principal influência na religião galiléia naquele tempo era ‘o paganismo nativo, palestino, semitico, grego, persa, fenício e egípcio’. Os Galileus eram conhecidos por sua feroz independência. Mas, nas palavras de Mack, a área ‘não tinha cidade capital, nem templo, nem hierarquia e nem sacerdotes’. Significativamente, a mais velha sinagoga conhecida na Galiléia data apenas do século III da era cristã. A região tinha sido anexada a Israel em 100 AC e logo depois, em 63 AC, os romanos conquistaram toda Palestina e a tornaram uma província do império deles. Ao tempo do nascimento de Jesus  a inteira Israel era governada por um rei fantoche dos romanos, Herodes O Grande, que era realmente um idumeu politeísta – mas ao tempo do ministério dele a terra foi dividida entre os três filhos de Herodes. Herodes Antipas governava a Galiléia e [depois que seu irmão Arquelau foi forçosamente retirado para as propriedades da família no sul da França] a Judéia era governada diretamente por Roma, pelo seu governador, Poncio Pilatos. Nos dias de Jesus a Galiléia era uma região cosmopolitana e rica – dificilmente o lugar parado e rústico da imaginação popular – que nem era mesmo predominantemente judia e em  as autoridades em Jerusalém não teriam sido mais populares do que seus mestres romanos. Uma vez a Galiléia seja compreendida ter sido muito diferente da imagem tradicional do lugar no qual Jesus começou seu ministério, as perguntas imediatamente se elevam sobre as metas e motivos reais dele. Se a Galiléia realmente era uma cultura sofisticada sem qualquer tendência fanática anti-romana e pró-judaica, então Jesus realmente estaria tentando levantar sua população em uma rebelião contra os romanos como alguns muitos comentadores modernos sugerem? E era a Galiléia o lugar mais sábio para começar algum tipo de campanha para reformar o judaismo, como outros acreditam? Embora existissem judeus na Galiléia, havia também muitas outras religiões co-existindo em uma atmosfera invejável de tolerância. Havia até mesmo formas ‘heréticas’ de judaismo que floresciam lá, o que torna ainda mais implausível que fosse um solo promissor para plantar qualquer tipo de reforma judaica. Em uma área onde, parece, virtualmente nada foi – onde diga respeito a religião -, uma tentativa de redefinir a corrente pricipal do judaismo teria falhado de fato em um solo pedregoso. E teria feito ainda menos sentido da culminação da missão de Jesus em Jerusalém. Como diz Schonfield em seu ‘The Passover Plot’: ‘ os judeus viam o norte da Palestina como o lar natural da heresia’. Não sabemos mito sobre a velha religião israelita, mas pareceria ter absorvido uma grande dose de veneração dos Sírios e Fenícios, e isto não foi aproximadamente na mesma extensão erradicado, como o foi no sul, pelo zelo reformador de Ezra e seus sucessores.

Um outro território ao norte que era para vir a ser importante para Jesus era a Samaria, tornada famosa em sua história do Bom Samaritano. Por causa dos inumeráveis sermões sobre o assunto, os frequentadores das igrejas entendem que os samaritanos eram ultrajados pelos outros judeus, e que a história do Samaritano que atravessou a estrada para ajudar a vítima de um assalto é um exemplo perfeito da necessidade de reconhecer o potencial para o bem de todo mundo. Contudo, há uma outra razão para considerar seriamente a Samaria no contexto desta investigação. Os Samaritanos tinham suas próprias espectativs de um Messias iminente, que eles chamavam  Ta’eb, e que era considravelmente diferente da versão judaica. No Evangelho de João (4:6-10) lemos como Jesus encontrou uma mulher samaritana em um poço, que o reconheceu como o Messias, presumidamente como Ta’eb – o que aponta para que o judaismo era, ao menos, não ortodoxo. Talvez Jesus tenha inventado a parábola do Bom Samaritano como um ‘agradecimento’ aos Samaritanos pelo apoio deles. Ainda que uma outra má concepção sobre o fundo de Jesus seja a idéia que ele era ‘Jesus de Nazaré’ – isto é, que ele veio de uma cidade que tinha este nome, que existe na moderna Israel. Mas de fato não há registros de um tal lugar até o século III, o que identifica Jesus como um membro de uma das várias seitas que coletivamente usavam este nome – ms não, significativamente, como seu fundador.

Os Nazarenos eram um grupo de seitas relacionadas sobre as quais pouco é conhecido. Contudo, a própria palavra é reveladora, já que ela deriva do hebraico ‘Notsrim’ que significa “Os Mantenedores ou Preservadores” – aqueles que mantém o verdadeiro ensinamento e tradição, ou que guardam certos segredos que não divulgam a outros. Isto por si só corre contra um dos maiors dogmas da cristandade, que é que a religião é para todo mundo, e não tem segredos – o polo oposto das escolas de mistério, que ofereciam diferentes graus de conhecimento ou iluminação para aqueles que subiam os passos costantes de iniciação. Para estes cultos, a sabedoria é oferecida apenas se é conquistada, e o aluno recebe o insight apenas quando ele é considerado pronto para isso por seus mestres espirituais. Esta era uma noção comum nos dias de Jesus: as escolas de mistério da Grécia, Roma, Babilonia e Egito rotineiramente empregavam este ensinamento estruturado e guardavam ciumentamente seus segredos. Até este dia a abordagem da escola de mistério é empregada por muitas religiões orientais e escolas filosóficas [incluindo o Zen Budismo] e também por grupos como os Maçons Livres e os Templários. A inteira noção de iniciação é também o que dá ao oculto seu nome; como temos visto, a própria palavra significa simplesmente ‘oculto’ – os mistérios permanecem secretos até que seja o momento certo, e o estudante esteja pronto. Se o ensinamento de Jesus não pretendia ser para as massas então por sua própria natureza ele era elitista e hierárquico e oculto. E como temos visto quando reavaliando o verdadeiro status de Maria Madalena, então existem exatamente similaridades demais entre as escolas de mistério e o movimento de Jesus para que elas sejam ignoradas.

Há muitas outras más concepções sobre Jesus. Por exemplo, a história do Natal é principalmente ‘um conto de fadas’ – pertencendo aos mitos de natividade de outros deuses que morrem – mas há até mesmo dúvida que Jesus tenha nascido em Belém. De fato, o Evangelho de João (7:42) afirma explicitamente que ele não nasceu lá. Conquanto a maioria dos elementos da Natividade tenham claramente sido derivados dos mitos de nascimento de outros deuses que morrem e renascem, a visita dos Homens Sábios [Magos] do Oriente foi baseada em uma narrativa contemporanea da vida do Imperador Nero. Algumas vezes estas figuras eram conhecidas como magos, que é um título específico dado a uma tradição de magos persas, ou feiticeiros. Parece muito estranho ter o equivalente a três Aleister Crowleys visitando o bebê Jesus e dando a ele presentes, sem qualquer palavra de crítica ou censura dos escritores dos Evangelhos. E a julgar pelo fato deles declararem estarem seguindo a Estrela de Belém, eles também eram astrólogos [a astronomia, como uma disciplina separada, era desconhecida naqueles dias]. Estamos definitivamente a sermos impressionados com a história dos feiticeiros darem a Jesus ouro, incenso e mirra. [Mas como temos visto na Adoração dos Magos de Leonardo, o ouro foi omitido, o símbolo da realeza e da perfeição]. Como temos visto, Jesus é referido como um ‘naggar’o que tanto pode significar carpinteiro quanto erudito e homem culto – no caso dele, provavelmente trata-se deste último. Nem eram os mais famosos discípulos de Jesus provavelmente os humildes pescadores da história:  A.N. Wilson ressalta que eles realmente possuiam um negócio de pesca no Lago Galileu. [Além disso, como  ressalta Morton Smith, alguns de seus discípulos eram claramente não judeus: Felipe era um nome grego, por exemplo]. Muitos comentadores tem usado parábolas como evidência de que Jesus veio de uma base humilde: ele rotineiramente usou analogias que envolviam situações diárias rurais e domésticas, e isso é tomado como prova que ele tinha experiência pessoal destas coisas. Contudo, outros tem apontado que seu conjunto de imagens revela realmente apenas um conhecimento superficial das realidades mundanas da vida – é como se ele realmente fosse uma pessoa muito maior que estava deliberadamente tentando falar para as massas, como um aristocrático candidato conservador se dirigindo às classes trabalhadoras eleitoras em termos do que ele espera que eles achem familiar. Até mesmo se o casamento em Canaã não foi, como alguns acreditam, a ocasião de seu proprio casamento com Madalena, isso ainda mostra que ele se movimentava nos círculos da ‘sociedade’, a julgar pela escala das celebrações. E o incidente dos soldados romanos jogando dados aos pés da cruz pelas roupas de Jesus implica que eles eram dignas de serem disputadas. Ninguém joga por trapos inferiores.

Então a imagem que está emergindo da base de Jesus é sinificativamente diferente daquele com a qual a maioria de nós tem crescido. A questão seguinte é se há qualquer assunção sobre Jesus que estejamos justicados a fazer? Por exemplo, há alguma evidência positiva nos Evangelhos da idéia de que Jesus não fosse judeu? Depois de seu batismo, Jesus se retirou para o deserto onde ele foi tentado pelo Diabo, que tentou seduzi-lo a revelar sua divindade. Mais uma vez novamente, isto não é de modo algum sincero. Alguns tem até mesmo sugerido que a tentação revela nada menos do que a rejeição implicita de Jesus ao próprio Yahweh. Isto pode ser discutível, mas um episódio definitivamente reflete a atitude dele ao Deus judeu. Um dos eventos mais famosos do Novo Testamento é quando Jesus, cheio da justa raiva a vista dos negociantes do Templo, vira as mesas deles. Conquanto isto pareça ser um episódio bastante direto, ele de fato oferece um maior problema, um que a muito tem sido reconhecido pelos teólogos e eruditos do Novo Testamento igualmente. Embora as ações de Jesus fossem geralmente explicadas pelo seu horror ao ver tal lugar sagrado contaminado por transações financeiras, esta é uma atitude muito ocidental, e uma atitude recente. A troca de dinheiro para comprar animais para o sacrifício no Templo em Jerusalém não era corrupção e nem abuso. Era uma parte fundamental da veneração lá. Como ressalta o professor de Estudos Bíblicos da Universidade de Chicago, John Dominic Crossan, ‘Não há uma única pista de que alguém estivesse fazendo algo financeira ou sacrificialmente inapropriado’. Como ele continua para dizer, ‘isto foi um ataque a própria existência do Templo, uma negação simbolica de tudo que o Templo representava’. Alguns tem tentado explicar a ação – que foi central ao ministério de Jesus – argumentando que isso expressou sua insatisfação com o regime contemporaneo do Templo. Mas no contexto daquele tempo e lugar uma tal super reação teria sugerido um desequilíbrio mental. Para fazer uma analogia moderna: seria como um anglicano que se opõe a ordenação de mulheres expressar seu protesto indo a Abadia de Westminster e pisando na cruz do altar. Isto não aconteceria simplesmente porque os veneradores sabem onde estabelecer uma linha entre a ação direta que é apropriada – tão simbólica quanto possa ser – e o protesto que realmente é sacrílego. O que Jesus fez foi o último. Então o judaismo de Jesus era, no mínimo, não ortodoxo. Isto esclarece a base para novas sugestões como o que ele realmente era. E há claras indicações que ele era parte de uma escola de mistérios. Mas há qualquer pista nos Evangelhos que aponte para que este fosse o caso?

Cedo em nossa investigação veio como algo de um choque descobrir o que muito poucos outros pesquisadores parecem ter feito: uma das perguntas que eram, para nós, supremamente básicas: “De onde João Batista obteve o ritual do batismo?’ O aprofundamento posterior revelou que isso absolutamente não tinha precendentes no judaismo, embora referências a um ritual de lavagem, repetidas imersões significado purificação – sejam encontrados nos Pergaminhos do Mar Morto. Contudo, é inacurado descrever estes ritos como ‘batismos’ já que o que João advogava era um ato único que muda a vida, um ato de iniciação, que era precedido de confissão e arrependimento dos pecados. O fato de que este ritual era sem precedentes judeus é indicado pelo seu título ou apelido – João o Batista – o único, não um entre muitos. De fato, isto tem sido frequentemente tomado como uma inovação dele, embora de fato hajam, muitos precendentes e paralelos exatos fora do mundo judeu. O batismo como símbolo externo e visível de uma renovação espiritual interna era uma caraterística de muitos cultos de mistério que existiam pelo mundo helenista naquele tempo. Isto tinha uma tradição particularmente longa no antigo culto egípcio de mistério de Isis e, significativamente, o batismo nos templos dela nos bancos do Nilo eram precedidos pelo arrependimento público e confissão dos pecados a um sacerdote. [Isto é discutido mais completamente no próximo capítulo]. Sobretudo, este era o único período na longa história da religião de Isis durante a qual ela enviou missionários para países além do Egito, etão parece provável que João tenha sido particularmente influenciado pelo ritual deles de batismo. Ele pode, como devemos ver, ter tido a experiência pessoal da religião dos egípcios em sua terra natal, porque há velhas tradições cristãs da família de João ter fugido para o Egito para escapar das tradições de ira que encontraram expressão na obra de Leonardo, A Virgem das Rochas. O batismo de Jesus apresenta vários problemas. Primeiramente e por nenhum meio ao menos é a idéia de um Filho de Deus sem pecado precisase ter seus pecados lavados.

Isto simplesmente não explica isso, como muitos tem tentado fazer, ao dizer que Jesus estava dando um bom exemplo a seus seguidores, porque em nenhum lugar nos Evangelhos isso é estabelecido. Há também, contudo, significantes anomalias no próprio conjunto de imagens que as narrativas dos Evangelhos empregam quando descrevem o batismo de Jesus por João. Conquanto Morton Smith ressalte que a imagem da pomba que desce não tenha paralelo na tradição judaica, Desmond Stewart vai adiante, encontrando conexões definidas com o simbolismo e as práticas do Egito. Ele diz: ‘Embora Yahweh supostamente enviou corvos para alimentar um profeta, ele costumeiramente não se manifestava em pássaros que desciam.’ As pombas, em qualquer caso, eram sagradas para a deusa pagã do amor, seja ela conhecida por Afrofite ou Astarte. Porque o que Jesus pensou que viu o Egito oferece uma melhor orientação – Quando Ra [o deus sol ] manteve seu amado, o faraó, em seu peito, ele assim o fez sob o disfarce de Horus, cujo símbolo mais comum era o falcão. A adoção, no rito batismal, de um mortal por uma deidade não oferecia um problema maior para os egípcios. Uma maior deidade egípcia que geralmente é associada ao símbolo da pomba é, contudo, uma vez novamente, Isis, que era conhecida como Rainha do Céu, Estrela do Mar (Stella Maris) e ‘Mãe de Deus’ muito antes que a Virgem Maria nascesse. Isis é frequentemente retratada amamentando Horus, a prole mágica dela e do deus morto Osiris. Era no festival anual que marcava a morte dele, e, três dias depois, na sua ressurreição, que o sol era descrito como se tornando negro quando ele morria e entrava no submundo. [E é este sol negro que brilha sobre a cena da Crucificação no mural de Jean Cocteau em Londres]. Dado o não usual zelo missionário de alguns grupos de Isianos daquele tempo, e a proximidade geográfica do Egito, sem mencionar a natureza cosmopolitana da Galiléia, não é surpreendente que João, Jesus e aqueles que os seguiam tenham sido influenciados pelo culto de Isis. O que é notável é que a maioria dos cristãos ainda sejam encorajados a pensar em sua crença como sendo totalmente e em todos os aspectos única, não contaminada por outras filosofias ou religião, quando claramente este não é o caso.

Tome, por exemplo, a Última Ceia, na qual Jesus é acreditado ter inaugurado a refeição sagrada do pão e do vinho, que era para representar eu corpo e sangue sacrificiais. A.N. Wilson escreve, ‘Isto ‘cheira’ fortemente aos cultos de mistério do Mediterrâneo, e tem pouco em comum com o judaismo’. Ele então usa isto como evidência de sua idéia que a última ceia foi uma invenção dos escritores do Evangelho – mas que tal se realmente aconteceu como um rito pagão? Desmond Stewart fortalece o paralelo dizendo: ‘Jesus tomou o pão e o vinho, elementos da sociabilidade diária, ainda que isto marque o auge do simbolismo Osiriano e os transformou, não em um sacrifício, mas em laço entre dois estados de ser. Os cristãos vêem a refeição sagrada do pão e do vinho – o climax da comunhão protestante e da missa católica – como sendo únicos de Jesus. De fato isso já era uma prática comum de todas as maiores escolas de mistério de deuses que morrem e ressucitam, inclusive aquelas de Dionisio, Tammuz e Osiris. Em todos os casos isto foi entendido sendo um meio de se tornar um com o deus e obter elevação espiritual [embora os romanos expressassem horror ao implícito canibalismo envolvido]. Todos os outros cultos estavam bem representados na Palestina ao tempo da última ceia então a influência deles é compreensível. De todos os quatro evangelhos, talvez o mais significante é que João fala da ceia mas omite qualquer menção a cerimonia do pão e do vinho –  talvez porque não fosse a ocasião quando ela realmente foi inaugurada. Em outro lugar do Evangelho de João (6:54) está implicado que a sagrada refeição do pão e vinho era promovida nos dias mais iniciais da carreira de Jesus na Galiléia. O próprio conceito de comer e beber o deus – o ritual da missa – é repulsivo aos judeus. Como diz Desmond Stewart: A noção de que o próprio milho era Osiris era comum aos egípcios enquanto uma noção similar era anexada as deusas Demeter e Perséfone em Hellas [Grécia].

Um outro paralelo com as escolas de mistério – e uma que não tem paralelo com a crença ou prática judaicas – é a história da ressureição de Lázaro. Este é claramente um ato iniciático: Lázaro é ‘elevado’ na morte simbólica e renascimento que era uma característica comum das escolas de mistério daquele tempo, e que tem ecos em certos rituais da Maçonaria Livre moderna. O único evangelho canonico a registrar este evento – o de João – torna-o miraculoso, uma literal ressurreição dos mortos. Mas o Evangelho Secreto de Marcos deixa claro que era apenas um ato simbólico, marcando a morte do velho ego de Lázaro e seu renascimento como um ser mais espiritual. Presumidamente este episódio foi excluído dos outros Evangelhos por causa de uma tal alusão óbvia às atividades das escolas de mistério. Mas no que diga respeito a esta investigação, o ponto mais significativo sobre este ritual é que seu mais direto paralelo era com as cerimonias de ‘renascimento’ do culto de Isis no Egito. Como diz Desmond Stewart (referindo-se a mística Isiana do século I): ‘a evidência de Bethania indica que Jesus praticava uma espécie de mistério parente daquela que Lucius Apuleius vivenciou no culto de Isis. Até mesmo a Crucificação reforça a negação judaica que Jesus era o esperado Messias, porque morrer em tais circunstâncias vergonhosas era a última coisa que um Messias todo conquistador fosse esperado fazer. Contudo, há outros problemas com a narrativa do Novo Testamento sobre a morte de Jesus. Parece que a interpretação cristã deste ser um supremo sacrifício místico fosse inventada mais tarde para responder pela discrepância entre quais eram as expectativas judaicas quanto ao Messias deles e o que realmente aconteceu a Jesus. Que isto por si só não diga respeito indevidamente aos cristãos, porque eles mantém que o Messias deles foi muito além, em termos espirituais, do que os judeus esperavam dele. Contudo há outros problemas com a narrrativa da morte de Jesus no Novo Testamento. Tem sido sugerido que Jesus, e aqueles de seu círculo, desenvolveram seu próprio conceito de Messias ao incorporar nisso o ideal de Ele Apenas ser o Sofredor, como derivado da figura de José nos escritos apócrifos judeus. Mas importantemente, no norte héretico da Plestina-Galiléia o ‘sofrimento’ de José tinha absorvido algumas das características sírias do culto de Adonis-Tammuz. Os eruditos também tem notado a influência do deus pastor Tammuz no Cantico de Salomão, que é, como temos visto, tão importante para o culto da Madona Negra. É provável que Jesus tenha se chamado de Bom Pastor por causa de Tammuz, e que seus seguidores daquele tempo estivessem familiarizados com o termo – Belém foi um maior centro de culto a Adonis-Tammuz. [Imnteressantemente, os cristãos como São Jeronimo eram incensados pela existência de um Templo a Tammuz no alegado sítio de nascimento de Jesus em Belém]. É notável, contudo, que embora muitos comentadores modernos reconheçam a presença de fortes influências pagãs na vida e ensinamentos de Jesus, eles falhem em explora-las além de uma menção superficial. Por exemplo, como diz Hugh Schonfield:  Tome um Nazareno da Galiléia para compreender que a morte e a ressureição foi a ponte entre as duas fases do Sofrimento daquele Único e Messianico Rei. A própria tradição da terra onde Adonis anualmente morreu e renasceu novamente parece chamar por isso. Conquanto  Geoffrey Ashe admita: ‘Cristo se tornou um Salvador com uma perceptível semelhança aos deuses mortos e renascidos dos mistérios, Osiris, Adonis e os restantes.’ Contudo, o arquétipo que se encaixa mais estreitamente com a vida e história de Jesus como ela tem chegado a nós é aquele do deus egípcio Osiris, o consorte de Isis. Tradicionalmente ele morria em uma sexta-feira e nascia novamente após três dias. E há pistas que nos dias iniciais da cristandade o título Cristo se tornou confuso com uma outra palavra grega, Chrestos, que significa gentil ou amável. Alguns manuscritos iniciais gregos dos Evangelhos usam esta palavra em lugar de Cristo. Mas Chrestos era tradicionalmente um dos epítetos atribuídos a Osiris e, significativamente, há também uma inscrição em Delos para Chreste Isis. O grito aberto de Jesus na cruz também está aberto a uma interpretação pagã. Ambas as versões de Marcos  ‘eloi eloi!’ and aquela de Mateus, ‘eli eli!’, são traduzidas como Meu Deus! Meu Deus [porque me abadonaste?], embora alguns dos presentes são relatados terem entendido mal a palavra e pensassem que ele estivesse chamando o profeta Elias, a quem o próprio Jesus ligou a João Batista. Mas em aramaico ‘meu Deus’ deve ter sido beenilahi . Desmond Stewart sugere que a palavra era de fato, Helios, o nome do deus Sol, o que é particularmente interessante porque o grito foi particularmente ligado ao período da escuridão ao meio dia. De fato, um dos mais iniciais conhecidos manuscritos do Novo Testamento tem os presentes pensando que ele está chamando Helios, cujo culto – que era amplamente disseminado na Síria do século IV – foi cristianizado ao substituir o nome Elias. E obviamente um deus sol é em sua quinta essência relacionado ao cíclico morrer e renascer novamente.

Então podemos facilmente ver que Jesus se enquadra facilmente na tradição do deus que morre e renasce, mas este arquétipo não constitui a inteira imagem dos antigos mistérios. O deus – Osisis, Tammuz, Adonis ou qualquer outro – era inevitavelmente associado a sua consorte, a deusa, que geralmente cumpria o principal papel no drama de sua ressurreição. Como Geoffrey Ashe coloca isso: Sempre o deus companheiro era o amante condenado e trágico da deusa, que morria anualmente com a vida verde da natureza e era renascido na primavera. Claramente, se Jesus realmente estivesse cumprindo a tradição do ‘deus que morre’ havia, aparentemente, algo faltando. E Ashe continua para dizer: Em seu papel de Salvador morto e renascido ele não podia prontamente ser percebido como estando só. Tais deuses nunca normalmente o fariam assim. Você não teria Osiris sem Isis, ou Attis sem Cibele. Os críticos podem dizer que isto foi porque Jesus não tinha uma figura companheira de deusa, e ele não podia tem encenado o papel do deus que morre e renasce. Ele era, eles dizem, único em sua verdadeira divindade e não precisava de uma mulher para partilhar isso com ele. Mas que tal se ele tivesse uma tal parceira? E de fato ele teve, e este conhecimento é o que tem sido acalentado em segredo por gerações de heréticos. A Ísis de Jesus era Maria Madalena. Os egípcios se dirigiam a rainha deles como “Senhora dos deuses, nossa senhora do aparelho vermelho, amante e dama da tumba’. Tradicionalmente a Madalena tem sido apresentada como vestindo uma roupa vermelha, que tem sido referido a ela ter sido uma ‘mulher escarlate’. E foi Maria Madalena que presidiu as cerimônias na tumba de Jesus. Entender isso, e muito do que tem sido perdido, deliberadamente obscurecido e distorcido finalmente cai no lugar, inclusive a própria natureza do que pode ser chamado verdadeira cristandade. A despeito das primeiras impressões, o Princípio Feminino não estava ausente dos Evangelhos – ao menos em sua forma original. As famosas palavras de abertura do Quarto Evangelho são ‘No início era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus’. Conquanto o conceito do Verbo [Logos] seja derivasdo de idéias do neo-platonismo [do filósofofo judeu neo-platonico Philo of Alexandria], um contemporaneo de Jesus, nesta versão de João parece ser explicitamente Feminino. Logos é um nome masculino mas paradoxalmente o conceito que ele descreve parece ser feminino. Claramente alguma confusão tem ocorrido quando o Evangelho foi tomado de seu material fonte – e mais tarde viemos a entender a importância da origens reais desta passagem. A frase ‘e o Verbo estava com Deus’ é uma radical má tradução, que muda completamente o verdadeiro significado, mas ao faze-lo tão convenientemente remove algumas implicações muito desconcertantes. Porque as palavras originais gregas são ‘pros ton theon’ , que literalmente significa ‘indo na direção de Deus’, e carrega o significado de um homem buscando unidade com uma mulher. Como coloca isso George Witterschein: ‘temos até mesmo usado a palavra ‘erótico’ para descrever um desejo de união para superar a separação. A chave para tudo isso ‘era a atração entre o homem e a mulher, que se paraleliza’ com a atração entre a Palavra e Deus. Em outras palavras o Verbo [a Palavra] é feminino. E significativamente, a tradução acurada das linhas de abertura do Evangelho de João é: “No início era a Palavra, e a Palavra ia na direção de Deus, e Deus era o que era a palavra’. Ela estava com Deus no início. Portanto, a Palavra era uma força que é distintamente separada de Deus. Significamente, é geralmente entendido que a Palavra e o Espírito Santo são o mesmo e um só, embora o termo original para o último seja inconfundivelmente feminino. Era Sophia.

Os conceitos evocados nestas linhas são claramente não judaicos. Mas ele também não são originais dos anos iniciais da emergente nova religião da cristandade. O antropologista americano e Professor de História Religiosa, Karl Luckert, que fez uma maior estudo da religião egípcia e de sua influência nos poteriores conceitos teologicos e filosóficos, não tem dúvida quanto as suas verdadeira origens quando ele escreve: ‘em toda literatura religiosa do chamado período helenístico, não há melhor sumário da antiga teologia ortodoxa egípcia do que o prólogo do Evangelho de João”. Desmond Stewart, em seu ‘The Foreigner’, argumenta que Jesus foi trazido, senão verdadeiramente nasceu, no Egito. Contudo, ele ainda pode ter sido judeu, porque havia largas e florescentes comunidades judias no Egito naquele tempo. Stewart ressalta que muitas coisas sobre Jesus, da falta de um sotaque galileu até a ênfase ao implícito fundo de suas parábolas, sugere uma educação egípcia. E com certeza, o Novo Testamento nos conta que Maria, José e a criança Jesus fugiram para o Egito para escapar da ira de Herodes. Fora o incidente de Jesus discutindo com os idosos no Templo em Jerusalém aos 12 anos de idade, não há qualquer menção a sua vida enquanto jovem. Contudo, até mesmo este episódio é claramente uma invenção porque Maria e José teriam expressado sua ignorância da divindade de Jesus – imediatamente depois da história de seu miraculoso nascimento que certamewnte eles, se alguém, teriam que saber a respeito! Então nada há de autêntico sobre Jesus nos Evangelhos canonicos desde a infância dele até sua idade adulta madura. Onde ele tinha estado? Porque há este silêncio sobre sua infância e adolescência? Se ele estava fora do país e envolvido em uma outra cultura, contudo, os escritores podem ter sentido que este não era o lugar deles, ou, mais provavelmente, além dos talentos deles – fabricar uma série de incidentes para preeencher a falha. Outras fontes confirmam esta opinião. O ligro sagrado judaico, o Talmud, não se refere a Jesus seja como um nativo galileu ou como vindo de Nazaré, mas afirma dogmaticamente que ele veio do Egito. Sobretudo, e ainda talvez mais revelador, o TALMUD afirma inequivocamente que a razão para a prisão de Jesus foi uma acusação de feitiçaria e que ele era um iniciado da magia egípcia. Este conceito foi também o principal impulso para o livro de 1978 de Morton Smith ‘Jesus the Magician’, no qual ele sugere que tais milagres como transformar a água em vinho e andar sobre a água eram apenas parte do usual repertório dos conjuradores egípcios como o truque da corda indiano dos faquires Orientais. Smith dá muitos exemplos da similaridade entre os milagres de Jesus e as palavras mágicas e encantamentos encontrados em textos de papiros contemporaneos, bem como paralelos com a vida do famoso mágico Apolonio de Tiana [um contemporaneo mais jovem de Jesus] e Simão o Mago. Ambos tem sido creditados com habilidades quase identicas aquelas de Jesus. Os cristãos podem dizer que isso fosse apenas um mal entendimento da parte das massas crédulas que deram aumento a uma imagem de Jesus como um ocultista: seus milagres eram realmente o dom do Espírito Santo. Contudo, esta é uma interpretação muito subjetiva como qualquer outra e tem poucos argumentos a seu favor. E Morton Smith chama nossa atenção para um maior paradoxo da cristandade: ‘temos que reconhecer não apenas como uma tradição que tentou limpar Jesus da acusação de magia, mas também que o reverenciou como um grande mágico. Havia muitos magos ou feiticeiros itinerantes de maior ou menor celebridade no mundo greco-romano ao tempo de Jesus, e uma parte lugar comum de seu repertório era a cura e o exorcismo, como é hoje com os sagrados homens hindus e os sacerdots do vodu, entre outros. [Se as alegadas curas são genuínas é um assunto para debate, mas a surpresa das muldidões é principalmente real o bastante e a palavra de boca a boca faz muito para construir a reputação do fazedor de milagres].

Smith sugere que o termo ‘Filho de Deus’ – que sempre tem intrigado os teólogos e os eruditos do Novo Testamento, porque ele não tem precedente judeu e não era um conceito associado ao Messias – é ele próprio derivado da tradição greco-romana-egípcia. Os mágicos bem sucedidos ganhavam as habilidades deles por se permitirem tornarem-se o conduto para um deus , como acontece com os shamãs tribais. Então, Smith sugere, Jesus tornou-se Filho de Deus como resultado da possessão mágica pela deidade. O ‘milagre da água e vinho’ do casamento em Canaã tem sido mostrado ser suspeitamente similar a uma cerimônia dionisíaca realizada em Sidon, até mesmo nas palavras usadas. E, no mundo helenista, Dionisio era explicitamente associado a Osiris. Smith também cita dois textos mágicos egípcios que paralelizam a eucaristia, o ritual de tomar o pão e o vinho que é considerado tão sagrado pelos cristãos, como tendo sido unicamente instigado por Jesus. Smith diz: ‘Estes são os mais próximos paralelos conhecidos do texto da eucaristia. Nele como no deus mágico que dá seu próprio corpo e sangue ao receptor que, ao comer isso, estará unido a ele em amor. Até mesmo as palavras faladas por Jesus são similares aquelas dos textos mágicos. Há outras pistas – realmente nos próprios Evangelhos – que Jesus era amplamente pensado como um mágico em seu tempo. No Evangelho de João, as palavras dirigidas a Pilatos quando Jesus é entregue a ele é que ele era ‘um fazedor do mal’. Na lei romana isto é um termo para feiticeiro. O aspecto mais importante da pesquisa de Morton Smith neste contexto é que, embora baseada inteiramente na comparação entre os Evangelhos e papiros mágicos, suas conclusões combinam exatamente com o modo em que Jesus é retratado no Talmud judeu e iniciais escritos rabinicos. Estes nunca apresentaram Jesus como um judeu que inventou uma forma herética de judaismo, como muitos cristãos modernos acreditam que ele tenha feito. Ao invés, estes textos judeus o viam ou como um judeu que se converteu inteiramente a uma outra religião ou como alguém que nem mesmo era judeu. De fato, eles especificamente o denunciam como praticante da magia egípcia. O próprio Talmud afirma inequivocamente que Jesus passou sua idade adulta inicial no Egito e lá aprendeu magia. Em uma história da literatura rabínica, Jesus é ligado a uma figura anterior chamada Ben Stada.  Ele era um judeu que havia tentado introduzir a veneração a outras deidades pagãs ao logo daquela de Yahweh, e que tinha especificamente trazido práticas mágicas do Egito. A história enfatiza que, de um modo similar, Jesus trouxe as práticas mágicas egípcias do Egito para os judeus. Outros textos rabínicos são igualmente explícitos sobre este ponto: Jesus ‘praticava a magia e enganou e desviou Israel’. Claramente a visão de Jesus mantida por seus contemporaneos judeus era a de que ele fosse um adepto da magia egípcia. Seu crime, aos olhos deles, foi que ele tentou introduzir idéias e deuses pagãos nas terras judias. O Talmud e outras coleções de textos rabínicos podem ser rastreadas apenas ao terceiro século de nossa era, dando elevação a acusações de deliberada difamação por parte dos inimigos de Jesus, os judeus. Contudo, estas acusações do que seja essencialmente feitiçaria não podem ter se elevado de pura malícia como pode a primeira vista parecer. A acusação de feitiçaria é uma acusação curiosa para ter sido alardeada – e há evidências de que tais idéias sobre Jesus eram correntes anteriormente. Justin Martyr, escrevendo em 160 de nossa era, relata uma discussão com um judeu, Tripho, que chama Jesus de um ‘mago galileu’. O filófoso platonico Celsus, escrevendo por volta de 175 de nossa era, afirma que, embora Jesus crescesse na Galileia, ele trabalhou por um tempo como trabalhador contratado no Egito, onde ele aprendeu as técnicas da magia. Como temos visto, os escritores dos Evangelhos nada viram de vergonhoso ou chocante em registrar que os magos fizeram uma visita e prestaram homenagem a Jesus com seus presentes de ouro, incenso e mirra. Eles eram enfaticamente não meros Homens Sábios ou reis, mas membros de uma específica fraternidade oculta que se originou na Pérsia. E conquanto alguns comentadores possam tentar explicar isso como o conhecimento simbólico dos feiticeiros da superioridade do infante Filho de Deus, não há pistas de uma tal interpretação nos Evangelhos, onde a visita dos magos é claramente pretendida provocar espanto e admiração.

Morton Smith ressalta que embora a história tem tendido a minimizar isso, os cristãos mais iniciais, especialmente aqueles no Egito, praticavam a mágica. Alguns dos primeiros conhecidos artefatos cristãos são amuletos mágicos, tendo imagens de Jesus com encantamentos escritos. A implicação é clara: a primeira geração de seguidores o reconheceu como um mago, seja porque soubesse que ele era um, ou simplesmente porque ele se encaixasse no papel com perfeição. Há, contudo, um rumor muito mais sombrio que era corrente nos próprios dias de Jesus sobre seu envolvimento com feitiçaria, um que não apenas reforça aquele dos escritos rabínicos mas que, se verdadeiro, resolveria um duradouro problema bíblico. Esta acusação chocante e bizarra, que discutiremos mais tarde, pode bem provar ser a chave para muito do mistério que rodeia o relacionamento de Jesus com João Batista e a possível razão para a importância de João para os grupos ocultos através dos séculos.

Como temos visto, há paralelos notavelmente claros entre a vida de Jesus e a história de Osiris. Mas talvez até mesmo mais revelador, muitas de suas palavras reais parecem ter vindo imutáveis da tradição da religião egípcia. Por exemplo, Jesus disse (João 12:24): ‘Exceto uma espiga de trigo cai no solo e morre, ela permanece só; mas se ela morre, ela traz mais frutos’. Esta imagem e conceito vem inegavelmente do culto de Osiris. E as palavras de Jesus – ‘na casa de meu pai há muitas moradas’  (João 14:2), que tem intrigado gerações de cristãos, é explicitamente Osiriana e vem direta do Livro Egípcio dos Mortos. Mais apropriadamente chamado ‘Coming Forth By Day’, este trabalho era composto de uma série de encantamentos com os quais a alma podia superar os terrores do após vida, e era lido ao orto por um sacerdote ou sacerdotisa. O conhecimento de Jesus do ‘Coming Forth By Day’ sugere uma familiaridade não apenas com os escritos religiosos do culto de Isis/Osiris ,as também a mágica deles, como temos visto,a mágica e a religião sendo o mesmo para os egípcios. Osiris foi morto em uma sexta-feira e seu corpo desmembrado e espalhado. Depois de três dias, graças a mágica intervenção de Isis, ele ressucitou novamente, que o havia lamentado pela terra. Na anual peça de mistério Osiriana do Egito, a alta sacerdotisa que representa Isis lamentava ‘os homens maus que mataram meu amado, e onde está seu corpo eu não sei’. Quando ela finalmente reune o corpo dele, ela diz: “Tenha atenção que eu o encontrei jazendo lá – Oh Osiris . viva, levante o deafortunado que lá jaz! Sou Isis’.  O sacerdote que representa Osiris então fica de pé e se mostra aos seus seguidores, que expressam sua dúvida e espanto com a miraculosqa ressurreição. Compare a primeira sentença com as palavras de Madalena ao ‘jardineiro’ [que de fato era Jesus]: “Eles tem tomado meu senhor e não sei onde o colocaram’. [ meu senhor  eram as palavras comuns usadas por um esposa referindo-se a seu marido naquela cultura] Talvez houvesse também um ritual na tumba do Jesus no qual Madalena murmurou as palavras da deusa egípcia ants de continuar para curar seus ferimentos.

Nos mistérios dos deuses que morrem é a deusa que, com suas atendentes femininas, vai ao submundo para trazer o deus ressuscitado, e o escuro Hades foi geralmente representado como uma tumba. Como, em nossa opinião, Jesus e Maria Madalena estavam vivendo a história da morte e ressurreição de Osiris, a escolha da crucificação faz um sentido perfeito – porque a cruz já era um antigo símbolo de Osiris. Foi Maria Madalena e suas mulheres que comparecem ao funeral de Jesus, não simplesmente porque, como tem sido sugerido, era tarefa de mulheres naqueles dias, mas porque elas estavam conscientemente encenando sua própria parte na história de Osiris. Jesus estava representando o papel do deus que morre e ressuscita graças à intervenção – mágica ou outra – da sua ‘deusa’, sua parceira espiritual e sexual, Maria Madalena. Ela que foi dotada pelo seu messianismo ao ritualmente ungi-lo com o óleo de nardo, e se a idéia de que ela era rica está correta, então talvez a influência dela tornou o rito iniciático e mágico da Crucificação possível. Com sua pesada confiança no conjunto de imagens Osirianas e putativa base egípcia, Jesus pode muito bem tem passado pelos horrores da crucificação voluntariamente, mas por razões que são de certa forma ironicas considerando-se como isso é percebido pelos cristãos. Para eles Jesus é Deus encarnado, mas talvez ele acreditasse que, por uma morte simbolica e renascimento ele pudesse se tornar um deus. A Crucificação bem pode ter sido planejada deliberadamente e organizada, com a ajuda de certa quantidade de suborno, de forma que Jesus, como Lázaro, pudesse renascer na maneira da escola de mistério Osiriana, ressuscitando na forma do próprio Osiris. Isto tudo é mais provável se Jesus se considerou ser real – da linhagem de David –  porque um faraó morto automaticamente se torna um Osiris  e se torna governante dos céus e arador do submundo, pela mágica intervenção de Isis. Jesus esperava emergir da tumba imbuido do poder divino? Talvez esta idéia explique um dos mais persistentes mistérios da cristandade – se Jesus morreu ou não na cruz. Muitas pessoas acreditam que ele não morreu. Certos Evangelhos Gnósticos, o Alcorão e alguns heréticos cristãos iniciais  – e talvez o Priorado de Sião – tem tomado a opinião que um substituto [possivelmente Simão de Cirene] tomou seu lugar, enquanto outros pensam que ele sofreu a Crucificação mas foi retirado da cruz vivo e que sua ressurreição simplesmente se referiu a ele ser curado de suas feridas. Certamente Leonardo acreditou que ele tinha sido retirado da cruz e viveu; o sangue ainda estava correndo na imagem do homem em seu falsificado Sudário de Turim, e o sangue não continua a correr de um cadáver. (Até mesmo se nossa tese estiver errada, e Leonardo não tenha falsificado o Sudário de Turim, seja quem for que o tenha feito acreditava que Jesus não morreu na cruz  e se, contra toda a evidência, realmente é o Sudário de Turim o sudário de Jesus isso realmente prova que ele estava vivo na tumba].

Com certeza pode ter sido por acidente que Jesus tenha sido retirado vivo, e que a versão padrão de sua prisão e Crucificação seja o mais próximo da verdade que temos. Mas há demais objeções lógicas. As forças de ocupação romanas eram de um povo prático, e seus funcionários eram experientes torturadores e executores. Ainda que nos seja dito que eles apressadamente concluiram a execução naquela sexta-feira – quebrando as pernas dos ladrões crucificados, por exemplo, de forma que eles pudessem ser enterrados antes de começar o Sabbah. Devemos acreditar seriamente que os romanos, entre todas as pessoas, devessem se importar com a tradição judaica nesta extensão, ou se eles o fizeram, que eles de algum modo esqueceram que o anoitecer daquela sexta-feira assinalou o fim da tortura da crucificação, até mesmo embora ela tenha começado apenas algumas horas antes?  A crucificação era a pior morte imaginável porque geralmente demorava dias para que a vítima morresse. Este foi o inteiro ponto. Se assim foi neste caso, então porque alguém, sempre seria crucificado em uma sexta feira na Palestina quando eles podiam ser retirados, vivos ou mortos, no por do sol do mesmo dia? Certamente havia um julgamento e havia a crucificação. Mas parece que Jesus e seu círculo interno, que incluia a família de Bethania, deliberadaente engendrou os eventos para algum plano deles próprios. Hugh Schonfield em seu livro ‘The Passover Plot’ elegante e persuasivamente explica como isso aconteceu, mas falha em explicar porque, se o próprio Jesus estava se preparando para ser o Messias, ele devesse escolher ser crucificado, porque uma tal morte vergonhosa nunca teria sido o destino do a muito esperado herói judeu. Ainda que esta programação vá além de ter Jesus preso e crucificado. Há anomalias nos Evangelhos que levantam graves suspeitas. O comprimento do tempo empregado na crucificação de Jesus foi, como temos visto, perceptivelmente curto, e também nos é dito que, em algum lugar nos é dito, que os ladrões tiveram que receber ‘o golpe de misericórdia’ pelos soldados romanos para terminar com eles antes do Sabbah, mas Jesus simplesmente fez a eles o favor de morrer antes do por do sol. Muitas pessoas tem sugerido que alguma droga – um poderoso narcótico – pode ter sido dada a Jesus na esponja enquanto ele estava pendurado na cruz, que lhe desse a aparência de morto. Neste caso pode ser presumido que os ‘conspiradores’ tenham subornado os guardas para olhar para o outro lado. Estas pistas sugerem que a conspiração era essencialmente sobre a montagem da própria performance muito Cínica: a crucificação era o meio mais público de anunciar uma morte, e tendo feito isso, qualquer aparente retorno a vida seria considerado miraculoso. A própria natureza desta arranjo revela porque ele tinha que ser com os Romanos, não com os judeus, que tinham preso e condenado Jesus. Se os Judeus o houvessem julgado culpado ele deveria ter sido apedrejado e teria sido impossível falsificar uma morte pelo apedrejamento. Mas o que os conspiradores estavam esperando obter com este subterfúgio elaborado e arriscado? Afinal, como temos visto, um criminoso crucificado nunca poderia ser aceito como o Messias: os Judeus não esperavam que o Messias fosse crucificado nem eles o procurariam retornando dos mortos. Esta interpretação das experctativas deles simplesmente não existe. O plano, portanto, não era que se encaixase nos moldes da tradição judaica. Ainda que se conformasse a um conceito não judeu – aquele do deus que morre e ressuscita – que estava no coração dos grandes cultos das escolas de mistério. Os judeus não teriam feito nada disso: para eles havia apenas um Deus e era inconcebível que ele até mesmo tomasse parte de um culto de banho de sangue, porque eles viam qualquer coisa relacionada a tumba e a sangue como algo impuro e repulsivo. Ainda que em países do Oriente Médio e do Mediterraneo daquela época abundassem a veneração de tais deidades. Não pode ser ressaltado demais que a história da morte e ressurreição de Jesus seja única. No contexto da proliferação dos cultos dos deuses que morrem e rensacem naquele tempo, ele obviamente estava pretendendo ser associado a um deles. Mas a qual? E o que ele esperava ganhar com este plano doloroso e perigoso? Como já temos visto, os gritos de Jesus na cruz foram interpretados como sendo ‘Helios! Helios!’ (‘Oh Sol! Oh Sol!’). A morte de Osiris é tradicionalmente representada como um sol negro – em outras palavras, o abandono da luz, que tem ao menos igual declaração do grito de Jesus “Oh Sol! Oh Sol! Porque me abandonaste?’. Certamente parece que Jesus estava vivendo a história de Osiris na quela sexta-feira a muito tempo atrás.

Há muitos perguntas irrespondíveis que cercam a Ressurreição, assumindo que a idéia cristã da real morte de Jesus e literal ressurreição esteja errada. Por exemplo, em que estado ele estava quando retirado da cruz, – ele estava em coma na tumba ou simplesmente ferido mas consciente? O que aconteceu a ele então? Ele, como alguns tem sugerido, deixou a Palestina e viajou para lugares distantes, tais como a Índia? E o que aconteceu com o seu relacionamento com Maria Madalena, porque parece que ela navegou para o Gaul sem ele? Seja qual for a verdade sobre o assunto, o Jesus dos Evangelhos desaparece da história depois de sua alegada ressurreição. Essencialmente, os Evangelhos se desmoronam depois da descoberta da tumba vazia. As narrativas do Novo Testamento dos aparecimentos do Jesus ressuscitado a seus discípulos e alegada assunção ao céu são uma confusão sem esperança – inconsistentes até mesmo como mitos. Com certeza os não cristãos tomaram este ângulo das histórias como provas de sua fabricação, e certamente concordariamos com isto. Ainda que a despeito desta confusão, como ressalta Hugh Schonfield, uma fonte possa ser claramente discernida: o encontro de Jesus ressurrecto com dois discípulos na estrada de Emmaus foi tomado do trabalho Isiano de Lucius Apuleius, ‘The Golden Ass’. Embora o conceito de uma futura ressurreição corporal seja parte da crença judaica, o que aconteceu quando Jesus foi alegadamente ressuscitado certamente não se conforma ao pensamento judeu. A visão tradicional é aquela de que todos os justos serão resssuscitado no fim dos tempos. Jesus aparentemente desafiou este plano ao ser restaurado à vida enquando seus companheiros ainda estavam se decompondo em suas tumbas. Então ele ascendeu ao céu, não deixando para trás qualquer resto corporal, embora ele prometesse que seu ego espiritual estava prontamente disponível a seus seguidores – de fato, esta continuada presença espiritual foi uma das principais razões porque a novata religião cristã se mostrou tão atraente ao mundo romano, e muito grandemente porque ainda tem tal influência sobre milhões de corações e mentes. Como ressalta Karl Luckert, os comentadores modernos, conquanto reconhecendo que este conceito da continua presença espiritual de Jesus não é judaico, não fornecem qualquer idéia de ser verdadeiro contexto e base. Então de onde veio esta idéia? A análise erudita de Luckert mostra conclusivamente que os conceitos gemeos da única ressurreição de Jesus e sua continuada presença podem ser rastreados sem sombra de dúvida a teologia egípcia. Como ele explica, a antiga teologia egípcia: ‘tornou possível acreditar que o Filho de Deus se elevou dos mortos e assim retornou ao Pai. Isto explicou também porque, por um tempo, antes que ele completamente ascendesse aos céus, algumas de suas aparições de Cristo possam ter sido vistas. Também em sintonia com a lógica egípcia era a noção que, até mesmo embora Cristo Jesus tivesse agora retornado ao Pai ele não obstante permanece eternamente presente entre seus seguidores. Mais uma vez, vemos estes conceitos que são centrais a religião cristã – que a muito tem sido acalentados como evidência da singularidade de Jesus e de sua divindade – cujo salto não foi completamente formado por sua vida e ensinamentos. Nem eles eram nascidos de algum tipo de judaismo herético como é tão frequentemente evocado para explicar sua geneses.

O conceito de ressurreição individual e da vida eterna do espírito na vida depois da morte veio do Egito: lá ele era aceito como um fato dado. E a noção da presença contínua e confortadora  do espírito depois da morte foi diretamente retirada das crenças que cercam a morte do faraó, que era pensado guiar o povo a partir do mundo invisível. Temos visto como os eventos cruciais da vida de Jesus parecem se encaixar na história de Osiris, e como o papel de sua parceira, Maria Madalena, combina com aquele de Isis. Enquanto o arquétipo de Osiris claramente combine com o cumprimento consciente de seu papel por Jesus – ao morrer em uma sexta-feira sendo lamentado por Isis e voltando a vida três dias depois – foi a deusa cuja mágica tornou possível a ressurreição. O papel dela não era um papel subordinado e não pode ser super enfatizado. Isis era vista como a Criadora: como disseram as escrituras egípcias: ‘No início  havia Isis, a Mais Velha do Velho’. Ela era a deusa de ‘quem todas as coisas se elevam’ e uma evocação tradicional diz: “vóis que sois o criador de todas as coisas”. Mas muito mais do que isso, Isis – e não Osiris – era o Salvador original, sendo descrita por Aristides, um iniciado nos mistérios dela, como ‘a Luz e outras coisas inexprimíveis conduzindo à salvação’, enquando Lucius Apuleius se dirigiu a ela assim: “Oh vós Sagrada e Eterna Salvadora da raça humana – vós que dais luz ao sol – Vós que percorreste a morte sob os pés’. Os eruditos aceitam que os cristãos iniciais absorveram certos aspectos do culto de Isis em seu próprio movimento, tal como o conceito que uma crença na deusa conferia vida eterna. Eles também se apoderaram de muitos dos templos dela. Um de tais templos era em Sais, uma velha capital do Egito, que se tornou a Igreja da Virgem Maria no século III. Uns mil anos anteriormente, como um templo para a grande deusa Isis, ele tinha carregado a inscrição: “Sou tudo que era, que é, e que será’. – que muito mais tarde encontrou seu caminho no Livro da Revelação (1:8) como palavras de Yahweh. A influência do culto de Isis pode ser abertamente encontrada até mesmo nos Evangelhos canonicos. Por exemplo, um dos dizeres mais famosos de Jesus é ‘venham a mim todos vocês que estão pesadamente carregados e eu vos refrescarei’. Por causa de sua oferta de conforto e amor no meio da luta pela vida, isso é encontrado frequentemente em avisos fora das igrejas e prefixado com a frase: ‘Jesus disse’. De fato, a própria frase – palavra por palavra – foi levantada inteiramente dos dizeres de Isis. E ela ainda pode ser vista nas portas de um templo dedicado a ela em Dendera. De qualquer modo, o socorro oferecido na sentença é certamente aquele de uma mãe. Se, como acreditamos, Jesus e Maria Madalena eram iniciados dos mistérios de Isis e Osiris então a ‘cristandade’ pode ter sido muito diferente desta religião patriarcal temerosa de deus que logo se tornou. E sua base essencialmente pagã finalmente lança alguma luz sobre os mais persistentes enigmas do Novo Testamento. O dilema básico sempre tem sido reconciliar a existência de um Jesus histórico com os óbvios elementos das escolas de mistério egípcias sobre ele. Como um resultado direto deste problema, os comentadores tem se comportado de dois modos: ou, como Ahmed Osman, eles tem concluido que Jesus não existiu ou, como A.N. Wilson, eles mantém que as referências as escolas de mistério nunca fizeram parte da história original, mas foram acrescentadas mais tarde. Contudo, estes dois elementos aparentemente irreconciliáveis podem, como temos demonstrado, fazer sentido quando reunidos.

A assunção que Jesus era da religião judaica é o que tem evitado uma solução clara e simples de ser reconhecida. Se, por otro lado, a religião dele veio de fora da tradição judaica, então tudo entra no lugar. Isto não é uma declaração de que os discípulos de Jesus não fossem judeus, ou que ele deliberadamente não tivesse por alvo os judeus em sua campanha. Ainda que, como temos visto, é evidente que havia um ‘fantoche-mestre-grupo’ por trás do movimento, parte do qual quase certamente era a família de Bethania. O movimento de Jesus compreendia um círculo interno e um externo, as versões esotérica e exóteríca do culto. Ironicamente, a maioria dos discípulos e fontes de que foram restirados os Evangelhos pertencia ao círculo exotérico, o grupo que Jesus deliberadamente mantinha no escuro sobre sua verdadeira mensagem e agenda. Tão radical e bizarro quanto isso possa a primeira vista parecer, esta é precisamente a situação que é repetidamente retrada nos Evangelhos – na qual discípulos como Pedro frequentemente se confessam intrigados e completamente perplexos sobre os ensinamentos de Jesus e as intenções dele. Mais crucialmente, o círculo externo de discípulos estava incerto sobre as ambições de Jesus e até mesmo seu verdadeiro papel. Os eruditos tem se confessado intrigados com a questão básica de como – entre tantos cultos de Messias naquele tempo e lugar – a cristandade deva ter sido aquele que floresceu e sobreviveu. Como temos visto, a razão pela qual o movimento de Jesus foi quase que o único grupo a ganhar uma base duradoura fora da Judéia foi que ele já era recohecível como um culto de mistério. O segredo deste apelo foi que ele era essencialmente uma mistura híbrida de certos aspectos do judaismo e elementos pagãos das escolas de mistério. O cristianismo era único porque era confortadoramente familiar a muitos judeus e também aos gentios, enquanto ao mesmo tempo fosse excitantemente diferente. A cristandade como uma nova religião foi criada da dinâmica que se elevou na medida em que muitos convertidos étnicos e religiosos lutavam para fazer seu próprio tipo de sentido a partir de elementos individuais – e frequentemente contraditórios – do híbrido. Os seguidores constantantemente enfrentavam a luta de forçar o arquetípico deus morto e ressuscitado no molde clássico do Messias e vice versa, e é esta mistura impossível que tem vindo a ser a Igreja de Cristo. Com certeza muitos podem discutir a base egípcia da cristandade, citando o tom geralmente judaico dos Evangelhos. Isto, eles ressaltam razoavelmente, é toda a evidência que temos para a natureza da religião inicial e isto certamente implica em ter raízes judaicas. Contudo os Evangelhos do Novo Testamento não compreendem a única evidência disponível, embora eles sejam tudo que a Igreja preferiria que tivéssemos. Como temos visto, um grande corpo de trabalho conhecido como Evangelhos Gnósticos tem sido deliberadamente retirado dos cristãos por muitos séculos, e a imagem que eles acrescentam da cristandade mais inicial certamente não é aquela de uma seita cismática judaica. O que os Evangelhos Gnósticos descrevem é uma escola de mistério. Eruditos tais como Jean Doresse – em seu estudo dos documentos de Nag Hammadi – reconhecem a penetrante influência da teologia egípcia nos escritos gnósticos. De tempos em tempos novamente nestes Evangelhos a tanto tempo ignorados, encontramos óbvios conceitos egipcios. Isto é mais notável em Postis Sophia, a cosmologia que combina com aquela do Egípcio Livro dos Mortos. Os Evangelhos Gnósticos até mesmo empregam a mesma terminologia: por exemplo, eles usam a palavra egípcia para inferno –  Amente. Por séculos os cristãos tem entendido que os Evangelhos do Novo Testamento estão ‘certos ‘ – historica e espiritualmente – enquanto os Livros Gnósticos estão ‘errados’. Mateus, Marcos, Lucas e João são acreditados terem sido divinimante inspirados enquanto os outros [se afinal conhecidos] são amplamente vistos como sem lógica. Ainda que, como temos estado a mostrar, há razões compelentes para considerar os trabalhos gnósticos como no mínimo tão merecedores de nossa atenção. Os Evangelhos Gnósticos foram rejeitados pelos Pais da Igreja por razões de auto-preservação, porque estes escritos apresentavam uma imagem muito diferente da cristandade, uma que não seria do interesse deles apoiar. Não apenas estes livros suprimidos tendem a ressaltar a importância de Maria Madalena [e outras mulheres discípulas] mas eles também apresentam uma religião que tem suas raízes – diferente dos livros do Novo Testamento – na teologia egípcia. A cristandade não foi pretendida ser um patriarcado e nem um desenvolvimento, contudo herético, do judaismo. Isto não é negar que os Evangelhos do Novo Testamento foram escritos pelos seguidores judeus de Jesus, mas, ironicamente, eles parecem ser aqueles com menor compreensão do que ele buscava, aqueles que tentaram explica-lo em seu próprio contexto cultural e religioso. Por outro lado, parece que os Evangelhos Gnósticos apresentem uma imagem mais autêntica das origens da religião deles – e até mesmo da própria base e crenças de Jesus. Mas a questão permanece: O que Jesus e seu círculo interno esperavam ganhar ao disseminar o que essencialmente era uma mensagem pagã na terra natal do judaismo?

A religião original dos hebreus era, como todas as outras culturas antigas – politeísta – venerando deuses e deusas. Somente mais tarde Yahweh emergiu como uma deidade proeminente e os sacerdotes efetivamente reescreveram sua história para apagar – não muito compreendivelmente -, a anterior veneração a deusas. [E como um resultado, o status da mulher declinou agudamente como o fez na cristandade inicial e pela mesma razão]. O antropologista hungaro e erudito bíblico Raphael Patai, em seu maior trabalho ‘The Hebrew Goddess’, tem conclusivamente demonstrado que os judeus uma vez veneravam uma deidade feminina. Entre muitos exemplos ele cita a veneração da deusa hebraica no que é relativo ao Templo de Salomão: a despeito da tradição, ele não foi construído para honrar apenas a Yahweh, mas também para celebrar a deusa Asherah. Patai diz: ‘ a veneração de Asherah como consorte de Yahweh – era um elemento integral da vida religiosa no antigo Israel antes das reformas introduzidas pelo Rei Josias em 621 AC. O Templo de Salmão foi construído sobre o modelo dos templos fenícios que por sua vez eles próprios eram modelados naqueles do Egito antigo. E vários eruditos acreditam que as imagens gravadas na Arca da Aliança realmente apresentassem Yahweh e sua deidade feminina. Os querubins apresentados na Arca eram também imagens da deusa – gravações de dois querubins encontrados no palácio do Rei Ahab na Samaria são idênticas as representações clássicas de Isis.  Heréticos, os judeus que veneravam a deusa continuaram a florescer por muitos anos em várias áreas, notavelmente no Egito. Até mesmo na corrente principal do judaismo a deusa permaneceu ‘encoberta’ em duas formas principais. Uma é da personificação de Israel em uma mulher, a outra, a fugura da Sabedoria – em hebreu, Chokmak – em grego, Sophia. Embora geralmente explicado como uma alegoria para a divina sabedoria de Deus é claro que Chokmah tem um outro significado: a sabedoria é retratada como feminina e como tal tem co-existido com Yahweh desde o início. Esta figura agora é amplamente reconhecida ter suas origens nas deusas das culturas adjacentes. Em particular, Burton L. Mack tem descobero a influência das deusas egípcias Ma’at e Isis. Pelo tempo de Jesus o judaismo não tinha perdido completamente suas origens pagãs; em qualquer caso, os judeus convertidos a religiões estrangeiras durante os períodos de dominação grego e romana – por exemplo, a Revolta dos Macabeus de meados do século II foi grandemente por causa da rixa causada pelos judeus apóstatas que veneravam , entre outros deuses, Dionísio. O elemento pagão de veneração da deusa do judaismo herético pode explicar muito sobre Jesus, seus verdadeiros motivos e sua motivação. Sem esta consideração há uma aparente contradição: conquanto, se tomado isoladamente, virtualmente tudo que Jesus disse ou fez pode ser remontando a uma escola de mistério – mais provavelmente aquela de Isis e/ou Osiris – ainda há evidência que ele conscientemente desempenhou o papel do Messias Judeu e que a maioria das pessoas que o seguiam acreditavam nele como sendo o seu rei. Até mesmo eruditos muito respeitados tem rejeitado todo material messianico quando ele falha em se encaixar nas hipóteses deles: se eles estão corretos em assim o fazer então Jesus certamente era um iniciado de uma escola de mistério. Mas para nós, a rejeição deste material é insatisfatória, porque isto significaria que vários episódios dos Evangelhos- tais como a entrada de Jesus em Jerusalém  montado em um asno -, são completas fabricações. Embora haja algumas histórias demonstravelmente ficticias nos Evangelhos [principalmente relativas a infância de Jesus] há uma evidência persuasiva que estas partes em particular sejam autênticas. Como temos visto no Capítulo Onze, os eventos que levaram a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém parecem ter sido pré arranjados, por exemplo, o fornecimento do asno no qual Jesus montaria e entraria na cidade para cumprir as profecias messianicas. A evidência deste pré arranjo está dentro das narrativas dos próprios Evangelhos, ainda que os escritores não entendam claramente sua importância. Se os escritores dos Evangelhos tivessem criado este episódio, eles certamente não teriam inventado tal evidência.

Então quais eram as metas reais e os motivos de Jesus? Pode ser que ele estivesse usando a mania messianica corrente naquele tempo para reintroduzir a veneração a deusa – afinal, até mesmo se ele fosse realmente, como foi afirmado em seu benefício, da linhagem real de David, isto dificilmente seria um obstáculo, porque o próprio Rei David havia sido um venerador da deusa, como o tinha sido o Rei Salomão. Talvez Jesus fosse um sacerdote Isiano que estivesse tentando apresentar uma versão aceitável da religião de Isis e Osiris aos judeus, ou usar a ansiedade por um Messias para posteriores planos mais secretos a longo prazo que envolviam iniciações esotéricas, talvez culminando na Crucificação. E, como ‘Jesus o Nazareno’ ele era parte da família ‘primitiva’ das seitas judaicas heréticas que são acreditadas terem passado da forma original da religião. Apenas podemos especular sobre a natureza das crenças Nazarenas, mas onde diga respeito a Jesus, elas claramente combinam com suas convicções das escolas de mistério. Seja qual for a verdade sobre este assunto, Jesus era não apenas tanto o Filho de Deus quanto o devotado Filho da Deusa. A idéia de que Jesus estivese tentando reintroduzir a veneração da deusa junto ao povo de Israel se encaixa notavelmente bem neste caso. Esta também é precisamente a idéia atribuída a Jesus no Levitikon, este texto chave do movimento Joanita.  Nele Jesus é um iniciado osiriano que entende que a religião original de Moisés e das Tribos de Israel era aquela do Egito e que os judeus haviam esquecido que também existia uma deusa. De fato, nada disso acrescenta uma prova definitiva, mas há – como devemos ver no próximo capítulo -, um forte apoio para sua hipótese de algumas partes muito surpreendentes.

Tão surpreendente quanto isso agora possa parecer, as similaridades entre a cristandade inicial e a veneração de Isis e Osiris foram realmente reconhecidas pela Igreja inicial. De fato, as duas religiões eram abertamente competidoras pelos corações e mentes do mesmo povo; fora a insistência dos cristãos em que seu fundador tinha sido um homem real, as doutrinas deles eram virtualmente idênticas. O culto de Isis que existiu ao tempo de Jesus não era precisamente o mesmo que floresceu no Egito antes da elevação do império helenista  – os atributos dela tinham mudado na medida em que ela absorvia aqueles de outras deusas. No século IV AC durante o governo grego do Egito, um novo culto de Isis e Serapis [a forma grega de Osiris] emergiu, que era essencialmente uma mistura de separadas escolas de mistério. Este culto alcançou Roma antes do ano 200 AC já havendo cortado o império. O maior centro de culto, contudo, permaneceu no Egito, em Serapium na Alexandria, enquanto havia um outro centro em Delos. As classes inferiores de Roma amaram o culto de Isis e o abraçaram de todo coração. Tais movimentos de massa sempre eram tratados com suspeita pelas autoridades, que viam neles o potencial para uma subversão em grande escala, e então os Isianos em Roma sofreram constantes perseguições. Finalmente, o Senado ordenou a destruição dos templos de Isis e Serapis em Roma, mas, a despeito do pleno conhecimento de suas consequências, nenhum trabalhador pode ser encontrado para fazer o trabalho. O culto foi oficialmente abolido por Julius Caesar. Contudo, em 43 AC o triunvirato inesperadamente ordenou a construção de um novo templo de Isis-Serapis. Isto pode ter sido o resultado direto da notória ligação entre Marco Antonio e Cleopatra – ela frequentemente tinha sido representada como Isis e seu amado como Osiris ou Dionisio. O proprio Marco Antonio preferia ser conhecido como o Novo Dionísio. Durante o reinado dela, Cleopatra se assegurou que a veneração a Isis fosse a religião nacional do Egito. A mais severa perseguição aos Isianos veio sob o Imperador Tiberius em 19 de nossa era, quando seus sacerdotes foram crucificados e 4.000 deles foram exilados. Este perseguição coincidiu com aquela dos judeus em Roma. A razão para esta super reação dupla não está clara. Josephus registra a história e atribui a isso a um escândalo no qual um sacerdote Isiano ajudou um nobre a seduzir a esposa de um outro homem no templo deles, mas dado os usuais padrões de moral da alta sociedade romana isto dificilmente teria causado uma sobrancelha levantada. Parece que Josephus estava tentando fazer uma distinção entre a perseguição aos Isianos e aquela aos judeus, mas a razão real parece que os primeiros  tinham estado envolvidos em um distúrbio civil.

Algo não usual estava acontecendo na religião Isiana naquele tempo. Como R. Merkelbach, escrevendo em ‘Man, Myth & Magic’, diz: Está claro que a ‘igreja’ de Isis tinha uma ‘missão’ durante o período imperial. Entretanto não há dúvida de que a prppaganda estava sendo disseminada. No século I a fortuna sorriu ao culto, e ele ganhou algum apoio entre as classes superiores e até mesmo entre imperadores. Caligula, contudo, que dificilmente seria um bom exemplo, promoveu a construção de templos e estabeleceu festivais Isianos. Claudius e Nero foram ambos atraídos pelos cultos de mistério em geral, e expressarm interesse naquele de Isis. Vários imperadores posteriores foram devotos. A veneração de Isis continuou abertamente até o fim do século IV mas seu maior rival era a cristandade. Em 391 de nossa era os cristãos destruiram Serapeum em Alexandria e tomaram medidas para suprimir o culto onde quer que o encontrassen. O último festival Isiano dos velhos dias foi celebrado em Roma em 394. Porque o culto de Isis era tão popular e o que ele tinha a oferecer a seus seguidores? Como temos visto, ele dizia respeito a salvação e redenção pessoal, e dotava seus devotos das bençãos de uma vida eterna. Como diz Sharon Kelly Heyob em ‘The Cult of Isis among Women in the Graeco-Roman World’ (1975): Isis eventualmente se tornou uma deusa salvadora no essencial sentido da palavra. A redenção individual podia ser alcançada pela participação nos mistérios dela. A crença que a imortalidade podia ser obtida era a mais persistente de suas doutrinas. Conquanto Merkelbach diga do culto de Isis: Ele era popular porque apelava ao desejo de salvação pessoal [como o cristianismo]. Os pecados eram confessados e perdoados através da imersão na água.  S.G.F. Brandon ressalta que os dois conceitos – a imersão para simbolizar a purificação espiritual e a consequente regeneração – eram reunidos no Egito nos rituais da escola de mistério de Osiris, e que: Este processo duplo para o alcance de uma imortalidade abençoada não é encontrado novamente até a emergência do cristianismo. De fato, há estreitos paralelos entre a descrição do batismo como é dada por Paulo e aquele das escolas de mistério de Osiris. Como no cristianismo, a salvação pessoal estava ligada ao arrependimento. De fato, no posterior mundo romano, somente estas duas religiões partilhavam desta ênfase no arrependimento. Há uma similaridade desconcertante e única entre as práticas do culto de Isis e a posterior cristandade católica. Este era o conceito da confissão: o devoto devia admitir um mal feito a um sacerdote que então faria um pedido a Isis em benefício dele pelo seu perdão. Um outro costume que os cristãos iniciais partilhavam com os Isianos – a despeito da má interepretação moderna – é a papel ativo desempenhado pelas mulheres, embora alguns estimem que o número de sacerdotes superasse o de sacerdotisas. Até mesmo assim, em termos de participação e status espiritual os sexos eram considerados iguais. O culto de Isis geralmente enfatizava o aspecto maternal da deusa, celebrando os atributos dela como esposa e mãe, embora não negligenciasse outros aspectos da natureza feminina. Consequentemente, como temos visto, a trindade familiar de Isis – Isis, Osiris e Horus – exercia uma potente influência sobre a vida familiar dos veneradores: homens, mulheres e crianças igualmente sentiam que eram entendidos por seus deuses.

A laicidade [os leigos] em geral desempenhavam uma parte muito ativa na religião – diferente do controle total exercido pelos sacerdotes homens de Roma – e havia muitas associações ‘leigas’ ligadas aos templos. Sexualmente, os Isianos eram encorajados a serem monógamos e manter a santidade da família. E embora vários autores romanos os condenaram por comportamento imoral, os mesmos escritores se queixaram sobre os períodos regulares de abstinência sexual exigidos de suas mulheres veneradoras de Isis. No auge egípcio de sua religião, a maior celebração Isiana ocorria em 25 de dezembro, quando era comemorado o nascimento de Horus, filho de Isis e então, doze dias depois, em 6 de janeiro, aquele de seu outro filho Aion. Ambas datas tem sido tomadas pelos cristãos – a Igreja Ortodoxa celebra o Natal em 6 de janeiro. No Egito, os cristãos do século IV celebravam a epifania de Jesus neste dia, também adotando elementos do festival de Aion, incluindo ritos de batismo usando água do Nilo. Em ‘Man, Myth & Magic’ , S.G.F. Brandon nota ‘a evidente influência do festival de Isis nos populares costumes cristãos associados com a epifania. Contudo, muitos cultos de mistério dos tempos de Jesus envolviam práticas similares. Por exemplo, o geralmente declarado que seus iniciados ‘nasciam novamente’ e como diz Marvin W. Meyer em seu ‘The Ancient Mysteries : Ordinariamente, eles [os iniciados] partilham a comida e a bebida nas celebrações rituais, e algumas vezes eles podem ter vindo a ser um com o divino pela participação na refeição sacramental análoga a eucaristia cristã. As selvagem maneads [veneradoras] de Dionisio, por exemplo, eram ditas devorarem carne crua de um animal em sua omofagia, ou festa de carne – as descrições da carne crua sugerem que os participantes acreditavam estarem consumindo o próprio deus. Nos mistérios de Mitra, os iniciados partilhavam de uma cerimonia que era tão reninescente da ´ceia do Senhor´ cristã  que se mostrou ser um embaraço para o apologista cristão Justin Martyr. Segundo Justin o Mitraismo come pão e bebe água [ talvez uma mistura de agua e vinho] em uma imitação diabólica, ele apressadamente acrescenta, da eucaristia cristã.  Ainda que não importe quão similar outros cultos de mistério pareçam ser da cristandade inicial e dos ensinamentos de Jesus, é este de Osiris que tem, como temos visto, a maior afirmação de ser sua mais direta inspiração. S.G.F. Brandon descreve Osisis como ‘ um protótipo de Cristo’. A história da Igreja inicial no Egito é muito sugestiva onde diga respeito a similaridades entre o cristianismo e o culto da escola de mistério de Isis/Osiris. Os historiadores reconhecem que há um grande mistério sobre as origens e desenolvimento do cristianismo no Egito: tudo que eles podem ter por certo é que este era uma própria prole inicial do movimento. De fato, para uma metropole tão grande e influente, Alexandria é virtualmente ignorada pelos escritores do Novo Testamento, sendo mencionada apenas uma vez. [Mas esta referência, como devemos ver, é de importância particular para esta investigação]. Há também uma completa ausência de registros escritos sobre a Igreja até o século III: os eruditos atribuem isso a uma destruição por atacado dos arquivos pela dominante facção cristã. Claramente há algo anomalo sobre o ramo egípcio do movimento. Talvez uma pista sobre sua natureza esteja implícita no fato que quando Serapeum foi destruida em 391 muitos dos veneradores foram para a Igreja Copta Cristã. A Igreja Copta Cristã permaneceu uma entidade distinta, independente da Igreja de Roma e da Igreja Ortodoxa Oriental. Significativamente, suas doutrinas são uma mistura óbvia de tradicionais crenças egípcias e cristãs e as duas foram assimiladas com extraordinária facilidade. Depois que a Igreja Copta adoto a ANK [a cruz egípcia] como seu símbolo, ela a usa até hoje. E Mircea Eliade afirma claramente: “Os coptas se vêem como os verdadeiros descendentes dos antigos egípcios’. Foi ao mesmo tempo e no mesmo lugar que tantas peças essenciais de nosso quebra-cabeças estavam sendo criadas. A Alexandria daquele tempo era crucial para a síntese de muito conhecimento e muitas idéias, das quais veio o hermeticismo, o gnosticismo dos textos de Nag Hammadi e a alquimia em sua forma ‘moderna’. Eles eram, em essência, todos expressões da mesma ênfase no poder transcendental do Feminino, e a magia de mesclar a deusa com o deus dela.

O fato triste é que, conquanto todas as conexões entre o cristianismo e a religião de Isis/Osiris tem sido conhecidas pelos eruditos por ao menos sessenta anos, poucos cristãos tem sabido sobre elas. Com certeza ele podem não se importar que Jesus tenha sido um de uma longa lista de salvadores, porque para eles a fé é mais importante do que o fato histórico. Por outro lado, muitos cristãos modernos tem se sentido distintamente trapaceados pela Igreja quando eles próprios fazem estas descobertas. O Cristianismo não é a religião fundada pelo único Filho de Deus que morreu por todos os nossos pecados: era simplesmente a veneração da religião de Isis/Osiris reempacotada. Contudo, isto rapidamente se tornou um culto de personalidade, centrado em Jesus. Mas se ele era essencialmente um missionário egípcio, ele era simplesmente um trabahador abnegado em benefício de seus deuses? Era suficiente para Jesus alcançar os corações e almas das massas? Há algo faltando na imagem, algo central ao nosso entendimento tanto do homem quanto de sua missão. Claramente Jesus também tinha os olhos postos em uma meta mundial: havia uma agenda política que correu paralela a suas ambições como prosélito Isiano/Osiriano. Não foi acidente que ele fosse um líder proeminente e que ele levou sua mensagem a várias partes da Palestina alcançando o máximo possível de pessoas. Naquele tempo e lugar a política e a religião eram inseparáveis. Se você fosse um grande líder religioso então você também era um poder político a ser reconhecido.     Contudo, toda campanha com tais altas apostas inevitavelmente enfrenta desafios a sua própria liderança; vozes se elevam em dissidência. Neste caso a voz foi uma que veio antes, uma que podia ser ouvida gritando no deserto. E é a esta voz – João Batista – que agora nos voltamos. Na Parte Um identificamos dois fios principais – centrados em Maria Madalena e João Batista – que corre, como outras correntes subterrâneas, por todas as heresias que temos investigado. E claramente ambos os fios ocultam conhecimento poderoso e perigoso, algo que ameaçaria as próprias fundações da Igreja se fosse tornado público. Certamente no caso de Maria Madalena  a nossa investigação tem mostrado isto ser verdadeiro. Ela própria agora é revelada como uma maior chave para os próprios segredos a muito escondidos de Jesus. Por meio dela nós finalmente vemos que ele foi um sacerdote de uma religião egípcia, um adepto mágico que ela iniciou por meio do rito do sexo sagrado. Não apenas ela representou a tradição pagã a que ela e Jesus pertenciam; no que diz respeito a maioria do subterraneo herético. Maria Madalena era a deusa Isis. Mas os heréticos também mantiveram um outro fio de segredos estreito em seus corações; e este estava encorporado e codificado na figura de João Batista. E exatamente como no caso de Madalena, ele era uma pessoa real que conheceu e interagiu com Jesus. Então que revelações ele tinha a oferecer?

CAPÍTULO QUATORZE
JOÃO CRISTO

Quando pesquisamos o papel de Leonardo da Vinci na falsificação do Sudário de Turim ficamos surpresos de quão frequentemente João Batista aparece na história. Não apenas o próprio artista era um grande admirador do santo, ms muitos dos lugares ligados aos artista eram, talvez coincidentemente, dedicados a ele. Sobretudo entre eles a mais amada cidde de Leonardo, Florença, que tem o extraordinário batistério em seu coração. Em 1995, quando faziamos um documentário para a televisão sobre o Sudário, nós o visitamos com uma equipe de filmagem, que, pelo nome mágico de BBC é um real ‘abre-te sézamo’ que assegurou que tivessemos o lugar para nós mesmos por algum tempo antes que as portas fossem abertas ao público. O Batistério é uma estranha construção octogonal que data do período da Primeira Cruzada e bem pode dever sua forma não usual aos Templários que [bem como suas caraterísticas igrejas redondas] também promoviam a forma octogonal baseado no que eles acreditavam ser a do Templo de Salomão em Jerusalém. Nós tinhamos especialmente querido ver isso porque a única escultura sobrevivente de Leonardo [um trabalho conjunto com Giovanni Francesco Rustici] decorou uma parede externa desta estranha construção octogonal. Ela era, de fato, uma estátua de João Batista. E como nas apresentações de João por Leonardo, ele é mostrado com seu indicador direito levantado. Como temos visto, a heresia européia é parcialmente centrada em Batista, embora as  razões reais  para isto sejam deliberadamente mantidas não esclarecidas; de fato, até mesmo quando começamos a pesquisar este assunto a alguns anos atrás, logo se tornou aparente que isto constituia um círculo interno de tais organizações como os Cavaleiros Templários e os Maçons Livres. Mas porque é ainda considerado prudente manter este segredo tão zelosamente guardado?

A tradicional visão cristã de João Batista é bastante direta. É concordado que seu batismo de Jesus marcou o início do ministério de Jesus – de fato, dois dos evangelhos canonicos começam com João pregando no Rio Jordão. A imagem que os escritores conjuram sobre João é aquela de um asceta evangelizador feroz que emergiu de uma existência de tipo eremita no deserto para chamar o povo de Israel a se arrepender de seus mal feitos e ser batizado. Desde o início, há algo tão descomprometido e frio sobre João que deixa o leitor moderno desconfortável; de fato, nada há nos evangelhos para justificar uma extrema veneração demonstrada a ele por gerações de heréticos – certamente aquela que é mostrada por homens de tal intelecto supremo como Leonardo da Vinci. As narrativas do dos evangelhos, de fato, revelam pouco sobre o Batista. Elas nos contam que o batismo era realizado como um sinal externo de arrependimento, e que muitos responderam ao seu chamado e foram ritualmente imersos no Rio Jordão – inclusive Jesus. Segundo Mateus, Marcos, Lucas e João, o Batista proclamou que ele era o único precursor do profetizado Messias, e que ele tinha reconhecido que Jesus era esta figura. Tendo cumprido seu papel, ele esmaece quase inteiramente da imagem, embora hajam implicações que ele continuou a batizar por um tempo. O Evangelho de Lucas diz que Jesus e o Batista eram primos, e, interligado com a narrativa da concepção e nascimento de Jesus, dá uma descrição daqueles de João – que paralelizam Jesus mas são marcantemente menos miraculosos. Os pais de João, o sacerdote Zacarias e Isabel não tinham filhos e estavam em idade avançada, ainda que tenham sido informados pelo anjo Gabriel que eles tinham sido escolhidos para terem um filho, e logo depois a pós menopáusica Isabel concebe. Isabel estava grávida de seis meses naquele tempo e na presença de Maria em sua casa a criança ‘saltou’ em seu útero’. Então ela sabia que a criança de Maria seria o Messias. Isabel louva Maria que a inspira a proclamar a canção que é conhecida como ‘Magnificat’. Lemos nos Evangelhos como, pouco depois dele ter batizado Jesus, João foi preso por ordens de Herodes Antipas e aprisionado. A razão dada é que João tinha abertamente condenado o recente casamento dele com Herodias, a ex esposa de seu meio-irmão Felipe – um casamento que, desde que ela havia primeiro se divorciado de Felipe, era contra a lei judaica. Depois de um período não especificdo na prisão, João foi executado. Na historia familiar, a filha do casamento anterior de Felipe, Salomé, dança para seu padrastro no dia da festa do aniversário dele, e ele fica tão encantado que promete a ela seja o que for que ela desejar, até ‘metade de seu reino’. Por conselho de Herodias, ela pede a cabeça de João Batista em um prato. Incapaz de voltar atrás em sua palavra, Herodes concorda relutantemente – tendo vindo a admirar o Batista – e João é decapitado. É permitido a seus discípulos levarem o corpo dele para o funeral, embora se isto incluiu a cabeça não foi esclarecido. A história tem tudo – um rei tiranico, uma madrastra perversa uma jovem dançarina núbil e a morte horrível de um famoso homem santo – e portanto tem fornecido material fértil para gerações de artistas, poetas, músicos e teatrólogos. Parece ter um fascínio eterno, o que seja talvez curioso para um epiódio que consistem em uns poucos versos do Evangelho. Duas adaptações em particulares audiências escandalizadas no início do século XX: a ópera de Richard Strauss, ‘Salomé’ retratou uma jovem promíscua que tenta seduzir João na prisão e, quando desdenhada, exige sua cabeça como vingança e então beija os lábios sem vida triunfantemente depois. A peça de Oscar Wilde de mesmo nome teve somente uma apresentação devido ao horror levantado por sua pré publicidade, que se centrou principalmente no fato de que ele mesmo representou o papel título. Contudo, o famoso cartaz de Aubrey Beardsley para a peça permanece uma apresentação gráfica da interpretação de Wilde da história bíblica, e mais uma vez, centra-se na suposta luxúria necrofílica de Salomé. Este coquetel emocionante de erotismo imaginado tem pouca ligação com a clara narrativa no Novo Testamento, cujo único propósito parece ser em termos não incertos que João foi o precursor de Jesus e inferior espiritual – e também cumpriu o papel profetizado do Elias reencarnado, que precederia ao advento do Messias.

Contudo, há uma outra fonte facilmente acessível de informação sobre João: a obra de Josephus ‘Antiquities of the Jews’. Diferente de sua alegada referência a Jesus, a autenticidade disto não é discutida porque se encaixa naturalmente nas narrativas e é uma narrativa impessoal que não faz o elogio de João, e também difere daquelas narrativas dos Evangelhos de modos importantes. Josephus registra João pregando e batizando, e o fato de sua popularidade e influência sobre as massas alarmou Herodes Antipas, que teve João preso e executado em um ‘ataque profilático’. Josephus não dá detalhes de sua prisão ou das circunstâncias ou maneira de sua execução, e nem faz qualquer menção a crítica dele ao casamento de Herodes. Ele ressalta o enorme apoio popular e acrescenta que, não muito depois de sua execução, Herodes sofreu uma séria derrota em uma batalha – que o povo tomou como um sinal de retribuição a seu crime contra o Batista. O que podemos concluir sobre João das narrativas dos Evangelhos e de Josephus? Para iniciar, a história do batismo de Jesus deve ser autêntica, porque sua inclusão argumenta que isso fosse bem conhecido demais para ser deixado de fora – temos notado anteriormente a tendência dos escritores dos evangelhos de caso contrário marginalizarem João o máximo possível. João era ativo na Pereia, a leste do Jordão, um território sob o governo de Herodes Antipas juntamente com a Galiléia. A descrição de Mateus é contraditória; o Evangelho de João é mais específico e nomeia duas pequenas cidades onde João batizou: “Bethania através do Jordão” (1:28) – uma vila perto da principal rota de comércio – e Aenon no norte do Vale Jordão (3:23). Os dois lugares eram separados por uma boa distância, então parece que João viajou intensamente durante sua missão. A impressão de ascetismo de modo eremita estimulada pelas traduções inglesas dos evangelhos pode, de fato, ser uma má concepção. O original grego keremos, dado como ‘deserto’ ou ‘vastidão’ pode significar qualquer lugar de solidão. A mesma palavra, significativamente, é usada para o lugar no qual Jesus alimentou 5.000 pessoas. Carl Kraeling, em seu estudo de João, que é considerado o texto academico padrão, também argumenta que a dieta de ‘gafanhotos e mel’ que é dito ter sido favorecida por João não é argumento um estilo de vida especialmente ascético. É também provável que a missão de João não estivesse apenas confinada aos judeus. Na narrativa de Josephus, embora inicialmente ele tenha exortando os judeus para a piedade e uma vida de virtude, ele acrescenta que ‘outros se reuniram juntamente’ [isto é, ao redor dele] [porque estavam também excitados ao máximo ao ouvir seus ensinamentos]. Alguns eruditos pensam que estes ‘outros’ podem apenas ser não judeus, e segundo o erudito biblico britânico Robert L. Webb: nada existe no conteúdo que sugira que eles não fossem gentios. A localização do ministério de João sugere que ele podia ter contacto com os gentios que viajavam pelas rotas de comércio vindos do Oriente, bem como com os gentios que viviam na região da Transjordania. Uma outra má concepção é a idade de João, que é geralmente tomada como sendo aproximadamente a mesma de Jesus. Contudo, a implicação de todos os quatro evangelhos é que João tinha estado pregando por vários anos antes de batizar Jesus e que ele era, talvez por uma larga margem, o mais velho dos dois. [A história do nascimento de João no Evangelho de Lucas é, como devemos ver, altamente artificial e improvavel de sustentar muita semelhança com os fatos]. Como a mensagem de Jesus, a mensagem de João era um ataque implícito ao culto no Templo de Jerusalém – não simplesmente sobre a possível corrupção de seus funcionários, mas em tudo que ele representava. Seu chamado ao batismo pode ter enraivecido as autoridades do Templo, não meramente porque ele afirmava que isso fosse superior espiritualmente aos ritos deles, mas também porque era gratuito.

Então há anomalias nas descrições de sua morte, especialmente quando comparado com a narrativa de Josephus. Os respectivos motivos atribuidos a Herodes – medo da influência política de João [em Josephus] e raiva pela sua crítica ao casamento do governante [nos Evangelhos] não são mutuamente exclusivos. Os arranjos maritais de Herodes Antipas de fato, tiveram implicações políticas, mas não por causa de com quem ele estava se casando. O problema estava de quem ele havia se divorciado para poder assim o fazer. Sua primeira esposa era uma princesa do reino árabe da Nabatéia, e o percebido insulto a esta família real tinha precipitado uma guerra entre os dois reinos. Nabateia era realmente fronteira do território da Peréia [de Herodes Antipas], onde João estava pregando. Portanto a denúncia de João sobre o casamento o colocava do lado do inimigo, Aretas, com a implícita ameaça que, se a populaça concordasse com ele, eles podiam acabar apoiando Aretas contra Antipas. Talvez isso pareça academico, mas é intrigante que os evangelhos devam ‘suavizar’  real motivo de Herodes para matar João. Se reconhecermos que eles eram essencialmente trabalhos de propaganda, e que quando eles obscurecem qualquer evento eles assim o fazem deliberadamente, a alternativa levanta perguntas sobre porque, neste caso, os escritores dos evangelhos deviam se preocupar. É compreensível que os escritores dos evangelhos tivessem querido censurar qualquer sugestão que João tivesse um enorme seguimento popular – porque isto se encaixa na política geral deles em relação a ele – mas se eles estavam indo fabricar algo, poderia se esperar que eles criassem uma história que apoiasse Jesus de algum modo. Por exemplo, eles poderiam ter João preso por proclamar Jesus como o Messias. As narrativas dos Evangelhos também cometeram um engano. Eles dizem que João criticou Herodes Antipas com base em que mais tarde ele tinha se casado com a ex esposa de seu meio irmão Felipe. Mas embora as circunstâncias do casamento sejam historicamente acuradas, o meio irmão em questão era um outro Herodes, não Felipe. Este era o Herodes que era pai de Salomé. A despeito do fato que João – como Madalena – tenha sido deliberadamente marginalizado pelos escritores dos evangelhos, pode-se ainda encontrar pistas sobre a influência dele sobre os contemporaneos de Jesus. Em um episódio, a implicação do que parece não ter se impingido sobre a maioria dos cristãos, os discípulos de Jesus dizem a ele: ‘Senhor, ensine-nos a orar as mesmas preces que João ensinou’. Então quando lemos que Jesus ensinou a eles o que tem sido conhecido como Oração do Senhor – “Oh Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome´]. Mas já no século XIX o grande egiptologista Sir E.A. Wallis Budge notou as origens da abertura da ‘Oração do Senhor’: uma antiga prece a Osiris-Amon começa ‘Amon, Amon, que estais no céu’. Claramente isto tomado por João e Jesus por séculos, e o ‘Senhor’ que era evocado na prece nem era Yahweh nem seu alegado filho Jesus. Então em qualquer caso, a ‘Oração do Senhor’ não foi composta por Jesus. João é mais amplamente considerado ter sido dominado pelo espanto a primeira vista de Jesus antes que ele o batizasse. Ficamos com a impressão que sua inteira missão, talvez sua vida inteira, fosse destinada a este evento. De fato, contudo, há claras indicações que João e Jesus, embora estreitamente associados no início da carreira de Jesus, foram amargos rivais. Isto não tem escapado a maioria dos mais respeitados comentadores bíblicos de hoje. Como escreve Geza Vermes: A meta dos escritores dos evangelhos era, sem dúvida, dar uma impressão de amizade e mútua estima, mas suas tentativas estão cheias de superficialidade e o exame estreito da evidência fragmentar sugere que, a menos a nível de seus respectivos discípulos, os sentimentos de rivalidade não estão ausentes. Vermes também descreve a insistência de Mateus e Lucas sobre a precedência de Jesus sobre João como ‘artificial’. De fato, para os leitores objetivos, há algo profundamente suspeito sobre a ênfase repetida e muito mais que doentia sobre a superioridade ‘daquele de que veio depois’. Aqui temos um João Batista que realmente estava rebaixado diante de Jesus. Contudo, como diz Hugh Schonfield: ‘Temos estado cientes de fontes cristãs que havia uma considerável seita judia em rivalidade com os seguidores de Jesus, que mantinha que João Batista era o verdadeiro Messias’. Schonfield também nota a ‘amarga rivalidade’ entre seus respectivos seguidores mas acrescenta que, porque a influência de João sobre Jesus era bem conhecida demais: “Eles não podiam portanto depreciar o Batista e tinham que tramar ao invés para enfatizar seu lugar segundário’. [Sem o entendimento desta rivalidade os verdadeiros papéis de Jesus e de João não podem ser completamente entendidos. Fora as implicações de longo alcance para a própria teologia cristã, a falha em reconhecer a hostilidade de Jesus/João faz as mais radicais novas teorias maximamente inatisfatórias. Por exemplo, como temos visto, Ahmed Osman realmente argumenta que Jesus foi inventado pelos seguidores de João Batista para cumprir a profecia dele sobre aquele que estava por vir. Similarmente Knight e Lomas em a ‘The Hiram Key’ vai tão longe quanto manter que Jesus e João eram co-messias trabalhando em parceria, uma teoria que exige que os dois pregadores fossem íntimos colegas; mas nada pode estar mais distante da verdade].

A mais lógica conclusão é que Jesus começou como um dos discípulos de João, e se afastou depois para formar seu próprio grupo. [É muito provável que ele tenha sido batizado por João, mas como um acólito, não como o Filho de Deus!]. Certamente os evangelhos registram que Jesus recrutou seus primeiros discípulos entre as hordas dos discípulos de João. De fato, o grande erudito bíblico inglês C.H. Dodds traduz a frase do Evangelho de João, ‘Ele que veio depois de mim’  (ho opiso mou erchomenos), como ‘ele que me seguiu’. Isto pode, porque a ambiguidade é a mesma em inglês, significar ‘discípulo’. De fato, o próprio Dodds pensou que este fosse o caso. O mais recente criticismo da bíblia ressalta a noção que João nunca fez sua famosa proclamação da superioridade de Jesus, ou até mesmo indicou que ele fosse o Messias. Isto é apoiado por vários fatos. Os Evangelhos [muito mais que ingenuamente] registram que João, quando na prisão, questionou a autenticidade do messianismo de Jesus. A implicação é que ele duvidou se ele tinha estado certo em seu original endosso a Jesus, mas isto pode igualmente ser um outro exemplo dos escritores dos evangelhos terem tido que adaptar um episódio real para seus próprios propósitos. Pode isto ser que inequivocamente João tenha negado o messianismo de Jesus  – talvez até mesmo denunciando-o? Do ponto de vista da mensagem cristã as implicações do inteiro episódio são – ou devem ser – profundamente perturbadoras. Por um lado os cristãos aceitam que João tinha sido divinamente inspirado para reconhecer Jesus como o Messias, mas a questão de João na prisão revela, no mínimo, que ele tinha dúvidas. Claramente seu encarceramento tinha dado a ele tempo para pensar, ou talvez a inspiração divina o tivesse abandonado. Como devemos ver, mais tarde os seguidores de João, que foram encontrados por Paulo durante seu trabalho missionário em Efesus e Corinto, nada sabiam da alegada proclamação de João de uma maior figura que viria depois dele. A única mais compelente peça de evidência que o Batista nunca proclamou Jesus como o Messias que vinha é que os próprios discípulos de Jesus não o reconheciam como tal, ao menos no início de seu ministério. Ele era o líder e professor deles, mas nunca há qualquer sugestão que eles originalmente o seguissem porque acreditassem que ele fosse o há muito esperado Messias judaico. A identidade de Jesus como Messias parece ter gradualmente nascido de seus discípulos na medida em que progredia seu ministério. Ainda que Jesus começasse sua missão depois de seu batismo por João: então porque, se João tivesse realmente anunciado o messianismo de Jesus, ninguém mais o soubesse naquele tempo? [E os próprios evangelhos deixam claro que as pessoas o seguiam não porque ele fosse o Messias, mas por alguma outra razão].

Então há uma outra consideração, muito provocante ao pensamento. Quando o movimento de Jesus inicialmente começou a fazer impacto, Herodes Antipas tornou-se amedrontado e pareceu pensar que Jesus fosse João ressuscitado ou reencarnado (Marcos 6:14): ‘E o Rei Herodes ouviu dele [porque seu nome tinha se espalhado para fora] e ele disse, ‘Este João Batista foi elevado dos mortos, e portanto poderosas palavras se apresentam nele’. Estas palavras tem sempre sido uma fonte de perplexidade. O que Herodes quis dizer com elas – que Jesus de algum modo era João Batista reencarnado? Mas este dificilmente pode ter sido o caso, porque Jesus e João estavam vivos ao mesmo tempo. Antes de examinar esta história posteriormente, vamos notar algumas importantes implicações nas palavras de Herodes. A primeira é que claramente ele não sabia que João havia previsto que um ‘maior do que ele’ o seguiria, caso contrário ele poderia chegar a conclusão óbvia que Jesus era esta pessoa. Se a vinda do Messias tinha sido uma parte evidente do ensinamento de João, como afirmam os evangelhos, então Herodes teria sabido disso. A segunda é que Herodes diz que ‘João – foi elevado – e portanto poderosas palavras se apresentam nele [Jesus]’. Isto implica que João tinha desfrutado de uma reputação em seu próprio benefício como fazedor de milagres. Isto, contudo, é claramente negado nos evangelhos; de fato, no Evangelho de João (10:41) isso é tão enfático como a sugerir um acobertamento. Tinha João transformado a água em vinho, curado o doente, alimentado milhares com um punhado de comida, até mesmo levantando o morto? Talvez ele tivesse. Uma coisa é certa, contudo: o Novo Testamento, sendo uma propaganda do movimento de Jesus, não é o lugar no qual devemos esperar ler sobre isso. Uma possível explicação das palavras de outro modo perplexantes de Herodes sobre João de algum modo ter renascido por meio de Jesus é, superficialmente ao menos, incrível – tanto literal quanto metaforicamente. Mas lembre-se que estamos lidando com uma cultura e uma era que eram tão diferentes da nossa quanto em muitos modos inteiramente um outro mundo. Como Carl Kraeling, em 1940, ressaltou, as palavras de Herodes apenas fazem sentido se entendidas como refletindo as idéias ocultas que eram correntes no mundo greco-romano do tempo de Jesus. Esta sugestão foi tomada e expandida por Morton Smith em seu ‘Jesus the Magician’ em 1978. Como já temos visto, Smith tem concluido que a resposta ao enigma da popularidade de Jesus está em suas apresentações de mágica egípcia. No período era acreditado que, para a mágica funcionar, um feiticeiro precisava ter poder sobre um demonio ou espírito. De fato, isto é aludido em uma passagem do evangelho na qual Jesus se refere a uma acusação feita contra João de que ‘ele tinha um demonio’. Isto não se referir, como pode parecer, a possessão de um espírito mal, mas muito mais a que João tivesse poder sobre um. A sugestão de Kraeling neste contexto foi que as palavras de Herodes Antipas podiam ser compreendidas como uma referência a este conceito, porque, não eram apenas demonios que podiam ser ‘escravizados’ deste modo, mas também o espírito de um ser humano, especialmente um de alguém que tivesse sido assassinado. Um espírito ou alma assim escravizada, era acreditado, realizaria a vontade de seu mestre. [Uma tal acusação mais tarde foi feita a Simão Mago, que era dito ter escravizado o espírito de um menino assassinado].  Kraeling escreve: Os detratores de João usaram a ocasião de sua morte para desenvolver a sugestão que seu espírito desencorporado estava servindo Jesus como um instrumento para a performance de trabalhos de magia negra, por si só uma concessão não pequena ao poder de João. Com esta explicação em mente, a interpretação de Morton Smith das palavras de Herodes é: João o Batista tem sido elevado dos mortos [pela necromancia de Jesus; Jesus agora o tinha] E portanto [já que Jesus-João podia controla-los] os poderes [inferiores] trabalhavam [suas maravilhas] por ele [isto é, suas ordens]. Em apoio a esta idéia, Smith cita um texto mágico de um papiro agora em Paris. A evocação é feita – significativamente talvez – ao deus sol Helios: ‘De-me a autoridade sobre este espírito de um homem assassinado, uma parte de cujo corpo eu possuo.’

Especialmente interessante neste contexto são as dádivas que esta operação mágica são pretendidas conferirem ao mágico: a habilidade de curar e dizer se uma pessoa doente viverá ou morrerá, e a promessa que ‘você será venerado como um deus’. Um outro episódio serve para ressaltar o fato que a popularidade de João era, se algo, maior do que aquela de Jesus. Isto acontece perto do fim do ministério deste último, quando ele está pregando às multidões no Templo de Jerusalém. Os sacerdotes chefes e os idosos vieram para confronta-lo publicamente e fazer perguntas traiçoeiras na esperança de que ele caisse em uma armadilha – perguntas que Jesus evitou com a alacridade de um político maduro. Eles exigiram que ele identificasse a autoridade com a qual ele falava. Jesus respondeu com uma contra pergunta: ‘O batismo de João, de onde veio? Do céu ou do homem?’. Isto deu a seus oponentes uma pausa para pensar. E eles raciocinaram com eles mesmos dizendo, se dissermos do céu ele nos perguntará então porque não acreditamos nele mas se dissermos dos homens tememos as pessoas porque todos tem João como um profeta. Diante desta incerteza eles declinaram responder. O que é significativo nesta troca é que Jesus usou o medo dos sacerdotes da popularidade de João com as multidões contra eles, não a sua própria. Como temos visto, Josephus ressaltou a extensão da influência e apoio a João entre as pessoas: claramente o Batista não era um comum pregador itinerante, mas um líder de grande carisma e poder que, seja qual for a razão, comandou um enorme seguimento. De fato, segundo Josephus, judeus e gentios ‘ficavam supremamente excitados ao ouvir seus ensinamentos’. Um episódio curioso no Evangelho apócrifo chamado Livro de Tiago ou Protoevangelium indica que João era importante por seu próprio direito. Admitidamente, este evangelho foi compilado muito mais tarde e inclui narrativas da infância de Jesus que ninguém agora toma seriamente – mas ele incorpora material de várias fontes e pode portanto incluir ao menos pistas de tradições bem conhecidas. É certamente difícil ver como alguém familiar com os evangelhos canonicos pode te-lo composto. Neste a história da infância de Jesus e João – depois da familiar história do nascimento de Jesus e a visita dos Homens Sábios – Herodes ordena o Massacre dos Inocentes. Até então, isto soa identico a versão encontrada no Novo Testamento. Contudo isso logo toma uma linha inteiramente diferente. Quando Maria ouve sobre o massacre a reação dela é simplesmente a de enrolar seu bebê em roupas como fraldas e coloca-lo em uma mangedoura para touro – presumidamente para esconde-lo dos soldados. Mas parece que João é o objeto da busca deles.  Lemos como Herodes envia seus homens para questionar o pai de João, Zacarias, e ele voltam com a resposta que ele não sabia onde estavam sua mulher e seu filho. Herodes ficou irado e disse: ‘O Filho deles será Rei sobre Israel’. Nesta versão, é Isabel que foge com João para as montanhas. Há claras pistas aqui de uma paralela, talvez até mesmo uma rival, ‘Familia Sagrada’. Como temos visto, João tinha um grande seguimento popular, que, como o movimento de Jesus, consistia em um círculo de discípulos que o acompanhavam a todos os lugares e de membros do público em geral que vinham ouvir suas palavras. Também como no caso de Jesus, depois da morte de João seus discípulos começaram a escrever narrativas de sua vida e ensinamento no que foram efetivamente as escrituras de João. Os eruditos reconhecem que um tal corpo de ‘literatura de João’ existiu, uma vez, mas não o conhecemos hoje. Possivelmente tenha sido destruido, ou mantido secremente pelos heréticos. Parece, contudo, que deve ter contido algum material que não concorda com as narrativas do Novo Testamento de João e Jesus – caso contrário teria sido preservado para domínio público de algum modo.

A narrativa de Lucas das concepções “conjuntas” de Jesus e João é extremamente interessante. De uma análise da história, eruditos tem estabelecido além da dúvida que isto realmente é uma combinação de duas histórias separadas, uma falando da concepção de Jesus e a outra falando da concepção de João, que são, segundo Kraeling, ‘mantidas juntas por materiais basicamente não relacionados ao fio de uma série ou de outra. Em outras palavras, Lucas [ou a fonte que ele usou] tomou duas histórias distintas e tentou reuni-las usado o aparelho literário do encontro das duas mães grávidas, Isabel e Maria. A conclusão lógica é que a história da infância de João era originalmente independente do evangelho, e que ela seja anterior a história da natividade de Jesus. Isto carrega importantes implicações. Uma é a de que as histórias relativas a João já estavam em existência. A outra é que a versão de Lucas da Natividade tinha sido evocada especificamente para ‘vencer’ aquela que era corrente sobre João. Afinal, o milagre do nascimento de João é simplasmente dele ter nascido de tais pais idosos, enquanto que Lucas realmente teve Jesus nascendo de uma virgem. E o único motivo que Lucas teria para contar a história deste modo foi que o seguimento de João ainda existia como rival daquele de Jesus. Isto é apoiado por um outro fato que é estabelecido pelos eruditos – mas que permanece desconhecido da maioria dos cristãos.  A muito amada canção de Maria, o Magnificat, era de fato de Isabel e se referia ao filho dela. A construção das palavras liga a mulher ao personagem do Velho Testamento Hanna, que não tinha filhos até seus anos mais tardios, então é mais apropriada a situação de Isabel. De fato, alguns manuscritos iniciais do Novo Testamento afirmam que é a canção de Isabel, e o Pai da Igreja Irenaeus (escrevendo c. 170) também afirma que ela, não Maria, falou estas palavras. Similarmente, na cerimonia de circunsição de João, seu pai Zacarias proclama uma ‘profecia’, ou hino, que é conhecido como Benedictus, em louvor de seu filho recém nascido. Obviamente isto deve ter feito parte da história original de João Batista. Ambos, o Magnificat e o Benedictus parecem ter sido hinos separados a João que tem sido incorporados em um Evangelho de João, que foi então adulterado por Lucas para fazer isto mais aceitável para os seguidores de Jesus. Isto indica que as pessoas não estavam apenas escrevendo narrativas da vida de João mas também o louvando em músicas e versos. Mas estas tradições sobre João realmente forneceram aos escritos posteriores dos evangelhos o material em cuja base eles historiam Jesus? Como diz Schonfield em seu ‘Essene Odyssey’: O contacto com seguidores de João Batista familiarizaram os cristãos com as histórias da Natividade de João nas quais ele figurou como o infante Messias das tradições sacerdotais, nascido em Belém. Além disso, textos iniciais da Igreja conhecidos como Reconhecimentos Clementinos realmente afirmam que os seguidores de João o reconheciam como sendo o Messias. E Geza Vermes acredita que alguns episódios nos Evangelhos e nos próprios Atos apontam que os seguidores de João acreditavam que ele fosse o Messias. O conhecimento de uma tal coisa como ‘literatura de João’ até mesmo existir fornece a resposta para muitos problemas sobre o Quarto Evangelho – que foi atribuido ao discípulo João. Como temos visto, há várias contradições internas neste Evangelho. Embora ele seja o único a ser baseado na narrativa de uma testemunha ocular, uma declaração apoiada pelo detalhe circunstancial no próprio texto, ele contém elementos claramente gnósticos que são estranhos aos outros evangelhos e com um tom de matéria de fato do resto do próprio livro. Isto é  particularmente perceptível no prólogo relativo a Deus e o Verbo. O Evangelho de João é o mais vociferantemente anti-Batista de todos os quatro, e ainda que seja o único que nos diga explicitamente que Jesus recrutou seus primeiros discípulos entre os seguidores de João, incluindo o suposto autor e testemunha ocular, o próprio ‘discipulo amado’. Estas contradições, contudo, necessariamente não invalidam o Evangelho. É claro que o autor compilou o texto de várias fontes, que ele enovelou e interpretou segundo suas próprias crenças sobre Jesus, reescrevendo o material onde ele sentiu que isto fosse necessário. Seja quem for o autor, o Evangelho parece conter o testemunho em primeira mão do ‘discípulo amado’. Mas muitos dos maais influentes eruditos do Novo Testamento pensam que o autor também usou alguns dos textos escritos pelos seguidores de Batista, que, segundo a autoridade sobre estudos do Oriente Médio, Edwin Yamauchi, ‘O Quarto Evangelista – desmitologizou e cristianizou’.

O material Batista é principalmente o prólogo e parte do que alguns chamam de ‘discursos da revelação’ entre Jesus e seus discípulos. O gande erudito bíblico alemão Rudolf Bultmann argumenta que estes eram: ‘acreditados terem sido originalmente documentos dos seguidores de João Batista que tinham exaltado João e originalmente dado a João o papel de Redentor envido do mundo da Luz’. Portanto uma parte considerável do Evangelho de João não era originalmente cristã em origem mas resultou na transformação de uma tradição Batista. Note que estes elementos no Evangelho de João são os mais Gnósticos, e portanto tem causado a maioria dos problemas, no que diga respeito ao Evangelho, para os historiadores. Tem sido frequentemente assumido que, como estes elementos estão tão fora de acompanhar a teologia dos outros evangelhos e do resto do Novo Testamento, este livro deve ter sido escrito consideravelmente muito mais tarde do que os outros. Contudo, reconhecendo que eles vem de uma fonte outra do que a dos seguidores de Jesus, muda-se a imagem, e vários comentadores tem ligado o Quarto Evangelho a ‘uma fonte gnóstica pré cristã’ que foi adaptada pelo escritor. Esta fonte bem pode ter sido João Batista e seus seguidores, que pareceriam eles próprios terem sido gnósticos. [Estas descobertas podem fornecer uma solução para a controvérsia sobre a data do Evangelho de João. Como temos visto, a opinião padrão a muito tem sido que, por causa do material gnóstico e não judeu neste Evangelho, ele foi escrito depois dos Evangelhos Sinóticos. Contudo, se Jesus não era um judeu, e muito deste material deriva dos seguidores de João Batista, que, como devemos ver, era gnóstico – é inteiramente possível que este evangelho seja contemporaneo, ou até mesmo antecipe, os outros]. Não apenas João teve um grande e devotado acompanhamento durante seu período de vida, mas este continuou a crescer depois de sua morte de uma maneira que é curiosamente paralela ao crescimento do cristianismo. Há evidência de que o movimento de João tinha se tornado uma Igreja por seu próprio direito e não estava confinado a Palestina. Em seu livro de 1992 ‘Jesus’ A.N. Wilson escreve: Se a religião de João Batista [e sabemos que havia uma] tivesse se tornado o culto dominante no Mediterraneo muito mais que a religião de Jesus, devemos provavelmente sentir que sabemos mais do que devemos sobre esta figura notável. Seu culto sobreviveu até meados dos anos 50, como o autor de Atos é suficiente sincero para deixar passar – Em Efeso eles pensavam que ‘O Caminho’ [como a religião dos crentes iniciais era conhecida] significava seguir ‘o Batismo de João’. Se Paulo tivesse tido uma personalidade mais fraca, ou ele nunca tivesse escrito suas epístolas, podia facilmente ter sido o caso que ‘o Batismo de João’ tivesse sido a religião que capturasse a imaginação do mundo antigo, muito mais do que o Batismo de Cristo. O culto pode até mesmo ter se desenvolvido ao ponto onde os Joanitas de hoje, ou Batistas, teriam acreditado que – João era Divino. Este acidente da história, contudo, não era para acontecer. Então até mesmo o Novo Testamento descreve a existência da Igreja de João além das fronteiras de Israel. Bamber Gascoigne escreve: Um grupo de pessoas que Paulo encontrou em Efeso deu uma intrigante olhada de um tal desenvolvimento potencial de religião e um que Paulo rapidamente arrancou ainda em botão. Este grupo de pessoas era, com certeza, a Igreja de João. A sua própria existência como uma entidade separada depois da morte de Jesus argumenta que João nunca pregou sobre ‘um maior vir após ele’, ou se ele o tivesse feito, esta pessoa não seria Jesus. Parece que quando os Joanitas encontraram Paulo eles não tinham idéia de uma tal profecia. O deles não era um culto insignificante. Ele tinha sido descrito como um ‘seguimento internacional’ e se espalhou da Ásia Menor para a Alexandria. Os Atos registram que a religião de João tinha sido trazida a Efeso por um alexandrino chamado Apolo – suspeitamente a única referência a Alexandria no Navo Testamento.

Então João Batista tinha uma acompanhamento distinto e forte seu próprio, que sobreviveu a ele como uma verdadeira Igreja. Contudo, tem sido assumido, como nos comentários acima de A.N. Wilson, que ele foi absorvido na Igreja Cristã cedo. Certamente algumas de suas comunidades eram, como aquelas encontradas por Paulo, substituidas por sua própria versão do movimento de Jesus. Mas há uma forte evidência de que a Igreja de João realmente sobreviveu. Este corpo de evidência, contudo, enfatiza o papel de um personagem que, a primeira vista, pode estar muito fora de lugar nesta história, alguém que tinha sido ultrajado pela história cristã como ‘ o pai de todas as heresias’, e um mago negro da pior espécie. Ele até mesmo deu seu nome a um pecado: aquele de tentar comprar o Espírito Santo: simonia. Estamos nos referindo, com certeza, a Simão o Mago.

Diferente das duas outras maiores figuras que temos estado discutindo – Maria Madalena e João Batista – Simão o Mago não foi alguém que tem sido marginalizado pelas primeiras cronicas cristãs, mas realmente teve a permissão de figurar muito proeminentemente nos escritos iniciais cristãos. Contudo, ele ainda é inequivocamente denunciado como mal, como o homem que tentou imitar Jesus, e que a um ponto até mesmo inflitrou a igreja embrionária para aprender seus segredos – até, com certeza, ser exposto pelos apóstolos.  Algumas vezes conhecido como o ‘primeiro herege’, Simão o Mago é considerado estar quase além da redenção. Ainda que uma pista de porque isso deva ser assim resida no fato que os Pais iniciais da Igreja vissem a palavra ‘gnóstico’ como sendo sinônimo de ‘herético’. E Simão era um gnóstico [embora, não, acreditamos, seja o fundador do gosticismo]. Simão faz apenas um breve aparecimento no Novo Testamento, nos Atos dos Apóstolos (8:9-24). Ele era, significativamente, um Samaritano, que, segundo os Atos, tinha estado usando de feitiçaria para ‘enfeitiçar’ o povo da Samaria. Quando o Apóstlo Felipe prega lá, Simão fica tão impressionado que é batizado por ele. Mas isto se mostra ser um sagaz truque para aprender como assegurar o poder do Espírito Santo para si. Ele oferece dinheiro para comprar isso de Pedro e João, e é claramente reprovado. Então, Simão, temendo por sua alma, se arrepende e pede a eles para orar por ele. Contudo, os Pais iniciais da Igreja sabiam muito mais sobre este personagem, e suas narrativas contradizem a simples história de moralidade do livro dos Atos. Ele era um nativo da vila de Gitta, que era renomado por suas habilidades como um mágico (daí seu título, Mago). Durante o reinado de Claudius (41-54, i.e. dentro de dez anos da Crucificação) ele foi a Roma, onde foi honrado como um deus e uma estátua foi eregida em sua honra lá. Os Samaritanos já o haviam reconhecido como um deus. Simão o Mago viajou com uma mulher chamada Helena, uma antiga prostituta da cidade fenícia de Tiro, que ele chamava de Primeiro Pensamento (Ennoia), a Mãe de tudo. Isto se elevou das crenças gósticas dele: ele ensinava que o ‘primeiro pensamento de Deus’ – exatamente como a figura judaica da Sabedoria/Sophia discutida anteriormente – tinha sido feminina, e que era ela que havia criado os anjos e outros semideuses, que eram os deuses deste mundo. Eles criaram a Terra sob instruções dela mas se rebeleram e a aprisionaram na matéria, o mundo material. Ela estava aprisionada em uma série de corpos femininos [incluindo Helena de Tróia] cada um sofrendo crescentes humilhações insustentaveis, e eventualmente terminando como uma prostituta no porto de Tiro. Mas nem tudo estava perdido, porque Deus também estava encarnado, na forma de Simão. Ela a havia procurado e resgatado. O conceito de um sistema cosmológico que abrangesse uma série de mundos e planos inferiores e superiores é um que agora nos é familiar. Embora os detalhes precisos variem, é a comum crença gnóstica que alcançou tão longe quanto os cátaros medievais, e que subjaz na cosmologia hermética que é a base do ocultismo ocidental correndo pela alquimia até o hermeticismo da Renascença. Há também paralelos exatos e surpreendentes com outros sistemas que temos discutido. O mais significativo é a similaridade com o gnóstico copta Pistis Sophia, no qual Jesus vai em busca da Sophia aprisionada, uma figura explicitamente ligada neste texto a Madalena. [Simão também chamou sua Helena de ‘ovelha perdida’].

A personificação da Sabedoria como uma mulher – e como uma prostituta – é por agora algo com o que estamos familiarizados em nossa investigação, e que corre como um fio por ela. No caso de Simão, esta incorporação foi literal, na pessoa de Helena. Como escreve Hugh Schonfield: Os Simonianos veneravam Helena como Atena [a Deusa da Sabedoria], que, por sua vez, era identificada no Egito com Isis. Schonfield também liga Helena com a própria Sophia e com Astarte. Karl Luckert também traça o conceito de Simão de Ennoia, como encarnado em Helena, a Isis.  Geoffrey Ashe concorda, acrescentando: ‘(Helena) é colocada no caminho de volta a glória como Kyria ou Rainha Celestial. Uma  outra fonte apócrifa datando de por volta 185, descreve Helena como sendo ‘negra como uma etíope’ e tem ela dançando em correntes, acrescentando: ‘O inteiro Poder de Simão e de seu Deus é esta mulher que dança”. Irenaeus escreve que os sacerdotes iniciados de Simão ‘viviam imoralmente’, embora, desapontadoramente, ele não se expanda sobre isso. Mas eles obviamente praticavam ritos sexuais, como revela Epiphanius em seu trabalho monumental ‘Against Heresy’ : E ele desfrutava dos mistérios da obcenidade e, o vazar dos corpos,  emissionum virorum, feminarum menstruorum , e que eles deviam ser reunidos para os mistérios na mais suja coleção. (G.R.S. Mead, um bom vitoriano, deixa esta tradução mais que tímida com estas frases em latim, mas parece que a seita de Simão usava a mágica do sexo, envolvendo sêmen e sangue menstrual). Os Pais da Igreja  estavam obviamente temerosos de Simão o Mago e de sua influência. Isto parece ter sido uma séria ameaça à Igreja inicial, o que pode parecer estranho – até que se entenda exatamente o quanto Simão tinha em comum com Jesus. Os Pais estavam em apuros ao resaltar que Simão e Jesus se disseram e fizeram muito as mesmas coisas, incluindo milagres, a fonte de seu poder fosse muito diferente. Simão o fez por meio da feitiçaria perversa, enquanto Jesus recebeu seu poder do Espírito Santo. De fato, Simão era uma paródia satânica de Jesus. Então encontramos, por exemplo, Hipólito afirmado claramente sobre Simão: ‘Ele não era Cristo’. Epifanio escreve mais reveladoramente: Do tempo de Cristo até nosso próprio dia a primeira heresia foi aquela de Simão O Mago, e embora isto não fosse correta e distintamente de nome cristão, ainda que causasse um grande tumulto pela corrupção que produziu entre os cristãos. Sobretudo, segundo Hiipólito, ao comprar a liberdade de Helena, ele assim ofereceu a salvação ao homens pelo conhecimento peculiar dele mesmo. Uma outra narrativa credita a Simão a habilidade de operar milagres, inclusive transformando pedras em pães. [Isto pode responder pela Tentação de Jesus quando lhe foi oferecido o poder de fazer o mesmo, mas ele não o aceitou. Contudo, mais tarde nos é dito que ele alimentou 5.000 pessoas com dois pães e dois peixes, que é muito a mesma coisa].  Hieronymus cita de um dos trabalhos de Simão: Sou a Palavra de Deus, Sou o glorioso, Sou Paracleto, o Poderoso. Sou o todo de Deus.

Em outras palavras Simão se auto-proclamou divino e prometeu a salvação a seus seguidores. Nos Atos Apócrifos de Pedro e de Paulo, Simão o Mago e Pedro se envolvem em uma dicussão sobre trazer um corpo morto à vida. Simão, contudo, apenas pode conseguir reanimar a cabeça enquanto Pedro o faz perfeitamente. Há muitas de tais histórias apócrifas de batalhas mágicas entre Simão o Mago e Simão Pedro, todas elas terminando com o necessário triunfo cristão. O que elas mostram, contudo, é que o primeiro era tão influente que as histórias tinham que ser criadas para conter seu poder sobre as massas. O Mago não era um simples feiticeiro itinerante, mas um filosofo que escreveu suas idéias. É desnecessário dizer, seus livros originais foram perdidos, mas há extensas citações deles nos trabalhos dos Pais da Igreja, onde eles foram incluidos para serem completamente condenados. Estes fragmentos, contudo, claramente revelam o gnosticismo de Simão e a ênfase na existência de duas forças opostas mas complementares – uma mascuina e a outra feminina. Por exemplo, isto é citado do seu ‘Grande Revelação’: Do universal Aeons há dois ramos: um que é manifestado de cima, que é o Grande Poder, a Mente Universal que ordena todas as coisas, masculino e um de baixo, o Grande Pensamento, feminino, que produz todas as coisas. Uma vez se emparelhando um como o outro eles se unem e manifestam na Distância Média – neste que é o Pai. Este é Ele que permaneceu, permanece e permanecerá um poder masculino-feminino no pré existente Poder Sem Fronteiras. Aqui podemos ver os ecos do hermafrodita alquímico, do andrógino simbólico que tanto fascinou Leonardo. Mas de onde vieram as idéias de Simão o Mago? Karl Luckert traça as ‘raízes ideológicas’ dos ensinamentos religiosos de Simão às religiões do antigo Egito, e este parece ser o caso que elas reflitam, talvez até mesmo continuem em uma forma adaptada, estes cultos. Embora, como temos visto, as escolas de Isis/Osiris enfatisassem a natureza igual e oposta das deidades masculinas/femininas e isto é algumas vezes entendido ser misturado em um personagem e no corpo de Isis. Ela é ocasionalmente retratada como sendo barbada, e é acreditado que ela disse: “Embora eu seja femea, eu me tornei macho’. Simão o Mago e Jesus eram, no que diga respeito a Igreja inicial, perigosamente similares em seus ensinamentos, que é o porque Simão o Mago foi acusado de tentar roubar os conhecimentos cristãos. Esta é uma admissão tácita que seu próprio ensinamento era, de fato, compatível com aquele de Jesus, até mesmo que ele era parte do mesmo movimento. As implicações disso são perturbadoras. Eram os ritos sexuais de Simão o Mago e Helena também praticados por Jesus e Maria Madalena? Segundo Epifanio, os gnósticos tinham um livro chamado ‘As Grandes Questões de Maria’, que propunha ser os segredos internos do movimento de Jesus e que tomou a forma de cerimônias obcenas. Pode ser tentador descartar tais rumores como meramente indecente criação de escândalo mas, como temos visto, há evidência de que Madalena era a iniciadora sexual na tradição da ‘prostituta do templo’, cuja função era dotar os homens da dádiva da horasis: a iluminação espiritual pelo intercurso sexual. John Romer, em seu livro ‘Testamento’ faz um claro paralelo: Helena a Prostituta, como os cristãos a chamavam, era a Maria Madalena de Simão o Mago. Então, novamente, há uma outra conexão: aquele de suas prováveis origens egípcias. Karl Luckert diz de Simão: Como ‘o pai de todas as heresias’ ele deve agora ser estudado não meramente como um oponente, mas também como um evidente competidor de Cristo na Igreja cristã inicial – possivelmente até mesmo como um potencial aliado. De fato de sua herança comum pode ser derivada a própria força da ameaça de Simão o Mago. O perigo aumentava a possibilidade que ele pudesse ser confundido com a imagem do próprio Cristo.

E Luckert vê um estreito paralelo no que ele percebe como sendo a real missão dos dois homens. Ele reconhece na aparente dicotomia da pregação de Jesus uma mensagem essencialmente egípcia para uma audiência judia, mas percebe a estreita conexão entre a original teologia hebraica e aquela do Egito. Ele diz de Simão o Mago: [ele] viu sua missão para corrigir o que deve ter ido errado; denominadamente, a alienação da dimensão inteiramente feminina Tefnut-Mahet-Nut-Isis da divindade masculina. Isto, com certeza, é precisamente o motivo que temos hipotetizado para a miissão de Jesus na Judéia, e que é atribuida a ele no Levitikon. Luckert conclui que Jesus venceu Simão o Mago a ir ao extremo de incluir sua própria morte na imagem. A ênfase muda radicalmente, contudo, quando se leva em consideração a idéia de que a Crucificação pode não ter terminado na morte de Jesus. Fora os paralelos com Jesus, há um outro fato inquietante – e para nós, revelador -, sobre Simão o Mago: ele era um discípulo de João Batista. Não apenas isso, mas ele realmente foi indicado pelo prório João como seu sucessor [embora, por razões dadas abaixo, não era para ser uma sucessão direta]. As implicações disto são estonteantes. Porque Simão tem sido conhecido como um feiticeiro e magico sexual por tanto tempo, e não meramente nos anos depois que João morreu. Isto dificilmente era o caso de um discípulo chutando sobre os traços de seu puritano guru quando ele é removido da cena. João deve ter sabido e aprovado o ensinamento de Simão. E se Simão era membro do círculo interno de João ele deve ter aprendido sua mágica de Batista – como outros discípulos em posições similares. Tal como Jesus. O seguunte é retirado de Reconhecimentos Clementino do século III: Foi em Alexandria que Simão aperfeiçoou seus estudos em mágica, mas sendo um aderente de João, um Hemerobatista [‘batista do dia’ – pouco é sabido sobre este termo] pelo que ele veio a lidar com as doutrinas religiosas. João foi o precursor de Jesus. De todos os discípulos de João Simão era o favorito, mas quando ocorreu a morte de seu mestre, ele estava ausente em Alexandria e então Dositheus, um co-discípulo, foi escolhido chefe da escola. Esta narrativa vai em razões numerologicas extremamente tortuosas porque João tinha trinta discípulos – presumidamente apenas de seu círculo interno – enbora fossem realmente 29 e meio porque uma era mulher,  que não conta como uma pessoa completa. O nome dela era Helena. Isto é interessante porque implica, no contexto, que esta era a Helena de Simão o Mago, e  que ela, também, tinha sido uma discípula de João. Tudo isto deixa um desconfortável sentimento que o Batista, que sempre tem sido apresentado como um asceta, um monge de tipo puritano, era de fato bem outro. Quando Simão voltou de Alexandria, Dositheus manteve para ele a liderança da Igreja de João, embora não sem uma luta. Mais uma vez, encontramos que a cidade egípcia de Alexandria é importante nesta história, presumidamente porque é lá onde os protagonistas principais aprenderam a mágica deles. Dositheus também teve uma seita que recebeu seu nome, que conseguiu sobreviver até o século VI. Origenes registra: ‘um certo Dositheus dos Samaritanos veio adiante e disse que era o Cristo profetizado: daquele dia até agora há dositeanos, que produzem escritos de Dositheus e também relatam algumas histórias sobre ele, como ele não provou a morte e ainda vive. O próprio seguimento de Simão é rastreável até o século III. Seu sucessor imediato foi um Menandro.

Os Dositeanos veneravam João Batista como ‘o justo mestre’ dos Últimos Dias. Ainda que as seitas de Simão e de Dositeus fossem eventualmente erradicadas pela Igreja. A clara implicação é que João Batista não era um ocasional pregador para uma multidão: ele era o chefe de uma organização e esta era baseada na Alexandria. Como temos visto, os primeiros prosélitos do movimento de Jesus estavam surpresos ao descobrir uma Igreja de João em Efeso, que tinha sido levada lá por Apolo de Alexandria. Era esta metrópole que também era base para Simão o Mago, o sucessor oficial de João e um conhecido rival de Jesus, e que também era um samaritano. Interessantemente, os cristãos veneravam a alegada tumba de Batista na Samaria até que ela foi destruida no século IV pelo Imperador Juliano, o que ao menos sugere uma tradição inicial ligando João Batista com esta terra. (Talvez a parábola do Bom Samaritano fosse realmente uma tentativa esfarrapada de apaziguar os discípulos de João ou Simão o Mago]. Contudo, não há sugestão de que Simão o Mago fosse um judeu, até mesmo um da Samaria. Até mesmo em seus mais virulentos ataques a ele, os Pais da Igreja nunca o acusaram de ser judeu – e dado a violência com que os judeus eram acusados de terem matado o Filho de Deus durante séculos, isto é particularmente revelador. Como temos visto, João pregava a não judeus e ele atacou o culto do Templo de Jerusalém – a própria fundação da religião judaica. Ele tinha, com todas as probabilidades, fortes ligações com Alexandria e mais significativamente, seu sucessor também era um gentio. Tudo isto implica que o próprio João não era um judeu e que ele estava familiarizado com a cultura egípcia. É particularmente estranho que os Pais iniciais da Igreja, tais como Irenaeus, devam ter traçado as origens das seitas heréticas de volta a João Batista, entre tantas pessoas. Afinal, os Evangelhos o tem aparentemente inventando o batismo e virtualmente vivendo para pavimentar o caminho para Jesus. Mas eles sabiam a verdade sobre João? Eles entendiam que ele não era o precursor, mas o amargo rival que era venerado por seu próprio direito como o Messias? Eles reconheciam o fato perplexante que João afinal não era um cristão? Os escritores dos Evangelhos tem, de fato, tido a sua vingança de João. Eles o tem reescrito no processo ‘domesticado’ e o realinhado, assim aquele que foi rival, até mesmo inimigo de Jesus, é visto se ajoelhando diante dele em espanto por sua divindade. Eles tem removido os reais motivos de João, suas palavras e ações e as substituido por aquelas que se encaixem na imagem que eles deliberadamente criaram de Jesus e de seu movimento. Como uma peça de propaganda isso tem sido surpreendentemente em sucedido, embora talvez isto tenha sido parcialmente devido a tendência da Igreja inicial a responder a qualquer questões heréticas com torniquetes e fogueiras incendiárias. A história cristã que recebemos em confiança hoje é o resultado do anterior reino de terror da Igreja tanto quanto da propaganda dos Evangelhos. Mas bem longe da influência sinistra da Igreja estabelecida, alguns dos seguidores de João fielmente mantiveram sua memória viva como a do verdadeiro Messias. E eles ainda existem hoje.

CAPÍTULO QUINZE
OS SEGUIDORES DO REI DA LUZ

No século XVII, missionários jesuítas voltando da área ao redor das margens sul dos rios Eufrates e Tigre, no que agora é o Iraque, trouxeram de volta histórias de um povo que eles chamaram de ‘Cristãos de São João’. Embora este grupo vivesse no mundo muçulmano, e estivesse cercado de árabes, eles ainda aderiam a uma forma de cristianismo na qual João Batista era proeminente. Seus ritos religiosos estavam centrados no batismo, que era não apenas a cerimonia uma vez de iniciação e boas vindas de um novo membro na congregação, mas também desempenhava uma parte importante em todos os sacramentos deles e rituais. Desde estes primeiros contactos, contudo, tornou-se aparente que o termo ‘Cristãos de São João’ era um nome grandemente impróprio. A seita em questão venerava especialmente João Batista, mas eles não podiam ser chamados de cristãos no sentido usual da palavra. Porque eles viam Jesus como um falso profeta, um mentiroso que deliberadamente enganava seu próprio povo e outros. Mas tendo vivido sob a constante ameaça de perseguição dos judeus, muçulmanos e cristãos por séculos, eles tinham adotado a estratégia de se apresentarem aos visitantes sob um disfarce menos ofensivo. Esta foi a razão porque eles tomaram o nome de ‘Cristãos de São João’. A política deles estava encapsulada nestas palavras de seu livro sagrado, o Ginza: “Quando Jesus lhes oprime, eles dizem: pertencemos a você. Mas não o confessem seus corações, ou negem a voz de seu Mestre, o alto Rei da Luz, porque ao Messias mentiroso o oculto não é revelado.” Hoje esta seita – que ainda sobrevive nos pântanos do sul do Iraque e, em números menores, no sudoeste do Irã, é conhecida como os Mandeanos. Eles são um povo profundamente religioso e pacífico, cujo código proibe a guerra e o derramamento de sangue. Eles em sua maioria vivem em suas próprias vilas e comunidades, embora alguns deles tenham se mudado para as cidades, onde eles tradicionalmente trabalham com ouro e prata [ourivesaria], um trabalho no qual eles são excelência. Eles retém sua própria lingua e escrita, ambos derivados do Aramaico, a liguagem falada por João e Jesus. Em 1978 seus números eram estimados serem tão poucos quanto 15.000, mas a perseguição aos árabes dos pântanos por Saddam Hussein depois da Guerra do Golfo pode muito bem te-los levado perto da extinção – circunstâncias políticas no Iraque tornam impossível ser preciso sobre o assunto.

O nome Mandeano literalmente significa Gnóstico e apropriadamente se refere aos leigos apenas, embora seja geralmente aplicado a comunidade como um todo. Seus sacerdotes são chamados Nazarenos. Os árabes se referem a eles como Subbas, e eles aparecem no Alcorão sob o nome de Sabianos. Nenhum trabalho seriamente erudito foi feito sobre os Mandeanos até os anos de 1880. Até mesmo assim, os estudos mais extensos a datar ainda são aqueles de Ethel Stevens (mais tarde Lady Drower) nos anos imediatamente anteriores a Segunda Guerra Mundial. Os academicos ainda confiam pesadamente no material que ela coletou, que inclui muitas fotografias de seus rituais e cópias dos livros sagrados Mandeanos. Embora recebendo bem os estrangeiros, eles são naturalmente – por boas razões -, um povo fechado e sigiloso.  Lady Drower passou muito tempo ganhando a confiança deles ao ponto deles revelarem a ela suas crenças, doutrinas e história, e permitirem a ela o acesso aos pergaminhos secretos contendo seus textos sagrados. [ No século XIX, eruditos alemães e franceses tinham tentado sem sucesso romper a parede deles de segredo]. Mas indubitavelmente permanecem segredos internos que não ter sido partilhados com externos. Os Mandeanos tem um número de textos sagrados –  toda a literatura deles é religiosa – o mais importante dos quais é o Ginza [Tesouro] também cohecido como Livro de Adão; o Sidra d’Yahya , ou Livro de João [também conhecido como Livro dos Reis] e o Haran Gawaita , que é uma história da seita. O Ginza certamente data do século VII ou anterior, enquanto o Livro de João é pensado ter sido compilado deste tempo em diante. O João do título é o Batista, que no texto Mandeano é referido por dois nomes, Yohanna (que é Mandaeano), e Yahya, que é o nome árabe que aparece no Alcorão. Este último é usado mais frequentemente, indicando que o livro foi escrito depois da conquista muçulmana da região em meados do século VII, embora o material nele seja muito anterior. A questão importante é exatamente o quanto ele é anterior. É geralmente pensado que os Mandeanos tinham criado o Livro de João e elevado o Batista ao status de profeta deles como um golpe sagaz de evitar a perseguição dos muçulmanos, que somente toleravam aqueles que eles chamavam ‘O Povo do Livro’ – isto é, o povo com uma religião que tinha um livro sagrado e um profeta; caso contrário eles eram vistos como bárbaros. Contudo, os Mandeanos aparecem no próprio Alcorão, sob o nome de Sabianos, como “um povo do livro’ provando que eles eram conhecidos muito antes deles ficarem sob ameaça do regime muçulmano. Em qualquer caso, eles sofreram perseguição, particularmente no século XIV, quando seus governantes islâmicos quase os dizimaram. Constantemente recuando da perseguição, os Mandeanos finalmente chegaram em sua atual terra natal. Suas próprias histórias, e a erudição moderna, mostram que eles vieram originalmente da Palestina, e foram forçados a sairem de lá no século I. Durante séculos eles tem se mudado para leste e para o sul, mudando-se quando são perseguidos.  O que temos hoje é efetivamente o remanescente de uma religião muto mais disseminada. Hoje a religião Mandeana é, francamente, uma mistura desesperançadamente confusa: vários fragmentos do judaismo do Velho Testamento, formas heréticas de gnosticismo do cristianismo  e das crenças iranianas dualistas que estão todos misturados em sua cosmologia e teologia.

O problema reside em avaliar quais eram suas crenças originais e quais vieram depois. Parece que os próprios Mandeanos tem esquecido muito do significado inicial da religião deles. Mas é possível fazer algumas generalizações sobre isso, e a análise dolorosa tem capacitado os eruditos a chegarem a alguas conclusões sobre as crenças deles em um distante passado. É esta análise que nos tem fornecido algumas pistas excitantes sobre a importância de João Batista e seu real relacionamento com Jesus. Os Mandeanos representam a única religião gnótica sobrevivente no mundo: suas idéias relativas ao universo, ao ato da criação e os deuses são familiares crenças gnósticas. Eles acreditam em uma hierarquia de deuses e semideuses, machos e femeas, com uma divisão fundamental entre aqueles da luz e das trevas. O ser supremo deles, que criou o universo e as deidades menores, aparece sob vários nomes que se traduzem como Vida, Mente, ou Rei da Luz. Ele criou cinco seres de luz, que automaticamente trouxeram a existência cinco seres iguais e opostos das trevas. [Esta ênfase na luz sendo igualada com o mais alto deus é caracteristicamente gnóstica; virtualmente todas as páginas de Pistis Sophia, por exemplo, usam esta metáfora. Para os gnósticos ser iluminado significa literal e figurativamente entrar em um mundo de luz]. Como em outros sistemas gnósticos, são estes semideuses que criaram e governam o universo material e a Terra. A humanidade tabém foi criada por um tal ser chamado ou [dependendo da versão do mito]Hiwel Ziwa ou Ptahil. Os primeiros humanos são os físicos Adão e Eva – Adam Paghia e Hawa Paghia – e suas contrapartes ‘ocultas’, Adam Kasya e Hawa Kasya. Os Mandaeanos acreditam que eles sejam descendentes de pais dos pares físico e espírito – Adam Paghia e Hawa Kasya. O equivalente deles mais próximo ao Diabo é a deusa das trevas Ruha, que governa o reino das trevas, mas ela também é vista como o Espírito Santo. Esta ênfase em forças iguais e opostas de bem e mal, masculino e feminino, é caracteristicamente gnóstica e é exemplifificada nas palavras: ‘a terra é como uma ulher e o céu é como um homem porque ele torna a terra fecunda’. Uma deusa importante, a quem muitas preces podem ser encontradas nos livros Mandeanos, é Libat, que tem sido idetificada com Ishtar. Para os Mandeanos, o celibato é um pecado; os homens que morrem sem terem casado estão condenados a reencarnarem – mas caso contrário os Mandeanos não acreditam no ciclo do renascimento. Na morte a alma retorna ao mundo da luz de onde vieram os Mandeanos, e é ajudada em seu caminho com muitas preces e cerimonias, muitas das quais claramente se originam dos antigos ritos funerais do Egito. A religião permeia todos os aspectos da vida diária dos Mandeanos, mas o sacramento chave deles é o batismo, que se apresenta no casamento e em até mesmo serviços funerários. Os batismos dos Mandeanos são imersões completas em piscinas especialmente criadas que estão ligadas a um rio, que é conhecido como um Jordão. Parte de todo ritual é uma série de complexos apertos de mão entre os sacerdotes e aqueles que estão sendo batizados. O dia santo dos Mandeanos é o domingo. Suas comunidades são governadas por sacerdotes que também tomam o título de rei [malka] embora alguns deveres religiosos possam ser realizados pelos leigos. O sacerdócio é hereditário e consiste em três ordens: os sacerdotes comuns que são chamados de discípulos [tarmide], os bispos e a suprema cabeça do povo; embora ninguém tenha sido considerado digno de preenher este papel por mais de um século.

Os Mandeanos afirmam terem existido muito antes do tempo de Batista, que eles vêem como um grande líder da seita deles, mas nada mais. Eles dizem que deixaram a Palestina no século I, tendo se originado em uma região montanhosa que eles chamam de Tura d’Madai, que ainda não tem sido identificada pelos eruditos. Quando os jesuítas pela primeira vez os encontraram no século XVII, foi assumido que eles fossem os descendentes dos judeus que Batista havia batizado, mas agora as afirmações deles de terem existido antes daquele tempo, e de fato, em um outro lugar, estão sendo tomadas seriamente pelos eruditos. Mas eles ainda retém traços de seu tempo da Palestina do século I; seu escrito é similar aquele da Nabateia, o reino árabe que fazia fronteira com a Pereia, onde João Batista pela primeira vez apareceu. Pistas no Hawan Gawaita sugerem que eles deixaram a Palestina em 37 – aproximadamente ao tempo da Crucificação -, mas se isto é uma mera coincidencia é impossível de dizer. Eles foram expulsos por seus rivais, o movimento de Jesus? Até recentemente os academicos pensavam que a negativa dos Mandeanos de que eles viessem de uma seita judaica partida não fosse verdadeira, mas agora é reconhecido que eles não tem raizes judaicas. Porque embora os escritos deles contenham nomes de alguns personagens do Velho Testamento, eles são genuinamente ignorantes dos costumes judaicos e observância ritual – por exemplo, seus homens não são circuncisados e seu Sabbah é no Domingo. Tudo isto indica que eles uma vez viveram perto dos judeus mas nunca realmente fizeram parte deles. Uma coisa que sempre tem intrigado os eruditos sobre os Mandeanos é a insistência deles que eles vieram originalmente do Egito. De fato, nas palavras de Lady Drower, eles se consideram ser, de algum modo, ‘co-religionistas’ dos antigos egípcios, como um de seus textos diz ‘ o povo do Egito era de nossa religião’. A misteriosa região montanhosa, a Tura d’Madai, que eles citam como seu lar original, foi onde a religião emergiu – entre pessoas, eles dizem, que tinham vindo do Egito. O nome do semideus deles que governa o mundo – Ptahil – tem uma surpreendente semelhança com aquele do deus egípio Ptah e, como temos visto, suas cerimonias funerárias parecem ter muito daquelas dos antigos egípcios. Depois de sua fuga da Palestina, os Mandeanos viveram em terras dos Partos e na Pérsia sob governanntes Sassanidas, e eles também estabeleceram na cidade de Hrran – que, como devemos ver, tem alguma importãncia para esta investigação.

Os Mandeanos nunca tem declarado que João Batista foi o fundador deles ou que ele tenha inventado o batismo. Nem eles o vêem como algo mais do que um grande – de fato o maior – líder de sua seita, um Nasurai [um adepto]. Eles afirmam que Jesus, também, era um Nasurai, mas que se tornou um rebelde, um herege, que tirou os homens de seu caminho e traiu as doutrinas secretas. O Livro de João deles conta a história de João e Jesus. Eles afirmam que o nascimento de João foi previsto e uma estrela apareceu e planou sobre Enishbai (Isabel). Seu pai é Zakhria (Zacarias), e ambos os pais, como na história do Evangelho, são velhos e sem filhos. Depois do nascimento dele, os judeus conspiraram contra a criança, que é tomado por Anosh (Enoque) para proteção e oculta em uma montanha sagrada, da qual ele retorna aos vinte e dois anos. Ele então se torna o líder dos Mandeanos, e interessanemente, é representado como um dotado curador. João é chamado ‘O Pescador de Almas’ e ‘O Bom Pastor’. O último termo tem sido usado para Isis e Maria Madalena. Além disso, como Pescador de Almas, Simão Pedro, e os últimos dos muitos velhos deuses mediterraneos, incluindo Tammuz e Osiris – e, com certeza, Jesus. O Livro de João inclui a lamentação de João por uma ovelha perdida que ficou presa na lama, porque ele se curvou a Jesus. Na história Madeana, João toma uma esposa, Anhar, mas ela não tem um papel proeminente na história. Um elemento estranho na história é que os Mandeanos parecem não ter conhecimento da morte de João, que é, com certeza, muito dramática no Novo Testamento. Hía uma sugestão no Livro de João que João morre pacificamente e sua alma é levada pelo deus Manda-t-Haiy na forma de uma criança, mas isto parece ser uma prefiguração poética do que eles pensam que deva ter acontecido ao Batista. Muitos de seus escritos sobre João nunca pretenderam serem tomados como fato biográfico, mas ainda é intrigante que eles ignorassem o que foi essencialmwente a morte de um mártir. Por outro lado, pode ser que o episódio seja central aos seus mistérios mais secretos e interno. E o que há de Jesus no Mandeano Livro de João? Ele aparece sob os nomes de Yeshu Messiah e Messiah Paulis (este é pensado derivar de uma palavra persa que significa ‘enganador’], e algumas vezes como Cristo o Romano. Ele primeiro aparece na história candidatando-se a ser discípulo de João, o texto não é claro, mas a impicação é que Jesus não era um membro da seita, mas um externo. Qunado ele primeiro vai ao Jordão e pede o batismo, João está cético sobre seus motivos e dignidade e se recusa, mas Jesus eventualmente o persuade. Quando Jesus é batizado, Ruha – a deusa das trevas – aparece na forma de uma pomba e atira uma cruz de luz sobre o Jordão. Depois de se tornar discípulo de João, contudo – em um atonito paralelo com as histórias contadas pelos cristãos sobre Simão o Mago – Jesus [nas palavras de  Kurt Rudolph] ‘contiua para perverter a palavra de João e mudar o batismo do Jordão, e se tornar sábio através da sabedoria de João’. O Hawan Gawaita denuncia Jesus nestas palavras: Ele perverteu as palavras de luz e as mudou em trevas e converteu aqueles que eram meus e perverteu todos os cultos’. O Ginza diz: ‘Não acredite nele [Jesus] porque ele pratica feitiçaria e traição’. Os Mandeanos, em sua confusa cronologia, olham para frente para a vinda de uma figura chamada Anosh-Uthra (Enoque) que acusará ‘Cristo o Romano, o mentiroso, o filho de uma mulher, que não é da luz’. e que ‘desmascarará Cristo o Romano como um mentiroso, ele será atado pelas mãos dos judeus, seus devotos o amarrarão e seu corpo será assassinado’. A seita tem um história de uma mulher chamada Miriai [ Miriam ou Maria] que foge com seu amante e cuja família tenta desesperadamente traze-la de volta [mas não antes de dar a ela um pedaço da mente deles expressado em uma linguagem colorida, chamando-a de ‘uma cadela no cio’ e um ‘canal imoral’]. A filha ‘dos governantes de Jerusalém’ vai viver com seu marido Mandeano na boca do Eufrates, onde ela se torna um tipo de profetisa, sentada em um trono e lendo o Livro da Verdade. Se, como parece mais provável, a história é uma alegoria dos próprias viagens e perseguições da seita, isto indicaria que uma facção judaica uma vez juntou forças com um grupo não judeu, a união dos dois resultando nos Mandeanos. Contudo, o nome Miriai e sua apresentação como uma ‘prostituta’ mal compreendida e perseguida, também são sugestivos da tradição de Madalena, como são os detalhes sobre ela ter deixado sua terra natal e se tornar uma pregadora ou profetisa. Em qualquer caso, é interessante que os Mandeanos devam querer se simbolizar como uma mulher.

Os Mandeanos podem parecer uma simples curiosidade antropológica, um povo perdido e confuso que se congelou no tempo e que tem captado crenças bizarras durante anos. Contudo, um estudo cuidadoso dos textos sagrados deles tem revelado alguns excitantes paralelos com outra literatura antiga que tem uma influência em nossa investigação. Seus pergaminhos sagrados são ilustrados com apresentações de deuses que tem uma surpreendente similaridade com aqueles dos papiros mágicos egípcios e gregos – do tipo usado por  Morton Smith em sua pesquisa. As comparações tem sido feitas entre as doutrinas dos Mandeanos e aquelas dos Maniqueus, os seguidores do professor gnóstico Mani (c.216-76); de fato, o consenso é que a seita batismal de Mughtasilah a qual pertenceu o pai de Mani e entre a qual o próprio Mani foi criado, eram Mandeanos [ ou durante seu longo êxodos na direção do sul do Iraque ou em uma comunidade agora extinta]. As doutrins de Mani foram idubitavelmente influenciadas pelos Mandeanos – e foram as doutrinas deles, por sua vez, que exerceram uma forte influência sobre as seitas gnósticas européias, inclusive a dos cátaros. Os eruditos tais como G.R.S. Mead tem ressaltado surpreendentes similaridades entre os textos sagrados dos Mandeanos e Pistis Sophia. De fato, uma seção do Livro de João chamada Tesouro do Amor é vista por ele como ‘os ecos de uma fase anterior’ daquele trabalho. Há também fortes paralelos com vários documentos de Nag Hammadi que tem sido ligados aos ‘movimentos batismais’ que existiam naquele tempo. E estreitas similaridades tem sido notadas entre a teologia Mandeana e aquela de alguns Pergaminhos do Mar Morto. Uma outra conexão provocante ao pensamento é que os Mandeanos são conhecidos por terem se estabelecido em Harran na Mesopotamia. Até o século X este era o centro de uma seita ou escola conhecida como Sabianos, que são muito importantes na história do esoterismo. Eles eram filósofos herméticos e eram extremamente influentes sobre as seitas místicas muçulmanas tais como a dos Sufis, cuja influencia por sua vez tem sido rastreada a cultura do sul da França na Idade Média – por exemplo, como exemplificado nos Cavaleiros Templários. Como diz Jack Lindsay em seu ‘The Origins of Alchemy in Graeco-Roman Egypt’: ‘um estranho bolsão de crenças herméticas, incluindo muitas conectadas com a alquimia, persistiu entre os Sabianos de Harran na Mesopotamia. Eles sobreviveram como uma seita pagã dentro do Islã – por ao menos dois séculos”.

Os Mandeanos, como temos visto, ainda são chamados Sabianos [ou Subbas] pelos muçulmanos modernos, então isso claramente se refere a filosofia deles que era tão influente em Harran. E além do hermeticismo deles que outro legado eles doaram aos Templários? Eles transmitiram sua reverência a, e talvez seu conhecimento secreto de, João Batista? As conexões mais excitantes, contudo, são com o enigmático Quarto Evangelho. Kurt Rudolph, que provavelmente seja o mais importante especialista sobre os Mandeanos em nossos dias, diz: ‘os mais velhos elementos da literatura mandaica tem preservado para nós um testemunho do ambiente oriental do cristianismo inicial que pode ser utilizado na interpretação de certos textos do Novo Testamento [em particular o corpus Joanino]’. Já temos visto que muitos dos mais respeitados e influentes eruditos do Novo Testamento no século XX vêem parte do Evangelho de João – notavelmente o  prólogo ‘No início era o Verbo’ e algumas das discussões teológicas – como tendo sido ‘levantados de textos escritos pelos seguidores de João Batista’. Muitos dos mesmos academicos concordam que estes textos partilharam uma origem comum: os livros sagrados dos Mandeanos. Já em 1926, H.H. Schaeder sugeriu que o prólogo do Evangelho de João – com a palavra feminina [palavra]] era um hino Mandaico tirado dos círculos de Batista. Um outro erudito, E. Schweizer, ressaltou os paralelos entre o discurso do Bom Pastor no Evangelho de João no Novo Testamento e a seção do Bom Pastor no Livro de João Mandeano – e concluiu que eles vieram da mesma fonte original. Com certeza esta fonte original não se aplica a anologia do Bom Pastor com Jesus, mas com João Batista: o Evangelho de João do Novo Testamento efetivamente roubou isso dos Mandeanos/Joanitas. Comentadores tais como Rudolf Bultmann tem concluido que os Mandeanos modernos são verdadeiramente os descendentes dos seguidores de Batista – eles são a evasiva Igreja de João que foi discutida anteriormente. Embora haja razões compelentes para pensar que os Mandeanos modernos sejam meramente um ramo da sobrevivente Igreja Joanita, ainda é instrutivo notar o sumário de W. Schmithals sobre as conclusões de Bultmann: Por um lado João [ o Evangelho] manifesta estreitos contactos com a concepção gnóstica do mundo. A fonte dos discursos, que João toma ou a qual ele adere, é gnóstica em sua visão geral. Isso tem seu mais próximo paralelo nos escritos Mandeanos, o mais velho estrato de cujas tradições remontam ao tempo do cristianismo primitivo. Até mesmo mais compreensivamente, também tem sido argumentado que o material apocalíptico em Q, o documento fonte do Evangelho de Mateus, Marcos e Lucas, veio da mesma fonte do Mandeano Ginza e tem sido sugerido que o batismo cristão desenvolveu-se dos ritos Mandeanos. As implicações deste plágio escritural são surpreendentes. Isso realmente pode ser que muito do material que é tão acalentado por gerações de cristãos como concernentes, ou até mesmo representantes, das reais palavras de Jesus fosse inteiramente sobre um outro homem? E que este outro era uma amargo rival de Jesus, o profeta que não previu a vinda de Jesus, mas que foi reverenciado como o próprio Messias – João Batista? Continuada a investigação revela-se mais e mais evidência que os Mandeanos representem uma linha direta que remonta aos seguidores originais de João. De fato, a mais inicial referência aos Mandeanos data de 729, quando o teólogo sírio Theodore bar Konai, citando do Ginza , explicitamente declara que eles são derivados dos Dositheus. E, como temos visto, os Dositheus eram uma seita herética realmente formada por um dos primeiros discípulos de João, junto com o grupo de Simão O Mago. Há mais. Já temos visto que Jesus foi chamado ‘o Nazareno’ que também é um nome que foi aplicado aos cristãos iniciais – embora não tenha sido criado para descreve-los. Era um termo que já existia e era usado por um grupo de seitas relacionadas as regiões heréticas de Samaria e Galiléia que se viam como preservadores da verdadeira religião de Israel.

Quando usado para Jesus, o termo ‘Nazareno’ o identifica como um membro comum de um culto que, de outra evidência, parece ter estado em existência por ao menos 200 anos antes que ele nascesse. Mas lembre-se que os Mandeanos também chamam seus adeptos de ‘Nasurai’ e isto não é coincidência. Hugh Schonfield, ao discutir os Nazarenos pré-cristãos afirma: ‘Há boa razão para acreditar que os herdeiros destes Nazarenos – são os atuais Nazarenos [também conhecidos como Mandeanos] do Eufrates inferior. O grande erudito bíblico britânico C.H. Dodds concluiu que os Nazarenos era a seita a qual João Batista pertenceu e na qual Jesus começou sua carreira como discípulo de João, mas saiu para começar seu próprio culto e tomou este nome com ele. É possível que os Mandeanos não estivessem confinados exclusivamente ao Iraque e ao Irã nestes dias [se, de fato, eles tiverem conseguido sobreviver as depredações de Saddam] mas também possam ser representados por uma outra seita altamente sigilosa que ainda existe na Síria moderna. Eles são os Nusairiyeh ou Nosairi, (algumas vezes também conhecidos como Alawites por causa da montanha na qual vivem]. O nome é obviamente próximo a Nazareno. Novamente externamente islâmicos, eles são conhecidos por terem adotado ‘os enfeites’ desta religião para se protegerem de perseguição. Embora seja sabido que eles tem uma verdadeira religião que mantém secreta, seus detalhes, por razões óbvias, são dificeis de se descobrir. É acreditado, contudo, ser alguma forma de cristianismo. Um dos poucos europeus que tem conseguido chegar perto dos ensinamentos internos dos Nosairis é Walter Birks, que escreve uma narrativa deles em The Treasure of Montsegur (co-escrito com R.A. Gilbert). Ele passou algum tempo na área durante a Segunda Guerra Mundial e fez amizade com alguns sacerdotes. Sua narrativa é muito circunspecta, já que ele sempre tem honrado o compromisso de segredo que ele deu a eles, mas do que ele diz parece muito provável que eles sejam uma seita gnostica que é muito similar aquela dos Mandeanos. O que é particularmente interessante é um intercâmbio entre Birks e um dos sacerdotes Nosairi depois que eles tinham discutido o assunto dos cátaros e a possível natureza do Santo Gral [ele tinha percebido que alguns dos rituais deles se centrava no uso de um cálice sagrado]. O sacerdote disse a ele: ‘o maior segredo’ da religião deles que era que: ‘Este Gral que você fala é um símbolo e permanece pela doutrina que Cristo ensinou apenas a João o Amado’. Nós ainda o temos. Lembramos a tradição Joanita de algumas formas de Maçonaria Livre oculta européia, e do Priorado de Sião, que os Cavaleiros Templários tinham adotado a religião dos Joanitas do Oriente’ que era composta pelos ensinamentos secretos de Jesus como dados ao amado discípulo João. Uma vez esteja claro que o Evangelho de João foi originalmente material do Batista, então a aparente confusão que notamos anteriormente entre João o Amado e João o Batista é esclarecida.

As tradições Mandeanas sobre João Batista e Jesus se encaixam perplexamente bem com as conclusões que ressaltamos no capítulo anterior: Jesus foi originalmente um discípulo de Batista mas se estabeleceu por seu próprio direito, no prcesso de levar com ele alguns dos discípulos de João. As duas escolas eram rivais, como o eram seus respectivos líderes. Reunido isso, tudo isso acrescenta uma imagem notavelmente consistente. Sabemos que João Batista foi uma figura altamente respeitada com um grande seguimento – uma verdaeira Igreja, de fato – que contudo, desaparece dos registros oficiais depois de uma breve menção nos Atos. Mas este movimento tina uma literatura sua própria, que foi suprimida, embora alguns elementos dele fossem tomados emprestados peos Evangelhos cristãos, especificamenet a Natividade de João em Lucas [ou sua fonte] e a canção de Maria – Magnificat. Mais surpreendente é a evidência, dada acima, que o mito do massacre dos inocentes de Herodes era, contudo fictício, previamente ligado ao nascimento de João, que Herodes temia como o verdeiro Rei de Israel.

Dois outros movimentos que ofereceram uma grande ameaça a emergente Igreja Cristã foram fundados por ouros discípulos de João – Simão o Mago e Dositheus – ambos eram seitas gnósticas que eram influentes na Alexandria. Significativamente, o material de Batista que foi incorporado no Novo Testamento no Evagelho de João é também gnóstico, e os Mandeanos são gnósticos. A conclusão óbvia é que o próprio João Batista era gnóstico. Há também paralelos reveladores entre os escritos dos Mandeanos, Simão o Mago, o Evangelho de João e os textos coptas gnósticos, principalmente Pistis Sophia, que desempenha uma parte importante em nossa investigação de Maria Madalena. Nenhuma das seitas – Mandeanos, Simonianos e Dositheanos – que eram associadas a João Batista faz parte da religião judaica embora todos eles tenham começado na Palestina, dois deles na terra heretica ao norte, a Samaria. E se todos estes grupos não eram da religião judaica, a inferência clara é que João também não era judeu. Porque embora as idéias gnósticas possam ser traçadas a outros lugares e culturas – notavelmente o Irã – há uma clara linha de influência da religião do Egito antigo. É lá que encontramos os mais estreitos paralelos com as idéias e ações de Jesus, e, significativamente, os proprios Mandeanos traçam sua ancestralidade de volta ao Egito. A despeito do estado confuso dos textos deles, muito dos que os Mandeanos dizem sobre eles próprios é sustentado pela erudição moderna, que era, se algo, inicialmente cética sobre as afirmações deles. Os Mandeanos afirmam que os percursores de sua seita vieram do antigo Egito, embora a própria seita tenha se originado na Palestina. Eles não eram judeus, mas viviam ao longo dos judeus. A seita deles, conhecida então como os Nazarenos, era liderada por João Batista, mas existia antes dele. Interessantemente, eles o honram, mas não o consideram ser algo maior do que um líder ou profeta. Eles sofreram perseguições, primeiro dos judeus, e então dos cristãos, e foram expulsos da Palestina, cada vez mais longe em direção a leste, de sua terra natal. A opinião Mandeana de Jesus, que ele era um mentiroso, um enganador e um feiticeiro mau – concorda com aquela do Talmud judaico, no qual ele é condenado por desviar os judeus, e no qual sua sentença de morte é atribuida a ele ter sido condenado como um ocultista. Todas as seitas ligadas a João Batista, conquanto relativamente pequenas, se tomadas reunidas eram um enorme movimento. Os Mandeanos, Simonianos e Dositheanos – e, arguidamente, até mesmo os Cavaleiros Templários – foram brutalmente perseguidos e suprimidos pela Igreja Catóica por causa de seu conhecimento sobre, e reverência por, o Batista, deixando apens o pequeno grupo dos Mandeanos no Iraque. Em alguns lugares, particularmente na Europa, os Joanitas podem ter ido para o subterrâneo, mas eles continuam a existir.

Nos círculos ocultos europeus, os Cavaleiros Templários eram ditos terem derivado seu conhecimento dos ‘Joanitas do Oriente’. Outros movimentos esotéricos e secretos, tais como os Maçons Livres, especificamente estas ordens que afirmam uma descendência direta dos Templários, e também dos Ritos Egípcios, e o Priorado de Sião, sempre tem particularmente venerado João Batista. Para resumir os pontos principais desta tradição Joanita: – 1 – ele tem uma ênfase especial no Evangelho de João, porque eles afirmam que ele retém os ensinamentos secretos dados a João Evangelista [o Discípulo Amado] por ‘Cristo’; – 2 – Há evidente confusão entre João Evangelista [o presumido autor do Quarto Evangelho] e João Batista. Esta confusão permanece uma característica da corrente principal da Livre Maçonaria. – 3 – As ‘tradições secretas’ referidas são especificamente gnósticas. – 4 – Embora afirmando representar uma forma esotérica de cristianismo, uma que guarda os ensinamentos secretos de Jesus, a tradição mostra uma marcante falta de respeito pelo próprio Jesus. Na melhor das hipóteses, ela parece ve-lo como meramente mortal, ilegítimo e talvez até mesmo sofrendo de delírios de grandeza. Para os Joanitas, o termo ‘Cristo’ não significa um status divino, mas é tomado simplesmente como um sinal de respeito, e de fato, todos os seus líderes são conhecidos como ‘Cristo’. Por esta razão quando um membro de um tal grupo se chama ‘cristão’ isto não significa bem o que parece ser. – 5 – A tradição também  vê Jesus como um adepto da escola egípcia de mistério de Osiris, e os segredos que ele transmitiu como sendo aqueles do círculo interno de Osiris. Em sua forma original, o Evangelho de João do Novo Testamento não era uma escritura do movimento de Jesus, mas um documento originalmente pertencente aos seguidores de João Batista. Contudo, onde diga respeito a tradição Joanita, esta confusão foi deliberada. Não há evidência para um movimento de Joanitas do Oriente que formaram uma Igreja esotérica fundada por João Evangelista. Há, contudo, considerável evidência da existência de uma tal Igreja inspirada por João Batista. Isto ainda é representado pelos Mandeanos e talvez pelos Nosairis. Indubitavelmente os Mandeanos eram encontrados em outras partes no Oriente Médio – as localizações não são conhecidas – mas hoje eles estão confinados a pequenas comunidades no Iraque e no Irã. É mais do que possível que eles ainda existissem ao tempo das Cruzadas, e portanto terem entrado em contacto com os Templários, e é também provável que a Igreja Ocidental de João foi para o subterrâneo tão cedo quanto nos séculos iniciais da era cristã. Até mesmo dado o tratamento atroz que eles tem recebido dos cristãos, é difícil explicar porque os Mandeanos ao menos continuem a expressar um ódio ardente em relação ao próprio Jesus. Na verdade, eles o vêem como um falso Messias que roubou os segredos de seu Mestre João e os usou para desviar alguns de seus próprios membros, mas afinal neste tempo há uma completa veemência de sua hostilidade parecer inexplicável. Nem a sua história de perseguição explica bem porque eles ainda fulminam contra Jesus pessoalmente com tal calor. O que ele pode possivelmente ter feito para merecer tão continuada vilificação século após século?

CAPITULO DEZESSEIS
A GRANDE HERESIA

Estamos cientes que muito do contido nos últimos poucos capítulos podem ter sido um choque para muitos leitores, particularmente se eles não estão familiarizados com a recente erudição bíblica. Afirmar que o Novo Testamento representou mal o Batista como sendo subserviente a Jesus, e que o sucessor oficial de João era o mágico sexual gnóstico Simão o Mago fica estranho demais a história ‘tradicional’ como a sugerir uma completa fabricação. Mas como temos visto, miutos eruditos do Novo Testamento altamente considerados fizeram estas descobertas muito independentemente: temos meramente as citado e comentado. A maioria dos eruditos bíblicos modernos concorda que João Batista era um proeminente líder político, cuja mensagem religiosa de alguma forma ameaçava desestabilizar o status quo da Palestina daquele tempo – e a muito tem sido reconhecido que Jesus foi uma figura similar. Mas como este dimensão política para a missão dele se relaciona ao que temos descoberto sobre sua base na escola egípcia de mistério? Deve ser lembrado que a religião e a política eram uma só e a mesma coisa no mundo antigo, e qualquer carismático arastador de multidões era automaticamente cosiderado uma ameaça política pelos poderes que eram. E estas mesmas multidões teriam procurado o líder para orientação, o que era provável, no mínimo, aborrecer as autoridades. A mistura junta de religião e politica foi exemplificada no conceito do Rei Divino, ou Caesar como deus.  No Egito os faraós eram acreditados serem deidades a partir do momento de sua sucessão: eles começavam como Horus encarnado – a prole mágica de Isis e Osiris – e depois dos ritos sagrados da morte terem sido completados, eles se tornavam Osiris. Até mesmo nos dias do Império Romano, a família governante do Egito, a dinastia grega Ptolomaica, de quem Cleopatra é o membro mais conhecido, eram escrupulosos em manter a tradição do Faraó como deus.

A Rainha do Nilo se identificava estreitamente com Isis, e era frequentemente retratada como uma deusa. Um dos conceitos mais duradouros ligados a Jesus é aquele de realeza . Cristo Rei é frequentemente usado pelos cristãos intercaladamente com Cristo O Senhor, e embora ambos sejam usados simbolicamente, há ainda um sentido persuasivo que ele de alguma forma era da realeza – e a Bíblia concorda. O Novo Testamento é inequívoco sobre este ponto: Jesus era um descendente direto do Rei David, embora a acurácia desta declaração não possa ser verificada. O ponto crucial é que o próprio Jesus ou acreditava que ele fosse da linhagem real, ou queria que seus seguidores acreditassem nisto.   Em qualquer caso, não há dúvida de que Jesus estava afirmando ser o legítimo rei de toda Israel. Diante disso, isto estaria em estranheza com a nossa idéia de que Jesus era da religião egípcia, porque então os judeus deveriam até mesmo ouvir um pregador não judeu, isso sem falar em aceita-lo como seu rei por direito? Como temos isto no Capítulo Treze, muitos dos seguidores de Jesus pareciam pensar que ele fosse judeu: presumidamente isto era uma parte essencial do plano dele. Contudo, a questão permanece – porque ele deveria querer ser o rei dos judeus? Se estamos certos e ele queria restaurar o que ele acreditava ser a religião original do povo de Israel, ao trazer de volta ao feroz patriarcado os deuses perdidos do Templo de Salomão, que melhor meio do que se estabelecer nos corações e mentes das massas como seu governador por direito? Jesus queria o poder político; talvez isso explique o que ele esperava alcançar por se submeter ao rito iniciático da Crucificação e subsequente ‘Resssurreição’ pela intervenção de seus sacerdotes e parceira no casamento sagrado, Maria Madalena. Ele pode realmente ter verdadeiramente acreditado que ao morrer e ressuscitar novamente, ele seria ben vindo – da velha maneira dos faraós – O próprio deus rei Osiris. Como um imortal deificado, Jesus então teria um ilimitado poder mundial. Mas obviamente algo saiu completamente errado. Como um exercício de poder que se eleva, a Crucificação era algo de um debacle, e presumidamente a esperada explosão de energia mágica não se materializou. Como temos visto, eruditos tais como Hugh Schonfield sugerem que é muito improvável que Jesus tenha perecido na cruz ou como resultado direto de seus tormentos. Mas parece que ele tenha sido retirado ou de algum modo incapacitado, porque não apenas a grande explosão de energia não se materializou, mas também Madalena deixou o país, eventualmente chegando a França. Pode-se especular que sem Jesus – o protetor dela – ela repentinamente se encontrou ameaçada pelos seus velhos oponentes, Simão Pedro e seus aliados. A idéia que qualquer judeu teria sido receptivo a um líder não judeu parece improvável a primeira vista. Contudo, este cenário não é impossível porque foi o que realmente aconteceu. Josephus em seu ‘The Jewish War’ registra que, aproximadamente vinte anos depois da crucificação, uma figura conhecida apenas como ‘O Egípcio’ entrou na Judeía e levantou um considerável exército de judeus para derrubar os Romanos. Referindo-se a ele como ‘um falso profeta’, Josephus diz; ‘Chegando no país este homem, uma fraude que se passava como um vidente, juntou aproximdamente 30.000 incautos, levou-os ao redor do interior para o Monte das Oliveiras e de lá estava pronto para forçar a entrada em Jerusalém para dominar a guarnição romana, e tomar o poder supremo com seu companheiros de assalto como guarda de segurança. Este exército foi derrotado pelos Romanos, sob Felix [o sucessor de Pilatos como governador] embora o próprio Egípcio escapasse e desaparecesse completamente da história. Embora houvesse colonias judias no Egito e então esta rebelião estrangeira possa portanto ter sido de um judeu, este episódio ainda é instrutivo porque alguém que era ao menos percebido como um egípcio foi capaz de reunir um número substancial de judeus no próprio país deles. Outra evidência, contudo, sugere que este líder não era um judeu: a mesma figura é mencionada nos Atos dos Apóstolos (21:38). Paulo tihna sido resgatado da multidão no Templo de Jerusalém e colocado sob a ‘custódia protetora’ pelos Romanos, que claramente estavam inseguros quanto a sua identidade. O capitão da guarda perguntou a ele: “Você não é aquele Egípcio que antes destes dias fez uma rebelião, e liderou para a vastidão 4.000 homens que eram assassinos? E Paulo respondeu: Sou um homem que é um judeu de Tarso”. Este epísódio oferece algumas perguntas interessantes: porque um egípcio se preocuparia em liderar uma revolta palestina contra os Romanos? E talvez até mesmo mais pertinente, porque deveriam os romanos ligar Paulo – um pregador cristão – com este egípcio estimulador do ódio? O que na terra eles teriam em comum? Então há um outro ponto importante: a palavra traduzida como ‘assassinos’ na versão do Rei James é realmente sicarii, que é o nome dos mais militantes judeus nacionalistas, que eram notórios por suas táticas terroristas. O fato de que eles fossem capazes de se reunir por trás de um estrangeiro nesta ocasião demonstra que é possível que eles o tenham feito no caso de Jesus.

Nossa investigação sobre Maria Madalena e João Batista tem lançado uma nova luz sobre Jesus. Agora o percebemos como radicalmente diferente do Cristo da tradição cristã. Parece haver dois fios principais para a massa de informação sobre ele que tem emergido: um que o conecta a uma base não judaica, especificamente egípcia e o outro no qual ele é visto como rival de João. Que imagem emerge quando combinamos os dois? Os Evangelhos são muito cuidadosos em apresentar Jesus como literalmente divino; portanto todo mundo – João incluido – era seu inferior espiritual. Mas uma vez que isso seja visto como mera propaganda, a história finalmente entra no lugar. A primeira maior diferença da história geralmente aceita de Jesus é que, colocando de lado os preconceitos, ele não for marcado deste o início como o Filho de Deus, nem o seu nscimento teve o comparecimento de enviados angélicos. De fato, a história de sua miraculosa natividade foi em parte um completo mito, e em parte ‘levantada’ da história [igualmente mítica] do nascimento de João. Os Evangelhos dizem que a carreira de Jesus começou quando João o batizou, e seus primeiros discípulos foram recrutados entre os seguidores de Batista. E é também como um discípulo de João que Jesus figura nos textos Mandeanos. Contudo, é muito provável que Jesus fosse um membro do círculo interno de Batista, e, conquanto a proclamação de João de Jesus como o Messias esperado nunca tenha acontecido, a história pode ecoar alguma citação genuína dele. Há até mesmo a possibilidade que ele realmente fosse o herdeiro aparente de Batista por um tempo, mas algo muito sério aconteceu que fez com que João tivesse segundos pensamentos e ao invés indicasse Simão o Mago. Parece ter havido um movimento de ruptura no grupo de João; presumidamente o próprio Jesus liderou o cisma. Os Evangelhos registram o antagonismo entre os dois conjuntos de discípulos, e sabemos que o movimento de João continuou após a morte dele, independente do culto de Jesus. Certamente houve algum tipo de disputa maior ou luta pelo poder entre os dois líderes e seus seguidores; testemunho são as dúvidas de João, quando na prisão, sobre Jesus. Há dois cenários possíveis: O cisma pode ter acontecido antes da prisão de João e tenha sido um claro rompimento. Isto é indicado no Evangelho de João (3:22-36), mas não nos outros [eles se concentram apenas em Jesus depois de seu batismo]. Alternativamente, depois que João foi preso, Jesus pode ter tentado assumir a liderança – por sua própria iniciativa ou por ser o segundo em comando depois de João. Mas por algumsa razão, ele não foi aceito por todos os seguidores de João. Como temos visto, Jesus pareceu ter motivos complexos, mas parece inegável que ele conscientemente encenou dois principais dramas religioso-político, um esotérico e o outro exotérico, respectivamente a história de Osiris e o papel profetizado do Messias judeu. Sweu ministério sugere uma estratégia definida, que era desempenhada em três estágios principais: primeiro, atrair as massas ao realizar milagres e curas; então, uma vez eles iniciassem a segui-lo, fazer discursos prometendo a eles uma Idade Dourada [ o Reino do Céu] e uma vida melhor; e finalmente fazer com que eles o reconhecessem como o Messias. Por causa da hipersensibilidade a respeito dos subversivos em potencial, sem dúvida ele tinha que fazer sua declaração do Messianismo implicita muito mais que afirmar isto claramente. Muitas pessoas hoje aceitam que Jesus tinha uma agenda política, mas isto ainda é visto como secundário ao ensinamento dele. Entendemos que precisamos estabelecer nossa hipótese sobre seu caráter e ambições contra o contexto do que ele pregava. A crença que ele advogava um sistema coerente lógico baseado na compaixão e amor é tão disseminada que é tomada ao pé da letra. Para virtualmente todo mundo, dos mais religiosos, Jesus é o epítomo da gentileza e bondade. Nestes dias, até mesmo quando ele não é pensado como Filho de Deus, ele é ainda visto como um pacifista, um defensor dos rejeitados e  das crianças. Para os cristãos e muito grandemente também para os não cristãos, Jesus é percebido como a pessoa que quase que inventou a compaixão, o amor e o altruismo. Claramente, contudo, este não  é o caso: obviamente sempre há boas pessoas em todas as culturas e religiões, mas especificamente a religião Isiana daquele tempo colocava uma grande ênfase na moralidade e responsabilidade pessoais, em manter os valores da família e respeitar todas as pessoas.

Um exame objetivo das histórias dos Evangelhos revela algo bem ourto do que o consistente professor moral Jesus é acreditado ter sido. Até mesmo embora os Evagelhos sejam efetivamente uma propaganda pró Jesus, a imagem que eles pintam do homem e seus ensinamentos é inconsistente e evasiva. Brevemente, os ensinamentos de Jesus como apresentados no Novo Testamento são contraditórios. Por exemplo, por um lado ele diz a seus seguidores para ‘voltar a outra face’ e perdoar seus inimigos e abrir mão de suas posses ao ladrão que rouba algumas delas  – mas por outro lado ele declara ´não vim trazer a paz, mas a espada’.  Ele sustenta o mandamento ‘honra teu pai e tua mãe’ mas ele também diz: “se algum homem vem até mim e não deia sei pai, sua mãe, e mulher, e filhos e irmãos e irmãs a a sua própria vida também, não pode ser meu discípulo’. Seus seguidores podem ter sido solicitados  a odiarem suas próprias vidas, mas ao mesmo tempo nos édito que devemos amar nossos vizinhos como a nós mesmos. Os teólogos tentam explicar tais discrepâncias ao afirmar que alguns dos dizeres são para serem considerados literalmente mas outros devem se-lo metaforicamente.  O problema com isso, contudo, é que a teologia foi investada para conciliar tais contradições. As teologias cristãs iniciam com a assunção que Jesus era Deus. Este é um exemplo principal de raciocínio circular: para eles, todo que Jesus diz deve estar certo porque foi ele que o disse, e ele disse isso porque estava certo. Contudo, a teoloia falha na base se Jesus não era Deus encarnado, e as claras contradições nas palavras atribuías a ele podem ser vistas na dura luz do dia. Os cristão de hoje tendem a pensar que a imagem de Jesus permaneceu intocada por 2.000 anos. De fato, o modo que ele é pensado hoje é vastamente diferente do modo que ele foi percebido dois séculos atrás, quando a ênfase sobre ele era a de um férreo juiz. Ela muda de era em era e de lugar em lugar.

Jesus como juiz foi um conceito por trás das atrocidades como as Cruzadas Cátaras e os Julgamentos das Feiticeiras, mas desde os tempos vitorianos ele tem sido o ‘gentil’ Jesus, manso e suave. Tais imagens contraditórias são possíveis porque os ensinamentos dele, como dados nos Evangelhos, podem ser todas as coisas para todos os homens. Curiosamente, esta própria qualidade nebulosa pode realmente possuir a chave para o entendimento das palavras de Jesus. Os teólogos tendem a esquecer que ele estava se dirigindo a pesoas reais e viventes em um real ambiente político. Por exemplo, suas falas pacifistas podem ter sido uma tentativa de eliminar as suspeitas das autoridades sobre seu potencial subversivo. Por causa do turbilhão do tempo, as incursões dele teriam incluido informantes e ele tinha que observar o que dizia. [Afinal, João tinha sido preso por causa das suspeitas que eu pudesse levar a uma revolta]. Jesus tinha que ser muito cuidadoso: por um lado ele tinha que construir apoio popular, mas por outro lado, ele tinha que se apresentar como não oferecendo uma ameaça ao status quo – até que ele estivesse pronto. Sempre é importante entender o contexto de qualquer ponto que Jesus estabelece. Por exemplo, a frase ‘tolerem as criancinhas que vem até mim’ é que que universalmente tomada como um exemplo de sua gentileza, abordabilidade e amor pelos inocentes. Deixando de lado o fato de que os políticos astutos sempre tem beijado bebês, deve ser lembrado que Jesus apreciava ricularizar a convenção, mantendo a companhia de mulheres de moral duvidosa e até mesmo de cobradores de impostos. Quando os discípulos tentavam refrear mães e crianças, Jesus se apresentava imediatamente e dizia que eles viessem até ele. Este pode ser um outro exemplo de sua delícia em quebrar convenções, ou simplesmente deixar que os discípulos soubessem que ele era o chefe. Similarente, quando Jesus disse sobre as crianças: ‘seja quem for que ofenda um desses pequeninos que crêem em mim, é melhor para ele ter pendurada uma pedra em seu pesçoco, e ser atirado no mar’. A maioria das pessoas lê isto como uma declaração do seu amor divino pelas crianças. Mas poucas pessoas percebem a qualificação ‘que acreditam em mim’. Nem todas as crianças se qualificam para este amor, somente aquelas que pertencem aos seus seguidores. De fato, ele está jogando com a insignificância das crianças, dizendo que de fato “até mesmo uma criança que me segue é importante’. A ênfase não está nos pequeninos, mas em sua própria importância. Como temos visto na Prece do Senhor, as palavras mais conhecidas e mais amadas de Jesus também são, ironicamente, as mais abertas à questão. “Oh Pai Nosso que estais no céu’ não era uma forma de palavras inventadas por Jesus: parece que João Batista também as usava naquele tempo, e em qualquer caso, elas se originaram da prece de Osiris-Amon. Também é assim com o Sermão da Montanha, como diz Bamber Gascoigne em seu ‘The Christians’: ‘Nada no Sermão da Montanha é exclusivamente original de Cristo’. Mais uma vez, encontramos Jesus falando as palavras que são primeiramente atrbuidas a João Batista. Por exemplo, no Evangelho de Mateus (3:10) João diz, ‘cada áravore que não dá bom fruto é ceifada e lançada ao fogo’. Então, mais tarde no mesmo Evangelho (8:19-20), no Sermão da Montanha, Jesus repete esta metáfora palavra por palavra, acrescentado “portanto pelos seus frutos devemos conhece-las’. Embora seja improvável que Jesus até mesmo tenha dado uma única fala do que hoje é conhecido como Sermão da Montanha, é provável que isso represente os pontos chave de seu ensinamento – como entendido pelos escritores dos Evangelhos. Embora ao menos uma destas tendências já tenha sido reconhecida ser parte da mensagem de João, o Sermão é indubitavelmente complexo: ele inclui declarações éticas, espirituais e até mesmo políticas e portanto merece um exame mais íntimo.

A evidência de Jesus ter uma agenda política é excepcionalmente forte. Uma vez isso seja entendido, muitos de seus mais evasivos dizeres entram no lugar. O Sermão da Montanha parece consistir em uma série de declarações de uma linha, que são particularmente confortantes por causa da autoridade pela qual elas são pronunciadas, tal como ‘Abeçoados sejam os puros de coração porque deverão ver Deus’. Contudo, os cínicos podem ve-las meramente como uma cadeia de superficialidades, ou muito mais promessas absurdas [abençoados aqueles que são dóceis porque eles devem herdar a Terra’]. Afinal, todo revolucionário na história tem tentado se fazer popular para as pessoas comuns, especialmente ao apelar aos insatisfeitos e despossuidos, exatamente como hoje os políticos fazem promessas aos desempregados. Isto se encaixa na agenda dele como um todo: seus ataques repetidos aos ricos eram uma parte essencial de seu apelo ao apoio popular, já que os ricos sempre são foco do descontentamento. O fato permanece que as palavras de Jesus – ‘ame seus inimigos/ abençoados aqueles que fazem a paz/abençoados os misericordiosos’ parecem ser aquelas de um genuino compassivo, um homem amoroso e interessado no semelhante. Se ele era ou não o Filho de Deus, ele parece ter incorporado um espírito notável.  Se parecemos expressar algum cinismo sobre o homem e seus motivos, assim o fazemos por causa daquilo que a evidência sugere que isso seja justificado. Para um início, como temos visto, as palavras de Jesus – ao menos como relatadas nos Evangelhos – são frequentemente ambíguas e algumas vezes completamente contraditórias, e ocasionalmente elas podem ser mostradas term se originado de João Batista. Até mesmo assim, pode ser pensado que nossas sugestões sejam contraditórias: por um lado o questionamento dos motivos de Jesus e até mesmo de sua integridade, enquanto por outro alinhando-o firmemente ao amoroso e compassivo culto de Isis. Ainda que não haja contradição nisso: por toda história homens e mulheres tem sido atraidos para diferentes religiões ou sistemas políticos e tem se tornado fervorosos convertidos, somente para em uma data mais posterior usa-los para adiantar suas próprias causas, talvez até mesmo se persuadindo que eles tinham apenas os melhores interesses no coração. Exatamente como a história tem mostrado que o cristianismo – que se proclama a religião do amor e da compaixão – tenha produzido filhos e filhas que levam vidas menos do que exemplares, então a religião Isiana tem se complicado por depredações da natureza humana com o passar dos anos.

Então, Jesus como um mágico fazedor de maravilhas que juntou multidões porque ele as entretinha. Expulsar demonios deve ter sido espetacular e assegurado que o exorcista fossem assunto durante meses depois dele ter deixado a vila. Tendo obtido a atenção das multidões, Jesus começou a ensina-las, para se construir como o Messias. Mas, como temos visto, Jesus iniciou como discípulo de João, o que de imediato levanta a questão: o Batista tinha as mesmas ambições? Infelizmente, temos poucas informações disponíveis, sendo impossível fazer mais do que especular. E embora a imagem que tenhamos de João dificilmente seja a de um dinâmico líder mundial, nossa concepção daquela figura friamente justiceira vem das páginas da propaganda do movimento de Jesus – os Evangelhos do Novo Testamento. Por um lado, Herodes Antipas prendeu João [segundo a fonte mais confiável de Josephus] porque pensava que ele fosse um subversivo em potencial, mas isto pode ter sido um movimento prolifilático muito mais do que uma reação a algo realmente dito ou feito. Por outro lado, os seguidores de João, incluindo os Mandeanos, não pareceram reconhecer qualquer ambição política da parte do líder deles, mas isto pode ter sido porque ele foi preso ante que pudesse mostrar sua mão – ou simplesmente porque não estivessem cientes dos motivos secretos dele. O evento que marcou o momento em que Jesus entrou em ação parece ter sido aquele de alimentar os 5.000. Os Evangelhos retratam isso como sendo apenas um tipo de piquenique milagroso, com o anfitrião surpeendendo as pessoas ao multiplicar o pobre suprimento de cinco pães e dois pequenos peixes e então alimentando a todos, msa naquele tempo esta história tinha uma profunda importância que tem sido perdida: o milagre é totalmente diferente de qualquer outro relatado de Jesus – os outros que eram destinados ao grande público, todos diziam respeito a curas de uma ou outra forma. Segundo, os próprios Evangelhos sugerem que haja algo importante sobre este evento que até mesmo eles não apreendem. O próprio Jesus reforça isso ao dizer misteriosamente: “vocês que procuram por mim, não porque vêem sinais, mas porque comeram dos pães”. Ao menos no Evangelho de Marcos ninguém está surpreso com o evento. Como diz A.N. Wilson: ‘O milagre ou sinal se concentra em alimentar, e não na multiplicação dos pães’. De fato, isto é perceptível na narrativa de Marcos; ninguém expressa a menor perplexidade neste incidente. Quando Jesus cura um leproso, ou cura um cego, o evento é suficientemente perplexante ou surpreendente para todo mundo que ouve sobre isso. Não há surpresa alguma em Marcos. A importância de alimentar multidões não era de naturea paranormal. É possivel que os escritores dos Evangelhos inventassem o milagre parte da história porque eles sabiam que eles tinham que fazer isto permanecer por alguma razão, mas não soubessem bem o porque. O ponto chave é que havia, segundo os Evangelhos, 5.000 homens – podia também haver um número não especificado de mulheres e crianças, mas elas eram irrelevantes para esta história em particular. A narrativa pode começar ao falar de 5.000 pessoas, mas depois especifica que este era o número da multidão de homens. Há uma importância especial nisto: é ressaltado que Jesus fez todos se sentarem juntos. Como diz A.N. Wilson: ‘Faça os homens se sentarem! Faça os Essênios se sentarem! Faça os Fariseus se sentarem! Faça os Iscariotes [sicariis] se sentarem e faça Simão o Zelote se sentar , com este bando patriótico de guerrilhas terroristas! Sentem-se oh homens de Israel!’. De fato, Jesus estava fazendo com que facções guerreiras se sentassem pacificamente e tomassem juntas uma refeição ritual. Como argumenta A.N. Wilson, isto parece ter sido literalmente uma reunião de clãs – uma reunião maciça de velhos inimigos, ao menos temporariamente unidos por Jesus, o antigo discípulo de João Batista. A própria linguagem que Marcos (6:39-40) usa é altamente sugestiva de um evento militar: ‘E ele comandou [os discípulos] a fazerem todos se sentarem por companhias sobre a grama verde. E eles se sentaram em fileiras, por centenas e aos cinquenta’.

Segundo o Evangelho de João (6:15) foi como um resultado direto dos ‘pães’ que o povo queria que Jesus fosse Rei. Este claramente foi um grande evento, mas parece ter mais do que o significado óbvio porque issso aconteceu imediatamente depois da decapitação de João. Como a história vai em Mateus (14:13): Quando Jesus ouviu sobre isso [a morte de João] ele partiu por barco para um lugar deserto a parte; e quando as pessoas tinha ouvido isso, elas o seguiram a pé fora das cidades. Jesus pode ter sido tão dominado pelo luto com as notícias da morte de João que precisasse da paz do deserto; o que foi infelizmente curta, por ser abalada pela chegada de uma horda de pessoas que queria ouvi-lo pregar. Talvez elas necessitassem ser reasseguradas que os ideais de João não estavam mortos e que sua continuidade estava assegurada através de Jesus. De qualquer modo, a morte de João foi muito importante para Jesus. Isto pavimentou o caminho para ele se tornar o líder do grupo e possivelmente manter o elmo de todo o povo. É provável que ele já houvesse tomado o movimento de João depois da prisão deste, e quando o povo ouviu sobre a subsequente execução de João, eles se apressaram para seguir seu segundo em comando – Jesus. Há muitas perguntas não respondidas que se levantam relativas ao inteiro episódio da prisão de João; mais uma vez, parece como se os Evangelhos estivessem ocultando algo de nós. Eles dizem que a razão para a prisão de João foi que ele tinha falado contra o casamento ilegal de Herodes com Herodias, mas a narrativa de Josephus afirma que João foi preso porque ele era visto ou como uma real ou potencial ameaça ao governo de Herodes. Josephus não dá detalhes em sua narrativa das circunstâncias da morte de João ou do meio que foi usado em sua execução. Então há uma aparente mudança abrupta de atitude sobre o messianismo de Jesus: talvez ele tivesse ouvido algo sobre Jesus enquanto estava na prisão que lançou uma dúvida sobre isso. E, como temos visto, há algo claramente insatisfatório sobre as razões dadas pela morte de João. Segundo os Evangelhos, Herodes foi instigado a matar João por Herodias, tendo a filha desta, Salomé agindo como intermediária. Nos é dito que Salomé, agindo sob instruções de sua mãe Herodias, pede a Herodes a cabeça de João e que ele atende o pedido, embora relutantemente. Este é um cenário extremamente improvável: dado o que é sabido sobre a extensão da popularidade de João, Herodes dificilmente seria tolo o bastante para mata-lo por causa de tal desejo perverso. João Batista pode ter sido uma ameaça enquanto vivo, mas pode-se pensar, teria sido um perigo muito maior como um mártir. Herodes pode, com certeza, ter considerado válido o risco e exercido sua autoridade, não importa quão grande fosse o acompamento de Batista. Se assim, ele teria tido João executado inequivocamente por suas ordens; certamente ele não teria agido sobre um assunto tão grave apenas para manter feliz sua sádica enteada. Dada as circunstâncias, parece estranho que não tenha havido uma rebelião civil em grande escala, ou até mesmo um levante. Como temos visto, Josephus registra que as pesssoas atribuiram a derrota esmagadora do exército de Herodes logo depois à divina retribuição pela morte de João, o que ao menos revela que a tragédia teve um impacto duradouro e poderoso. Contudo não houve rebelião. Ao invés, alguma tensão foi difundida por Jesus, que, como temos visto, imediatamente presidiu a Alimentação dos 5.000. Ele acalmou as pessoas? Ele engendrou conforta-las sobre a morter do amado Batista? Ele bem pode ter feito isso, mas não há menção de tal coisa nos Evangelhos. Claramente, contudo, muitos dos discípulos de João perceberam Jesus como tomando o manto de seu mestre. Então a versão dos escritores dos Evangelhos sobre a morte de João faz pouco sentido. Porque eles pensariam ser necessário inventar tal história tortuosa? Afinal, se a intenção deles era simplesmente minimizar o papel do seguimento de João, eles poderiam ter feito de sua morte o prímeiro martirio cristão.  Mas como isso se mostrou, eles descreveram isso como resultado de uma sórdida intriga palaciana – Herodes está contente de ter João preso, então ele tinha que ser atraido a te-lo morto. Mas porque eles deviam sair de seu caminho e insistir que Herodes saiu disso como um homem decente que caiu na armadilha de uma mulher ardilosa para ordenar uma morte pavorosa? Parece, portanto, que havia tido uma intriga palaciana cercando a morte de João, que era tão bem conhecida pelos escritores dos evangelhos para que eles a ignorassem. Mas ao reescrever a história para que esta se adequasse aos seus próprios fins, eles involuntariamente criaram uma falta de lógica. Herodes Antipas não se beneficiou de algum modo da morte de João – a fala dele contra seu casamento já era amplamente conhecida e o dano já estava feito. Se algo, o inverso era verdadeiro: a morte de João tornou a situação mais difícil para ele. Então quem se beneficiou com a morte de João?

Segundo a teóloga australiana Barbara Thiering, rumores tinham circulado naquele tempo que a facção de Jesus era a ser culpada. Tão chocante quanto isso de início possa parecer,  nenhum outro grupo conhecido teria se beneficiado mais pela remoção de João Batista. Apenas por esta razão, os apoiadores de Jesus não devem ser minimizados, se, como suspeitamos, a morte de João foi realmente um assassinato inteligentemente concebido. Afinal, conhecemos a identidade do líder rival que ele escolheu lançar dúvidas da prisão, no que possivelmente tenha sido a última expressão pública que ele tenha feito. Ainda que nutrir suspeitas seja uma coisa, e encontrar evidência que as apoie seja uma coisa muito diferente. Depois da passagem de 2000 anos é, com certeza, impossível encontrar pistas frescas e diretas sobre a verdade quanto a este assunto, mas ainda é possível descobrir uma estrutura esqueleto de evidência circunstancial que certamente nos dá uma pausa para pensar. Afinal, como temos visto, deve ter havido razões específicas para a tradição Joanita, ao menos para os heréticos, da frieza em relação a Jesus, e em sua forma mais extrema, a ativa hostilidade Mandeana em relação a ele. As razões devem estar nas cicunstâncias que cercam a morte de João. Curiosamente, embora este possa ser um dos mais bem conhecidos episódios do Novo Testamento, apenas sabemos o nome da filha de Herodias – Salomé – por meio de Josephus. Os escritores dos Evangelhos cuidadosamente evitam menciona-lo, até mesdmo embora haja o registro dos nomes de todos os maiores participantes da cena. Pode ser que eles deliberadamente tenham ocultado o nome dela? Jesus tinha uma discípula chamada Salomé. Contudo, embora seu nome seja listado como o de uma mulher que permaneceu aos pés da cruz e foi com Madalena até a tumba no Evangelho de Marcos, em Mateus e Lucas – que usaram Marcos como fonte deles – ela tem misteriosamente desaparecido. Sobretudo, vimos anteriormente a curiosa omissão do episódio aparentemente inócuo do Evangelho de Marcos, que é revelado no livro de Morton Smith ‘The Secret Gospel’: ‘Então ele veio a Jericó. E a irmã do jovem homem que Jesus amava estava lá com a mãe dele e Salomé, mas Jesus não as recebeu’. Então parece que os escritores dos evangelhos tinham seus próprios motivos para não nos deixar saber sobre Salomé. [Ele, contudo, aparece no Evangelho de Tomás – um dos textos de Nag Hammadi – onde ela se deita em um sofá com Jesus, em outro evangelho perdido dos egípcios, e no Pistis Sophia onde ela é retratada como uma discípula e catequista de Jesus]. Admitidameente, Salomé era um nome comum, mas o próprio fato que ele fosse claramente importante o bastante para ser removido tão cuidadosamente pelos escritores dos evangelhos tem de fato chamado nossa atenção para a Salomé que seguiu Jesus. Certamente João Batista tinha se tornado algo de um embaraço para a divisão do movimento de Jesus. Até mesmo quando aprisionado ele ainda conseguiu expressar suas dúvidas sobre o status de seu antigo discípulo – que claramente eram tão preocupantes que, como temos visto, seu sucessor oficial não foi Jesus, mas Simão o Mago. Então este profeta carismático, com seu seguimento considerável é, nos é dito, morto pela vontade da família de Herodes que não pode ter sido tão ingenua a ponto de subestimar a reação potencial das pessoas. Como temos visto, eruditos como  Hugh Schonfield tem argumentado convincentemente que havia um grupo sombrio que parece ter facilitado a missão de Jesus – e que eles podem ter considerado prudente remover permanentemente Batista. A história está repleta de circunstâncias de mortes convenientes, tais como aquela de Dagoberto II e  Thomas à Becket, que em só golpe removeram o obstáculo final e dissidente para a ambição do novo regime. Talvez a execução de João caia nesta categoria. Pode este grupo ter decidido que era tempo de remover de cena o grande rival de Jesus? De fato o próprio Jesus pode ter estado em total ignorância do crime cometido para sua vantagem, exatamente como Henrique II nunca tinha pretendido que os cavaleiros matassem o Arcebispo Thomas à Becket.

O grupo por trás de Jesus parece ter sido rico e influente, então eles bem podiam ter contactos dentro do palácio de Herodes. Sabemos que isso não é impossível porque até mesmo o seguimento imediato de Jesus tinha ao menos um contacto conhecido dentro do palácio: os evangelhos listam sua discípula Joana como sendo esposa de Chuza, o gerente de Herodes. Seja qual for a verdade sobre este assunto, o fato é que há algo de sério perdido no relacionamento entre o Batista e Jesus, algo que os heréticos podem ter acreditado por séculos e que os eruditos estão começando a reconhecer, senão apenas que eles eram rivais. No mínimo, a antipatia dos heréticos quanto a Jesus pode estar baseada na idéia de que ele era nada mais do que um oportunista inescrupuloso, que explorou a morte de João para sua própria vantagem ao tomar o movimento com uma pressa indecente – especialmente se o sucessor legítimo de João fosse realmente Simão o Mago. Talvez o mistério cercando a morte de João forneça a chave para a ênfase de outro modo inexplicável na veneração do Batista acima de Jesus entre os grupos que temos discutido nesta investigação. Como temos visto, os Mandeanos sustentam João como ‘Rei da Luz’ enquanto vilificam Jesus como um falso profeta que desviou o povo – exatamente como ele é retratado no Talmud, onde ele também é descrito como feiticeiro. Outros grupos, tais como os Templários, tem tomado aparentemente uma visão menos extrema, mas não obstante tem venerado João acima de Jesus. Isto encontra uma expressão suprema na ‘Virgem das Rochas’ de Leonardo, e é reforçado por elementos em outros trabalhos que temos discutido no capítulo Um. Quando primeiro percebemos a obsessão de Leonardo com a supremacia de João Batista e imaginamos se isso era simplesmente um desejo da parte dele. Mas depois de nos aprofundarmos na massa de evidência para a existência de um culto mais amplo a João, tivemos que concluir não apenas que houvesse uma tal coisa, mas também que ela sempre tem existido paralela a Igreja, mantendo seu segredo seguro. A Igreja de João tem tido muitas faces através dos séculos, tais como aquela dos monges-guerreiros de seu velho braço político, o Priorado de Sião. Muitos secretamente veneravam João quando se curvavam de joelhos a ‘João’ começando sua tradição com João II. Pierre Plantard de Saint-Clair explica isto que parece ser um non sequitur. João I é reservado para o Cristo. De fato apresentando um caso nítido para a existência de grupos que tem acreditado que Jesus seja um falso profeta, ou até mesmo tenha tido uma participação no assassinato de João Batista. Isso com certeza não é a mesma coisa que provar que realmente foi assim. O que é certo é que as duas Igrejas tem existido lado a lado por 2.000 anos; a Igreja de Pedro que sustenta que Jesus não era apenas um homem pefeito mas o próprio Deus encarnado e o Igreja de João que vê Jesus bem como o inverso. Pode ser que nem um nem outro tenha o monopólio da verdade, e que o que estamos vendo refletido nas facções opostas seja meramente a continuação da velha rixa entre os discípulos dos dois mestres. Ainda que o próprio fato da existência de uma tal tradição como a Igreja de João argumente forçosamente que já seja tempo para uma radical reavaliação dos personagens, papéis e legados de João Batista e Jesus Cristo. Mas ha muito mais em jogo aqui. Se a Igreja de Jesus é construída sobre a verdade absoluta, então a Igreja de João é construída sobre uma mentira. Mas se a situação é invertida, então o que enfrentamos é a possibilidade de uma das mais terríveis injustiças da história. Não estamos dizendo que nossa cultura tenha estado venerando o Cristo errado, porque não há evidência que João tenha buscado um tal papel, ou que isso até mesmo tenha existido, nos termos que o entendemos hoje, até que Paulo inventasse isso para Jesus. Mas em qualquer caso, João foi morto por seus princípios, e acreditamos que eles se elevaram diretamente da tradição da qual ele tomou o ritual do batismo. Esta era a antiga religião da gnose pessoal, da iluminação, da transformação espiritual do indivíduo nos mitérios de veneração de Isis e Osiris. Jesus, Maria Madalena e João Batista pregaram essencialmente a mesma mensagem – mas ironicamente -não foi a que a maioria as pessoas assume ser. Este grupo do século I tomou sua forma da intensa consciência gnóstica do Divino para a Palestina, batizando aqueles que buscaram este conhecimento mágico por eles próprios – iniciando-os na antiga tradição oculta. Também parte deste movimento foram Simão O Mago e sua consorte Helena, cujas mágicas e milagres eram, como aqueles associados a Jesus, uma parte intrinseca de suas práticas religiosas. O ritual era central a este movimento, do primeiro batismo a encenação dos mistérios egípcios.

Mas a suprema iniciação vinha através do êxtase sexual. Contudo, nenhuma religião, não importa o que ela professe, garante a superioridade moral e ética. A natureza humana sempre se intromete, criando seu próprio sistema híbrido, ou, em alguns casos, a religião se torna um culto de personalidade. Este movimento pode ter sido essencialmente Isiano, com toda sua ênfase no amor e tolerância que a religião busca instilar, mas até mesmo em sua terra natal no Egito houve muito casos registrados de corrupção entre os sacerdotes e sacerdotisas. E nos dias turbulentos da Palestina do século I quando os homens fervorosamente buscavam um Messias, a mensagem tornou-se confusa em um surto de ambição pessoal. Como até mesmo, quanto maiores as apostas, mais provavel é que o poder seja abusado. As conclusões e implicações desta investigação serão novas para a maioria dos leitores, e sem dúvida chocantes para muitos. Ainda que, como temos esperado mostrar, estas descobertas se levantaram passo a passo na medida em que procuravamos evidência. Em grandes muitos casos, havia o que seria para muitas pessoas uma quantidade surpreendente de apoio da moderna erudição. E no fim, no mínimo, a imagem que emerge é muito diferente daquele com a qual estamos familiarizados. Esta nova imagem ds origens do cristianismo e do homem em cujo nome a religião foi fundada carrega as mais perplexantes implicações de longo alcance. E embora estas implicações possam ser novas para a maioria das pessoas, elas tem sido reconhecidas por um stratus parrticularmente tenaz da sociedade ocidental por séculos. É estranhamente perturbador considerar, até mesmo por um momento, a possibilidade que os hereges estivessem certos.

CAPÍTULO DEZESSETE
FORA DO EGITO

Dois mil anos depois que Jesus, João e Maria viveram suas vidas estranhamente importantes no interior remoto do Império Romano, milhões de pessoas ainda acreditam na história como ela é contada nos Evangelhos. Para estas pessoas, Jesus era o Filho de Deus e de uma virgem, que aconteceu ter encarnado como um judeu; João Batista era o seu precursor e inferior espiritual e Maria Madalena era uma mulher de reputação duvidosa que Jesus curou e converteu. Contudo, a nossa investigação tem revelado uma imagem muito diferente. Jesus não era o Filho de Deus e nem era da religião judaica – embora ele possa ter sido etnicamente judeu. A evidência aponta para sua pregação de uma mensagem estrangeira em uma terra na qual ele montou sua campanhna e começou sua missão. Certamente seus contemporaneos pensaram nele como sendo um adepto da magia egípcia, uma opinião que é também expressada pelo Talmud judaico. Isto pode simplesmente ter sido um rumor malicioso, mas vários eruditos, notavelmente Morton Smith, tem concordado que os milagres de Jesus eram parte e parcela do típico repertório mágico egípcio. Além disso, ele foi realmente enviado a Pilatos com as palavras que ele era ‘um fazedor do mal’ – o que na lei romana tinha especificamente o significado de feiticeiro. João não reconheceu Jesus como o Messias. Ele bem pode te-lo batizado, porque Jesus era um de seus discípulos, talvez até mesmo se elevando das fileiras para se tornar seu segundo em comando. Algo saiu errado, contudo: João mudou de idéia e indicou Simão o Mago como seu sucessor. Pouco depois João foi morto. Maria Madalena era uma sacerdotisa que era parceira de Jesus no casamento sagrado; exatamente como o era Helena de Simão o Mago. A natureza sexual do relacionamento deles é atestada em muitos textos gnósticos que a Igreja evitou de serem incluidos no Novo Testamento. Ela era também a ‘Apóstola dos Apóstolos’ e uma renomada pregadora – até mesmo reunindo os discípulos desanimados depois da Crucificação. Simão Pedro a odiava, como ele odiava todas as mulheres, e ela pode ter fugido para a França depois da Crucificação porque ela temia o que ele pudesse fazer a ela. E embora seja impossível saber exatamente qual era a mensagem dela, certamente ela teria nascido pouco do relacionamento do que agora é conhecido como cristianismo. Seja o que for mais que ela fosse, Maria Madalena não era uma pregadora cristã. A influência egípcia na história do evangelho é inegável: Jesus pode muito bem ter estado conscientemente cumprindo o papel profetizado do Messsias judeu para ganhar apoio popular, mas ele e Maria também estavam encenando o mito de Isis e Osiris, provavelmente para propósitos iniciáticos. A magia egípcia e os segredos esotéricos estavam por trás da missão deles, e o professor deles era João Batista. Dois dos discípulos deste último – Simão o Mago e a ex prostituta Helena – eram um paralelo exato de Jesus e Madalena. Talvez eles fossem supostos ser. O conhecimento subjacente era sexual – aquele da horasis -, a iluminação por meio do sexo transcendental com uma sacerdotisa, que era um conceito familiar no Oriente e também exatamente através da fronteira do Egito. A despeito das afirmações da Igreja, não era Pedro que era o mais íntimo aliado de Jesus, nem – a julgar por seus repetidos fracassos em entender as palavras de seu mestre -, ele fosse até mesmo do círculo interno de Jesus. Se alguém era o sucessor de Jesus este alguém era Maria Madalena. [Deve ser lembrado que eles estavam ativamente disseminando os ensinamentos e práticas do já muito antigo culto de Isis e Osiris, não algum tipo de heresia judaica como é frequentemente pensado]. Maria Madalena e Simão Pedro estabeleceram jornadas diferentes terminando com um fundando a Igreja de Roma e o outro confiando seus mistérios a gerações daqueles que compreendiam o valor do Princípio Feminino;: os heréticos. João, Jesus e Maria foram ligados inextrincavelmente pela religião deles [aquela do Egito antigo] que eles adaptaram a cultura judaica – como o fizeram Simão o Mago e Helena – que tinham por alvo a Samaria para a mensagem deles. Definitivamente Simão Pedro e o restante dos doze não faziam parte deste círculo interno de missionários egípcios.

Maria Madalena foi reverenciada pelo movimento subterrâneo na Europa porque ela fundou sua própria ‘igreja’ – não um culto cristão no sentido geralmente aceito do termo, mas um baseado na religião de Isis e Osiris. Algo muito similar a isso tem sido pregado por Jesus e João. João era venerado pela mesma tradição de heréticos porque eles eram os descendentes espirituais diretos daqueles de quem ele era o ‘rei sacrificial’, o mártir da causa deles que tinha sido cortado em seu auge. O choque a atrocidade de sua morte foram ressaltados por circunstâncias altamente duvidosas que cercavam isso, e pelo que foi percebido como sendo a subsequente manipulação insensível dos seguidores de João por seu velho rival. Há contudo, um outro lado da história. Como temos visto, havia um rumor circulando durante seu período de vida que afirmava que Jesus tinha escravizado a alma dele [ou consciência] para ganhar poderes mágicos, porque era entendido entre os mágicos gregos e egípcios que o espírito de um homem assassinado era uma presa fácil para os feiticeiros – especialmente se eles possuissem uma parte do corpo da vítima. Se Jesus foi ou não por uma tal cerimônia mágica, um rumor que a alma de João vivia sob o controle de seu maior rival não teria causado prejuízo ao movimento de Jesus. Nesta era de mente mágica teria sido virtualmente assegurado que a maioria dos discípulos de João teriam acompanhado Jesus, particularmente se ele parecesse ter poderes miraculosos. E como Jesus já havia dito a seus seguidores que João tinha sido reencarnado como o profeta Elias, ele teria parecido ser todo autoridade para as massas. Ainda que a despeito da peculiar noção de um Jesus que era acreditado ter tido o controle de almas de ao menos dois outros profetas, o segredo da tradição subterrânea não dizia respeito a ele. De fato, até mesmo embora os heréticos reverenciem João e Madalena como reais indivíduos históricos, eles tem também sempre sido vistos como representantes de um antigo sistema de crenças. E é o que eles permanecem que é o mais importante para eles – como Alto Sacerdote e Alta Sacerdotisa do Reino da Luz.

As duas tradições – uma se centrando em Batista e a outra em Madalena -, somente realmente se tornam discerníveis ao redor do século XII, quando, por exemplo, os Cátaros emergiram em Languedoc e os Templários se elevaram ao auge de seu poder. Há uma aparente brecha na transmissão das tradições: é como se elas desaparecessem um um buraco negro aproximadamente entre o terceiro e quarto séculos. Foi por volta de 400 que os textos de Nag Hammadi – que enfatizam o papel de Maria Madalena -, foram enterrados no Egito; como vimos na Parte Um, idéias surpreendentemente similares sobre a importância dela persistiram a França, tendo alguma influência com os Cátaros. E embora a Igreja de João aparentemente desaparecesse depois de aproximadamente o ano 50, sua existência continuada pode ser deduzida das fulminações dos Pais iniciais da Igreja contra os sucessores de João – Simão o Mago e Dositheus – por aproximadamente outros duzentos anos. Então, novamente no século XII, esta tradição também emerge mais uma vez  na mística veneração de João pelos Cavaleiros Templários. É impossível dizer com qualquer certeza exatamente o que aconteceu a ambas tradições nestes anos perdidos, mas ao fim de nossa investigação podemos sentir que podemos arriscar uma suposição arriscada. A linha de Madalena continuou no sul da França, embora qualquer registro que confirmasse isso teria sido destruído durante a devastação sistemática da cultura Languedociana que acompanhou a Cruzada Cátara. Mas ecos da tradição tem chegado a nós pelas crenças cátaras sobre o relacionamento entre Jesus e Maria Madalena  e no tratado de infuência cátara Schwester Katrei, algumas de cujas idéias são claramente tomadas dos textos de Nag Hammadi. É provável que a tradição de João tenha sobrevivido independentemente no Oriente Médio por meio dos ancestrais dos Mandeanos e os Nosairi, ainda que não saibamos como isto aparece na Europa séculos depois. Mas como ela chegou na Europa? Quem viu seu valor e decidiu manter sua crença em segredo? Mais uma vez encontramos a resposta nos monges guerreiros, cujas operações militares no Oriente Médio ocultaram sua busca dirigida ao conhecimento esotérico. Os Cavaleiros Templários trouxeram a tradição de João para a Europa para se unir aquela de Madalena. assim fazendo sentido do que pareciam ser mistérios separados masculino e feminino. E deve ser lembrado que os originais nove cavaleiros templários tinham emergido da cultura languedociana, a alma e coração do culto a Madalena. E que a tradição oculta tinha que eles aprenderam seus segredos dos ‘Joanitas do Oriente’. Em nossa opinião é altamente improvável que a união dos Templários destas duas tradições fosse meramente concidental. Afinal, a meta primária deles era buscar e fazer uso do conhecimento mais arcano. Hugues de Payens e seus nove irmãos cavaleiros foram a Terra Santa com um propósito em mente: eles buscavam o poder do conhecimento e também podem ter procurado por algum artefato de grande valor, que era improvavel ser simplesmente monetário. Os Templários pareciam conhecer a existência da tradição Joanita antes de a encontrarem, mas como eles a aprenderam ninguém pode dizer. Claramente o que estava em jogo era muito mais do que alguns vagos ideais religiosos: os Templários era primariamente homens práticos – primariamente preocupados com a aquisição de poder material e a penalidade para sustentar suas crenças secretas era simplesmente pavorosa. Não pode sobre sobrevalorizado que estas crenças não eram meramente algumas noções espiriuais que eles deciditram esposar para o bem de suas almas. Elas eram segredos mágicos e alquimicos que, no mínimo, podem bem ter dado a eles a margem do que agora conhecemos como ciência. Certamente a superioridade do conhecimento deles em assuntos tais como geometria sagrada e arquitetura encontraram expressão nas catedrais góticas que ainda estão conosco hoje, estes livros secretos de pedra que contém os frutos das aventuras deles no esotérico. Em sus trilha do conhecimento mundial os Templários buscaram expandir o conhecimento deles em astronomia, química, cosmologia, navegação, medicina e matemática – os benefícios disso são auto evidentes.  Mas os Templários eram até mesmo mais ambiciosos em sua busca pelo conhecimento oculto; eles buscavam respostas para grandes perguntas eternas. E na alquimia eles podem ter encontrado algumas delas. Esta ciência misteriosa, que eles esposavam, tem sempre sido pensada manter os segredos da extensão da própria vida, da longevidade, senão da real imortalidade física. Longe de simplesmente estender seus horizontes filosóficos e religiosos, os Templários buscavam o poder máximo: a real maestria sobre o próprio tempo, sobre a tirania da vida e morte.

E depois dos Templários vieram geração após geração heréticos que tomaram sua proteção e carregaram a tradição com igual fervor. Estes segredos fanaticamente buscados obviamente tinham um apelo que inspirou números incontáveis de pesssoas que arriscavam tudo – mas o que era isso? O que havia sobre as tradições Joanitas e de Madalena que inspirassem tal zelo e devoção? Não há uma resposta a estas perguntas, mas há três respostas possíveis. A primeira é que as histórias de Madalena e João Batista ofereçam entre elas o segredo do que a cristandade  – em sua misão original – possa ter sido, em um claro contraste com o que realmente se tornou. Conquanto em toda volta deles as mulheres fossem condenadas e consideradas sexualmente degradadas, e os sacerdotes mantivessem as chaves do céu e do inferno, os heréticos buscavam os segredos de João e Madalena para conforto e iluminação. Através destes dois ‘santos’ eles podiam abertamente unir a linha inquebrável dos veneradores gnósticos e pagãos que vinha diretamente do Egito antigo [e possivelmente além]: como pensou Giordano Bruno, a religião egípcia era muito superior ao cristianismo  do todos os modos; e, como temos visto, ao menos um Templário rejeitou o símbolo primário do cristianismo, a cruz, como sendo ‘jovem demais’. Ao invés do férreo patriarcado do Pai, Filho e Espírito Santo  [por agora masculino] os aderentes desta tradição secreta encontraram o equilíbrio natural da velha triandade de Pai, Máe e Filho. Ao invés de sentirem atacados pela culpa sobre o sexo, eles sabiam por sua própria experiência que isto era realmente um portal para Deus. Ao invés de lhes ser dito o estado de suas almas por sacerdotes, eles encontravam sua própria salvação pela gnose direta ou conhecimento do divino. Tudo isto era punível com a morte por ao menos 2000 anos, e tudo isso veio das tradições secretas do Batista e de Madalena. Não surpreende que elas tenham sido mantidas no subterrâneo. A segunda razão para o apelo continuado destas tradições é que os heréticos também mantiveram vivo o conhecimento. Hoje é muito fácil para nós subestimar o supremo poder do aprendizado pela maior parte da história: a invenção da imprensa causou um furor, e até mesmo a habilidade de ler e escrever – especiamente quando aplicada as mulheres – era rara e frequentemente vista com a maior suspeita pela Igreja. Ainda que esta tradição subterrrânea ativamente encorajasse uma fome de conhecimento até mesmo entre as mulheres; alqumistas homens e mulheres trabalhavam longas horas por trás de portas fechadas para descobrir grandes segredos que atravessavam as frointeiras entre a mágica, o sexo e a ciência – e frequentemente pareceram te-los encontrado. A linha não quebrada desta tradição subterrânea abrangeu os construtores das pirâmides, talvez até mesmo aqueles que erigiram a Esfinge, aqueles que construiram segundo os princípios da geometria sagrada e cujos segredos encontraram expressão na estonteante beleza das grandes catedrais góticas. Estes eram os ‘fazedores’ da civilização, sustentando-a por meio da tradição secreta. [Certamente não é coincidência que Osiris era acreditado ter dado a humanidade o conhecimento necessário para a cultura e civilização]. E, como nos recentes trabalhos de Robert Bauval e Graham Hancock revelam, os egípcios possuiam  o conhecimento científico que estava muito além de nossa própria era. Uma parte inseparável desta linha de cientistsa heréticos foram os hermeticistas da Renascença, cuja elevação de Sophia, a busca pelo conhecimento e crença na natureza divina do Homem tinham originalmente se desenvolvido das mesmas raízes do gnosticismo. A alquimia, o hermeticismo, e o gnosticismo tudo leva de volta inevitavelmente aos dias de Jesus na Alexandria, onde uma mistura extraordinária de idéias estava fermentando. E então descobrimos que as mesmas idéias permeiam Pistis Sophia, o Corpus Hermeticum de Hermes Trimegistus, que sobrevive nos trabalhos de Simão o Mago e nos textos sagrados Mandeanos. Como temos visto, Jesus tem sido explicitamente ligado a magia do Egito, e o Batista e seus sucessores, Simão o Mago e Dositheus, tembém tem sido citados como ‘graduados’ das escolas ocultas de Alexandria. E todas as tradições esotéricas ocidentais podem ser remontadas as mesmas raízes. Seria um engano, contudo, pensar que o conhecimento buscado pelos Templários ou os hermeticistas fosse simplesmente o que hoje chamamos de filosofia – ou até mesmo ciência. É verdade que estas disciplinas eram parte do que eles famintamente procuravam, mas há também uma outra dimensão em suas tradições secretas, uma que seria errado omitir.

Subjacente a todos os comportamentos arquitetonicos, científicos e artísticos estava uma busca apaixonada pelo poder mágico. Isto pode ser uma pista do porque era tão importante para eles mentirem sobre o rumor da ‘escravização mágica’ de João por Jesus? Talvez seja significativo que os Templários, cuja reverência por João Batista era conhecida não ser secundária a alguém, fosem acusados de venerarem uma cabeça cortada em seus mais secretos rituais. A questão da validade e da efetividade [ou outra] da magia cerimonial está fora do escopo deste livro: o que importa é que outros acreditaram durante séculos, e que parte isso desempenhava nos motivos deles, suas conspirações e planos que colocaram em ação. O ocultismo era uma real força motriz por trás de muitos pensadores aparentemente racionalistas – tais como Leonardo da Vinci e Sir Isaac Newton – e por trás do círculo interno de organizações tais como a dos Templários, alguns capítulos da Livre Maçonaria e o Priorado de Sião. E esta longa linha de mágicos secretos bem pode ter incluído João Batista e Jesus. Uma das menos conhecidas histórias do Gral tem, como objeto da busca, a cabeça barbada cortada de um homem em um prato.  Isto era uma referência a cabeça de João, ao estranho poder encantado que era suposto possuir e conferir a quem a encontrasse? Mais uma vez, é fácil demais indulgir no ceticismo do século XX. O que é importante é que, de algum modo, a cabeça de João não era só considerada sagrada, mas também seria mágica. Os Celtas também tinham uma tradição de cabeças enfeitiçadas, mas mais pertinentemente, havia uma cabeça cortada mantida no templo Osiriano em Abidos que era acreditada profetizar. Em um outro mito associado, a cabeça do deus morto e ressurecto, Orfeus, foi lavada em Lesbos, onde ela começou a prever o futuro. [E é meramente uma coincidência que um dos filmes mais enigmáticos e surreais de Cocteau fosse Orfeu?]. Leonardo apresentou Jesus em seu falso Sudário de Turim como decapitado. De início pensamos que não fosse mais do que um meio visual de reunir a idéia que, na herética opinião Joanita de Leonardo, aquele que foi decapitado estava [moral e espiritualmente] acima daquele que foi crucificado. Certamente a linha de demarcação entre a cabeça e o corpo do homem do Sudário é deliberada, mas Leonardo pode estar sugerindo algo mais. Talvez fosse uma referência a que Jesus usou a cabeça de João e que ele de algum modo a absorveu, tornando-se, nas palavras de Morton Smith, ‘Jesus-João’. Lembre-se que, no cartaz do século XIX do Salão da RosaCruz, Leonardo é apresentado como Guardião do Gral. Vimos como, no trabalho de Leonardo, o dedo indicador levantado simboliza o Batista: João está fazendo este gesto na última pintura do Mestre, e em sua escultura de João em Florença. Isto não é tão não usual, porque outros artistas o tem apresentado deste modo, mas nos trabalhos de Leonardo os personagens outros que o próprio João são mostrados como usando isso no que claramente significava ser um lembrete de Batista. A figura na Adoração dos Magos que fica de pé perto das raízes elevadas da alfarrobeira [que tradicionalmente simboliza João] levanta seu dedo indicador na direção da Virgem e da criança; Isabel, a mãe de João está fazendo isto direito na face da virgem no cartaz para a A Virgem e a Criança com Santana, e o discípulo que tão rudemente lança isso na face de Jesus na Última Ceia tem um ar em termos não incertos com seu indicador. E conquanto eles bem possam estar dizendo, de fato, ‘os seguidores de João não esquecem’, este motivo repetido pode também ser uma referência a uma relíquia real – ao dedo indicador de João que era acreditado ter uma vez estado entre as relíquias mais queridas dos Templários. [Na pintura de Nicolas Poussin A Praga de Azoth – uma estátua gigantesca de um homem tinha perdido uma mão e sua cabeça barbada. Mas o indicador da mão cortada é mostrado especificamente fazendo o gesto de João]. Durante o curso desta investigação temos ouvido um alegado templário dizer – ‘aquele que possui a cabeça de Batista governa o mundo’ -, e inicialmente descartado isso como fantasioso ou na melhor das hipóteses metafórico de algum modo. Mas não se deve esquecer que certos objetos, a uma só vez míticos e reais, sempre tem exercido um tremendo apelo aos corações e mentes dos homens – entre eles a ‘verdadeira cruz’, o Santo Sudário, o Gral e com certeza a Arca da Aliança. Todos estes legendários objetos abrangem uma mística curiosamente compelente, como se eles próprios fossem portais onde se encontram os mundos divinos e humanos, sólidos objetos reais que existem em duas realidades a uma só vez. Mas se os artefatos como o Gral são acreditados possuirem poders mágicos, quanto mais foram buscados – depois estão os restos reais físicos de pessoas que são acreditadas terem incorporado energia sobrenatural e possuido conhecimento oculto.

Certamente temos visto como as relíquias de Madalena tem sido de suprema importância para aqueles da tradição secreta, e pode ser que elas, também, sejam consideradas possuirem certos poderes mágicos. Em qualquer caso, os ossos de Maria pareceriam serem objeto de grande veneração e, como a medonha relíquia de João, sem dúvida agiriam como um totem por trás do qual os heréticos se reuniriam. Com ou sem o conceito do poder mágico, ficar diante da cabeça de João ou dos ossos de Madalena teria um enorme impacto sobre aqueles da tradição secreta; seria um momento de alta carga emocional até mesmo a considerar que aqui, juntos, eram os restos de dois seres humanos que tinham sido tratados com tal brutalidade, e injustiça calculada durante séculos e por cujos nomes incontáveis heréticos tem sofrido. A terceira razão para o persistente apelo da tradição secreta é sua própria certeza moral auto-regerenadora: estes heréticos acreditam estarem certos e a Igreja estabelecida errada. Mas eles não estão meramente mantendo viva uma outra religião em uma cultura ‘estrangeira’. Eles estão mantendo vivo o que eles acreditam ser a chama sagrada das verdadeiras origens e propósitos do cristianismo. Contudo, este sentido todo penetrante de justiça quando confrontado com o que era para eles a ‘heresia’ da Igreja Cristã apenas explica porque isso teve uma tal sustentação no passado. Nestes dias e era, com sua abordagem muito mais tolerante da religião, porque na terra esta tradição precisaria permanecer secreta?

Começamos esta investigação examinando o moderno Priorado de Sião e suas atividades continuadas. Seja o que for que motive a reunião desta organização, Pierre Plantard de Saint-Clair tem indicado que ela tem um programa definido, uma programação dentro da qual ela pretende trazer certas mudanças concretas no mundo como um todo, embora sua precisa natureza possa ser apenas um assunto para especulação. Seja qual for que possa ser o plano mestre do Priorado, parece dizer respeito a heresia que temos descoberto. De fato, oculto nos Dossiês Secretos estão certas declarações bem não ambíguas para efetivar que o Priorado tem sido responsável, pela história, por organizar a tradição secreta. Estas declarações, que aludem direta ou indiretamente ao Priorado, incluem: ‘[eles são] os apoiadores de todas as heresias’; ‘por trás de todas as heresias, passando pelos cátaros e os Templários até a Livre Maçonaria’; ‘agitadors secretos contra a Igreja’. E outro documento do Priorado, Le cercle d’Ulysse (O Círculo dei Ulysses), publicado em 1977 sob o nome de Jean Delaude, inclui as palavras sinistras: ‘O que está planejando o Priorado de Sião?  Não sei, mas isto representa um poder capaz de tomar o Vaticano nos dias que virão.’ E como vimos anteriormente, o trabalho inspirado do Priorado ‘Rennes-le-ChÂteau: capitale secrète de l’histoire de France’, ao discutir as ligações do Priorado com a Igreja de João, se refere a eventos que “virarão a cristandade de cabeça para baixo’. No início desta investigação consideramos a possibilidade que o Priorado sofresse de delírios coletivos de grandeza e – como a maioria das pessoas – achamos difícil divisar que tipo de segredo ele podia ter tão ciumentamente guardado que possivelmente tivesse o poder de ameaçar uma organização tão vasta e bem estabelecida como a Igreja de Roma. Agora, depois de todas as nossas pesquisas e experiências, temos chegado claramente quanto a agenda do Priorado – seja qual for que ela possa ser – deve ser no mínimo seriamente considerada. De fato, o conceito de um corpo organizado que tem jurado derrubar a Igreja não é novo. Por exemplo, no século XVIII quando as sociedades secretas afirmando a ancestralidade Templária começaram a emergir, a paranóia varreu a Igreja e vários Estados europeus. A França em particular suou sob a sombra vingativa de Jacques de Molay – estavam os Templários voltando, literalmente com uma vingança? Houve até mesmo rumores de Cavaleiros que estavam por trás da Revolução Francesa. Contudo, há problemas com o cenário de vingança Templária. Nenhuma organização inteligente alimentaria o calor seco do ódio contra todas as probabilidades e durante séculos simplesmente para matar um futuro monarca francês e um papa individual, ou de quem nada tivesse a ver com a supressão deles por todas estas centenas de anos antes. Esta idéia repousa na supressão dos Templários sendo uma traição por seu ódio a Igreja – mas que tal se elas já a tivessem odiado no princípio? [E segundo o Levitikon os Templários eram contra a Igreja de Roma deste o seu próprio início, não por causa do modo que eles foram suprimidos].

Nossa pesquisa tem mostrado não apenas que os Templários se acreditavam possuir conhecimento secreto sobre o cristianismo, mas também que eles eram seus reais e próprios guardiões. E deve ser lembrado que os Templários e o Priorado de Sião sempre tem sido inextrincavelmente interligados: qualquer plano ou programa de um é muito provável pertencer também ao outro. E no Priorado de Sião encontramos uma organização na qual dois fios heréticos: de Madalena e João Batista – se unem. Pode ser que o Priorado/Templários estejam planejando apresentar a uma perplexa cristandade alguma forma de prova para suas velhas crenças, algum suporte tangível para a veneração à deusa deles, à tradição Joanita. Até mesmo dada a aparente obsessão deles pela busca de relíquias, é difícil imaginar qual possivelmente possa ser esta evidência concreta, ou, a primeira vista, como qualquer objeto ofereça uma ameaça a Igreja. Mas, como temos visto no caso do alegado Sudário de Turim, as relíquias religiosas possuem e mantém um apelo único e potente sobre corações e mentes. De fato, alguma coisa supostamente ligada aos personagens centrais do drama cristão é investido de uma ressonância singularmente mágica – até mesmo as ‘anti relíquias’ destes ossuários recentemente encontrados em Jerusalém imediatamente se tornam o foco de um intenso debate e disseminada busca de alma cristã. É instrutivo imaginar como o interesse público teria escalado se os ossuários tivessem sido mais persuasivamente ligados a Jesus e sua família. Isto certamente teria alimentado uma histeria em massa entre os cristãos, que se teriam sentido traídos, despossuídos e espiritualmente desestabilizados. As pessoas amam uma busca – uma busca por algo que seja tantalizantemente fugidio, mas talvez ainda quase dentro do alcance. Buscar um sempre recuante Santo Gral ou a Arca da Aliança parece quase ser programado para nós, como revela o entusiasmo garantindo pelo livro de Graham Hancock’ ‘The Sign and the Seal’ revela. Ainda que profundamente lá embaixo haja também um reconhecimento que estes objetos, embora eles excitantemente possam existir em algum lugar, sejam meramente símbolos, focos ou incorporações de alguns segredos arcanos. Conquanto o Priorado de Sião e seus aliados possam estar por revelar alguma justificativa concreta para as crenças deles, a própria história tem, como temos esperado mostrar, mantido algumas pistas como a fortalecer tal justificativa. De fato muitos planos são de supremo interesse, mas eles não são mais necessários para entender a ameaça putativa à Igreja – e, por implicação, às raízes de nossa inteira cultura ocidental. Tanto é baseado nas assunções sobre a história cristã, e tanto intensamente de emoção pessoal é investido em tais conceitos como Jesus Cristo que era o Filho de Deus e da Virgem Maria, o humilde carpinteiro que morreu por nossos pecados e foi ressuscitado. Sua vida de humildade, tolerãncia e sofrimento tem se tornado a imagem da perfeição humana e o modelo espiritual para milhões. Jesus Cristo, de seu lugar a mão direita de Deus Pai no céu, olha pelos pobres e despossuidos para lhes dar conforto – porque ele não disse ‘venham a mim vocês que estão pesadamente carregados e eu devo lhes refrescar’? De fato, embora seja muito provável que Jesus tenha murmurado estas palavras, não é simplesmente verdadeiro que elas tenham se originado dele – porque elas vieram diretamente das palavras atribuídas a Chreste Isis : Gentil Isis, a suprema deusa mãe dos egípcios. Para Jesus, como para qualquer outro sacerdote de Isis, estas palavras teriam sido muito familiares.

Como temos visto, a maioria dos cristãos modernos estão surpreendentemente mal informados sobre os desenvolvimentos na erudição bíblica. Para muitos, noções tais como Jesus ter sido um mago egípcio, ou a rivalidade entre Jesus e João Batista, deve parecer como um pouco blasfemas, ainda que estas não sejam ficções ou invenções de escritores ou de inimigos da religião deles, mas conclusões de respeitados eruditos, alguns dos quais são cristãos. E foi bem a um século atrás que os elementos pagãos da história de Jesus foram pela primeira vez reconhecidos. Quando primeiramente começamos a estudar o assunto, ficamos surpresos exatamente de quantos eruditos tem questionado a história cristã padrão, apresentando casos argumentados meticulosamente detalhados para uma versão quase que irreconhecível de Jesus e de seu movimento. Ficamos particularmente perplexos ao descobrir que já havia abundante evidência escolástica para Jesus não ser judeu, e para ele realmente ser da religião egípcia. Ainda que por causa de nossa assunção cultural que Jesus era judeu seja tão forte, até mesmo aqueles que tem reunido a evidência deixam de dar o passo lógico e concluir que o peso deste material realmente revela que Jesus não era da religião judaica, mas da egípcia. Há muitos que tem feito uma maior contribuição na direção de uma imagem radicalmente nova de Jesus e de seu movimento. Desmond Stewart argumentou soberbamente em seu ‘The Foreigner’ que Jesus tinha sido influenciado pelas escolas egípcias de mistério mas novamente, Setewart apenas vê a ligação egípcia como uma modificação do essencial judaismo de Jesus. E o Professor Burton L. Mack, embora argumentando que Jesus não era da religião judaica, também rejeita o material das esolas de mistério nos Evangelhos  com base em que se tratasse de uma adição posterior – uma assunção que não é reforçada por seja qual for a evidência. Até mesmo o Professor Karl W. Luckert escreve: Estes sofrimentos de nascimento [do cristianismo] – eram não obstante reais dores de parto da parte da mãe da cristandade, a expirante religião do antigo Egito. Nossa velha mãe egípcia morreu nos séculos durante sua vigorosa prole emergir e começar a prosperar no mundo Mediterrâneo. Suas dores de parto foram dores de nascimento. Por toda a vida dela de quase dois milênios, esta filha cristã nascida da mãe Egito tem permanecido relativamente bem informada sobre sua antiga tradição paternal hebraica. Mas até este dia nada tem sido dito sobre a identidade de sua falecida religião mãe. Ainda que tenha sido magnificamente argumentado o caso para as raízes egípcias do cristianismo, Luckert ainda gerencia para perder o ponto. Ele vê a influência egípcia como indireta, um eco distante das próprias origens do judaismo no Egito. Mas se Jesus ensinou material de escola de mistério certamente faz mais sentido que ele o tenha aprendido  de primeira mão, apenas por atravessar a fronteira, muito mais do que escolhe-lo entre alusões fragmentares e incertas no Velho Testamento. Fora todas estas autoridades, somente uma tem ousado dar o último passo lógico, Morton Smith, em seu ‘Jesus the Magician’, afirma inequivocamente que as próprias crenças de Jesus e suas práticas eram aquelas so Egito, e, significativamente, ele baseou esta avaliação no material de certos textos mágicos egípcios. O trabalho de Morton Smith, conquanto completamente ignorado por muitos comentadores bíblicos, tem sido saudado com cautelosa aprovação por alguns. Ainda que as opiniões dos academicos sejam, como temos visto em nossa investigação, de forma alguma a inteira imagem. Durante séculos, muitos grupos tem partilhado uma crença secreta na base egípcia de Jesus e outros no drama do século I, e estes heréticos também tem nos fornecido muito mais insights sobre as origens das crenças do cristianismo. É interessante que estas idéias agora estejam nascendo da moderna erudição bíblica. Se o cristianismo fosse realmente uma prole da religião egípcia, e não uma missão única de um Filho de Deus – ou até mesmo o desenvolvimento radical de uma forma de Judaismo – então as implicações para toda nossa cultura são tão básicas e enormemente de longo alcance que elas apenas podem ser tocadas aqui. Por exemplo, ao virar suas costas às raízes egípcias a Igreja perdeu o entendimento fundamental da igualdade arquetípica dos sexos, porque Isis sempre tem equilibrado seu consorte Osiris, e vice versa. A princípio ao menos este conceito encorajou o devido respeito a ser dado igualmente a homens e mulheres; porque Osiris representou todos os homens e Isis todas as mulheres. Até mesmo em nossa era secular ainda estamos sofrendo as consequências desta negativa do ideal egípcio; porque conquanto o sexismo não seja um fenômeno ocidental, suas manifestações diretas no ocidente devem muito aos ensinamentos da Igreja sobre o lugar das mulheres. Sobretudo, ao negar sua base egípcia, a Igreja também rejeitou – frequenemente com uma virulência especial –  o inteiro conceito do sexo como um sacramento. Ao estabelecer um celibatário Filho de Deus como chefe de um patriarcado misógino, eles perverteram a original mensagem cristã. Porque os deuses que o próprio Jesus venerava eram um par sexual e esta sexualidade era um assunto para celebração e emulação entre seus veneradores – ainda que significativamente, os egípcios não fossem reconhecidos como um povo particularmente licencioso, mas eram notáveis em sua espiritualidade.

As consequências da atitude da Igreja em relação ao sexo e amor sexual para a nossa cultura tem, como temos visto, sido terríveis: a repressão em uma escala tal tem sido responsável, não apenas pelo tormento pessoal e desnecessária busca de alma, mas também por crimes incontáveis contra as mulheres e crianças – muitos dos quais as autoridades tem escolhido ignorar. Tem havido outras amargas colheitas deste grande engano, de uma Igreja Cristã que tem negado suas verdadeiras raízes. Por séculos a Igreja tem rotineiramente perpetrado atrocidades contra judeus, baseada nas crenças que a cristandade e o judaismo estavam em competição. Tradicionalmente a Igreja tem considerado os judeus blasfemos por negarem o Messianismo de Jesus – mas se Jesus não foi um judeu, então há até mesmo menos razão para os horrores cometidos contra milhões de judeus inocentes. [A outra maior acusação usada para justificar os ataques aos judeus – que eles mataram Jesus – a muito tem sido reconhecida como falaciosa, simplesmente porque foram os romanos que o executaram]. Então há um outro grupo que tem atraido a hostilidade da Igreja durante anos. Em seu fervor em se estabelecer como a única religião, o cristianismo sempre tem feito guerra aos pagãos. Os templos eram destruidos e as pessoas torturadas e mortas, da Islândia a América do Sul, da Irlanda ao Egito, em nome de Jesus Cristo. Ainda que se estivermos certos, e o próprio Jesus fosse um pagão e então este fervor cristão não foi apenas uma negativa da humanidade comum, mas também dos próprios princíprios de seu fundador. Este assunto ainda é relevante, porque os pagãos modernos continuam a ser perseguidos pelos cristãos na sociedade de hoje. Nossa inteira cultura é inquestionavelmente entendida ser judaico-cristã, mas o que isso significaria se estivermos certos e devemos estar, de fato, dela ao invés ser egípcio-cristã? Com certeza isto apenas pode ser uma questão hipotética, mas talvez seja mais apeladora para a base de nosso sonho de religião sobre a magia e mistério das pirâmides do que o irascível Yahweh. Certamente, a religião que tem a trindade de Pai, Mãe e Filho deve sempre exercer uma poderosa atração e um profundo senso de conforto. Temos traçado a linha continua da crença herética na Europa, a corrente subterrânea do mistério da deusa, da alquimia sexual e dos segredos que cercam João Batista e Maria Madalena. Os heréticos tem, acreditamos, mantido as chaves da verdade sobre a Igreja de Roma. Temos apresentado o caso deles nestas páginas, passo a passo na medida em que nós próprios fizemos as descobertas e vimos a imagem completa emergindo da riqueza de informação – e, de fato, da má informação. Acreditamos que, como um todo, os heréticos tenham um caso válido a se tomar. Certamente, uma grave injustiça tem sido feita às figuras históricas de João Batista e Maria Madalena, e o tempo de estabelecer um registro direto já está a muito passado. O respeito pelo Princípio Feminino e o inteiro conceito da alquimia sexual precisa ser entendido se a humanidade ocidental tem a esperança de entrar no novo milênio livre da repressão e da culpa. Ainda que se uma lição possa ser avistada da jornada que empreendemos nesta investigação  e nas descobertas que fizemos, não seja tanto que os heréticos tem estado certos e a Igreja errada. É que há uma necessidade, não mais de segredos ciumentamente guardados e guerras santas, mas tolerância e uma abertura a novas idéias, livres de preconceitos e pré concepções. Sem limites a imaginação, ao intelecto, ou ao espírito, talvez a tocha mais uma vez seja mantida acesa por tais luminares como Giordano Bruno, Henry Cornelius Agrippa – e Leonardo da Vinci – que possa ser a nossa vez de levar adiante. E podemos até mesmo apreciar completamente aquele velho adágio hermético: ‘Vocês não sabem que vocês são deuses?’

Appendix I
LIVRE MAÇONARIA CONTINENTAL OCULTA

Traçar a disseminação da Livre Maçonaria das Ilhas Britânicas ao Continente, e seu desenvolvimento na Europa, é um processo complicado, que é dificultado na medida em que muitos da corrente principal desejam se dissociar de suas origens esotéricas bem como pela não voluntariedade dos historiadores de tomar o assunto seriamente. As primeiras lojas maçonicas oficialmente reconhecidas na França foram criadas nos anos de 1720, sob o controle da Grande Loja da Inglaterra. Contudo, a este tempo já existiam lojas na França que deviam suas origens [predominantemente escocesas] aos apoiadores de Carlos I que fugiram para a França por volta de 1650. A história da Livre Maçonaria na França  tinha portanto sido uma de duas correntes distintas, aquelas que descendiam das lojas inglesas [que formaram sua própria Grande Loja em Paris em 1735] e aquelas que descendiam das lojas escocesas, com períodos de hostilidade mútua alternando-se com tentativas de reconciliação. A fundação da Grande Loja da França em 1735 representou uma quebra com a Grande Loja Inglesa, a fonte do atrito sendo precisamente a objeção de Londres às lojas dela manterem boas relações com as lojas escocesas.  A Maçonaria Escocesa  parece ter estado mais próxima do caráter original como uma sociedade oculta secreta, enquanto que a da Inglaterra tinha se transformado em uma associação para ajuda mútua e avanço, ou na melhor das hipóteses, uma sociedade filosófica. Certemente, a Livre Maçonaria Escocesa sempre tem tido um caráter marcantemente oculto.  A criação do Barão von Hund de Estrita Observância Templária no final dos anos de 1740 representou um novo desenvolvimento dentro da Livre Maçonaria Escocesa. Von Hund afirmou sua autoridade derivada de membros dos exilados apoiadores dos Stuarts em Paris, um círculo centrado em Charles Edward Stuart (1720-1788), o ‘Jovem Pretendente’. Se verdadeiro, e a recente pesquisa tende a suportar suas afirmações – o sistema dele se derivaria dos mesmos círculos como já existentes no sistema escocês. Embora von Hund tenha sido iniciado em Paris e primeiro começou a promover o seu sistema na França, a Estrita Observância Templária já teve um grande sucesso inicial em sua nativa Alemanha, onde era simplesmente a ‘Maçonaria Retificada’. Von Hund criou a primeira loja alemã , a ‘Loja dos Três Pilares’ em Kittlitz em 24  de junho [ dia de João Batista] de 1751. As lojas alemãs tinham estreitos links com as sociedades rosacrucianas, particularmente a Ordem da Dourada e Rósea Cruz [veja Capítulo Seis].

Na França, uma autoridade rival da Grande Loja, o Grande Oriente, foi criada em 1773. O principal ponto de desacordo entre os dois sistemas era o envolvimento das mulheres na Maçonaria Livre – o Grande Oriente incluia lojas todas femininas. Contudo, o Grande Oriente foi lançado no turbilhão pelo que foi percebido como uma tentativa da Estrita Observância Templária de tomar a loja. A resistência foi, em parte, devida ao nacionalismo, já que ela era vista como estrangeira, um sistema alemão. Em consequência, um novo sistema ‘escocês’ foi criado, o Antigo e Aceito Rito Escocês [que subsequentemente se tornaria muito popular nos EUA], foi criado em 1804. [Para confundir posteriormente os assuntos, hoje há uma Grande Loja Nacional Francesa – como distinta da Grande Loja da França – que, embora representando uma minoria de lojas, é aliada a Grande Loja da Inglaterra].  Martinés de Pasqually (1727-1779) fundou uma outra forma de Livre Maçonaria oculta, a Ordem dos Cohens Eleitos, em 1761. Muito pouco é conhecido sobre a base de Pasqually, embora provavelmente ele fosse espanhol. Alguns pesquisadores acreditam que Pasqually estava ligado a Ordem Dominicana – a antiga Inquisição – e que ele foi capaz de dirigir o material herético e mágico de seus arquivos. Ele também foi capaz de produzir, para a Grande Loja da França, uma licença garantida a seu pai por Charles Edward Stuard, o que o liga à Maçonaria Escocesa que estava por trás do Barão von Hund. O secetário de Pasqually era Louis Claude de Saint-Martin, um importante e influente filósofo oculto, que era conhecido como “o Filósofo Desconhecido’. Saint-Martin formou um novo sistema de Maçonaria Escocesa, o Rito Escocês Reformado, e ele foi unido ao ramo francês da Estrita Observãncia Templária em 1778 na Convenção de Lyons, uma reunião de maçons do Rito Escocês que também incluiu representantes daq Livre Maçonaria Suiça. A principal força motriz por trás do encontro de Lyons foi Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824), que também era membro dos Cohens Eleitos. No encontro, a Estrita Observância Templária de Von Hund e o Rito Escocês Reformado de Saint-Martin foram unidos sob o nome de Rito Escocês Retificado. [A filosofia de Saint-Martin – o Martinismo – foi uma maior influência sobre o reavivamento oculto francês do século XIX, especialmente sobre o grupo rosacruciano discutido no Capítulo Sete, e as ligações entre as Ordens Martinistas e o Rito Escocês Retificado permanecem íntimas até hoje].

A Estrita Observância Templária foi abolida na Convenção em Whihelmsbad em 1782, embora o sistema do Rito Escocês Retificado [que era essencialmente a Estrita Observância Templária sob um outro nome, com a adição de certas crenças Martinistas] foi reconhecido como legítimo. A Estrita Observância Templária também viveu por sua influência sobre uma outra forma de Livre Maçonaria ‘oculta’: os Ritos Egípcios que foram criados pelo Conde Cagliostro (veja Capítulo Sete.)  Depois de sua indução em uma loja da Estrita Observância (Esperance 369) em Londres em 1777, Cagliostro desenvolveu seu próprio sistema que incorporou idéias alquimicas e outras que ele havia aprendido com grupos ocultos alemães. Ele criou a ‘loja mãe’ do Rito Egípcio em Lyons em 1782. A caraterística distintiva deste sistema  – fora seu uso do antigo simbolismo egípcio – foi o papel igual das mulheres. A data de fundação deste sistema também é significativa. Os céticos atribuem a fundação da Livre Maçonaria de Rito Egípcio a moda européia de todas as coisas egípcias que seguiram a campanha de Napoleão no Egito [durante a qual foi descoberta a famosa Pedra de Roseta]. Contudo, isto aconteceu em 1798-99, depois do início do sistema maçonico. O Rito de Misraim foi criado em Veneza em 1788 por três irmãos da Provença – Michael, Joseph e Marcus Bedarride. Eles estabeleceram o Grande Capítulo em Paris e negociaram para se unir ao Grande Oriente. Os quatro mais altos graus do Rito de Misraim eram chamados Arcana Arcanorum. Um outro importante Rito Egípcio era o de Memphis, criado em Montauban em 1838 por Jacques-Étienne Marconis de Négre (1795-1865), um antigo membro do Rito de Misraim. Este sistema também, tinha íntimos laços com o Rito Escocês Retificado. Em 1899 o Rito de Misraim e o Rito de Memphis foram unidos por Gérard Encausse (Papus), que já havia previamente fundado e liderado a Ordem Martinista [veja Capítulo Sete]. Então, o Rito Escocês Retificado, os Ritos Egípcios e as Ordens Martinistas formam um grupo interconectado de sociedades, todas possuindo suas origens na Estrita Observância Templária do Barão von Hund – que por sua vez deriva dos Cavaleiros Templários Escoceses  – a as lojas rosacrucianas da Alemanha.

Appendix II
RENNES-LE-CHÂTEAU E A TUMBA DE DEUS

Na medida em que estavamos preparando o rascunho final deste livro, Rennes-le-Château retornou às manchetes com a publicação de ‘The Tomb of God’ de Richard Andrews e Paul Schellenberger (1996). Sua tese altamente controvertida é que o segredo encontrado pelo sacerdote Bérenger Saunière era nada menos que a localização da tumba de Jesus, que eles acreditam é para ser encontrada em Pech Cardou, uma montanha a apenas cinco quilometros a leste de Rennes-le-Château. Mas a cristandade, com certeza, exige uma crença na ascensão corpórea de Jesus ao céu, e assim nada haveria para enterrar. A própria idéia do corpo de Jesus existir em algum lugar é profundamente chocante e ameaçadora para a cristandade ortodoxa. A idéia de que a tumba de Jesus esteja na área de Rennes-le-Château não é nova. Se algo, é uma coisa clichê na França, onde já existem ao menos dois livros livros e meia dúzia de trabalhos publicados sobre teorias que dizem a mesma coisa, embora cada uma favoreça uma localização diferente. [Uma delas  realmente sugere que o lugar de repouso do Filho de Deus está agora sob um toilete público no estacionamento de ´Rennes-le-Château!). A idéia deriva da suprema importância do murmurado segredo e da crença prevalecente que ele esteja ligado a uma tumba [como, por exemplo, no quadro Pastores da Arcadia de Poussin, que tem uma tumba como a figura central]. E o que pode ser mais importante do que a descoberta da tumba de Jesus?  Mas como funciona a teoria de Andrews e Schellenberger como uma solução para o mistério de Rennes-le-Château?

As conclusões são baseadas na descoberta deles de complexos projetos geométricos ocultos dentro dos dois pergaminhos codificados supostamente encontrados por Sauniere e nas várias pinturas que estão ligadas a história, tal como os Pastores da Arcadia de Poussin.  Eles interpretam estes como um conjunto de instruções que, quando aplicados a um mapa da área de Rennes-le-Chateau, levam a um sítio em Pech Cardou onde o ‘segredo’ é para ser encontrado. Há, para dizer o mínimo, uma série de problemas com isso. Primeiro, embora o código geométrico pareça existir em muitos [mas não todos] os trabalhos, por meio algum está óbvio que eles pretendenssem ser um mapa, pode bem ser alguma importância esotérica baseada nos princípios da geometria sagrada. Secundariamente, até mesmo se eles estiverem corretos, as razões deles para aplicarem estas ‘instruções’ do modo que eles o fazem são obscuras e frequentemente arbitrárias. É, de fato, somente os pergaminhos é que fazem a conexão entre a geometria e o panorama e, como temos visto no Capítulo Oito, estes são de proveniência extremamente duvidosa. Até mesmo se  Andrews e Schellenberger tenham encontrado o ponto certo, a dedução final deles, que o segredo é que Jesus está enterrado lá, é notavelmente frágil. Eles interpretetam a famosa expressão ‘maçãs azuis’ como um conjunto de instruções, a meta das quais é encontrar as maçãs azuis. Eles afirmam que esta frase, sobre a qual se sustentam muito de seus argumentos, é a gíria local para ‘uvas’. Infelizmente, este termo enfaticamente não é uma gíria local para uvas. E até mesmo se fosse, seria bem um surpreendente salto de lógica ligar que estas maçãs azuis realmente se refiram a Jesus! De fato, os autores desconcertam o leitor com a certeza deles, escrevendo sobre o ‘simbolismo do corpo inerente a mensagem ‘maçãs azuis’ e em outro lugar fazendo a declaração nua ‘as uvas simbolizam seu corpo [de Jesus], as maçãs azuis´.

Os autores também afirmam a confirmação do raciocínio deles em sua própria interpretação do moto ‘ET ARCADIA EGO’. Eles assumem que isto deve ser completado pela soma de palavras, fazendo a frase “Eu Estou na Arcadia” que eles por sua vez transformam em um anagrama de ‘Eu toco a tumba de Deus, Jesus’ [ARCAM DEI TANGO, IESU]. Mas isso depende da assunção que isso seja um anagrama e sobre a adição de uma palavra que tem que supostamente estar lá. Andrews e Schellenberger interpretam a mensagem ‘maçãs azuis’ como referências a vários locais que, quando unidos no mapa, formam um quadrado perfeito. Contudo, a interpretação deles é muito forçada. Por exemplo os numerais em latim 681 são tomados serem uma referência a um ponto específico de altura ao nordeste de Rennes-le-Château. Isto apenas parece como tal, contudo, a atual edição do mapa IGN [o equivalente ao mapa de Munição Britânica de Observação]. Todas as outras edições e um aviso no próprio ponto dão a real altura como 680 metros. Isto leva Andrews e Schellenberger a concluirem que algum ‘iniciado’ no Institut Géographique Nationale doutorou a atual edição para se encaixar na mensagem! [Não teria sido consideravelmente mais fácil apenas dar a altura correta em primeiro lugar?].

Andrews e Schellenberger ignoram o fato de que a mensagem codificada é uma anagrama perfeito da inscrição da tumba da pedra tumular de Marie de Negre, que data de 1791. Esta seria verdadeiramete uma surpreendente peça de trabalho pelos feitores de códigos, para tornar uma inscrição do século XVIII na mensagem que indique precisamente quatro lugares – um dos quais é o ponto moderno de altura e outro é uma ponte de ferrovia construida em 1870! Além de um tal raciocínio tortuoso, eles também confiam em muitas falácias bem banais da história de Sauniere. Por exemplo, eles repetem o rumor que Marie Dénarnaud encomendou o caixão de Sauniere vários dias antes de sua morte – enquanto ele estava em perfeita saúde. Fora o fato de que este estilo de vida excessivo tivesse arruinado a constituição dele, é bem conhecido entre os pesquisadores de Rennes que a historia veio da má identificação da data no recibo de pagamento por seu caixão: 12 de junho foi tomado como 12 de janeiro. Os autores afirmam terem se tornado interessados no misterio em primeiro lugar por causa da intriga que cerca as mortes suspeitas de três sacerdotes na área – o próprio Sauniere, o Abade Gélis e Boudet.  Andrews e Schellenberger acreditam que o trio foi assassinado por causa de seu conhecimento de um grande segredo. Isto de fato seria material de um mistério de assassinato verdadeiramente emocionante se não fosse o fato de que apenas um destes sacerdotes foi assassinado: o Abade Gélis. Como temos visto, o estilo de vida de Sauniere virtualmente lhe garantiu um enterro precoce, e Boudet morreu de causas naturais e em idade avançada [em uma casa de aposentadoria nada misteriosa]. Então, as soluções deles para o permanente mistério de Rennes-le-Château são absolutamente insatisfatórias.

Mas a hipótese para o corpo de Jesus se sustenta? Andrews e Schellenberger oferecem três cenários alternativos: Jesus sobreviveu a cruz e fugiu para o Gaul onde viveu o resto de sua vida; sua família e/ou discípulos trouxeram seus restos para a França; ou os Templários descobriram os restos em Jerusalém e os trouxeram para o Languedoc. Conquanto nenhuma dessas hipóteses seja impossível, os autores não oferecem uma evidência direta e compelente para qualquer uma delas. A idéia de Jesus estar enterrado no Sul da França é plausível, embora possa ser argumentado que faça mais sentido no contexto de nossas próprias conclusões. É possível que Maria Madalena trouxesse com ela o corpo de Jesus ou até mesmo que tenha sido acompanhada por ele. (Andrews e Schellenberger, ao modo da principal cristandade, totalmente a ignoram). Contudo, não encontramos evidência até mesmo da tradição para apoiar esta idéia: o que as tradições colocam firmemente ênfase é em Maria Madalena. O subterrâneo herético do Sul da França era e é, inicial e sobretudo, um culto a Maria Madalena, não a Jesus. Mas até mesmo, se um corpo que talvez pudesse ser aquele de Jesus seja encontrado lá, como pode ser possivelmente identificado como tal?  Andrews e Schellenberger, mais uma vez, aplicam sua lógica única ao problema. Embora eles descrevam a prática funerária judaica do século I [para eles, Jesus era um Essênio] de reunir os ossos do corpo decomposto  e coloca-los em um jarro de pedra ou ossuário, eles subitamente mudam para discutir o emalsamamento do corpo de Jesus. [Irrelevantemente, eles notam que os Templários eram sabidos terem o conhecimento do embalsamamento; mas teria sido tarde demais para embalsamar o corpo de Jesus]. Eles até mesmo sugerem que o corpo possa ser identificado comparando-o a imagem do Sudário de Turim! Com certeza, qualquer quantidade de especulação sobre a tumba de Jesus deve permanecer nos reinos da vontade até que, ou a menos, isso realmente seja encontrado e investigado. Andrews e Schellenberger não afirmam terem encontrado, mas apenas localizado. Eles pedem por uma completa escavação arqueológica que confirmará, eles estão confiantes, a hipotese deles. Contudo, as tradições locais são primariamente relativas a duas pessoas: Maria Madalena e João Batista, e não a Jesus. À luz de nossa pesquisa, os rumores dos restos de Cristo estando na área podem realmente se referir a alguém mais próximo aos corações dos locais do que Jesus.

Published in: on abril 16, 2009 at 12:02 pm  Comments (2)  
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